- Meg, hora de acordar – recebi um tapa estalado na bunda.
- Ah qual é Justin? – joguei uns quatro travesseiros nele, que saiu correndo. – Seu frouxo – gritei me cobrindo com o lençol.
- O quê?
- Roxo Justin. Eu disse roxo. Ah vai tomar banho.
- Não volte dormir.
- Como? Você é muito arruaceiro. Só nocaute pra me fazer dormir de novo.
Sentei na cama com cara de paisagem. Ele entrou no banheiro.
Olhei ao redor e faltava algo. O pôster da Beyoncé? Afinal onde estava? Dei mais uma olhada e nada, só havia sumido daquele quarto.
- Ô Justin.
- Oi – a água parou de cair.
- Cadê o pôster da Beyoncé?
- Como você sabe do pôster dela?
A água voltou a cair forte e acho que segundos depois ele saiu com uma toalha enrolada na cintura.
- Não tem nada ai que eu nunca tenha visto – ele puxou a toalha.
- Satisfeita? – riu safado – Como você sabe do pôster?
- Eu vi uma vez pela sacada.
- Me espionando? Só uma vez? – ergueu a sobrancelha sugestivamente.
- Foi só uma vez, pelo que eu me lembro. Mas não muda de assunto, cadê?
- Não tem jeito pra ti, não é?
- Talvez – ele riu – E?
- É elétrico. Está sobreposto atrás da parede falsa. Quer ver?
- Hm... Não! Deixe lá, não tem como ganhar dela, por mais que seja um pôster.
- Já ganhou – me puxou beijando meu pescoço.
- Awww nerd tarado – beijei a tatuagem da coroa abaixo de sua clavícula.
- Diz isso por experiência própria?
- Não tenha dúvidas.
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Já na escola, estávamos no vestiário colocando o uniforme – short azul escuro e uma blusa branca com as iniciais da escola “LAHS” Los Angeles High School – para ir para o centro poliesportivo. Ninguém merece aula de educação física às 08h30min da manhã.
- Vamos meninas! É uma aula, não o Los Angeles fashion week! – uma voz feminina gritou.
- É melhor irmos antes que a senhora Peterson se irrite.
- Como é ela irritada? – arregalei os olhos.
- Não queira saber – Sophia disse séria.
- O que a gente ainda tá fazendo aqui?
Peguei no pulso dela e fomos correndo para a quadra. Chegando lá...
- Onde as bonecas estavam? – disse estridente.
- Essa é a senhora Peterson?
- Aham.
A senhora Peterson aparentava ter uns 34 anos, era loira e com um monte de músculos que colocava qualquer marmanjo no chinelo.
- Sem de cochichos! – gritou nos espantando – Você, seu nome? – perguntou pra mim.
- Megan – disse tentando me manter firme.
Ela me deu uma olhada, tipo “pisa no meu calo que te levo para o inferno”.
- Megan Bieber. Muito bem, você e sua amiguinha para o lado esquerdo. Já! – essa mulher estava precisando de uma dose super poderosa de sexo. Just kidding.
- Professora, o vice-diretor quer falar com a senhora – chegou dizendo outra loira alta, magra, cabelos lisos e olhos azuis. Têm loiras demais aqui. Essa deveria ser aluna.
- Tudo bem, Madison obrigado. Não saiam da quadra. Volto logo.
- Vamos pra arquibancada – Sophia me puxou.
- Menina, você tem uma força sobrenatural.
- Meu pai é boxeador, então filho de peixe, peixinho é.
- Um tio dentista, pai boxeador. O que mais eu não sei sobre você?
- Esquece isso, olha quem apareceu! – ela me virou e lá estava o Nicholas.
- Ah, sabe aquele papo de não o deixar saber que você gosta dele?
- Aham!
- Ignore. Eu deveria estar chapada, enfim meu amor se joga. Se rolar, rolou. Mas não haja como uma vadia. Saiba de uma lição muito importante: Seja uma lady... Na rua.
- Meu Deus. Anotado.
- Agora se mexa. Eu vou ao banheiro. Você vai se sair bem. Aí vai uma ajudinha: HEY NICHOLAS VEM CÁ!
- Oi – ele disse meio desentendido.
