História Vizinhos de Quarto - Vizinhos de Quarto

Matteo Balsano

2 dias antes

- Meu amor. – falei pegando uma das mãos de Luna – Eu sei que pode me ouvir. Estou devastado em te ver assim. Já faz oito dias que você está deitada nessa cama, sem reação alguma. Eu queria dizer que você não imagina como faz falta ver esse seu sorriso, ver seus olhos verdes brilhando, sentir seus beijos. Só se passaram alguns dias, mas eu sinto como se tivessem passado semanas. Semanas sem você. Os médicos dizem que não temos como saber o que vai acontecer. Você pode acordar daqui a dez minutos ou daqui a dez meses. Mas não vou te abandonar. E preciso que você também não me abandone. Você foi a melhor coisa que me aconteceu. – fechei os olhos para conter as lágrimas – Luna você tem que resistir. Resistir e acordar. Eu te prometo um mundo melhor, mas você precisa estar aqui comigo para que isso aconteça. Preciso de você comigo. – depositei um beijo em sua testa – Eu sei que não fui o herói que você precisava, não consegui te proteger, não consegui te impedir de sofrer novamente com um acidente de carro. Me desculpa, meu amor. Me desculpa por não ter tido a capacidade de te proteger. A última coisa que eu queria no mundo era te ver assim, numa cama de hospital. – chorar era a única coisa que eu conseguia – Eu estou aqui graças a você. Se não fossem suas mãos me protegendo, eu teria morrido com um impacto na cabeça. Estou aqui graças a você e preciso que você resista por mim. Resista pelo nosso filho que você está carregando. – ela tinha que continuar lutando, tinha que viver, tinha saber que teríamos um filho – Não quebre a promessa, Luna. Por favor, não me abandone. – falei antes de dar um selinho demorado em seus lábios e sentar novamente na poltrona ao lado da cama dela. Iria esperar ela acordar, não importa quanto tempo isso demorasse.

- Com licença. – Nina apareceu na porta.

- Oi Nina. – sorri fraco – Entra ai.

- Vim ver como vocês estão. – olhou Luna que estava na mesma há oito dias – Ela vai acordar Matteo, tenho certeza que vai. – Nina parou do outro lado da cama.

- Queria ter a sua certeza.

- Eu conheço a Luna há um tempo suficiente pra saber que ele não se rende fácil por nada, e com isso não vai ser diferente. Temos que ter fé. – sorriu pegando a mão da amiga – Al principio me sonabas diferente, tan distinta en medio de toda la gente, y el final me di cuenta es extraño pero yo te entiendo igual – cantarolou a namorada do meu melhor amigo – Estamos esperando você acordar bela adormecida. – falou se esforçando para não chorar também – Você vai ser mãe sabia? E eu vou ser a tia mais babona do mundo. Mas pra isso você precisa acordar, amiga. – vi lágrimas caindo pelo rosto de Nina e a mesma veio até o lado da cama em que eu estava – Estamos juntos nessa. – sentou na poltrona ou meu lado.

(...) Hoje

Faz meia hora que estou sentado na poltrona ao lado da cama de Luna, como em todos os dias. Ela acordou do coma ontem, mas todos resolveram esconder isso de mim até hoje cedo quando eu insisti que iria vê-la. Aqui estou eu, esperando que ela acorde agora do seu simples sono da noite.

- Bom dia, princesa. – levantei e falei assim que percebi que ela estava acordando.

- Meu amor! – um sorriso gigante se formou nos lábios dela – Matteo, eu, eu... – antes que eu pudesse dizer alguma coisa ela me abraçou – Eu tive tanto medo...

- Eu também. – sentei ao seu lado na cama – Você nos assustou nesses dias. Nunca mais faça uma coisa dessas. – beijei sua testa – Eu te amo muito, não esqueça isso.

- Também te amo muito. Titia falou que você disse sobre a promessa. – ela sorriu tímida.

- Eu sou um cara de palavra. – sorri também.

- Vem cá, uma coisa me deixou curiosa.

- O que?

- Foi por coincidência que te deixaram no quarto do lado do meu?

- Eu diria que ser Matteo Balsano tem suas vantagens. – pisquei.

- Já sei, você jogou seu charme em cima de alguma das enfermeiras e conseguiu o que queria.

