Tainá entrou no quarto, trancou a porta e encostou as costas na mesma, deslizando involuntariamente o corpo, até ficar de joelhos. Colocou as mãos no rosto e ficou assim por alguns instantes. Se existia uma coisa que Tainá odiava, era brigar ou discutir com alguém. Independente de quem. Mas especialmente com a pessoa que ela decidiu passar a vida, Henrique.
Foi tirando sua roupa e indo em direção ao banheiro. Olhou-se no espelho e estava exausta, já eram 2 da manhã. Ligou o chuveiro e logo em seguida entrou no box. Enquanto deixava a água cair sob seu corpo, a imagem de Giovanna finalmente veio a sua mente. Em meio a tanta confusão ela nem teve tempo de pensar naquela que estava tomando seus pensamentos ultimamente, a senhora Antonelli.
- Giovanna, meu Deus! Eu a deixei sozinha e fui embora sem nem me despedir! Que ridículo da minha parte! Ela deve estar me achando uma mal educada. – Pensou Tainá.
- Ou então ela não deve nem ter notado que eu saí, vai saber. Mas independente dê, foi mal educado da minha parte.
Esses pensamentos tomavam conta de Tainá e a dominavam de tal maneira que ela esqueceu o motivo pelo qual havia entrado no box: tomar banho. Então pegou o sabonete e começou a ensaboar o corpo. Mas a tentativa de não pensar na situação com Giovanna durou pouco e ela logo voltou a pensar sobre.
- Vou ligar para ela! Ai merda, já passou das 2 da manhã, e ela provavelmente está na boate agora, afinal ela não tem um marido chato que mais parece um velho, a forçando a ir para casa dormir! – Pensava enquanto ensaboava o corpo.
Terminou de tomar banho, desligou as torneiras, pegou sua toalha e começou a enxugar o cabelo e em seguida o corpo, até começar a se vestir.
- Dane-se também, vou ligar para ela. – Pensou Tainá enquanto secava o cabelo.
Entrou no quarto e pegou o celular. Relutou em ligar, pensou ‘’não, não tenho coragem. ’’ Mas mesmo assim decidiu procurar o nome de Giovanna na lista de contatos e finalmente apertou o botão ‘’chamar’’. Colocou rapidamente o celular no ouvido, mas ficou rezando para que Giovanna não atendesse.
Rezou em vão, porque Giovanna que já estava em casa, preparando-se para dormir, atendeu. Ela estava no quarto enquanto Leo estava no banheiro. Então, para ter mais privacidade, foi em direção à sala.
- Tainá? – Disse um pouco assustada.
- Sim, sou eu. Atrapalho?
- De jeito algum, você nunca atrapalha. Aconteceu alguma coisa?
- Sim, aconteceu. Eu fui super mal educada com você. Sai sem me despedir e sem dar qualquer explicação. Me perdoa?
- Ai Tainá, só você pra me ligar quase 3 da manhã para pedir desculpas por uma coisa banal como essa. Magina, não precisa pedir desculpas. – Giovanna disse isso, mas por dentro estava morrendo de felicidade por Tainá ter tido consideração por ela.
- Preciso sim. Talvez não tenha significado nada para você, não sei. Talvez não tenha nem reparado que eu tenha ido. – Disse essa frase mesmo não acreditando que Giovanna não tenha se importado, nem que fosse só um pouco. – Mas mesmo assim foi mal educado da minha parte e eu resolvi me desculpar.
- Ai cara, só você mesmo! Que fofinha! [risos]. E sim, eu reparei que você sumiu do nada. Vi você indo embora e senti sua falta lá. – Falou enquanto abaixava a cabeça, envergonhada, como se Tainá estivesse ali na sua frente.
Tainá teve um pequeno surto de felicidade ao ouvir essas palavras vindas de Giovanna. Mas se conteve, afinal não podia deixar transparecer que havia ficado feliz por ela ter reparado sua ausência e sentido sua falta.
- Sério que sentiu minha falta? Nossa, mas mudando de assunto, você não está na boate né? Não estou escutando nenhum barulho. – Perguntou Tainá.
- É sério, não teria por que mentir. Não menina! Tô em casa, não aguentava mais aquela festa, apesar de estar super legal, eu já estava cansada antes mesmo de chegar lá [risos].
- Nossa, eu também! Tô acabada... Mas enfim, vou te deixar descansar e desculpa por ligar a essa hora da noite.
- Magina, não desliga. Até perdi o sono agora. Você tá bem? Sua voz tá meio estranha.
- Mais ou menos. Eu acabei tendo uma discussão com o Henrique, mas não foi nada demais, não se preocupe. – Disse tentando desviar o assunto.
- Não tenta fugir do assunto não, pelo seu tom de voz não foi ‘’nada demais’’ não. Não quer falar sobre?
- Estamos muito cansadas agora, e eu já tomei seu tempo demais Gio. Podemos falar sobre isso ‘’amanhã’’. Você tem algum compromisso de manhã?
