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História Você Sempre Será - Natural


Escrita por: hidechanrainbow

Notas do Autor


'Cause you're a natural
A beating heart of stone
You gotta be so cold
To make it in this world'

"Porque você é assim
Um coração pulsante de rocha
Você precisa ser muito frio
Para vencer neste mundo"

Capítulo 15 - Natural


        Mu encheu o pão com uma generosa porção de maionese temperada sem prestar a devida atenção, pegou também o que tinha de melhor na bandeja de alumínio usada por seu pai para colocar as carnes e voltou com o prato cheio para a mesa, ao lado de Camus e Afrodite. Começou a comer em silêncio, tentando se concentrar no gosto apetitoso do churrasco sem remoer os problemas atuais de sua vida, problemas esses que ultimamente amargavam todas as refeições.

- Délicieux _Camus elogiou arrematando com um gole do vinho francês envelhecido, trazido como lembrança para a família _realmente o Brasil tem uma ótima culinária.

- Hum, o senhor Batista entende muito de churrasco! _Afrodite, de bochechas cheias, completou fazendo o patriarca corar instantaneamente.

                O homem corpulento agradeceu com um aceno voltando a preencher a grelha com asas de frango e outros tipos de carne, Kiki protestou a demora bem como a falta dos seus legumes o ajudando a acelerar o processo. A figura alta, de cabelos cada dia mais rebeldes, se colocou ao lado da pequena churrasqueira após cortar com habilidade ímpar tudo o que desejava comer naquele almoço de Domingo; o sorriso largo denunciava sua felicidade pela comemoração em meio a um clima amistoso, conflitando com o humor do irmão mais velho.

                Mu parou de mastigar por um segundo admirando o rosto sardento mudar a expressão diversas vezes enquanto conversava com seu pai, alternando entre sorrisos e caretas divertidas.

- O que foi Muzinho? _a voz doce de Afrodite trouxe de volta sua atenção _o loiro chato te disse algo que não me contou ainda?

                Camus ergueu os olhos acompanhando a conversa, sentindo pena do amigo.

- Não é ele _murmurou _não é nada.

- ...então me dá esse pedaço suculento ai e vai pegar mais pra nós _com o próprio garfo, roubou do prato alheio um pedaço da picanha recém retirada do fogo e o empurrou de leve com o ombro _depois nós conversamos, mas anime-se, ok? Se não vou ficar chateado também.  

- Foi mal _esboçou um sorriso pequeno.

- Non fique assim mon ami, vamos aproveitar que estamos todos juntos. Afrodite e eu estávamos ansiosos para te encontrar.

- Obrigado Camus, vocês têm razão _suspirou _é só... não estou no clima de festa em família, mas vou ficar bem. Já volto.

                Mu voltou a se levantar, Pema havia agora se unido a dupla aspirante a chefe de cozinha e ditava as regras conforme sua vontade; as esmeraldas se fixaram nas roupas novas da matriarca. A blusa ocre continha algumas pérolas adornando decote e mangas, combinava perfeitamente com os sapatos de bico fino envernizados de preto, dando luxo ao visual de meia idade.  

- Oi meu filho, leva a bandeja na mesa. O Camus não quer outra coisa para beber? Pega um suco de uva que está na dispensa, aquele da garrafa de vidro que comprei no Marche semana passada _disse tudo rapidamente, puxando o prato de suas mãos e o substituindo pelo assado.

- Não precisa, calma ai mãe, meu prato _reclamou estalando a língua no céu da boca.  

- Vai logo servir suas visitas meu filho! Afrodite, não quer mais maionese? _se voltou para o mesmo, o observando por um breve momento devorar parte da salada do prato do noivo e estreitando os olhos para a suposta falta de educação _ come com essas torradinhas, fiz hoje cedo, tem azeite importado e orégano fresquinho. Está uma delícia.

- Obrigado, estou satisfeito! Comi demais _respondeu alegre _estava tudo maravilhoso.

- Ai Mu, leva mais coisa, eles não comeram nada _murmurou preocupada, já via-se intenso rubor em suas bochechas.   

- Eu vejo com eles, ´ta bom? E vocês podem sentar pra comer, por favor _sublinhou _já tem carne o suficiente.

- Vai sair mais coisa, Kiki tira essas tranqueiras daí logo _Pema bronqueou afastando com o garfo o montinho de berinjela, ignorando os protestos do primogênito.   

