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História Você, Eu e Nossa Falha Comunicação - Palavras de Outrem e Confrontações


Escrita por: MadKitty236

Notas do Autor


Para o bem ou para o mal, eu não mando na minha inspiração, ela manda em mim. Lamentável, eu sei.

      Bem, a classificação subiu por uma cena aí no final. A música que aparece se chama Se Eu Não Te Encontrasse, dos créditos de Pocahontas. E, o livro citado, Limites Cara a Cara, de fato existe e é de autoria de Henry Cloud e John Townsend.

      Ficou muito comprido, mas iria perder a essência se eu dividisse. Vocês que lutem, amo vocês, desculpa por Cerne ou Circunstância a hora vai chegar tem que ter fé (ai eu vou chorar), boa leitura.

Capítulo 2 - Palavras de Outrem e Confrontações



       Passava da hora do almoço quando Pappy entrou em seu casulo pela primeira vez no dia. Se apressou para o banheiro, a bexiga estourando. O sono que sentia lhe rendeu uma bagunça cataclísmica no ambiente. Sujo e molhado, não havia mais como ignorar a necessidade de um banho. À caminho do box, ainda atingiu a proeza de escorregar na própria urina. Entrou debaixo da água fria e sentiu que podia chorar de puro estresse.


       A balada da noite passada dependurou até o Sol nascer, e então Pappy teve de guiar a porcentagem descente de trolls no primeiro número de dança da manhã. E o segundo. E o terceiro. E a escola infantil. E o discurso de motivação semanal. E participar da avaliação de design e produtividade com Sky Toronto. E lidar com a "crise" da amizade em colapso entre Denise e Rufina. E ainda explicar para um grupo de trolls da velha guarda o porquê deveríamos respeitar e amar trolls de diferentes músicas. Não ingeriu nada além de um cookie queimado que uma criancinha da escola lhe entregou e claro, muita água. Em um primeiro momento, para neutralizar o álcool em seu organismo, e posteriormente para evitar que transpirasse até a desidratação. Não havia nenhum músculo que não estivesse doendo e, agora que finalmente parou para respirar, a fome lhe contorcia o interior.


       Ainda estava correndo contra o tempo, então terminou o banho rapidamente e se vestiu com a mesma pressa — e consequente desleixo. Correu para a cozinha procurar algo que lhe servisse de desjejum. Enquanto esquentava restos de uma torta de frango, comeu alguns pedaços de bolo de baunilha e tomou uma boa dose de café. Junto ao glorioso som do temporizador avisando que a torta estava no ponto, soou um sonido que fez Pappy querer vomitar: a campainha. Ele correu para o banheiro escovar os dentes, tentar deixar o cabelo apresentável e esconder as olheiras com um pouco de maquiagem. Ritual que, apesar da inconveniência que representava, começava a ser muito comum e fazia em tempo recorde.


       Ele abriu a porta com um sorriso. E apesar de a visão ter feito o estômago revirar em ansiedade, o sorriso não vacilou.


        Sua mãe vestia um vestido mais comprido que o usual, em um verde escuro, e seu cabelo estava ordenado. Ao seu lado, estava um troll rosa que vestia um refinado terno de luto, luvas pretas e um véu cobrindo o coque azulado. Ele tinha feições apáticas, usava óculos minúsculos de lentes quadradas e era muito magro. Seus dedos esguios batucavam no topo de sua bengala amadeirada.


  — Mamãe. — O rei saudou-a com um abraço, para então virar-se ao homem. Ciente de seu desgosto por germes, não o tocou. — Mister Guffin. Bom lhe ver! Já faz um tempo. — Ele apenas assentiu minimamente. — Entrem, por favor.


       Assim o fizeram. Imediatamente, Pappy se adiantou para a cozinha, percebendo pelo odor que queimou a torta. Tirou-a do forno com uma risada.


  — Não sei se isso é mais engraçado ou mais trágico... — A tapou com um pano de prato e deixou na pia. — Sentem-se, por favor! Gostariam de um chá? Um bolo? 


  — Gostaríamos de tratar de certo assunto — A antiga rainha declarou. — E rapidamente. Você logo tem um compromisso, pelo que ouvi.


  — Ah, sim… — Pappy sentou-se em uma poltrona à frente do sofa onde suas visitas estavam. Coçou a testa. — Que assunto gostariam de tratar?


  — Primeiramente, arruma essa postura e fecha o zíper. — Mr. Guffin grunhiu. — Espero que não estava fazendo nada indigno de um príncipe.


  — Apenas suprindo necessidades biológicas. — Defendeu-se Pappy, fechando a braguilha do macacão. Viu o rosto enojado do ex-tutor de etiqueta e percebeu o que disse. — N-Necessidade de me alimentar! Estava com pr-pressa para comer e não vi que e-estava aberto.


  — Claro. — Disse o homem, arrumando os óculos no rosto. — Perceptível que sua maturidade é questionável…


  — Rei. — Interrompeu Pappy, a postura ereta e o rosto elevado.


