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História Vida de Agente (Repostado) - Romanogers - Capítulo 4


Escrita por: Aninhacpd

Notas do Autor


Desculpem a demora!!

Essa pandemia está me deixando doida....

Boa leitura!!

Capítulo 4 - Capítulo 4


Fanfic / Fanfiction Vida de Agente (Repostado) - Romanogers - Capítulo 4

Natasha Pov

Natasha ouviu a porta bater sem acreditar e sentou-se na beirada da cama, com as pernas trêmulas.

Ele nunca havia verbalizado o quanto ela signifi­cava pouco para ele, mas sua partida quis dizer muita coisa. Ele não tinha tempo para ela, a menos que ela desempenhasse o papel de esposa à perfeição ou o de concubina em sua cama.

Lágrimas marcavam um caminho na face de Natasha.

Ela não tinha um casamento. Tinha uma parceria comercial em que era a sócia minoritária. E o sócio principal não tinha o menor interesse ou desejo de re­negociar os termos. Ela cumpriria seus deveres, se­não... Só que senão nesse caso era permanente e do­loroso. E o que mais doía era que ela pensava que ele não se importaria.

Ele simplesmente passaria para outro casamento comercial depois de destruir o coração dela sem se­quer se dar conta disso.

— Agente Rogers, gostaria que eu pedisse comida? — perguntou um dos agentes.

Ela escondeu o rosto para que ele não visse as lá­grimas e respondeu.

— Não, obrigada. Pode fechar a porta?

A resposta foi o ruído da porta se fechando. Ela perdeu o controle quando a porta foi fechada e liberou suas emoções. Passara muito tempo se segurando, esforçando-se para omitir palavras de amor que queria expressar, escondendo sua irritação diante das freqüentes separações impostas por Steve em função de suas missões e, no último mês, fingindo que as horríveis dores provocadas pela endometriose não existiam.

Inicialmente, ela havia se convencido de que era apenas uma cólica mais forte provocada pela inter­rupção das pílulas. Mas depois, quando Steve via­jou, ela sentiu muita dor e, ao se ver sobre uma poça de sangue no banheiro pela manhã, perce­beu que havia algo errado.

Ela foi ver seu médico na Flórida, um costume que desenvolveu cedo no casamento, a fim de proteger sua privacidade. Era fácil para ela justifi­car viagens e esconder o verdadeiro objetivo de suas idas a Miami.

O prognóstico inicial do médico fora bastante per­turbador. Ele pensou que ela sofria de endometriose, mas a única forma de saber realmente era fazer uma laparoscopia. Ela imaginou que poderia lidar bem com isso e aceitou uma prescrição para os remédios para dor até o mês seguinte, quando marcaria uma ci­rurgia.

Ela recebera o resultado no dia anterior, juntamen­te com um grande balde de água fria em sua esperan­ça de que seria uma das sortudas que não sofrem tan­to o impacto da doença. Aparentemente, sofria da doença há algum tempo, mas as pílulas haviam ame­nizado o efeito. Havia muito tecido ao redor dos seus dois ovários, e mesmo com a cirurgia para removê-lo, suas chances de engravidar naturalmente seriam inferiores a dez por cento. Mesmo que fizesse fertili­zação in vitro, não havia garantias.

Esses não eram o tipo de obstáculos com que o Capitão América Steve Rogers contava quando a obrigara a fa­zer os testes de fertilidade antes de anunciar seu noiva­do. Ele esperava que ela fosse capaz de dar-lhe um filho com cem por cento de sucesso e ela acabara se descobrindo estéril.

Se ele a amasse, seria diferente, mas muita coisa seria diferente também. Amor não era uma emoção fácil de fingir, nem podia ser substituída pelo senso de dever.

Steve podia oferecer a continuidade do casa­mento, mas seu coração não estaria ali e ela não po­deria viver com a sensação de que era um fardo para ele... uma fonte de humilhação ao seu orgulho.

Um soluço escapou de dentro de sua garganta e ela teve de levar a mão aos lábios para impedir que ele fosse ouvido no quarto ao lado. Sentindo-se como uma mulher velha, ela se forçou a ficar de pé.

Tomaria um banho... pelo menos no banheiro teria privacidade para chorar.

Depois de fechar a porta e ligar o chuveiro, ela pôde chorar bastante. Ela enterrava a perda do seu ca­samento, a perda de suas esperanças de ser mãe e parava de lutar contra a dor decorrente de amar um ho­mem que não a amava nem nunca amaria.