- Na verdade, tive que conseguir uma folga pra uma delas e ela convenceu o chefe a me mudar de quarto. – beijei Luna. Depois de 10 dias eu senti de novo aqueles lábios rosados sobre os meus – Mas agora você precisa descasar.

- Por que todos estão me mandando descansar? O que eu tenho? – Aurora e os médicos me avisaram que ainda não tinham contado a ela que ela estava grávida e que seria melhor que ela soubesse por mim.

- Você se lembra do que aconteceu na nossa viagem? – perguntei tentando começar o assunto da maneira mais calma possível.

- Seja mais específico.

- Lembra que nós comemos em um restaurante e depois passamos mal?

- Sim, mas o que isso tem a ver?

- Se lembra também que você ficou muito pior que eu e passou mal por mais tempo?

- Sim. – assentiu – Anda Balsano, para de enrolar e me diz o que eu tenho.

- Luna preciso ir com calma, você não pode se estressar.

- Todo mundo falando assim até parece que eu estou grávida. – ela falou e riu, mas sua risada deu lugar a uma cara de choque assim que ela percebeu que eu não tinha rido da situação – Ma-Matteo eu...? Nós...? – assenti movimentando a cabeça dizendo que sim e ela levou as mãos a barriga.

- Você quase sofreu um aborto por conta do acidente, mas está tudo agora está tudo bem com vocês dois. – ela ainda estava em estado de choque – Amor quer que eu chame alguém? Um médico? Eu enfermeira?

- Não precisa. Eu só tenho que assimilar isso. – não entendi a reação dela.

- Luna, certeza que está tudo bem?

- Está. É que... Eu acabei de acordar de um coma e eu só tenho 17 anos e... E tem um bebe dentro de mim... São muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo. – a abracei.

- Eu sei que são. Com a gente é tudo tão intenso e repentino que assusta mesmo.

- Você está feliz? – ela perguntou com a voz um pouco manhosa.

- É claro que estou. Você acordou. Eu não me perdoaria se te acontecesse algo.

- Não, perguntei se você está feliz por causa do bebe.

- Feliz? Eu já pesquisei até preços de berçinhos enquanto você estava dormindo.

- É sério? – ela riu e eu não entendi – Matteo você é a pessoa mais exagerada que eu conheço. Não deve ter nem um mês que essa criança está dentro da minha barriga e você já está pensando no berço.

- Pesquisei preços de armas também, caso seja menina, tenho que me preparar para protegê-la dos garotos. – se era pra ser exagerado, eu seria em tudo – Falando sério, vai dar tudo certo.

- Esse é o começo de uma nova vida. Tive uma segunda chance e não vou desperdiçá-la.

- Esse é o começo da nossa nova vida juntos. – sorrimos juntos.

- Você tem noção que vamos ser pais? Tipo,vamos ter uma miniatura nossa.

- Na verdade ainda estou assimilando a notícia também. Quanto mais falamos, mais real parece,

- Em nove meses vai ser bem real. – percebi que ela tinha se cansado da conversa.

- Bom, agora que você já sabe o porquê de todos te mandarem descansar, é bom que a senhorita descanse. Vou estar aqui do seu lado. – desci da cama e voltei para a poltrona. Mal via a hora de voltarmos para casa.

Luna Valente

1 semana depois

Depois de quase três semanas no hospital eu estou em casa novamente. Já não agüentava mais aquela comida sem sal e aquele ambiente cheirando remédio. Tomei meu banho, vesti uma roupa confortável e quando estava descendo as escadas ouvi uma voz conhecida.

- Ambar... – falei entrando na sala.

- Luna, fico muito feliz em saber que está bem. – veio me cumprimentar – Me assustei quando vi a noticia do acidente. Estava na Espanha visitando minha família e só voltei ontem. Não podia deixar de vir ver como o Matteo está. Espero que não se incomode.

- Imagina. – eu estava com ciúmes – Vocês estiveram juntos por muito tempo, é normal sua preocupação. – ela sorriu fraco.

- Luna eu sei que não fui a melhor das pessoas com você e nem tentei me aproximar de forma amistosa, mas convenhamos que qualquer pessoa na minha situação teria ficado com ciúmes, porque bem, você roubou meu namorado. – dessa vez quem sorriu fraco fui eu – Mas queria saber se podemos deixar isso pra trás. Matteo é uma pessoa importante pra mim e eu queria continuar tendo ele por perto como amigo, mas pra isso preciso que você também aceite as minhas desculpas e talvez a minha amizade.