  — Quê? 


  — Você disse "príncipe" ao se referir a mim e isto está incorreto. Eu sou rei. — Asseverou, o olhar afiado, mas um sorriso divertido nos lábios.


  — Claro, claro. — Repetiu. — É sobre isso que vim falar. Sendo direto, estou me mudando novamente para a Vila do Pop para lhe oferecer tutoria na escolha de uma rainha. 


  — Para o quê? — Pappy rugiu, e olhou para a mãe exigindo explicação.


  — A menina Bough é adorável e eu admiro a responsabilidade dela, filho, mas é preciso averiguar se ela é capaz de lidar com a coroa. — Sua voz soava calma demais para as palavras que proferia. — Tens que lembrar que não é somente homem, mas rei. O amor verdadeiro não é cego nem burro. Pensar a longo prazo faz parte do processo de entregar seu coração.


  — Principalmente porque estará entregando majestade a ela, simultaneamente. — Mr. Guffin enfatizou.


  — Tenho que lembrá-lo que a última garota que você julgou boa para mim acabou traindo o reino. — Disse o rei, uma sobrancelha arqueada. O tutor apertou a bangala com força, mas sorriu.


  — Eu sou ótimo identificando máscaras. Mas a natureza que Creek revelou nem mesmo ela conhecia. 


  — Hm.


  — Seu rosto exausto, seu estômago roncando e o fato de que este lugar cheira a cola seca e coisa queimada deixam claro que você é incapaz de governar sozinho. — Prosseguiu. Pappy engoliu em seco. — Aquele seu amigo Nino viaja com a namorada e você desaba? Um rei não pode ser dependente de um súdito, eles tem vida própria.


  — Eu não sou dependente de ninguém e não preciso de ajuda para escolher parceira. Não planejo deixar Bough e a não ser que ela me deixe, ela será minha rainha independente de… — Pappy foi interrompido pelo baque produzido pela bengala de Mr. Guffin contra o chão.


  — Outra vez este ego irredutível! Seja um pouco mais humilde e ouça os mais velhos! Realismo, Pappy, realismo! Esta tal Bouk? Nunca vi garota tão imprópria para a realeza. Suja, anda encolhida como roedor e é teimosa feito bode. 


        Pappy levantou-se nesta hora, inflamado em cólera.


  — O senhor nunca mais fale neste tom comigo. E principalmente, nunca mais fale da Bough. — Sua voz reverberou alta e firme, o tom normalmente aveludado agora áspero de seriedade. Observou os dois trolls enrijecerem os músculos. — Ainda parecem não ter entendido! Minha mãe, meu tutor, eu os amo e respeito muito e serei grato a vocês por toda minha vida. Isto nunca vai mudar. Mas nossa relação precisa. Eu sou um adulto agora e é assim que devem me tratar. E acima disso, sou seu Rei. Respeito é diferente de obediência. Os respeito, mas agora quem deve submissão são vocês. Agradeço a preocupação, mas vou governar do meu jeito e vou casar com quem eu bem entender. Eu exijo que respeitem minha amada. Apenas eu conheço o coração da Bough e ficariam humilhados se soubessem quanta majestade há ali.


       Eles permaneceram estáticos, os olhos levemente saltados. Pappy suspirou, indo até a ilha da cozinha pegar a coroa. Pôs sobre a cabeça e voltou à sala:


  — Agora, tenho um anúncio a fazer, como bem sabem. 


       Os trolls ergueram-se e foram até a porta. Pappy se inclinou e beijou a mão da mãe antes desta sair, atordoada. Mas antes que Guffin também deixasse o local, a porta foi fechada.


  — Você não. Ainda temos algo a conversar. — O rei sorriu. Percebeu seu ouvinte tremer. — Por toda minha infância e adolescência, você me obrigou a me curvar perante minha própria mãe. Você também a saudava com uma reverência. Mesmo que ela insistisse para toda a Vila que isso não era necessário. Você dizia que era uma questão de respeito e que apenas tolos não reconheciam suas majestades. Hoje veio até minha casa gritar comigo, mas eu reconheço quão difícil deve ser entender que o tempo passa. Diga-me, agora que nossa relação está esclarecida, posso supor que tornou-se tolo ou provará o contrário?


       Os olhos de Mr.Guffin pareciam o dobro do tamanho natural. Ele engoliu em seco, se recuperando. Fechou os olhos com força e, com a mão segurando a bangala no peito e a outra detrás das costas, curvou-se. Pappy olhou-o com os olhos apertados.


  — Mais baixo. — Exigiu. O troll fez uma reverência mais profunda, o ângulo de seu corpo em perfeitos noventa graus. Pappy sorriu. — Perfeito. Pode levantar. — Ele o fez. Seu rei aproximou-se de seu ouvido. — Não quero que o faça nunca mais, espero ter sido claro. Entretanto, eu ordeno que na próxima vez que ver Bough, e todas as conseguintes, se curve perante ela.


