História VIVA LAS VEGAS (A Rainha Vermelha) - Aquela parte do plot que eles brigam

Cal é pesado pra caralho.

Santo Deus.

Isso não...

— Isso não vai dar certo. – Kilorn diz. — Não vai dar certo.

Shade também está achando que não, mas ele não vai admitir. Ele deu a ideia, tem que fazer dar certo.

— Vamos fazer assim... – Shade pensa melhor. — Larga as pernas dele, Kilorn. Devag- arg! – Kilorn soltou de uma vez.

— Seu imbecil! – Maven chia.

Kilorn os ajudou colocar Cal de pé. Ele ainda estava desacordado, então Kilorn deu um tapa na cara dele.

Cal abriu os olhos devagar, e depois os fechou outra vez.

— Eu quero bater nele também! – Maven diz genuinamente empolgado.

Shade balançou a cabeça. Ele só anda com gente maluca.

Maven abriu a boca e mordeu o bíceps do irmão, com muita força. Força o bastante para Cal voltar abrir os olhos de uma vez.

Ele se desvencilhou de Maven. Seus pés mal conseguindo manter seu corpo, ele cai.

P.s. Em cima de Kilorn.

— Tira ele! Eu vou morrer! Socorro! – Kilorn grita.

— Para de gritar! – Shade se abaixa, trazendo Maven consigo, consequentemente. — Eles vão nos prender se virem que estamos tirando um paciente escondido daqui.

— Foda-se! Eu tenho oitenta quilos de músculos em cima de mim!

Shade bufa, contrariado.

Ele e Maven fazem força para girarem o corpo de Cal para o outro lado.

Cal mexe a língua dentro da boca. 

— Mas o que...?

— Vamos, Cal. Me ajuda eu te ajudar. – Shade diz.

Cal aperta os olhos. 

— Estou cansado...

— Todo mundo está, amigo. – Shade responde, mas tem o pressentimento de que está conversando sozinho. — Então o que acha de levantar desse chão e irmos para o hotel dormir, hm?

Cal resmunga um: "hm" de volta.

— Cal. – Maven cutuca. — Cal. – mais uma vez. — Cal, Cal, Cal. – sem parar.

Cal torce a cara, irritado.

— Paraaaa.

Maven não para.

— Cal, Cal, Cal.

— Maven, para! – Cal grita, mais desperto dessa vez.

Maven sorri. Ele olha para Shade, orgulhoso da sua tática ter dado certo.

— Funcionou!

Shade lança as sobrancelhas para cima, mostrando uma falsa empolgação.

— Acha que consegue levantar? – pergunta a Cal, que nega num gemido manhoso.

Shade e Maven seguram cada um dos braços de Cal e forçam seu corpo para cima. Cal cambaleia até encontrar apoio na cama do hospital.

— Onde estou? – ele perguntou num fio de voz.

— No hospital. – Shade responde. — Você teve uma reação alérgica.

— M-mas... mas eu não lembro de ter comido camarão.

— Estamos todos no mesmo barco, ninguém aqui se lembra de nada.

— E... e a Mare?

Shade viu Maven revirar os olhos com força.

— A Mare desistiu do casamento. – Maven mente. — Ela me disse isso hoje de manhã.

Cal levanta a cabeça, os olhos esbugalhados.

— O quê?!

Shade balança a cabeça. 

— É mentira dele, Cal. Mare não desistiu, não.

Cal suspira aliviado.

Maven cruza os braços, puxando a mão de Shade. 

— Se ela fosse esperta, teria.

Shade trouxe seu braço de volta, desfazendo a pose de Maven.

— Aah... gente? – Kilorn chamou. – Temos um probleminha.

Shade jogou a cabeça para trás.

Mais outro?!

Deus.

— Os seguranças do hospital estão vindo para cá. – Kilorn avisa. — Acho que eles ouviram a gente.

Merda.

Merda. Merda. Merda.