- Bem, acho que quem deveria pedir desculpas sou eu. – ela riu – Nunca tive a intenção de me apaixonar pelo Matteo e muito menos de terminar com o namoro de vocês. E toda minha implicância com você também era ciúmes, assim que acho que estávamos no mesmo barco. Acho que podemos começar de novo sim. Sei que você é uma pessoa muito importante para o ele também e não quero ser a namorada chata que implica com todo mundo, com o tempo talvez possamos ser amigas.

- Eu juro que não vou tentar reconquistar o Matteo, pode ficar tranqüila. Ainda mais agora que sei que vocês vão ter um filho. – ela abaixou o olhar – Parabéns.

- Obrigada. – falei meio sem jeito.

- Você e Matteo merecem ser feliz.

- Ouvi meu nome? – Matteo entrou na sala com uma bandeja com copos de suco – Espera, eu estou delirando ou vocês duas estão conversando numa boa?

- Que foi Mauricinho, ta com ciúmes? – falei causando gargalhadas nos dois – Ambar está me contando que veio te visitar.

- Amor eu esqueci de avisar antes e... – o interrompi.

- Tudo bem. Não tem problema, Matteo. Nós duas aparentemente resolvemos nossas diferenças e vocês podem ser amigos. Não vou ficar regulando isso. – falei enquanto ele se sentava ao meu lado.

- Já falei que te amo? – beijou meu pescoço. Ouvi Ambar pigarreando.

- Eu sei que vocês namoram e tudo mais, mas comer na frente dos pobres já é forçar a barra.

- Desculpa. – Matteo se ajeitou no sofá – Acho que essa é a ultima cena que eu imaginaria ver depois de tudo o que aconteceu.

- O amor de vocês é forte. – Ambar falou sorrindo fraco – Resistiu a tudo.

- Quem sabe você não encontra alguém assim também. – falei.

- Estou bem sozinha. Preciso de um tempo pra colocar minhas ideias no lugar.

- Ambar Smith nunca está sozinha. – Matteo falou e eu levantei a sobrancelha sem entender – Na época que Ambar era minha melhor amiga eu nunca vi ela sozinha, sempre tinha mil caras aos pés dela.

- Inclusive você. – Ambar falou e eu fiz uma careta – Mas dessa vez estou sozinha mesmo, ainda não encontrei nenhum cara ao nível Matteo Balsano.

- Acho que esse modelo é único e não está a venda. – falei e rimos juntas. Talvez ela fosse uma pessoa legal... Ah, mas era engraçado chamá-la de loira azeda.

- Bom, eu tenho que ir. – levantou – Só passei pra ver como vocês estavam mesmo. Tchau Matt. – falou e deu um abraço nele – Se cuida, por favor. Tchau Luna. – deu um sorriso. Tínhamos nos acertado, mas não a ponto de nos abraçarmos nem nada do tipo – Melhoras pra você. E cuida dessa barriga.

- Obrigada. – sorri de volta – Vou cuidar. – Matteo acompanhou Ambar até a porta e tia Aurora apareceu na sala.

- O que está fazendo aqui? Você tem que descansar.

- Tia eu estou bem. – ri e levantei para abraçá-la.

- Sei que está bem, mas são recomendações médicas.

- Ok, vou subir e ficar fazendo nada no meu quarto. – falei bufando.

- Vou junto. – Matteo prontamente falou.

- Estou de olho em vocês dois. Enquanto vocês dois não se recuperam bem é cada um no seu quarto.

- Tia acho que agora já não adianta mais dar sermão. – apontei minha própria barriga.

- Enquanto você não fizer 18 anos, vou continuar te tratando como um bebe.

- Ouviu Matteo, você num quarto e eu no outro, como era no inicio. – virei e olhei com uma careta pra ele – Matteo não. Mauricinho.

- Então você quer jogar nosso jogo, Marrentinha? – cruzou os braços fazendo sua típica cara de mauricinho.

- É sempre bom jogar. – pisquei e sai andando em direção a cozinha. Ele sabia bem o que iríamos fazer. Se vamos começar tudo outra vez, a cozinha era o primeiro lugar a ser revisitado nesse nosso jogo de vizinhos de quarto.