  — Sim, majestade. 


  — Pode me chamar apenas de "Pappy". — Disse em tom doce, abrindo a porta.


  — Sei que posso, majestade. 


       Um sorriso viperino cortou o rosto do Rei do Pop. Eles seguiram até o cogumelo de anúncios. Mr. Guffin misturou-se com o público, e Pappy se direcionou para o palco. Bough lhe esperava. O rosado fechou os olhos e respirou fundo antes de sair de seu modo sério.


  — Olá, amor!


  — Ah! Aleluia! Pensei que havia dormido. 


  — E você não pensou em ir me acordar?


  — Pensei; com muito desgosto pela ideia. Você precisa cuidar de você também, sabia? — Bough arrumou o colarinho do macacão de Pappy e entregou-lhe os relatórios. O rei franziu o cenho para os papéis.


  — Sua letra é terrível.


  — Minha letra é deslumbrante; isso aí não foi eu quem escreveu. — Empurrou-o, carrancuda.


  — Sei disso, estou brincando, mas realmente não consigo ler. Meus olhos estarem embaçados de sono não ajuda. — Sorriu, coçando a nuca. — Apresenta comigo? 


  — E-Eu? Na última vez isso não deu muito certo… 


  — Deixa a positividade comigo! Apenas leia os dados. — Ele fez uma expressão fofa e juntou as mãos, emitindo ruidinhos de filhote.


  — Okay, okay! Trapaceiro… 


  — Essa é minha louca preparada! 


       Eles subiram no cogumelo. 


  — Hi-Yooo Vila do Pop! — Ele saudou, saltando. A multidão o recebeu com exclamações calorosas. — O dia está ventoso e nublado; a programação hoje é abraços quentinhos e todo mundo mostrando as verdadeiras cores na pista de dança! Eu digo "Arco" e vocês dizem "Íris", pode ser, galera? Arco! 


  — Íris! — O público retribuiu.


  — Arco! — O rei vozeou novamente.


  — Íris! — Vibraram os trolls. Pulavam, balançavam os cabelos, e abraçavam uns aos outros contagiados pela energia de seu líder.


  — Vocês são incríveis! — Pappy riu. — Por esta razão, penso que serão incríveis recebendo nossos amigos de outros ritmos! Vim anunciar à vocês que o programa de intercâmbio está oficialmente em funcionamento, yay! Os documentos foram todos revisados e agora, minha querida Bough — Ele a puxou pela cintura. — vai ler para vocês todos os trolls do Pop que já se inscreveram, e os primeiros amigos que receberemos em nosso meio!


  — B-Bom… — Bough olhou para o rei, corada. Ele sorriu, a encorajando. — Aqueles dos nossos que se inscreveram até o momento: Arabesque, CJ, Cybill, Gia Grooves, Harper, Klaus Von Frousting, — Pappy podia sentir o sono se apoderando de si aos poucos. Ele recostou a cabeça sobre o ombro da sobrevivente. Viu-a travar a voz, surpresa, mas logo recuperou-se. — ah, Master Controll, Priscilla, Rufus e Uncle Ron Jr. Os destinos destes trolls são informações confidenciais e apenas eles podem lhes informar. 


       "Nossos amigos de outros ritmos que virão passar um tempo conosco são: Bliss Marina, do Thecno; Clampers e Growly Pete, do Country; Carol e Sid Fred, do Hard Rock; Chaz, do Smooth Jazz..."


        Pappy permanecia com os olhos abertos e distribuía olhares específicos e sorrisinhos aqui e ali para não transparecer seu real estado. Eventualmente, seu olhar encontrou sua mãe e seu antigo tutor. Eles pareciam realmente infelizes com algo. Pensou que possivelmente os teria magoado, mas a conversa era necessária, então desde que não estejam verdadeiramente feridos, o sentimento se resolveria com o tempo. Contudo, o rapaz teve consciência de que ainda segurava a namorada pela cintura. Pensou em se afastar imediatamente, porém a ideia de desobedecer dezenas de regras e conselhos de uma vez foi infalível em atrair-lhe. 


        Em ação contrária às orientações, ele levou ainda a outra mão para junto do corpo da amada. Deixou que esta lhe desenhasse círculos na barriga esculpida. A mão que repousava em sua cintura desceu, acariciando a coxa alheia. Bough estava terrivelmente vermelha. Os papéis que segurava acabaram amassados pela força que neles impôs. 


  — … E Tambora, do Reggaeton. — Apesar disso, ela não deixou que a voz falhasse uma vez mais. Amassou os papéis depois de terminar de lê-los. — Contamos com a colaboração de todos para tornar a estadia de nossos convidados a melhor possível. Sejam respeitosos, pacientes, corteses, acolhedores e empáticos. Todo aquele que deseja participar do intercâmbio fale com Karma para fazer a inscrição. 