Ela reprimiu cruelmente qualquer esperança de que tudo fosse ficar bem. No fundo do seu coração, sabia que não ficaria. Depois da reação de Steve à sua repentina alteração da programação, não tinha mais a menor esperança de que seu casamento sobre­vivesse a este revés.

E isso a destruía. Além de tudo, ela havia nutrido a tola esperança de que estivesse errada, de que, de al­guma maneira, eles poderiam resistir ao tratamento de sua doença e dos problemas que ela traria. Ela não admitiu para si mesma porque teria doído muito, mas agora que estava diante do fim do seu casamento, não tinha escolha a não ser reconhecer que a chama da es­perança havia se apagado.

Steve não poderia ter deixado mais claro que não a amava. Todas as suas ações apontavam para as funções cuidadosamente definidas dela em sua vida, nenhuma delas ligada às suas necessidades emocio­nais. A menos que ele contasse com sexo e, ainda as­sim... ela não importava para ele.

Natasha tinha muitas esperanças quando eles se casaram. Eles formariam uma família e ela conhece­ria o amor com os filhos que viriam. Também esperava que Steve eventualmente viesse a amá-la. Ela sempre quis isso, e agora não havia nada além das cinzas de um fogo que a havia consumido por três anos.

Ela queria ser mãe. Queria muito. Por que ele quis esperar? Por quê? Não era justo. Se tivesse engravi­dado logo no começo, talvez a endometriose não ti­vesse se manifestado. Mas os "e se" eram inúteis.

Ela havia aprendido que eles tinham muitas limita­ções. Ela queria dar à luz ao filho do capitão América e educá-lo sabendo que o amor iluminava o caminho, e não os deveres, que havia mais na vida do que sua po­sição. Queria uma chance de amar, sabendo que as crianças a amariam, mesmo que seu pai nunca conseguisse fazê-lo.

Caindo de joelhos, ela chorou.

— Meu Deus, isso não é justo! — As palavras ecoa­ram no box e não havia ninguém para responder... ou, se Ele tivesse respondido, ela não ouvia a voz que vi­nha do paraíso.

Ela cobriu o rosto e chorou, mas, em algum mo­mento, as lágrimas teriam de cessar. Ela chorou até secar. Desligou o chuveiro, com a garganta dolorida e os olhos quase embaçados. Não havia possibilidade de alguém olhar para ela sem perceber como havia passado a última hora, mas ela não se importava. Steve não voltaria tão cedo e, quando chegasse, ela planejava estar dormindo. Estava cansada demais, esgotada emocionalmente.

Ela não havia notado o quanto era exaustivo fingir contentamento até permitir que tudo fosse embora. Com os membros doloridos, ela vestiu uma camisola e se deitou, sem se importar com o horário — apenas sete da noite.

Sem pensar, sua mão automaticamente procurou o outro lado da cama, mas é claro que estava vazio. Como havia ficado em tantas noites durante o casa­mento e ficaria todas as noites quando ela saísse de Washington.

Ela acordou mais tarde, com o som do chuveiro e a luz vinda pela porta entreaberta do quarto. Eram nove horas. Ela piscou, tentando imaginar o que aquilo significava. Era mais cedo do que ela supunha que ele voltaria, mas não tão cedo para ela pensar que ele ha­via voltado por causa dela.

O chuveiro foi desligado e, um minuto depois, Steve entrou no quarto totalmente nu e secando os cabe­los. Ele se inclinou para acender o abajur do seu lado, iluminando seu corpo com a meia-luz.

Ela sentiu a boca seca ao perceber desejo e neces­sidade emocional apertarem em sua barriga. Não ha­via mais lugar para desgaste dentro dela, mas, ainda assim, ele crescia, como se seu coração já não esti­vesse dizimado.

Ele jogou a toalha para o lado e olhou para ela. E então parou ao perceber o olhar dela.

— Está acordada.

— Você voltou.

— É claro.

Ela estremeceu diante do sarcasmo.

— Como foi a reunião?

Ela não se importava, mas nada mais veio à sua mente e o silêncio absoluto não funcionaria. Além disso, ela não tinha dúvidas de que a reunião fora exatamente como ele havia previsto. Ele era esse tipo de homem. Era necessário um forte desejo como a in­teligência de Sócrates e Einstein combinadas para derrubar os planos de Steve.

"Ou um sistema reprodutivo rebelde de uma mu­lher", zombava uma voz em sua mente. Ele não pode­ria lutar contra isso, independentemente do quanto fos­se teimoso e inteligente, poderia? E mesmo que pudes­se, não iria querer.