- Claro, como você preferir. Não tenho nada não, sou toda sua.
- Podemos dar uma caminhada na praia a hora que acordarmos, só não muito cedo né, pelo amor de Deus [risos]. – Disse com um sorriso enorme no rosto.
- Com certeza! Mas vamos por o celular para despertar tipo umas 10 horas, caso contrário vou dormir até umas 3 da tarde e vamos nos desencontrar [risos].
- Marcado então! Acordamos as 10, nos falamos e depois vamos! – Disse Tainá mudando completamente o tom de voz, agora, super empolgada.
- Certo então, beijos amorinho e durma bem.
- Beijos Gio, boa noite! – Disse Tainá, logo após desligando o telefone.
Tainá ficou toda boba, com um sorriso que ia de orelha a orelha. Parecia àquelas adolescentes prestes a irem ao primeiro encontro com a pessoa que elas estão apaixonadas.
Deitou na cama, segurando o celular com as duas mãos em seu peito, e o sorriso ainda estava ali. Desligou a luz e foi pra baixo das cobertas. Em questão de minutos, apagou na cama.
Giovanna por sua vez também ficou toda feliz. Porém, era uma felicidade diferente. Era um sentimento de ‘’ela se importa comigo’’. E era tudo que queria sentir naquele momento, após ter achado que Tainá não estava nem aí para ela.
Voltou para o quarto e nem conseguiu disfarçar o sorriso no rosto. Leo já estava na cama, apenas com a luz do abajur acesa.
- Quem era no telefone? – Perguntou.
- Era a Tainá. Vamos sair amanhã de manhã, dar uma volta na praia. – Falou Giovanna com a maior tranquilidade do mundo, enquanto entrava em baixo das cobertas.
- Ah bom, legal – Falou Leo. – Vou desligar o abajur tá? Boa noite amor.
-Boa noite. – Disse Gio, virando-se de lado para Leo.
As duas dormiriam felizes naquela noite. Felizes por sentirem coisas que talvez elas ainda não soubessem ao certo o que era, mas que traziam paz e felicidade.
10 da manhã. O celular de Tainá começa a tocar e quando ela o vê, dá um pulo da cama. Ela nunca acordava assim, tão disposta. Acordava como qualquer pessoa que tem que ir trabalhar ou estudar: querendo dormir mais. Porém esse dia era diferente, mesmo tendo dormido pouco, ela iria encontrar Giovanna. Não teria como não ficar feliz.
Foi ao banheiro, lavou o rosto, escovou os dentes, passou um pó no rosto, um rímel e foi em direção à sala.
- Merda! O Henrique! Dormiu aqui na sala, nem me lembrei dele! – Disse Tainá ao ver o sofá bagunçado com um cobertor leve que ficava no quarto de hóspedes.
- Mas também, que se foda. Ele teve que ir trabalhar e eu não estava afim mesmo de me estressar logo cedo. Não hoje.
Giovanna por sua vez, ao ouvir o despertador tocar, não ficou tão animada. Estava morta de sono, ainda não conseguia abrir os olhos direito. Viu que Leo já não estava mais ali. Ficou mais alguns minutos se espreguiçando na cama. Até que se lembrou do motivo de ter acordado tão cedo: TAINÁ. Deu um pulo da cama, foi até a cozinha beber um copo de água, passou pelo quarto dos filhos e viu que ainda estavam dormindo.
Foi ao banheiro, escovou os dentes, passou maquiagem e se vestiu.
Não teria que se preocupar, pois Leo deixou um bilhete dizendo que logo voltaria e ficaria com as crianças.
Tainá terminava de se vestir quando mandou uma mensagem para Gio.
- Pronta?
- Sim! Nos encontramos aonde?
- Pode ser no Arpoador? Lá não é tão movimentando, teremos mais privacidade.
- Claro Tai. Estou saindo de casa. Encontramo-nos lá, beijão.
Pegaram seus respectivos carros e foram em direção à praia.
Giovanna chegou primeiro e decidiu mandar uma mensagem para Tainá dizendo que ela estava em frente ao quiosque de número 21.
Minutos depois Tainá chegou, deixou seu carro estacionado e foi à procura do quiosque 21. Avistou uma mulher com uma blusa de renda azul, cabelos castanhos jogados para trás, sentada em um banco e imaginou ser Giovanna. Foi se aproximando da mulher e confirmou ser Giovanna. Resolveu fazer como em uma cena da novela em que Marina chegou ao estúdio e foi por trás de Clara, colocando as mãos nos olhos desta, até que Clara a reconheceu pelo cheiro. Claro que não seria tão poético como na novela, mas não custava tentar.
Tainá se aproximou de Giovanna e colocou as mãos em seus olhos.
- Tainá! – Disse Giovanna, sorrindo.
- Só não vá dizer que me reconheceu pelo cheiro. – Disse Tainá rindo.
- Se eu dissesse isso, não estaria mentindo. – Disse Giovanna virando-se para trás e passando a ver Tainá.