  — Há um mundo cheio de belezas, músicas e experiências novedias lá fora, então vale a pena se inscrever! — Pappy enfim se afastou, para gesticular do seu jeito extravagante. — E se optar por receber nossos amigos, lembre-se que nossas terras têm muita cor para se admirar, mas que nada vale sem amor, respeito e harmonia! Muito obrigada pela atenção e tenham um bom dia!


       Quando o casal desceu ao chão, Mr. Guffin se encontrou com eles. Diante Bough, o homem ajoelhou e curvou-se até sua testa tocar o chão. O rosto da garota subiu três tons de vermelho.


  — Meu senhor, não faça isso! Está me confundindo! — Ela se apressou a levantá-lo. — E você usa bengala… Não tem condições de fazer algo desta categoria! Está com dor? Me desculpa, não sei com quem me confundiu mas me responsabilizo a te levar para ver a Dra. MoonBloom!


  — Tenho certeza do que fiz, dama. — Ele respondeu. — Não me arrependo.


  — Bem... — Ela murmurou, confusa, o vendo ir embora ereto e impassível como se nada tivesse acontecido. — Eu, por outro lado, me arrependo de ter levantado da minha cama hoje.


  — O que disse? — Pappy questionou, não tendo ouvido.


  — Nada! — Bough se pôs em caminho ao bunker.


  — Posso ir para seu abrigo, Bou-Bou? — Pediu, seguindo-a. — Preciso dormir e no meu casulo volte e meia batem pedindo socorro para assuntos não muito urgentes em essência.


  — Faça como quiser. — Retrucou.


       Pappy nunca sabia ao certo quando o mau humor de Bough ultrapassava os níveis habituais e muito menos o que fazer quanto a isso, uma vez que a mesma odiava falar de suas emoções e resolvia seus próprios problemas sozinha. O silêncio da garota era um sinal. Sempre ficava mais quieta quando estressada ou magoada. Pappy ainda estava aprendendo a lidar com isso, mas normalmente a concedia espaço por um período e então oferecia apoio. 


       Ele segurou na mão dela com carinho até chegarem no bunker. Bough guiou Pappy a deitar-se em sua cama e foi ao banheiro. Voltou com seu roupão branco e se aconchegou na cama junto a um livro que se esforçava para esconder a capa. Pappy observou a amada ler por longos instantes até julgar que os cobertores não lhe concederiam o tipo de calor que necessitava. Ele se aproximou da garota, pôs uma perna e um braço sobre ela, enroscando-se. Sorriu, finalmente permitindo que o sono lhe derrubasse. Bough sentiu o fantasma de um sorriso surgir em seu rosto, mas impediu, revirando os olhos. 

 

       Quando Pappy acordou, percebeu que a sensação de que sua vida e seus sonhos pareciam se mesclar não era, afinal, normal. A borda de seu campo de visão não estava escura e podia ver com clareza. Não conseguia se lembrar a última vez que teve sono de qualidade. Seu corpo parecia outro. Ainda havia um peso sobre si, mas não eram dias de esforço ineterrupto — era Bough, na verdade. Ela também dormira, confortada no peito de seu amado. Pappy fez carinho no topo da cabeça dela, observando seu rosto relaxado. Era um tanto difícil vê-la em tanta paz. Talvez a culpa fosse em parte do rei.


       Talvez sua mãe e seu tutor tenham razão. 


  — O que uma coroa faria com esse rostinho? — Perguntou-se num sussurro. Teve medo. O sorriso de Bough era o mais radiante que Pappy havia visto em toda sua vida. Queria entregar tudo de si a ela. Mas isso exigia entregá-la o fardo da majestade. Casar com ela poderia significar extinguir o mais belo sorriso da Terra. — Se eu pudesse arrancar toda ansiedade e estresse da sua vida e tomar para mim, eu faria.


  — Eu faria o mesmo por você. — Bough disse, abrindo os olhinhos. — Dormiu bem?


  — Melhor impossível. — Sorriu, torcendo para que a namorada não tivesse ouvido a primeira frase de seu monólogo. — Mas estou com fome. Podemos comer? 


  — Claro! Também estou faminta. — Ela se levantou, ajeitando o roupão que, tendo escorregado, exibia o conjunto rosa que lhe emoldurava o corpo. Foi em direção da cozinha. Pappy sorriu consigo, imaginando quantas características apaixonantes ela ainda lhe escondia.


       Ele foi até o banheiro lavar o rosto dos vestígios de maquiagem. Quando passou pelo quarto novamente para ir até a cozinha, percebeu um livro na cabeceira da cama. Curioso, se aproximou. Entitulava-se "Limites Cara a Cara: Como desenvolver a habilidade de conversar aberta e francamente com os trolls". Engoliu em seco, indo se encontrar com Bough.


  — Bou-Bou, você… Ahn… Quer conversar comigo sobre… Algo em específico? — Gaguejou. A mencionada virou-se muito corada, pondo uma travessa de brownies na mesa, onde repousava um prato de croassaints.


  — Eu… Bom, sim. — Suspirou. — Mas não sei se é o momento certo. É que ainda não sei se vale a pena falar. Podemos só comer?


