— Estou com medo, sempre estou com medo — As palavras saem de sua boca, junto ao cigarro o qual adormecia seus lábios. — E... Estou cansada, cansada de ter medo, de ser vazio, de gostar tanto do silêncio que imploraria para me tornar ele.
— Talvez ser vazio não seja tão ruim, amar tanto o silêncio que imploraria para ser ele não seja tão ruim. Talvez ser silêncio seja a melhor opção.
— Não. A ideia me parece boa, mas não é, na verdade. Quero ser eu. O silêncio, o vazio, é quem vejo no espelho, mas juro por Deus, não sou eu.
— Então, o que vai fazer? Como vai chegar a você? — Questiono, sem querer verdadeiramente uma resposta. Sabia que ela não existia.
— Pensei que pudesse me ajudar — Responde, por responder, pois também sabia: não havia resposta.
— É, não posso, também queria me encontrar. Vejo agora, é difícil.
— Queria? Então você desistiu.
— Não, só estou cansado de tentar. Eu respiro, mas só escuto poesia morta.
— Eu também — Diz, ao dar mais um trago. — Você quer? — Me oferece seu cigarro, a marca do batom sobre o mesmo e a fumaça rodeando seus dedos.
— Eu não fumo mais, é um jeito lento e torturante de morrer.
— Melhor! Tem mais pra mim — Solta, com seu sorriso ladino, jogando a fumaça sobre meu rosto. — Você sabia que quem respira a fumaça tem mais chances de ter câncer do que o próprio usuário?
— Então você quer me matar?
— Não mesmo — Ri alto. — Te perder seria uma lástima.
— Digo o mesmo.
— Obrigada.
— Sabe, às vezes você tem de dizer que está tudo bem.
— Hum?
— Às vezes, pra não enlouquecer e não desistir, você precisa falar em voz alta que está tudo bem. Não importa se está tudo uma grande merda. Diz que está tudo bem.
— Está tudo bem...
— Está tudo bem.
— Está tudo bem! — Grita, ao ficar de pé sobre a ponta do terraço. — Puta merda, está tudo bem.
— Você é louca — Falo, puxando sua mão livre para trazê-la para baixo.
— Eu sei — Sorri, seu segundo sorriso verdadeiro nesta noite.
— Eu sei que você sabe.
— Ei — Repreende-me, batendo suas pequenas mãos sobre meu peito.
— E também sei que você sabe que eu sei.
— Cala a boca! — Diz, me empurra contra a porta de saída e logo a fecha. — Vamos, já está tarde.
— Amar.
— O que?
— Um jeito. É um jeito rápido de morrer.
— Não, é um jeito demorado mas eficaz de fazer tudo ficar sol — Cita um de seus poemas, ao pular de costas um degrau.
— Amar.
— É, amar.
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