- Faça companhia pra Sophia, ela detesta ficar sozinha e eu vou dar uma saidinha. Tudo bem?
- Claro, com todo prazer.
Ela me encarou como se fosse me matar com o olhar. Por um momento eu agradeci por ela não ter a visão de calor do Superman.
- Tchau.
- Se me permite dizer, você está mais linda que o normal. – que fofo santo Cristo.
- Obrigado, Nicholas.
Saí rindo discretamente em direção ao banheiro. Aí sim é bom ser cupido.
Joguei uma água no rosto e quando ergui a cabeça pra me ver no espelho, lá estava Madison.
- Que susto! Avisa antes! – disse rindo, porém ainda assustada.
- Megan Bieber. Ou melhor, Megan Vítima Bieber. Oh.
- Hã?
- E ainda é surda.
- Como é, filhote de Barbie?
- Filhote de Barbie? Pelo menos não sou uma órfã.
- Qual é a sua, hein?
- Sabia que o Damon era MEU namorado?
- Ah é isso? Azar o seu – fui saindo, mas ela pegou no meu braço.
- Azar o seu por ter se metido no meu caminho.
- Olha aqui vadia eu não tenho tempo pra isso – soltei meu braço e saí do banheiro.
- Eu ainda não terminei – ela tinha um celular na mão. O peguei, tirei uma foto minha e devolvi, enquanto ela me encarava confusa – O que?
- Tenta conversar com a minha foto. Beijo.
- VOCÊ SABE QUEM EU SOU? – gente, ela era hilária.
- Isso realmente não me interessa nem um pouco. Mas deixa eu adivinhar... Você é a vadia caçula de uma família de vadias?
- O que está acontecendo? – pronto. Outra vadia loira, ou somente Kathy, apareceu.
- Tia, ela disse que eu sou a vadia caçula de uma família de vadias.
- Tia? Eu não sabia. Gente vocês tem muitos segredos – disse irônica.
- O que acontece aqui? – a professora apitou com força, quase estourando meus tímpanos – Eu disse pra não sair da quadra.
- Tecnicamente nós estamos na quadra – eu respondi.
- Além de órfã, ainda é abusada.
- Não me tira do sério.
- E o que você vai fazer? Órfã, órfã, órfã! E vadia também, não é?
- Me chama mais uma vez de órfã pra você ver.
- Órfã e pra completar ainda é uma vadi... – Fechei meus punhos com tanta força e quando percebi já tinha enfiado um soco na cara da Barbie, que agora estava no chão, com a mão no rosto e mal pôde completar a frase. Bem feito.
- ESTÃO PENSANDO QUE ESTÃO EM UM CAMPO DE GUERRA?
- ELA QUEM COMEÇOU – gritei de saco cheio de tanto ouvir aquela mulher gritar.
- Não importa quem começou.
- NO CANADÁ IMPORTA!
- Ora nós não estamos no Canadá.
- Jura? Não me diga.
- As duas pra diretoria.
- ARGH! Vou pegar minhas coisas no vestiário.
- Não demore – saí pisando forte, morrendo de raiva.
Fui para o vestiário, peguei minha bolsa, e sorrateiramente e pulei o muro da escola. Que se fodam.
Caminhei até a rua seguinte e peguei um taxi.
- Venice Beach, por favor.
Peguei meu celular, tirei a bateria e o chip. Não queria ninguém me perturbando ou rastreando. Se for pra ouvir um discurso que seja mais tarde.
Procurei um lugar tranquilo e fiquei olhando o mar por horas e horas.
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O sol começava descer no horizonte quando eu cheguei em casa; ainda com o uniforme, cabelos fodidos, – yeah os mesmos que ontem estavam perfeitos – meio desorientada e cansada, tanto psicologicamente quanto fisicamente.
Comecei subir os degraus, mas parei automaticamente quando ouvi a voz de Justin.
- Eu realmente gostaria de saber o que aconteceu.
Todos os palavrões do mundo de uma só vez.
- Hã? – continuei parada, com os olhos fechados com força.
- Na escola. Quer que eu recapitule? Então vamos lá: Família de vadias; agressão a uma colega, discutir com a professora, como foi mesmo? Ah No Canadá importa. E como se não bastasse, fugiu da escola. E mais um complemento: ficou incomunicável.