        Pappy mordeu os lábios, pensativo.


  — Quer saber? Vem comigo! — Declarou, empolgado. Pegou um grande pote e enfiou quantos brownies e croassaints couberam. O chocolate quente pôs na primeira térmica que encontrou. Com um gesto da cabeça chamou, mais uma vez, a sobrevivencialista e se pôs a caminhar até o elevador. 


        Eles saíram noite à fora, caminhando apressados na direção oposta da Vila. A relva estava molhada e o ar fresco. Bough perguntava onde iriam, envergonhada com sua aparência. Pappy apenas ria como uma criança. Em determinado momento, chegaram até o local onde repousava o Balão, Sheila. Ela pareceu animada, mas Pappy a orientou a permanecer quieta em nome da discrição. Ele pôs as coisas ali voltou para oferecer a mão à Bough.


  — Me concede a honra de apreciar sua companhia em um breve vôo? — Sorriu galanteador. Bough riu um pouco, os olhos hipnotizados pelo charme de seu amado. Ela estendeu a mão, permitindo que Pappy a puxasse. O balão logo passou a subir. O rei ajustou o curso.


       O céu da noite estava limpo e estrelado, governado por uma lua crescente. Por um tempo, o casal apena admirarou como a Vila parecia cada vez menor, como o céu parecia os engolir em sua magnitude e como a beleza dos rios e árvores abaixo deles pareciam maiores que suas preocupações. Então Pappy puxou o pote e ofereceu um brownie à Bough. Ela aceitou, mas ainda estava encantada com a visão. Pappy sentou e distraiu-se com os brownies e croassaints, centrado em saciar sua fome. Dividiram o copo embutido da garrafa térmica e tomaram o chocolate quente. Apesar do silêncio profundo, a atmosfera ali era abundante em paz. Depois de comerem, se cobriram com os cobertores térmicos — que Bough mantinha no balão para emergências — e ficaram observando a paisagem, as mãos entrelaçadas.


  — Eu amo poder fazer estas loucuradas com você. — Bough suspirou, apertando a mão do amado. — Simplesmente fugir na madrugada, sem dizer a ninguém, sem preparação, e eu nem sei onde estou indo. É muito inconsequente e posso pensar em muitos cenários onde isso não acaba bem… Mas eu adoro. Me sinto livre com você. Me sinto viva. 


  — Sou grato por poder te fazer sentir assim. Mas… Você parece ainda não ver que é livre para falar comigo. — Virou para olhar nas íris azuis da sobrevivente. — Não quero te forçar a falar, é claro. É só que… Bom, eu sei que eu não escutava ninguém e era realmente um pé no saco quanto à diálogos e confrontos. Mas eu tô tentando melhorar. Então... Por favor, confie que vou lidar da melhor forma com o que você precisa me dizer. E se eu não o fizer, peço que me deixe saber o que estou fazendo e seja persistente. 


  — Tem razão… — Desviou o olhar. — Eu estava postergando a conversa por temer sua reação. É que você costumava racionalizar suas más decisões e me culpar e… Fez muito progresso desde o Tour, então temo demais que volte a ser o que era. 


        Ele puxou o rosto dela para encarar-lhe novamente. Sorriu, a transmitindo coragem. Bough suspirou.


  — Eu te amo muito, por isto quero que entenda que não quero te fazer sentir mal, mas resolver um problema que pode nos afastar. Quero falar com você sobre o modo que me tocou no palco hoje cedo. — Ela disse, em tom sério. Os ombros de Pappy encolheram. — Primeiramente, me senti muito envergonhada. Ainda assim, entendo que nunca falamos sobre nos expormos e você gosta de demonstrar afeto por meio de toque, então estava tudo bem até aí, ainda que eu estivesse constrangida. Só que então você intensificou o toque e eu me senti simplesmente humilhada. Foi diferente de quando você faz em secreto. Não parecia você, senti como se estivesse sendo tocada por outro. Era como se estivesse me exibindo, como uma espécie de… De objeto. Estou magoada, Pappy. 


        O rei sentiu seu coração despedaçar e afundar em seu âmago. Sua caixa torácica parecia subitamente apertada demais para seus órgãos. Ele amaldiçoou a si mesmo mil e uma vezes em pensamento. Novamente pensou em como era a razão das rugas de sua amada. Ele a abraçou.


  — Perdão, Bough! E-Eu realmente… Fui um idiota. Eu sinto muito mesmo! Não foi minha intenção, e-eu… Não farei de novo. — Ele a apertou. A garota se afastou para lhe encarar a face e oferecer um sorriso. — Você tem razão. No início foi só hábito, eu estava com sono e não levei em conta quão impróprio para a situação eu estava sendo. Mas… Saí de mim. Na verdade não estava agindo como eu mesmo desde antes do anúncio e realmente não me orgulho das coisas que fiz. — Suspirou. — Requisitei que fosse sincera e farei o mesmo, okay? 


  — Por favor. — Ela acariciou o rosto dele.