                A briga infantil continuou por mais alguns segundos, Mu voltou à mesa irritado, mas segurando dentro de si o amargo da insistência de sua mãe o máximo possível. Nunca conseguia relaxar quando Camus estava presente, ela sempre necessitava se mostrar e manter uma aparência impossível dentro da família simples. Tudo porque o francês a cobria de elogios e trazia presentes, aparentava (e de fato até era) muito mais refinado do que eles, porém o ruivo jamais se incomodou, afinal o social de suas roupas, bem como as palavras polidas, não traduzia em nada sua personalidade ou seu imenso coração.

- Sua mãe também é assim, Camus? _Mu resmungou, Afrodite deu um tapinha em suas costas indicando estar tudo bem e o ruivo meneou a cabeça, rindo.

- Minha mère é assim também, preocupada em agradar suas visitas. Non se preocupe quanto a isso, ainda não viu o que é exagero _disse tudo em voz baixa, mesclando com um sorriso pequeno e um gole de vinho.  

- Da primeira vez que fui à França a mademoiselle Gabrielle foi muito gentil. Já te contei a história da água, né? Tinha como opção com gás e sem gás, gelada e natural, todas em garrafas de vidro. Parece um exagero, mas é normalíssimo pra eles _comentou Afrodite tentando fazer seu amigo sentir-se melhor _não ligue para isso. 

- Eu sei... _fez um bico amuado, aproveitando para encher a boca e encerrar o assunto.

                O dia das mães daquele ano conturbado pedia com certeza muita parcimônia, Mu, que passara a semana toda planejando as contas de casa dada a nova renda, não tinha contado com tal almoço, muito menos com presentes extravagantes. Além do problema financeiro, a realidade atual do país dava a ele insegurança também quanto à saúde de todos, preferindo acatar as breves recomendações de segurança quanto a higiene e aglomeração de pessoas. Mas nada, absolutamente nada seguiu conforme seus planos: Batista e Pema distribuíram gentilezas para os familiares, além da matriarca simplesmente decidir que merecia muito mais do que apenas móveis novos, fazendo compra de roupas e sapatos sem pensar que sua aposentadoria era agora totalmente destinada para a compra de alimentos. Além do gasto desnecessário, passando a semana em lojas abarrotadas, resolveu também dar um almoço esbanjado, com carnes de primeira, receitas caríssimas e requintada aparência. Felizmente Afrodite e Camus foram convidados por Mu para preencher os lugares à mesa, pelo menos daquela forma não morreria de desgosto antes de ver tanta comida para apenas quatro pessoas.

     Aquela não era a primeira vez que atos egoístas eram colocados à prova: tantas e tantas outras vezes já deixara passar os caprichos de todos, porém nunca antes o afetara diretamente. E se as contas não fechassem no final do mês? Talvez alguma emergência? Teria que enfim começar a mexer nas suas próprias economias, deixar de concretizar seus planos futuros em prol da família. Afinal era aquele o dever do filho mais velho, ou melhor, aquele era o dever de um filho dentro da ética familiar de Pema e Batista.

- Mu... MU! _o ariano piscou e se voltou para o amigo _calma, está entortando o garfo _sussurrou tentando não chamar a atenção de Pema que por ali transitava. Fez um breve carinho em sua mão o fazendo soltar o talher _hey, tem torta de chocolate e pudim do pappa Erik, hn? Não vai querer? Se comer com esse ódio todo vai ter dor de estômago.

- ...desculpa, caralho me desculpa mesmo _respirou fundo _tá, vamos falar de alguma coisa legal. Ah! O Santino está no Brasil _disse de súbito, trazendo a repentina notícia que já deveria ter dito ao amigo logo quando se encontraram _esqueci de te contar.  

- Mentira!! Aquele fofíssimo está aqui?! Não acredito, lha meu coração até disparou!

          A voz de trovoada chamou a atenção dos presentes, em especial Camus. O ruivo estreitou as sobrancelhas enquanto manuseava os talheres de forma precisa e elegante, nunca tinha ouvido tal nome, tão pouco imaginara ter alguém que deixasse seu noivo em tão estado de polvorosa sem seu conhecimento. Apesar da tranqüilidade aparente, seu coração deu um doloroso solavanco dentro do peito.    

- Cadê esse menino? _chacoalhou o ariano, empolgado com a notícia.

- Mãe, a senhora convidou a dona Ana? _se inclinou na mesa de madeira chamando a atenção da matriarca, Pema confirmou com um aceno _então eles devem estar chegando.