Shade correu na frente primeiro, claro que o peso de Maven tornou sua corrida lenta, mas ele não deixa de fazer esforço até ter Maven correndo na mesma velocidade que ele.

Kilorn logo atrás, parando vez ou outra para auxiliar Cal, que mais caia do que se mantinha em pé.

Estão correndo pelo estacionamento procurando pela limosine, e quando acham se enfiam nos bancos de trás. Colando o rosto na janela para assistir a corrida de Kilorn e Cal, com os dois seguranças atrás deles.

Eles gritam em incentivo: "Vamos, vamos! Mais rápido! Andam logo! Vocês correm mais rápido do que isso! Anda, anda!"

Kilorn dá a volta para entrar no banco do motorista, ligando o carro antes mesmo de Cal estar dentro dele.

Kilorn tem a cabeça virada para trás para poder dar ré, mas o que ele faz é justamente o contrário. Ele bate no carro na frente com tudo.

Os seguranças cada vez mais perto.

E a gritaria dos meninos só o sobrecarrega. Puta merda. Kilorn não sabe fazer nada sob pressão.

Kilorn muda a macha dessa vez, dando ré quase passando por cima dos pés dos seguranças. E acelera com tudo para fora do estacionamento.

Tanto Shade quanto Maven suspiram aliviados.

— O... o que está acontecendo? – Cal perguntou no banco da frente, ainda estático com toda a adrenalina de segundos atrás. Ele vê os outros dois pelo retrovisor. — O que aconteceu com o seu nariz?

— O Elvis ali. – apontou para Kilorn. — Pulou para cima de mim e quebrou ele.

— E por que ele pularia em você?

— Porque eu estava dentro do porta-malas. – Kilorn quem respondeu.

— Por que?

Kilorn vira uma esquina.

— Eu não sei, cara.

Cal se encostou no banco. Com a mão na boca, sem acreditar.

Shade se debruçou para frente, com um sorriso no rosto que não demonstrava alegria de fato. 

— E, aparentemente, fomos drogados. Ácido gama-hidro... não sei o quê.

— Ácido gama-hidroxibutírico. – Maven murmura.

— Isso aí.

Cal apertou as sobrancelhas em confusão. 

— O que diabos é isso?

— Boa noite cinderela. – os três responderam ao mesmo tempo.

Cal fez que não com a cabeça.

— Eu nunca tomaria isso. Eu nunca tomei droga nenhuma.

— Você tomou. – Shade afirma. — Seu exame constou isso, e se você tomou... nós também tomamos. É a única explicação para não nós lembrarmos de nada da noite passada.

— Você não está entendendo. – Cal virou o corpo para trás. — Eu nunca colocaria droga nenhuma no meu corpo em nenhuma hipótese.

Maven bufou do lado de Shade.

— Claro, porque você é perfeito demais para isso. O garoto perfeito que nunca fez nada de errado na porra da vida inteira. Ah, faça-me o favor!

Maven está irritado.

Maven sempre fica irritado mais rápido quando se trata de Cal.

Shade está começando se sentir igual.

Cal é teimoso feito uma pedra.

— O que eu estou querendo dizer, Maven. – Cal também está ficando irritado. Os dois são como fogo e pólvora. Shade começa a contar o segundos para a explosão. — É que eu não tomaria isso por livre e espontânea vontade. Alguém me drogou.

— Então se alguém te drogou, drogou todos nós. – Kilorn se faz presente na conversa, sem tirar os olhos da estrada mesmo no sinal vermelho. Ele ainda sente o sangue queimando pela perseguição de agora a pouco.

Aquilo era verdade.

Shade coçou o couro cabeludo.

— Talvez se... se lembrarmos onde fomos ontem-

— Por que está olhando assim para mim? – Maven cortou.

Foi quando Shade reparou o olhar de Cal. Aqueles olhos dourados cheios de acusação.

Shade olhou para Maven em seguida, se deparando com os olhos azuis escurecidos de raiva como um mar revoltado.

Cal não disse nada de imediato.

