Ao colocar os pés para fora da casinha amarelada, a menina sentiu-se animada.
Trancou a porta e começou a caminhar.
Viu os olhares reprovadores dos vizinhos e percebeu algumas janelas sendo fechadas.
Óculos escuros eram colocados e Jennie deu uma risada.
Caminhava, meio que embebedamente, e então acenou para uma das meninas na janela, que fez uma expressão de susto — e em alguns segundos todos da vizinhança pareciam enojados ao ver a garota.
Jennie deu uma mordida na fatia de melancia que tinha em mãos e diversos "Ohs" foram ouvidos.
O suco da melancia pingava no chão quente por causa do calor do verão.
Jennie gostava de pensar que assim refrescava aquele asfalto sujo e desgastado.
Ela conseguia ouvir os cochichos — meio altos demais — das pessoas: "Ela está bêbada", "Não, ela vive bêbada", "Será que é a melancia que lhe deixa assim?", "Que nada! Ela que é maluca", "Não vamos mais comprar melancia!", mas não se importava.
Ela tinha algo que todos eles não possuíam. Almejavam — mesmo que dissessem que não — porém, não conseguiam. A tal da liberdade.
Liberdade para ser, liberdade para sentir, liberdade para tocar. Apenas liberdade.
Liberdade; um preenchimento de tudo; liberdade.
Não havia sido sempre assim. Por muito tempo Jennie havia abaixado a cabeça e deixado os outros comandaram.
Havia sido uma "boa menina" por muito tempo. Tempo demais.
Quando pequena, Jennie havia escutado que meninas boazinhas não ficavam até tarde da noite na rua. E Jennie não era uma menina má.
Na adolescência, Jennie ouviu que meninas boazinhas não usavam roupas curtinhas. Jennie não era uma menina má.
Quando virou adulta, Jennie começou a ouvir que meninas boazinhas não ficavam com diversos rapazes, mas que também não esperavam para virarem titias.
Porém, Jennie não seguiu aquilo, não fingiu-se de desentendida.
Jennie Kim simplesmente não ouviu.
Obviamente, ela não tapou os ouvidos, nem gritou — como uma criança.
Ela apenas não deu atenção.
Aquela frase — como todas as outras — havia entrado em sua cabeça, mas — diferentemente daquelas anteriores — o quão rápido ela entrou, ela saiu também. Foi como uma fração de segundo. Tão rápido, mas tão rápido que nem deu tempo de ficar emburrada ou chateada.
Jennie sentiu um simples, singelo e confortável: nada.
Nada; um vazio de nada; nada.
Jennie finalmente havia aprendido que só ela — e apenas ela — mandava em sua própria vida.
Sim, ela mandava em sua própria. Ela mandava em sua própria vida. Fazia as regras e escolhia se seguiria-as. Ela vivia a vida de sua maneira.
As pessoas podiam cochichar, resmungar, cantarolar, que Jennie não se importaria.
Porque se Harry Styles podia ficar alto com o açúcar da melancia, quem era Jennie Kim para não ser ela mesma?
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