- Aw, já faz tantos anos que eu não vejo aquele pestinha, você vai adorar mon amour!

       Se voltou para Camus com um largo sorriso, mas o mesmo se desmanchou ao ver a expressão congelada com os olhos fixos em si. Não se lia raiva ou desconfiança, mas sim certa angústia misturada ao medo, um misto incomum aos terceiros. Afrodite abaixou a taça de vinho de sua mão com delicadeza, procurando amaciar sua voz o máximo possível.

- É só um garotinho italiano de oito anos, que inclusive não entendo nada do que fala por causa do sotaque. Agora abra um sorrisão pra mim, ok?

- Pardon... _disse rouco, limpou a garganta rapidamente disfarçando com mais um pouco do vinho e por fim, fora incapaz de sorrir disfarçando com a comida em seu prato.  

                Mu observou a cena em silêncio, não era habitual do francês reagir daquela maneira, esperava que ele fosse perguntar quem era “Santino” é claro, mas não com evidente frieza. Geralmente se veria um bico amuado e uma piadinha pronta, algo natural, leve; raramente Afrodite perdia seu sorriso por causa do noivo. O desenrolar da ação se deu rápida, Camus abaixou os olhos para o celular lendo no visor algum nome que o fez bufar, afastou-se de Afrodite depois um selinho rápido e chamou a atenção do anfitrião.

- Preciso atender a uma ligação, posso usar sua sala de estar, monsieur Batista?

- Claro! Fique à vontade _respondeu no susto com o pedido formal.  

        Educadamente, pediu licença para todos sumindo em seguida pelo corredor da área de lazer e adentrou a cozinha, Mu aproveitou o momento oportuno para puxar Afrodite de lado imediatamente.

- Deixa eu aproveitar para falar agora _murmurou _ que bicho mordeu ele?!  

- Ai Mu eu não sei _respondeu preocupado e entre dentes, procurando não deixar o assunto ser ouvido pelos outros presentes _não dá pra conversar sobre isso aqui, mas eu também reparei. Faz um tempo que as coisas andam meio estranhas, mas... _estalou os dedos aproveitando para ajeitar a aliança de noivado, dando tempo para sua ansiedade _estou evitando pressioná-lo.

- Caralho Di! _cruzou os braços num claro gesto de indignação _você bate o pé com o Shaka, mas quando é com você fica ai moscando?

- Não! Eu só não queria te encher com mais uma coisa visto que está com problemas com a tua família e com o doido do Shaka, me desculpa. Muzinho, eu... _abaixou ainda mais o tom de voz antes de continuar _à noite o Camus terá uma reunião online e vai usar o escritório dos meus pais, ai a gente se fala.

- Tá bom _resmungou _aliás, você falou pra ele que o Santino tem oito anos, ma-

             Sua fala fora cortada pela ruidosa campainha, Kiki anunciou que atenderia a porta e caminhou em direção ao corredor em passos largos, Mu fechou os olhos por um breve segundo prevendo uma inevitável situação constrangedora.

- Puta que pariu, vai dar merda _disse para si mesmo pulando da cadeira e olhando para dentro da casa pela janela mais próxima. Tentou chamar pelo amigo francês, mas o mesmo ainda parecia estar no telefone.

      Estalou a língua no céu da boca pensando fervorosamente em como concertar o mal entendido antes mesmo dele acontecer, porém antes de conseguir encontrá-lo, Camus voltara à área externa no exato momento em que Santino e sua avó terminaram de subir as escadas, chocando-se com a imagem derradeira: a criança que antes batia na cintura de Afrodite, agora exibia seus quase 1,70 de altura, cabelos platinados arrepiados por generosa camada de gel e intensos olhos lápis lazuli brilhantes. Suas roupas de grife também o faziam parecer muito mais maduro para a idade, o cachecol azul marinho sobre a camisa italiana e a calça jeans rasgada trazia a ele um ar totalmente diferente do que estavam acostumados a ver no Brasil.

           E como se não fosse ruim o bastante Camus se deparar com um homem tão bonito, o adolescente percebeu imediatamente a presença do pisciano, abrindo os braços com ternura junto de um sorriso contagiante cheio de dentes branquíssimos que fora todo direcionado para aquele que era o amor de sua infância.

- Ma Afrodite! Mio caro, questo è um sogno?!_suspirou o abraçando sem cerimônias _stai bene? Mi mancavi!* (*Afrodite, meu querido, isso é um sonho? Está bem? Estava com saudades de você).