  — Minha mãe e meu antigo tutor de etiqueta visitaram meu casulo por volta de meio-dia. Queriam falar s-sobre a escolha de uma rainha. — Seu rosto tingiu-se de carmesim. Bough apenas assentiu, o incentivando a continuar. — Odeio o fato de como ainda me vêem como uma criança. 


  — Isso não é impressão sua?


  — Literalmente me chamaram de príncipe por ato falho e gritaram comigo, na minha própria casa! — Cerrou o cenho, a sensação de fúria ainda frequente. — Queriam que eu os obedecesse. Eles não estão particularmente convencidos de que você será uma boa rainha. Desrespeitaram a nós dois. Eu conversei com eles sobre e acho que entenderam. No entanto… Eu não parei por aí. Exigi que Mr. Guffin se reverenciasse diante mim e... Ordenei que ele fizesse o mesmo com você.


  — Aquele velhinho! Era seu tutor?! E você o forçou àquilo?! — Exclamou, indignada.


  — E-Eu disse para ele se curvar, não se prostar ao seus pés daquele jeito. — Coçou a nuca. — E depois… Quando eu te toquei indevidamente, foi para provocar ele e minha mãe. Queria, desesperadamente, fazer algo errado. Mostrar quem manda, sabe? Pensei que estava fazendo algo necessário para me provar adulto. Vejo agora que foi errado, asqueroso, mesquinho, infantil… E estou arrependido. Novamente, peço perdão. 


        Bough pôs a destra no ombro do namorado.


  — Eu te perdôo, amor. 


  — Talvez não devesse. — Ele suspirou. — Embora lamente seu constrangimento, não me arrependo de ter ordenado Guffin a te reverenciar. 


  — Ora, mas…!


  — Você não ouviu tudo o que ele disse sobre você! — Interrompeu-a. Suspirou, levando as mãos ao rosto. — Bough, escuta… — Ergueu a fronte e, mordendo os lábios, abrigou as mãos de sua amada entre as suas. — Não fique nervosa, por favor, não é exatamente um pedido. E está tudo bem se não souber responder, é relativamente cedo. Mas… Quando chegar a hora, você vai querer ser minha rainha?


       O rosto da azulada pareceu se iluminar em uma surpresa agradável. Corada, um pequeno sorriso se fez visível. Ela se inclinou e beijou seu rei. Foi apenas um selinho, mas eles sentiram que seus corações se fundiram ali.


  — É evidente que o destino de minha alma está entrelaçada à sua. — Bough pronunciou, apaixonada. Sua testa ainda unida à de Pappy. — Junto a ti… Eu posso não só sobreviver, e nem só viver, mas viver em abundância. Meu coração transborda em amor por ti desde o momento em que acordo até o segundo que meus sonhos me envolvem. Quero poder estar contigo até o túmulo. Quero que seja só meu, e quero ser só sua. 


  — Eu também te amo desesperadamente, Bough. A questão não é essa. Se eu não fosse rei, casaria com você logo, pois é o desejo do meu coração. — Apertou as mãos dela, suspirando. — Mas não quero ter que dividir o fardo da coroa contigo. Eu odiaria ser aquele que trará fim ao sorriso mais contagiante do reino! Claro que eu poderia optar por simplesmente não coroá-la, mas eu te conheço. A cada dia que passa você parece abraçar mais responsabilidades. Nunca me deixaria lidar com tudo sozinho. Eu sou apaixonado por meu ofício, mas ele exige demais e… Pode ser um saco às vezes. Droga, você vai odiar! Eu não posso fazer isso com você! 


       Seu olhar tinha tanta dor que parecia desconcertante no rosto do troll mais otimista de sempre. 


  — Eu sou forte. Não precisa me proteger assim… Principalmente quando isso requer me proteger da minha própria felicidade; você! — Ela roçou seus narizes, manhosa. — Ao seu lado, posso lidar com qualquer coisa. Nós podemos lidar com qualquer coisa. Nossas essências se completam em harmonia, um governo assim triunfará perante quaisquer situações. Eu quero ser sua rainha, Pappy. — Ela percebeu as pupilas do namorado dilatarem. — Quando a hora chegar! Não deixe que os outros te apressem. Vamos no nosso ritmo, okay? Afinal, hoje foi um dia ruim, mas você está fazendo um ótimo trabalho como rei. 


  — Nunca vou cansar de ouvir isso de você. — Pappy riu fraco. — Eu dou tudo de mim e parece que ainda não é o bastante. Ainda me vêem como um príncipe ignorante. Aí para tentar provar o contrário vou e me comporto como um. A ironia disto é gigantesca. Mas… Você vê minhas verdadeiras cores. Isso me alegra e me dá forças. Obrigado. 


        Eles apenas se entreolharam por um instante, até que Sheila, que estava quieta pelo clima pesado, se pronunciou:


  — Awnnn! Vocês são adoráveis! — Pappy se riu, levantando. Foi até a ponta do balão e olhou para baixo. 