Shade estava começando a ficar nervoso.

— Eu só acho...

— Acha o quê? – Maven cortou, levando seu corpo para frente sem nunca desviar o olhar. — Acha que eu fiz isso? É isso que você acha?

Shade encarou Cal esperando por uma resposta.

— Acho que o tipo de coisa que você faria. – Cal disse sem nem hesitar.

Silêncio.

Maven riu. Não o tipo de riso bonito de se ouvir.

— Ria, pode rir. – Cal diz. — Mas eu sei da verdade.

— Você não sabe de porra nenhuma! – Maven gritou.

— Eu sei que você nunca aprovou o meu casamento com a Mare! – Cal gritou de volta.

Maven negou com a cabeça, murmurando algo sobre: 

— Eu não estou acreditando nisso.

O fogo chegou no explosivo, Shade pensa. E agora eles vão queimar junto com a ira dos irmãos.

— Eu sei que você ainda gosta dela! – Cal acusou.

— Você nem sabe do que está falando! – Maven respondeu. — Você sequer sabe nada sobre mim! É tudo sobre você! Você! Você! Sempre seu ponto de vista. Sempre do seu jeito. Sempre-

— Não, não, não. – Cal impediu o caçula de terminar. — É você que sempre vira o jogo para o seu lado! É você que sempre quer se pagar de vítima.

— Cal!? – Shade não sabe se foi coisa da sua cabeça ou se a voz de Maven realmente saiu trêmula. — Você está me acusando de ter te drogado! Que porra?

Cal parece ter se dado conta da questão, mas não volta atrás. Ele é teimoso demais para isso.

Shade pensa que esse é o melhor momento para interromper a discussão antes que ela agrave. 

— Gente...

Mas, claro, não dá certo.

Maven o afastou quando tentou aproximação. 

— Você pode achar que é do meu feitio, mas eu nunca, nunca faria isso com ninguém. Muito menos com você.

Maven parecia magoado. Shade não sabe se Cal conseguiu enxergar isso.

— Sim, eu gostei da Mare por muito tempo. – Maven confessa. — Isso já passou. Nós somos amigos agora, e tudo que eu quero é que ela seja feliz mesmo que isso seja ao seu lado. Mesmo eu achando que você não a mereça.

Shade sentia o pulso de Maven cerrado para esconder a mão trêmula.

Maven riu outra vez. Um riso fraco. Frustrado. Chateado.

— Não acredito que preciso me justificar para você. – ele diz.

Cal suspirou. Parecia culpado, verdadeiramente por querer se desculpar. 

— Maven...

Mas Maven não quer desculpas.

— Papai me expulsou de casa.

Shade nunca presenciou um silêncio tão tenso. Pesava no ar. Sufocava.

Cal piscou. 

— Por que?

Maven abaixou o olhar. Abriu e fechou a boca, em dúvida em continuar. Parecia arrependido de ter iniciado o assunto. Mas então disse: 

— Ele me viu com um garoto.

Oh.

Maven não tirou os olhos do chão, com vergonha demais para encarar o irmão. 

— E você nem sabia disso.

— Mavey-

— Quantas vezes você voltou para casa e não me viu lá?! – Maven ergueu o queixo. — Você ao menos perguntou por mim?!

Cal não sabia o que dizer.

Mas Maven podia falar pelos dois. Por todos ali.

— Você só vê o que quer ver. – Maven diz.

— Isso não é verdade, Maven...

— É, sim. Você sabe que é.

— Kilorn, para o carro. – Shade é quem diz.

Todos parecem surpresos por sua atitude.

— O quê? – Kilorn diz de volta, sem conseguir entender.

— Eu disse para parar o carro. – Shade repete. — Vamos continuar daqui.

Kilorn para no encostamento.

Shade abre a porta e puxa Maven consigo, fechando-a em seguida.

Não esperou o carro ligar novamente.

Ele deu as costas, sentindo o olhar de Maven queimar sua nuca.

Shade quer que Cal vá se foder.