                Os olhos aquamarine pediram ajuda para a primeira pessoa que pode encontrar, não teve coragem de afastar o garoto de forma rude apenas para se fazer entender para Camus, ao mesmo passo que também não conseguia formular uma rápida resposta aos braços quentes em torno de seus ombros. Kiki felizmente se deu conta assim como o irmão mais velho e agiu da melhor forma possível, agarrando Santino pela cintura e o levantando sem esforço algum; a cena inusitada fez Pema exaltar-se, porém ambos os adolescentes começaram a gargalhar em seguida.

- Ma que italiano abusado! Sai de cima do meu irmão de alma _bufou o ruivo dando breve piscada para o pisciano _vai cumprimentar meus pais, Santino, e não finja que não está me entendendo.

- Kiki! _protestou _Afrodite é il mio fin-

- È il tuo culo _rosnou em seu ouvido enquanto o puxava pelo braço em direção a sua mãe, fez questão ainda dar uma volta completa na mesa apenas para o amigo perceber a presença de um Camus visivelmente transtornado na lateral da churrasqueira, quase escondido pelas sombras das plantas.

                Pema e Batista tomaram as rédeas da situação, infelizmente para Afrodite, bem como Mu previra, já era tarde demais. As mãos cheias de pulseiras e unhas bem feitas se perderam atrás do corpo, suas bochechas em brasa completavam o nervosismo: quando na vida pensara que Santino tinha ainda oito anos?! Mu suspirou dando um passo para mais perto do melhor amigo.

- Vai lá dentro _resmungou.

                A cascata de cabelos azuis, lisos naquela ocasião, ondulou com o vento frio do Outono pelos passos desajeitados. Camus guardou o celular no bolso percebendo finalmente ainda segurá-lo com força na palma da mão acariciou o rosto macio de seu noivo com delicadeza. Não disse nada, sequer fez menção que faria, apenas aspirou o perfume de rosas se inebriando como sempre fazia nos dias ruins.

- Meu amor, vamos lá dentro pegar as sobremesas? _disse baixinho ganhando um selinho estalado, porém por mais que Camus agisse de forma romântica, via-se atrás dos olhos castanhos um mar de sentimentos enjaulados.

- Sim, me desculpe por não cumprimentar seu amigo de forma devida*.

- Não se preocupe, vou te explicar direito*.

(*dito em francês)

       Murmurou enquanto saiam de vista rapidamente, ambos adentraram a sala de estar, longe das vozes altas, e puderam enfim respirar fundo. O mais velho ajeitou os fios rubros atrás das orelhas deixando o rosto livre, passou também os dedos sobre as sardinhas acobreadas com ternura, admirando cada uma delas. Camus tinha um rosto lindo, único, mas não se apaixonara apenas por sua aparência, dentro de tamanha perfeição e austeridade, um coração enorme batia frenético dentro do peito.

- Me perdoe, juro que pensei na criança de oito anos. O conheci quando vim aqui pela primeira vez, ele estava passando as férias na casa da avó e veio brincar com o Kiki eu acho... no fim larguei o Mu sozinho _riu em desconcerto _brinquei a tarde toda com os dois e foi só isso. Eu nunca mais tive contato com o Santino, nem imaginava que ele estaria desse tamanho, muito menos que se lembrasse de mim.   

- Tudo bem _o cortou, não estava exatamente no clima de ouvir nostalgias naquele momento _ percebi como se assustou, percebi também a inquietação do Mu e do Kaique quanto a isso. Foi só... _deu os ombros _já passou.

- Não passou, olha sua cara! O que está acontecendo meu amor? Não é a primeira vez que fica desse jeito comigo _disse choroso, o tom de voz pareceu surtir efeito no outro que finalmente deixou sua expressão traduzir seus reais sentimentos. As sobrancelhas espessas se uniram em desagrado.  

- Non é você, mon Afrodite _sussurrou _fique despreocupado, muito pelo contrário, você só me trás alegria. Eu é que tenho medo de perder esse privilégio _confessou deixando o ar de seus pulmões saírem de forma brusca. Ficou em silêncio por um segundo aproveitando para recostar na suntuosa janela e olhando de canto para o jardim repleto de amores perfeitos

- Então por que está inseguro? Não demonstro o suficiente que te amo? _respondeu ofendido, aflito e perdido, tudo ao mesmo tempo sendo incapaz de segurar as palavras para um momento mais reservado. Discutir na casa de Mu, nem meio a um almoço de família, definitivamente era não era o melhor local.