- Hum. Obviamente não te contaram as palavras usadas por aquele filhote de Barbie pra me insultar, não é mesmo?
- Não é esse o caso. Você sabe disso.
- Eles te não te contaram? – perguntei incrédula.
- Não, e não importa mais, o que importa agora é tem uma adolescente com o nariz quebrado e pais furiosos querendo... – o interrompi.
- Se ela tivesse calado a boca, não estaria com o nariz quebrado.
- Por Deus você está se ouvindo?
- Afinal, de que lado você está?
- Não é questão de ter um lado para estar.
- Ah claro. A corda sempre arrebenta para o lado mais fraco.
- Não, a corda sempre arrebenta para o lado irracional. E que ideia foi essa de fugir da escola?
- Pelo amor de Deus, para de agir como se fosse meu pai!
- E como você quer que eu aja? Que passe a mão na sua cabeça e que diga pra você não se preocupar, pois eu vou resolver tudo?
- Pelo que eu saiba você não é o salvador da pátria e isso de você limpar a minha barra nem passou pela minha cabeça. Eu posso me virar sozinha!
- Para de tentar ser independente quando só cabe mais irresponsabilidade dentro da sua cabeça! Sabe o nome disso? Criancice. Onde está a Megan que eu conheço?
- Talvez você nunca me conheceu de verdade – disse arrogante.
- Não exagera – passou as mãos nos cabelos e continuou – Você está suspensa até a segunda feira – sentou-se no sofá – E já que você queria ir para o Canadá, eu comprei sua passagem e seu voo é amanhã às nove.
- Vai me mandar para o Canadá?
- É o melhor agora.
- Melhor pra quem? Pra você?
- Melhor pra todos, acredite. O quer que eu faça? Hã?
- Eu só queria que você me escutasse.
Corri as escadas entrando no meu quarto e jogando minha bolsa num canto qualquer.
Já no banheiro, abri o registro deixando a água encher a banheira, enquanto encarava minha carcaça no espelho.
Após de um longo tempo perdida numa banheira de água quente, finalmente deixei meu mundo paralelo para arrumar minhas malas e voltar pra casa por uns dias.
Acordei com dores no corpo, e principalmente na mão no local onde havia acertado aquela coisa. Já as outras dores eram um brinde por uma noite mal dormida.
- Megan – o tom duro de Justin atrás da porta quase me fez chorar.
- Só um minuto – terminei de falar e um nó gigante se formou em minha garganta.
- Me dê suas malas. Vou te esperar lá embaixo.
Abri a porta e ele pegou as duas malas.
- Não demore – acenei positivamente e ele saiu.
Peguei meu celular em cima da cama e desci a escadaria preguiçosamente.
Apressei o passo e abri a porta traseira do carro, logo colocando meus fones.
Nenhuma palavra saiu da boca dele e menos da minha. Apenas olhares indecifráveis pelo retrovisor interno.
Nunca o caminho para o LAX fora tão longo. Mas finalmente chegou.
Puxei meus fones e depois do check in e toda a burocracia, enfim estava na sala de embarque esperando meu voo ser chamado.
Justin e eu estávamos iguais zumbis, parados, de vez em quando olhávamos um para o outro apenas de relance.
- Não precisa ficar aqui se não quiser. Eu não vou fugir, e menos espancar alguém.
- Eu quero ficar – disse simplesmente.
E assim, minutos depois o voo foi chamado.
- Até logo – falei levantando.
- Até. Quando chegar lá me liga, ou manda uma mensagem.
- Tudo bem – beijei sua bochecha e fui para o portão de embarque.
Assim que entreguei minha passagem e que minha entrada foi liberada, olhei pra trás e ele ainda estava lá. Em pé, olhando pra mim. Mandei tchau e enquanto caminhava senti o mundo cair sobre minha cabeça.
Procurei meu assento e assim que me acomodei lágrimas escorreram como se brotassem do fundo da minha alma, que agora se encontrava na mais profunda escuridão. E somente nesse instante eu percebi definitivamente que ele era a única luz que poderia brilhar em meu ser.
Por que eu sempre tenho que estragar tudo?
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