Ela não podia suportar o pensamento do que isso significava e sabia que ele não toleraria tamanha in­trusão em sua vida.

— Foi como eu esperava. Rumlow falou que você não jantou.

— Comi no avião.

— Uma xícara de café com dois biscoitos não é jantar.

— Foi o que eu quis.

— Está doente? — ele perguntou de uma forma tão direta, sem o menor traço de compaixão e preocu­pação, que ela estremeceu novamente. — Se está, não deveria estar viajando.

— Não se preocupe, não vou passar gripe nem nada para você. Não estou doente.

— Esperava que estivesse acordada quando eu voltasse, mas não estava.

— Eu não tinha como saber a que horas você vol­taria.

— Passa um pouco das nove horas — ele afirmou isso como se não pudesse acreditar que ela fosse para cama tão cedo.

Se ele soubesse que ela tinha ido se deitar por volta das sete horas, teria certeza de que estava doente. Ela não via razão para esclarecer nada.

— Estava cansada.

— Está grávida? — ele perguntou com a mesma falta de emoção que empregou para saber se ela esta­va doente.

— Não. Não estou grávida — ela forçou-se a di­zer.

— Tem certeza?

— Sim.

— Então esse comportamento estranho é resultado da tensão pré-menstrual?

Sem dúvida, grande parte do que ela sentia era causada pela influência do desequilíbrio hormonal.

— Se isso o deixa contente, sim.

Guiada ou não pelos hormônios, a certeza de que seu casamento chegara ao fim era real. A falta de amor dele era um fato. O imprevisível sistema repro­dutor de Natasha não era semelhante ao dos sonhos dela, e a dor que sentia por dentro era física, o que di­ficultava sua respiração.

Ele fez um movimento impaciente.

— Nada nessa situação me deixa contente.

— Sinto muito.

— Não quero desculpas. Quero uma explicação. Você falou que tinha algumas coisas para conversar comigo, mas volto para o quarto e a encontro dormindo.

— Isso é crime?

— Não, mas não está fazendo sentido algum para mim agora.

__Deus me perdoe se não sou mais adequada ao papel que atribuiu a mim em sua vida.

— Não fiz nada para merecer o seu sarcasmo.

— Exceto recusar-se a me ouvir.

— No seu cronograma. Estou aqui agora. Pronto para ouvir. — Ele espalhou as mãos em um gesto ex­pansivo que também serviu para chamar a atenção dela para a beleza do seu corpo nu.

Ela sentiu as lágrimas queimarem a parte de trás de seus olhos. Sentiria tanta falta dele, e sequer fica­va constrangida em admitir que parte dessa saudade seria pela necessidade física que deixaria de ser cor­respondida. Porque, para ela, o desejo era parte do amor, e ela sentiria saudade dele das duas formas.

Ela suspirou, tentando respirar e vivenciando um tipo diferente de dor do que a vinha consumindo seu corpo há alguns meses.

— Percebi que fui uma idiota vindo até aqui para conversar com você. Esperar três dias não vai mudar nada. Não tenho nem certeza se há necessidade de fa­larmos sobre o que eu queria.

Na realidade, ela apenas queria contar a ele sobre a sua doença e deixar que ele agilizasse os papéis da separação. Mas depois do holocausto emocional no chuveiro, ela não tinha condições de discutir com ele. Suas reservas emocionais haviam se esgotado e ela simplesmente não podia enfrentar o fato de contar a ele que falhara como mulher, como esposa, especial­mente diante da óbvia hostilidade dele.

— Por que isso? — ele perguntou com um tom pe­rigosamente macio na voz que ela estava muito exau­rida para compreender. Ele não deveria ficar aliviado por ela não querer demonstrar seu lado emocional a ele?

— Algumas coisas não podem mudar — inde­pendentemente do quanto desejasse.

— E que coisas são essas?

— Prefiro não falar sobre isso agora — ela admi­tiu, com uma voz evasiva demais até para si própria.

Em um movimento que ela não esperava, ele veio para o seu lado na cama a uma velocidade incrível e a levantou.

— Que pena, porque eu quero.

Ela engasgou e abraçou o pescoço dele para impe­dir-se de cair.

— Nem sempre as coisas são do seu jeito.

— Este não é um conceito que eu reconheça.

— Então já é hora de reconhecer. Ele apertou-a num abraço.

— Pare de jogar e me fale o que está fazendo com que aja de forma tão diferente do seu caráter.