  — Estamos chegando. — Ele anunciou. 


  — Chegando onde, Sr. Mistério? 


  — Vai ver.                                     


        Dentro de alguns minutos, estavam no chão. Pappy tapou os olhos de Bough e a guiou lentamente.


  — Só mais um pouco… Mais um passo… E deu! Pode abrir os olhos. — Ela fez como orientado, e se deparou com um campo inteiro tomado por tulipas. Havia uma quantidade exarcebada de vagalumes sobrevoando as plantas.


  — …Uau! Que lugar encantador! 


  — Hickary me mostrou. Ela tem uma casa de veraneio por perto que eu ajudei a limpar há uns dias; ofereceu para quando eu precisasse escapar. Afinal, ela está sempre viajando. Disse que ficava uma maravilha na primavera e, estava correta. — Ele entrelaçou os dedos nos de sua amada e passou a caminhar pelo campo. 


  — É tão lindo… — Bough passava a mão pelas pétalas, apreciando a textura. Um vagalume pousou em seu pulso, piscou e alçou vôo. Ela sorriu, boba.


  — Você deve estar se sentindo aliviada! 


  — Aliviada?


  — Claro — Ele mostrou um sorriso malandro. — Aliviada por Deus não ter acabado o suprimento de beleza quando te fez, afinal. 


        A sobrevivencialista riu, empurrando-o de leve. Mordeu o lábio inferior, sentindo o sangue se concentrar em seu rosto. Se aproximou de Pappy, recostando as mãos no peito dele e mergulhando em suas íris cor-de-rosa.


  — Se eu não te encontrasse — O rei cantou, acariciando o rosto da amada. — Nem sentisse este amor. Eu jamais iria supor, que a vida é o maior bem.


"Se eu jamais te visse

Desde o dia em que eu vim

Não veria que você

É o que faltava em mim


Onde há tanta falsidade

E terror no ar

Eu só vejo a verdade

Ao olhar o seu olhar


E eu quero agradecer

Tantas coisas me fez ver

E o destino quis que eu te encontrasse!"


  — Se eu não te encontrasse — Bough correspondeu, levando as mãos a circundar o pescoço de Pappy. Este, lhe envolveu a cintura e iniciou uma valsa suave. 


"Nem sentisse este amor

Eu jamais iria supor

Que a vida é o maior bem

E eu quero agradecer

Tantas coisas me fez ver

E o destino quis que eu te encontrasse."


       Ao que seus corpos moviam-se em harmonia, suas vozes mesclaram-se em uníssono:


"O nosso amor tem grande emoção

E nos alegra o coração

O ódio e o medo têm poder destruidor

Só conduzem a inútil agressão

Mas ouço o coração que tem razão." 


       Seus versos soavam juntos, eles efetuavam giros e corriam deles mesmos pelo campo para encontrarem-se novamente com regozijo, tocadelas manhosas e movimentos graciosos. 


"Se eu não te encontrasse…" entoou Bough.


"Eu vou sempre bendizer…" Pappy vocalizou.


"…Nem sentisse este amor..."


"…O momento de te ver…"


"…Eu jamais iria supor…"


"…Dure o tempo que durar..."


"…Que a vida é o maior bem!"


"…Vou desfrutar!"


       Os corpos colados, seus olhares não se desviavam, arrebatados em paixão. Seus rostos se encontravam à centímetros um do outro.


"O nosso amor tem grande emoção

E nos alegra o coração

O nosso amor tem grande emoção

E o medo só causa a destruição

Mas ouça o coração que tem razão…

Tem razão


Quero agradecer

Tantas coisas me fez ver

Ouço o coração

Que tem a razão

E o destino

Quis que eu te encontrasse."


       A sobrevivencialista foi quem agiu para acabar a distância entre seus lábios, logo aprofundando o contato. Seguiu apaixonado, faminto, emocionado. Haviam, há muito, se entregado ao amor. Agora, entregavam-se um ao outro com todas suas esperanças e medos. Entre o que foi e o que há de ser, o presente era a glória que aqueles dois buscavam ao mergulharem um no outro. Eles sabiam como honrar o valor da vida quando juntos. 


        Quando se afastaram, ofegantes, Pappy observou o rosto corado de Bough e seus lábios levemente inchados e se encantou. 


  — Casa comigo? — Ele disparou.


  — O-O quê?!


  — Em secreto! Não será rainha ainda, e não vamos tornar público. Vou morar contigo no abrigo, onde é mais fácil de escondermos a verdade. Entre festas e visitas ao meu casulo, ninguém saberá. — Pegou nas mãos dela. — Uma aliança entre eu e você. No final, é a essência do casamento. Eu amaria poder fingir que o público e a coroa não importam. Poder simplesmente ser seu marido e viver contigo… Até estarmos prontos para lidar com o fator rei e rainha. 


       Bough piscou repetidas vezes, embasbacada.