- Afrodite! Pardon, claro que demonstra _o abraçou impedindo de continuar _já disse que non é você mon petit.

- ... _mordeu o lábio inferior retribuindo o carinho e afagando as costas largas, protegidas pela camisa de linho branco, mas se afastou em seguida _tudo bem... depois nós iremos conversar melhor, ok?  

- ...eu sei que non é o melhor momento _retirou o celular do bolso colocando o mesmo nas mãos do outro _porém recebi uma ligação da França e preciso atender um cliente urgente. Deu errado com o embargo de alguns produtos _pensou por um momento se estava usando as palavras corretas no português _non era isso, non sei traduzir direito. Enfim, me ligaram agora pouco da matriz, nervosos.  

- Cl-claro vamos voltar _devolveu o aparelho para suas mãos, não precisava checar ligação alguma, mas Camus inconscientemente sempre tentava provar suas palavras.

- Non, fique aqui, o Mu está chateado e nos convidou para ter companhia. Depois me encontre no nosso apartamento _beijou a lateral de seu rosto com ternura _e também... me deixe te provar que realmente já passou, vá conversar com seu amigo italiano.

- Ah, não vou deixar ele me abraçar de novo! Misericórdia, se eu estivesse na sua situação ia agarrar os cabelos daquele menino _voltou a afundar seu rosto no peitoral largo de Camus e fez ali pequena graça mordendo o botão de sua camisa e também um dos mamilos, arrancando finalmente um sorriso do rosto sisudo.

- Merci, também non sou feito de ferro para imaginar você sendo tocado por outra pessoa e non me importar _murmurou _agora preciso ir, me ligue que eu venho te buscar mais tarde.

- Ah o Mu me leva, relaxa. Boa sorte com a reunião.

- Vou precisar mais do que isso pra resolver esse problema, o Brasil non é um bom país para negócios, muito menos meu avô.  

          A frase dita com sinceridade passou despercebida por Afrodite, ele concordou sem refletir na profundidade das palavras, visando apenas em confortar o noivo.

       Apesar de praticamente compartilharem tudo, de experiências a bens materiais, Afrodite nunca esteve exatamente a par do trabalho de Camus, era incapaz de entender um contrato ou ajudar nos negócios, apenas o acompanhou vez ou outra no Centro Empresarial¹ para conhecer seu escritório e colegas. Desinteressava-se totalmente pela parte comercial, financeira e burocrática de qualquer coisa focando apenas em seu lado criativo, trazendo vida aos carentes de arte. Cabia então a seus pais acompanharem os passos do jovem empresário, Erik era um bom conselheiro, passavam horas bebendo e conversando sobre negócios, ao passo que Filip tentava orientá-lo a pensar em outros caminhos além da empresa. Um suporte que aceitava de bom agrado, entretanto sempre mantendo-se tenaz em suas convicções e planos para o futuro.   

----------- + ------------

                Camus se despediu pouco tempo depois, deu ainda um último e apaixonado beijo antes de partir, Afrodite acompanhou com olhos preocupados o Peugeot luxuoso cruzar a rua vazia até sumir pela primeira esquina. Voltou para o interior da construção desanimado, sentando-se ao lado do melhor amigo e soltando um audível suspiro.

- Então? _perguntou Mu já sabendo estar naquele momento onde Afrodite precisava começar a falar.

- ...se eu soubesse não estaria aqui suspirando _murmurou enrolando uma pontinha do cabelo com os dedos _acho que ele está só estressado por causa da empresa.

- Mas ele te destratou ou algo do tipo? Não minta pra mim _completou fixando as esmeraldas em seu rosto tristonho.  

- Não, o Camus nunca perde a linha com nada. Comigo ele sempre é muito educado, gentil e carinhoso, quase um homem que transcendeu desse mundo.

                Mu fez uma careta desgostosa aproveitando para enfiar na boca uma colherada de pudim.

- Exagerado _o empurrou com o ombro _hum, seu pai cozinha bem... _comentou mais para si mesmo, apreciando o sabor da baunilha.

- Exatamente isso que me preocupa às vezes, o Camus só reage quando o assunto é trabalho. Por que comigo sempre está nesse “paz e amor”? Tipo, ok, ele ficou meio estranho hoje, porém foi infinitamente longe de me fazer passar por algum desconforto.

- Não estou acompanhando _estreitou os olhos _isso não é ótimo? Queria o que? Que o Camus começasse a gritar e esbravejar? Logo com você e... você sabe _fez um gesto displicente com a mão. 