A fúria que sua voz carregava dizia que sua pa­ciência havia acabado. E seu olhar duro dizia que não desistiria enquanto ela não falasse. Independente­mente do que ela quisesse e do quanto fosse duro para ela, ele não sossegaria sem ouvir o que queria.

Ela sabia disso e finalmente aceitou. Havia come­çado isso tudo e agora tinha de acabar, mesmo que­rendo adiar a revelação. Mesmo tendo se arrependido de sua impulsiva decisão de ter ido a Washington. Ela sentiu lágrimas presas na sua garganta e sabia que não poderia contar a ele sobre a sua deficiência sem que se emocionasse. Só havia uma coisa a dizer.

E ela não sabia como fazer isso.

Sentindo-se pressionada pela resistência de seu es­tado emocional atual e maravilhada pela simples sen­sação de ser mantida presa nos braços dele, com a cer­teza de que seria a última vez, ela acabou explodindo:

— Temos que nos divorciar.

Com os olhos tomados de uma raiva hostil, ele a largou em um ato de intenso repúdio, provocando um nó no seu estômago, para somar-se a todas as demais dores que sentia. Se ela não tivesse se agarrado a ele para obter apoio, cairia direto no chão.

Mas ele se afastou do toque dela com grande des­dém.

— Sua cretina!

Ela nunca o vira tão irritado, e isso a assustava.

— Eu... eu tenho que contar...

— Só vai se divorciar de mim por cima do meu ca­dáver — ele interrompeu com uma voz mortal.

Ela ficou boquiaberta, mas não conseguiu falar nada. Ela tentou, mas as palavras não saíam. Tudo aquilo era muito doloroso. Nunca acreditou que teria de dizer essas palavras a ele. Teria feito qualquer coi­sa, dado qualquer valor em dinheiro... até mesmo anos de sua vida para não ter de dizer isso. E, diante da péssima resposta dele ao seu pedido de divórcio, ela não conseguia falar a verdade sobre a sua total fa­lha como mulher.

A dureza da reação dele a confundia... dificultava seu raciocínio, enfrentar o que devia ser dito. Ela simplesmente não esperava que ele reagisse com ta­manha irritação. Afinal de contas, eles estavam dis­cutindo a dissolução do que ele considerava um con­trato comercial. Nada mais.

A menos que... talvez o casamento fosse mais im­portante para ele do que ela pensava. Seria verdade? Será que a reação dele significava que, no fundo, ele se importava? O coração dela dava saltos no peito... Será que ela o havia interpretado mal desde o come­ço?

Mas será que ela havia entendido tudo errado? Não conseguia ver como. Ela sacudiu a cabeça. Sim­plesmente não era possível. Talvez ela tivesse inter­pretado mal algumas palavras aqui e ali, mas não todo um estilo de vida que continuamente demonstra­va o quanto ela representava pouco na vida dele. E nada poderia ser mais convincente do que saber como um vingador reagia ao amor, pois ela obser­vava os colegas de equipe.

Porém, ele reagia como se o fim do casamento realmente importasse.

— Por que está tão irritado? — ela perguntou qua­se em um sussurro, tentando não criar esperanças no­vamente.

Ele olhou para ela com uma incrédula fúria.

— Acabou de me dizer que quer o divórcio e me pergunta isso?

— Sim — a resposta dele significava muita coisa, e ela tremia de medo e antecipação do que poderia ser.

— Eu tinha certas exigências quando procurei uma mulher, você sabia disso — ele falou entre os dentes.

— S-sim — não parecia promissor.

— Uma dessas exigências era que minha mulher compreendesse e aceitasse a importância dos deveres e sacrifícios na felicidade pessoal.

— Você estava sacrificando sua felicidade pessoal ao se casar comigo? — ela perguntou dolorosamente.

Ela sempre imaginava. E se ele desejava uma mu­lher diferente? Uma que fosse mais animada e em­polgante? Uma mulher que não necessariamente fos­se uma princesa ideal, mas que correspondesse à fe­roz paixão que borbulhava sob a sólida superfície do dever dele?

— A felicidade nunca vem, de uma forma ou de outra.

Sofrendo, ela falou:

— Para mim, vem. Fiquei feliz por me casar com você. Eu o queria mais do que poderia imaginar.

Por alguma razão, as palavras dela fizeram com que ele vacilasse.

— Mas agora você quer o divórcio. Seu desejo por mim, essa felicidade que você menciona, tiveram vida curta. Não duraram nem três anos completos. E o que foi que eu deixei de oferecer a você que tenha prometido?

