História Você provou o arco-íris. - .não há amarelo; (único)

É março, querida, e seu tom é azul. Azul gélido, pincelado de desespero e solidão -reflexão de uma alma vazia. Mais um ano efetivamente começou, mais um ciclo se inicia, mais uma vez você verá os rostos que já se cansou de repetir -e repetir, repetir, e eles te perturbam. As águas de março já vão, elas fecham o verão e abrem meses solitários que consumirão a sua carne. 

 É abril, dia primeiro já passou, não adianta mais se esconder entre sorrisos falsos porque nem mesmo tu mesma cai em suas mentiras moldadas. É abril e o anil predomina seu apartamento apertado. 

 Maio chegou, junto com ele o violeta -quase- vivo que se espalha pelas folhas outonais e pelo céu ao entardecer. Violeta costumava ser sua cor favorita, antes que adotasse o preto -a falta de luz- como sua verdadeira morada. É maio, e mesmo que o violeta seja lindo, tu não vê mais a beleza neste jardim murcho. 

 Junho bateu na sua porta como uma nova esperança. O verde que se espalhava nas ruas do lado de fora se vai embora com o inverno, porém ele mais forte do que nunca brilha aí dentro, cultivando uma esperança da qual sentiu saudades: uma doce esperança infantil. Junho prometeu muitas coisas.

 Julho está aí, mas você se decepcionou novamente. Não há amarelo em julho, o verde te enganou e o que te surpreendeu foi o laranja forte que queimou tuas retinas. Julho apodrece como uma laranja quando tu percebes o quão as pessoas te enganaram em junho.

 É agosto e sua pele está marcada do vermelho quase escarlate em caminhos horizontais meio quebradiços e incertos -e eu sinto muito que setembro esteja chegando, percebo o quanto suas olheiras aumentam desde então. É agosto e sua cor de sangue pinga por onde anda e por todo o chão do banheiro. 

 É setembro e teu pulso é frio; agora já é tarde demais para ouvirem seu coração. É setembro, e não há amarelo.