- Não! Mas sei lá, poxa pareço um bonequinho de porcelana na prateleira. Custa ele se abrir comigo e falar o quanto está estressado ou algo do tipo?

- Ele só não quer te deixar no mesmo barco. Acorda Di, você é o amor da vida dele, ao meu ver está te valorizando mais do que o trabalho, não acha? _bateu o pé _e em quatro anos ele já deve ter tido outros problemas na Aquarius.

                O pisciano parou com gesto mecânico em seu cabelo para encher seu copo com refrigerante, tentava puxar em sua mente situações parecidas.

- Sinceramente? _respondeu pensativo após bebericar a Fanta uva _teve, mas tudo se resolveu tão rápido que eu nem participei muito. Só... fiquei sabendo de fato pelo pappa Erik ou quando teve algumas mudanças de planos, tipo, adiar a vinda para o Brasil ou ter que voltar antes do prazo, essas coisas mais bruscas. Tirando isso nós quase não falamos sobre trabalho. 

- A empresa é importante pra ele, se ele não fala nada e isso te incomoda, então tente ser mais participativo.

- Até agora as coisas funcionaram tão bem _murmurou.

- Quatro anos não são 400, todo dia é dia para aprender alguma coisa sobre o Camus, lembre-se disso.

- Hum... _ergueu uma das sobrancelhas _meu amigo está ficando filosófico. Isso é coisa do Shaka, né?

                Mu deu um breve sorriso, mas a conversa interessante ficaria para um outro momento visto que Santino, junto de Kiki, sentou ao lado de Afrodite exibindo seu melhor sorriso. Era visível a admiração pelo pisciano, porém todos ali sabiam que não passava de uma enorme brincadeira; Santino apenas amava pessoas, amava atenção e bela aparência, era modelo teen na Itália não podendo enfim conter sua personalidade extrovertida e o narcisismo.

                Apoiou a mão no rosto enquanto esperava Afrodite terminar o refrigerante, ignorou totalmente a conversa paralela entre Mu e Kiki, não dando atenção mesmo ao ouvir seu nome.

- Vo-você cresceu _comentou Afrodite sem graça, cruzando os dedos em volta do copinho de plástico _como está a Itália? Ah, você está entendendo o que eu falo?

- Ma é claro que io entendo _respondeu simpático _aprendi português especialmente para esse dia.       

- Que mentiroso _Kiki comentou para seu irmão estreitando os olhos _ele nem sabia que o Di ainda era nosso amigo até semana passada.

- E eu nem sabia que vocês eram amigos até hoje _Mu bronqueou puxando a orelha do mais novo.

- Jogamos CS juntos, estamos no mesmo time _explicou _ele é ranqueado em 4º na Itália como melhor jogador, respeite-o.

                Mu concordou com um aceno respeitoso arrancando risos do irmão.

- Seu cabelo está tão maravilhoso _continuou Santino, tocando de leve nos fios azuis _antes, quando loiros, me lembravam cascatas de Canafístula, agora me lembram o mar que banha a paradisíaca Sardenha

- Ai para com isso, está me deixando sem jeito! Tenho 13 anos a mais do que você _disse sem muita certeza, hesitante pelo olhar fixo em si _ ainda é um adolescente.

- Já faço tudo o que um uomo de 30 anos faz _respondeu sem se abalar, erguendo inclusive a mão esquerda indicando o anel de pedraria azul em seu anelar.

                Afrodite arregalou os olhos buscando na sua própria mão o anel de noivado, constatando com alívio a aliança de ouro branco continuar muito bem presa em seu dedo. Pensou por um esmero segundo, o que Santino usava fora seu e dera para ele quando criança, para selar sua amizade; depois disso o anel passou a ficar com a avó já que o garotinho não queria ser visto na escola usando uma peça feminina. Não se importou em dar o anel, era uma simples bijuteria que ganhara ao acaso de seu pai Filip quando estava no colegial, mas como a pedra tinha a mesma cor de seus olhos, passara então a usar com freqüência. Ao ser pedido em casamento, anos mais tarde, Camus o deixou escolher as alianças e acabara encontrando o mesmo modelo, porém agora com materiais preciosos de renomada marca. Na época achara divertido poder usar novamente algo tão lindo, que lhe fizera companhia por anos e agora dividindo ainda com o amor de sua vida.

         Nunca imaginou que Santino voltaria ao Brasil, se lembraria dele e usaria tal anel fazendo par consigo; sentiu-se ligeiramente incomodado, arrependido e sem jeito.