— Nada — ele não se esquivara de nada, a não ser do seu amor, e isso nunca fora parte da oferta da bar­ganha.

— Então, concorda que não deixei de cumprir à mi­nha parte em nosso acordo de casamento?

— Sim, concordo.

— Também sabe que se casou comigo ciente de que seria para a vida toda?

— Sim, claro.

Ele parou imponente diante dela, com sua fúria ainda mais poderosa, pois estava maravilhosamente nu e nem um pouco envergonhado por isso.

— Então, também deve aceitar que não vou permi­tir que renegue o compromisso que firmou comigo.

— Às vezes, acontecem coisas que impedem que o acordo dê certo.

— Não no nosso casamento, elas não acontecem.

— Acontecem. Aconteceram. Eu... — a garganta dela fechou. Tinha que dizer, mas doía mais do que podia imaginar.

— Não fale — ele gritou. — Nunca vou deixá-la ir.

Ela o encarou.

— Não quer dizer isso — ela desabafou.

Ele se esquivou dela, todo o seu corpo vibrando com uma ira palpável que ela ainda não conseguia en­tender.

— Não vai se esquivar do nosso casamento e me tornar o primeiro vingador a ex­perimentar o divórcio. Entendeu? — ele gritou com uma voz dura e fria. — Não vou deixar que faça de mim motivo de chacota.

Finalmente, ela compreendeu. Não era o coração dele que sofria; era seu orgulho. Ele não precisava dela, somente do casamento, pois não queria passar por idiota. Ela sentia raiva dentro da alma. E agoniza­ra diante da possibilidade de perdê-lo, mas ele apenas se importava com sua imagem na comunidade inter­nacional.

— É isso o que conta para você? Que as pessoas pensam?

Ele virou para encará-la, com uma máscara de pe­dra no rosto.

— Eu não quebrei os meus votos de casamento. Não vou deixar que se divorcie de mim simplesmente porque quer quebrar os seus... ou já o fez?

A ênfase que ele deu à última frase causou cala­frios em Natasha e ela teve de respirar fundo para conseguir falar.

— Não tenho alternativa.

Ele pronunciou uma frase que a deixou paralisada.

— Sempre temos alternativas, você está escolhen­do a opção errada. Você me prometeu um herdeiro. E agora? — ele perguntou completamente decidido.

Ela quase sufocou diante da dor gerada por essas palavras. Não podia dar a ele esse herdeiro e as pala­vras dele reiteravam o único fato que se mostrava requisito fundamental para ela como mulher dele.

— Eu não queria que fosse assim. Por favor, acre­dite em mim.

Mas ele parecia mais capaz de estrangulá-la do que de compreendê-la. Mesmo sabendo que nunca o faria, que nunca a machucaria fisicamente, ela se pe­gou recuando diante dele.

Ele cerrou ainda mais os dentes.

Bateram à porta e ela se assustou.

— Vá embora — gritou Steve.

Ela nunca o ouvira usar esse tom e sabia que, se es­tivesse do outro lado da porta, teria atendido, mas de­pois de um breve momento, a batida se repetiu.

— Capitão, é extremamente urgente

Steve reclamou e então, colocou o robe preto e abriu a porta.

— O que foi?

Ela não conseguiu entender o que o agente falou, mas ouviu os xingamentos vindos da boca do marido, enquanto seu corpo estremecia como se tivesse recebido um soco.

— Steve... o que foi? — ela perguntou.

Mas ele apenas sacudiu a cabeça e abriu toda a porta, obviamente planejando sair do quarto. Ele pa­rou na saída e olhou por cima do ombro com uma ex­pressão furiosa.

— Isso não acabou.

O agente olhou para Steve preocupado e olhou para Natasha curioso, antes de acompanhar o capitão ao outro quarto. Natasha não sabia como agir em relação a outro confronto com Steve ou àquilo que acabara de interrompê-los.

E, pela segunda vez na noite, ela ficou sem ação no meio do quarto, lidando com fortes emoções depois que ele a deixava. Ela não podia imaginar o que seria mais importante que o fim do casamento deles, mas poderia ser qualquer coisa, ela notou tristemente. No entanto, ela reconheceu que devia ser algo muito im­portante, para um dos agentes ter interrompido mesmo depois de uma represália de Steve.

Ela caminhou pelo quarto, sentindo-se na Terceira Guerra Mundial, sem saber exatamente se era uma sobrevivente ou não. Embora nem ela nem Steve tivessem levantado as vozes um para o outro. Porém, mesmo com o tom baixo, ninguém duvidaria do quan­to estava furioso com ela.