As duas sorriram timidamente. Tainá estendeu a mão para que Giovanna se levantasse. Giovanna aceitou, e se levantou.
- Bom dia – Disse Giovanna abraçando Tainá fortemente.
- Bom dia – Disse Tainá ainda no abraço.
Agora já terminando o abraço, ambas voltaram a se olhar por alguns instantes. Até que Giovanna resolve quebrar o silêncio.
- Como você está? Não parecia nada bem ontem à noite.
- Estou bem melhor. Mas ainda não tive oportunidade de falar com o Henrique depois de ontem. Mas antes de começamos a conversar, você já tomou café da manhã?
- Ainda não! E você?
- Não também! Vamos comprar uma água de coco e algo para comer se você quiser?
- Claro, vamos lá! Mas quero só a água de coco mesmo.
As duas se dirigiram ao quiosque ao lado e compraram seus cocos, agora se dirigindo à areia. As duas andavam lado a lado, próximas, e perto da beira do mar.
- Agora não tem mais desculpas Dona Tainá, quero que me conte tudo que aconteceu ontem, sem faltar nenhum detalhe. - Disse Giovanna a olhando, séria.
- Tá bem, você me pegou. Vou contar tudo. – Disse Tainá contando desde o momento em que Henrique começou a pressiona-la a ir embora, até quando ela ligou para Gio.
Giovanna escutou a tudo atentamente e sem falar nada. Esperando o momento em que Tainá terminasse, para que ela pudesse falar.
- Nossa Tai, eu realmente sinto muito por tudo isso, e eu não esperava que o Henrique fosse assim. Claro que não dá para julgá-lo só por esse momento. Mas poxa, ele errou, errou feio, errou rude. - Riu para quebrar o clima tenso.
E pior de tudo – Giovanna continuou – Sentir ciúmes de fãs?! Qual é? É o cúmulo. Ele trabalha nesse meio, tudo bem que não é ator e não tem esse contato direto com os fãs, mas ele trabalha com gente que sofre assédio diário, e deve saber que você, fazendo o sucesso que fez e vem fazendo, não teria como não sofrer esse assédio. – Giovanna completou, agora esperando uma reação de Tainá.
- Sim, eu sei disso. E não tem nada que possa me fazer pensar ‘’ah, ele tinha alguns motivos para dar esse piti’’, porque não, não tinha nenhum motivo. Ai Gio, na verdade eu não tô nem aí pra esses chiliques dele, sabe? Eu não vou mudar por causa dele! Jamais! Não posso tratar meus fãs de qualquer outra forma que não seja maravilhosamente bem, eles merecem isso.
- Com certeza! Você está 100% certa. Tem só uma coisa, acho que você tem que conversar com o Henrique. Mesmo que você ache que está tudo bem agora, na verdade não está. Eu pelo menos acredito que a base de qualquer relacionamento é o diálogo. E prolongar uma conversa difícil pode trazer problemas no futuro.
As duas continuavam andando na areia enquanto conversavam. Entre olhares e palavras, elas se entendiam perfeitamente. Demostrando uma cumplicidade que elas desconheciam até o momento.
- Você tem razão Gio, por mais difícil que seja, quando chegar em casa, vou esperar e ver se ele fala algo. Caso não fale, vou me manifestar.
- Exatamente! É isso que você deve fazer. – Gio disse essa frase e logo seu celular começou a tocar. Viu que era Leo e então atendeu.
- O que ele queria? – Perguntou Tainá.
- Disse que é para eu encontra-lo num restaurante, porque depois fica muito cheio e ele está com fome [risos].
- Ah, tá certo. Gio, cara, não sei como te agradecer, sério mesmo. Poxa, eu só tenho você aqui, para desabafar. Na verdade eu acabei de descobrir isso, não sabia que tínhamos essa intimidade toda. Só sei que foi ótimo, tudo . – Disse Tainá, agora parada em frente à Giovanna.
- Que é isso Tai, não precisa agradecer. Sempre que precisar eu estarei aqui, é só chamar. E quando não precisar, também. Adoro ficar contigo.
Tainá foi ao encontro de Giovanna, a abraçando.
- Agora sou eu que quero te recompensar. O que eu posso fazer por ti?
- Ai meu Deus, que pergunta difícil. Mas pô é sua vez de me recompensar, é você quem tem que escolher! [risos]
- Que tal um jantar? Poderíamos sair qualquer dia desses, o que acha?
- Acho ótimo! – Mas agora tenho que ir, se não o Leo me mata.
- Se ele te matar, mato ele depois! [risos]. Vai lá Gio, e mais uma vez, obrigada por tudo.
- Se você me agradecer mais uma vez, vou te bater.
Tainá queria dizer ‘’bate, pode bater que eu gosto’’. Mas se contentou em dizer apenas - Tá certo, antes que eu apanhe, vai lá então, bom almoço. E vê se não se esquecesse de mim. – Disse abraçando Gio mais uma vez e lhe dando um beijo no rosto.
- Nem que eu quisesse – Disse Gio, agora indo em direção a seu carro.
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