- Santino! Eu estou noivo e exijo respeito_ sublinhou _ não acho legal você... ahn, usar... _perdeu a fala ao ver o sorriso aberto murchar.

- Io sei _murmurou _é apenas brincadeira _disse baixo, brincando com o anel de aço e vidro. Jamais poderia tão baixo material competir com pedras preciosas, assim como ele também jamais poderia sequer chegar perto de Afrodite. Santino não passava de um adolescente imaturo _tu vai continuar sendo a pessoa mais feliz do mundo e io nunca vou esquecer do teu sorriso.

                Mu se aproximou do irmão enquanto assistiam a cena de camarote e indagou se Santino estava mesmo falando sério. O ariano mais novo deu um suspiro e balançou a cabeça.

- Você não lembra mais? O motivo da dona Ana ter trazido o Santino em casa...

- Não...? _franziu o cenho na esperança de pescar na memória o fator chave, mas sem sucesso.

- Santino _Kiki chamou o italiano que lhe devolveu um sorriso tristonho _pare com isso, vai deixá-lo chateado. Di, ele tem uma coisa pra te contar.

        Os olhos aquamarine buscaram os esmeraldas com leve pavor, a aproximação bruta do adolescente junto de seu desentendimento com Camus não era uma combinação agradável e tão pouco tinha ficado no almoço para ouvir confissões. Queria apenas fazer companhia ao melhor amigo, conversar sobre seus problemas, não arrumar novos.

- Olha é melhor nós deixarmos isso para outra hora, né Muzinho! Preciso ir embora daqui a pouquinho e... ah... sinto muito, Santino, eu... _deu os ombros _tenho umas coisas para resolver.

                Um silêncio incomodo envolveu os quatro presentes, Kiki continuou amigo do menino de sorriso largo e voz espalhafatosa, sabia de sua ansiedade em voltar ao Brasil e encontrar Afrodite. Era como um sonho infantil, realizado ao mero acaso, trazendo tamanha felicidade que o fez exagerar como um adolescente normal faria. Amuado pela quebra da expectativa, Santino retirou o anel de seu anelar e estendeu para o homem à sua frente.

- O que foi meu bem? _a bijuteria foi colocada em sua mão com delicadeza.

- É meu pedido de desculpa _tentou seu melhor português, sorrindo timidamente em seguida _não queria te deixar desconfortável. Ma é claro que eu desejo sua felicidade junto de teu noivo _o rosto escarlate de Afrodite o encorajou a continuar _naquele dia, io era só uma criança que tinha acabado de perder a mãe. Vim para o Brasil com meu pai dar o último adeus para ela, fiquei na casa de minha avó à tarde, depois do enterro, e como não parava de chorar a signora Pema me convidou para brincar com o Kiki. Não me recordo de tudo, mas consegui me divertir muito nesse dia graças as tuas brincadeiras e o teu sorriso nunca mais saiu da minha mente. Foi apenas isso, Afrodite, obrigado. Io só queria agradecer.

                Mu e Afrodite perderam a fala, o mais velho abraçou Santino por impulso enquanto tentava segurar os olhos marejados e foi retribuído com energia, sentindo em suas costas as mãos grandes do modelo. Jamais imaginou que uma tarde qualquer em sua vida teve um significado tão grandioso para uma criança, ainda mais por raramente ter contato com aquela idade. Comovido, apertou o anel entre os dedos enquanto secava o rosto com o pulso.

- Fica com ele, vai me dá a sua mão! _pediu impaciente, já devolvendo a jóia no dedo anelar, o único em que de fato ela servia _vai ser em memória da sua mãe e não por qualquer outra intenção, ok? Para você sempre se lembrar dela com um sorriso e que todo dia pode ser um dia bom, basta querer.

- Grazie _aproveitou para dar um beijo estalado na mão delicada de Afrodite o fazendo puxar a mesma pelo susto _ma io também não sou de ferro! Você é lindo!! Belle come una rosa.

                Kiki rolou os olhos e bufou.

- Santo italiano safado! Sai, já contou sua história, agora deixe-o em paz. Lembre-se que uma rosa tem tantos espinhos quanto pétalas.

- Io gosto de um desafio _piscou recebendo um tapa na orelha e uma salva de gargalhadas, fora arrastado por Kiki para o outro lado da mesa e começaram então a trocar figurinhas no celular, empolgados com qualquer coisa adolescente.  