  — Estou sendo muito Ingênuo? Inconsequente? — Pappy perguntou, corando. — Eu não refleti sobre isso, perdão. Quando olhei nos seus olhos eu só… Sonhei com isso. E bom, você já disse a Gal Diamond que se casasse comigo, seria em um deserto e eu teria sorte se fosse convidado por conta de sua introversão então…


  — Eu aceito. 


  — Você… Aceita? — O rosto de Bough estava radiante. Ela assentiu. 


  — E você foi convidado, afinal. Isso é uma surpresa, embora não tanto quanto eu casar em um roupão. 


  — Você está linda, Bou-Bou. — Pappy colheu uma tulipa e pôs no cabelo dela. Deram as mãos. Estavam ambos ruborizados. — E-Eu não preparei nada, mas fantasiei isso muitas vezes, antes de dormir. Bough, você me ensinou que a vida precisa ser protegida. Me lembrou das minhas cores quando as perdi. Você me ajuda a crescer ininterruptamente. É a troll mais responsável, habilidosa, fiel, poética, zelosa e (para desespero de minha sanidade) linda que conheço. Eu te admiro muito. Meu amor te pertence e assim será até o fim dos meus dias. Prometo amá-la e respeitá-la… Incondicionalmente. 


  — Pappy, penso que nunca entenderá a magnitude do que fez por mim. — Suas mãos tremiam. — Você me resgatou de um oceano de escuridão, onde tudo que eu podia fazer era ter pequenos vislumbres da luz e do ar para voltar a me afogar onde o tempo não passa. Amo que somos diferentes e amo como por isto, crescemos juntos. És a razão do bater de meu coração, o dono de minhas aspirações, o mestre de meus devaneios. És o rei com coração de ouro responsável por múltiplas revoluções. Te confesso que tenho tanto medo quanto possível de, novamente, me envolver e ter o troll arrancado de mim. Mas a dor de não ter te encontrado seria infinitamente maior. Eu escolho amar você. Prometo amá-lo e respeitá-lo Incondicionalmente.


       Beijaram-se; um toque incandescente. Pappy percebeu uma sensação curiosa em seu estômago e imaginou que fosse uma versão menor do big-bang. Pois, assim que deixasse os lábios de Bough, um novo universo lhe saudaria. O tempo partiu bem ali. Estariam os astros queimando tão fervorosamente quanto seu corpo, tomando parte em seu júbilo? Ah! Benditas linhas do destino, tecidas com misericórdia para com ele, cuja pobre alma não se compraza sem sua amada.


        O fim da tocadela projetou um som estalado e molhado. Bough e seu olhar dilatado, pele corada e lábios umidecidos preenchiam a visão do Rei do Pop. Uma risadinha lhe escapou da garganta.


  — Do que está rindo? — Ela questionou, encabulada.


  — Acho que começo a entender porque o Rei Barb acha o Pop meloso e cafona.   


  — Você está engraçadinho demais hoje. — A azulada virou-se para arrumar o nó do roupão novamente.


  — Eu... Faço isso para disfarçar excitação. — Ele coçou a nuca, sorrindo sem jeito. — É um hábito. 


        Bough girou nos calcanhares, um sorriso divertido no rosto.


  — Pensei já ter sido clara quanto a não se reprimir. Afinal, precisamos consumar o casório!


  — Estamos perto da casa que mencionei!



•••



       A casa de veraneio era uma árvore oca, cujo interior era iluminado por cogumelos luminosos e estava decorado segundo a cultura yodeler — embora o casal não tenha prestado muita atenção. Assim que chegaram no quarto e tiraram a capa para pó da cama, seus olhos tinham apenas capacidade de processar um ao outro.


       O alvísssimo roupão foi o primeiro a partir, levando Pappy a perder-se nas curvas da esposa. A sensibilidade da pele intocada refletia em arrepios e sonidos altivos, manhosos. Mapeando; o rei fazia marcas, traçava trilhas. Pontos sensíveis eram aos poucos desbravados. As costas de Bough arqueavam-se, deixando o colchão. 


        Entre declarações de amor e votos de mútua submissão, livraram-se de todas as peças que mantinham suas peles separadas. Louvavam-se reciprocamente, derramando palavras corteses, edulcoradas, obscenas. Toques suaves, mordidas e arranhões. O desejo se materializava, erguia e pingava. Tornaram-se fisicamente incapazes de se afastar. Fricção; contenção; comandos; carícias. A calidez abaixo do monte da Deusa sucederam súplicas.


        Instintos arcaicos comandando, alma contra alma, seus cernes se encontraram. O ritmo de seus corações os dominava. Uma dança; um, dois, três, quatro. Vai, vem, contrai, relaxa. O big-bang atrás do umbigo de Pappy parecia prestes a explodir. Ganidos e sons aquosos repercutiam. Beijos embraseantes, suor escorrendo. 


        Derreteram juntos, a coroa esquecida. O momento os pertencia. 


Notas Finais


Eu ri demais quando percebi que o começo desse capítulo e o final tem um contraste enorme :vv


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