Ela esfregou os olhos sentindo-se cansada, apesar de ter sido acordada depois de um longo cochilo e de ainda não ser tão tarde. Foi tão estúpida em pensar que poderia significar algo para Steve em um nível pessoal. A principal razão para ele querer manter-se casado com ela era o fato de não querer ser o primeiro vingador da história a ser deixado pela mulher.

Sob a perspectiva dele, ela não tinha o direito ou razão para humilhá-lo dessa forma. Ele lutara para se casar com uma mulher que cumprisse seus deveres à risca.

O dever em primeiro lugar, sempre.

E essa foi exatamente a razão de Natasha pedir o divórcio, mas ele não sabia disso. Quando soubesse, ele ansiaria por um fim no casamento e buscaria di­vórcio por conta própria.

Natasha, lentamente, sentou-se em uma das poltro­nas, tomada pelo cansaço.

Ela não poderia ter agido de forma pior em um confronto com ele. Em vez de ter contado sobre a sua doença e quase certa infertilidade, falou que eles te­riam de se divorciar. Embora aquilo devesse ser ver­dade, não era a primeira coisa que devia ter dito a ele.

Ele pensou que ela queria o divórcio, o que não po­dia ser mais distante da realidade, mas o dever dizia que ela deveria abandonar o homem que amava pelo bem dele. As palavras finais dele antes de terem sido interrompidos diziam isso. Ele precisava de filhos. Ela não podia garanti-los. A probabili­dade de concepção não era suficiente para Steve.

Esses fatos deixaram seus sonhos em pedaços. Por que a vida era tão dura? O que havia feito de errado para provocar essa tristeza a si mesma? O médico dela falou que não era pessoal, a endometriose ocor­ria em milhares de mulheres, mas ela sentia que era algo pessoal.

Especialmente quando os resultados da doença es­tavam destruindo sua vida em um caminho de dor e sofrimento.

E essa foi sua única desculpa para a forma como li­dou com as notícias. Estava sofrendo muito, sua usual diplomacia a castigava tanto... Seu pai teria fi­cado bastante envergonhado, embora nunca tivesse se importado muito com ela.

Os psicólogos sempre dizem que as mulheres se casam com homens parecidos com seus pais e ela es­tava determinada a não agir assim. Sempre acreditou que tinha sido bem-sucedida ao se casar com um ho­mem bem diferente, mas agora percebia ter feito exa­tamente o oposto. Casou-se com um homem tão pou­co interessado nela quanto seu pai.

Olhando para trás, para os quase três anos de casa­mento, ela via que Steve empregava meios sutis de demonstrar que ela ocupava um lugar insignificante na sua vida também. Ela simplesmente não via os si­nais porque queria desesperadamente que eles disses­sem algo diferente. Como ele precisava dela das for­mas mais básicas — sexualmente e como uma aliada à sua posição —, ela acreditava que ele tinha mais sentimentos por ela que seu pai.

Não podia sequer culpá-lo por tê-la decepcionado. A desilusão fora consumada por si só. Mas reconhe­cer isso não causava menos sofrimento.

Falando sobre ser uma idiota, Natasha assumira muito bem esse papel, admitindo que doía quase tan­to quanto a rejeição de Steve.

E a atitude dele não fora menos que isso. Ele que­ria manter o casamento intacto, mas apenas por causa do seu orgulho e pelo bebê que ele esperava que ela lhe desse. Não porque quisesse mantê-la como espo­sa. Não porque ela significasse alguma coisa.

Ela estremeceu, todo o seu corpo tremia violenta­mente e acabou se dando conta de que estava muito fria. Era um frio que vinha lá de dentro, mas, mesmo assim, ela se levantou e se cobriu com o cobertor da cama. Não adiantou.

Sentir-se tão sozinha enquanto esperava não era uma opção, e ela sentou na poltrona... e esperou.

Steve falou que não tinham acabado e, por mais que não quisesse dar continuidade à briga, ela não ti­nha dúvidas de que era o que aconteceria quando ele voltasse. E, mesmo que doesse muito, que as respos­tas dele fossem tomadas de orgulho... ela lhe devia uma explicação.

Não saberia dizer quanto tempo ficou ali, com os pensamentos divagando no cérebro. Podem ter sido alguns minutos ou uma hora, mas em algum momen­to ele voltou para o quarto com uma expressão que ela jamais vira antes e disse:

— Vista-se.



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