                Afrodite tinha no rosto um sorriso que não soube disfarçar, Mu ficou aliviado por tudo acabar bem e o chamou.

- Vamos no meu quarto, ainda não terminamos de conversar sobre os nossos bromances².

- No seu caso é um bromance, né _riu _eu ando transando muito bem obrigado.

- Ah nem me fala _comentou já atravessando a sala e indo em direção ao quarto, Mu deixou Afrodite entrar primeiro e tão logo o fez, se jogou na cama puxando o edredom _tinha tudo para dar uma tarde ótima na casa dele, que ódio de mim mesmo.

- Estou particularmente orgulhoso de você, fez a coisa certa, sabe que sim.

- ...ele falou pra eu ir conhecer a Analú _tomou a cadeira de rodinhas sentando voltado para o encosto e debruçando no mesmo em seguida.

- Hum... _fez um bico _e como vai contar pra sua mãe?

- Ué, contando, tem outra forma de fazer isso? _o amigo fez um gesto simples indicando que não _pois então... só preciso parar de procrastinar e decidir ir com tudo ou voltar atrás.

- Entendo, mas Mu, mesmo que vocês não casem e formem uma família com sete filhos e doze cachorros, ainda precisa deixar claro sua preferência, suas escolhas, seu tudo!

- Credo, porque tudo isso de filho e cachorro? O Camus vai surtar. “Mon Afrodite, tem pelo e baba no meu pijama de seda francesa” _imitou o sotaque do francês fazendo Afrodite gargalhar. O mesmo atirou o travesseiro acertando os cabelos lilases em cheio.

- Cala boca, idiota! Foco na conversa, quando vai conversar com ela?

- Nunca _disse num tom jocoso.  

- Mu!

                O ariano bufou escondendo o rosto nos braços, seu coração acelerado trazia tantas incertezas quanto covardia. Agora estava tendo uma conversa amistosa e divertida com Afrodite, mas assim que ele fosse embora levaria junto qualquer resquício de coragem, desejava ele que Erik e Filip aparecessem de surpresa e contasse para seus pais tudo o que passava em sua mente. Não queria encarar a realidade.

- Vou pensar melhor em como dizer, são várias coisas Di, não é só o Shaka... tem toda essa responsabilidade financeira agora também e... sei lá, ainda é difícil até explicar porque tudo passou a me incomodar desse jeito. Preciso de tempo para começar a falar.

- Claro que eu entendo _se virou de lado abraçando junto o travesseiro extra do amigo _um passo de cada vez, seu loiro vai te esperar tenho certeza. Não desanime, estou torcendo por vocês.

- ...sério? Até ontem estava todo odioso com ele, ah... sabia, está fingindo né, seu safado?

- Não! Estou mesmo com o pé atrás! Mas olha pra sua cara de felicidade.

- Ainda vai virar melhor amigo dele, vai vendo.

- É, vou te trocar pelo virginiano chato, vai vendo.

                O assunto acabou com risos contidos, Mu se distraiu por um momento com o celular dando tempo para Afrodite voltar a pensar em Camus, mudando seu humor em velocidade alucinante. O francês saíra do almoço um tanto afobado, nervoso, não gostava de vê-lo daquela forma e sentiu urgente necessidade de estar em seus braços.

- Muzinho, será que o Camus está bem?

- Que raios de pergunta é essa?

                O edredom azul marinho agora cobria quase totalmente o rosto de Afrodite, os cabelos azuis escapavam para fora formando um conjunto degrade.

- Para de se esconder e me conta o que está acontecendo _pediu em tom ansioso, tentando não ser ríspido.

- Ele anda tenso, nervoso, as ligações da França não param, é praticamente 24 horas naquele telefone. Hoje ele teve que sair apressado para resolver problemas, ontem a noite quase não dormiu _esfregou o rosto _me pediu até para passar um corretivo para disfarçar as olheiras. Tudo bem, eu entendo que o mundo está passando por uma crise, os nossos salões não estão indo tão bem quanto antes, seu pai perdeu o emprego _deu exemplos simples, fazendo Mu concordar com um aceno _é algo novo principalmente pra ele que está à frente dos negócios há poucos anos. Digo, não chegamos nem na casa dos 30 anos ainda, falta experiência apesar dele ter passado a vida toda focado na empresa. 

- E vocês não conversaram sobre isso?

- Um pouco, mas ele só responde que é sobre burocracias e eu não entendo uma palavra literalmente, é um francês muito técnico e ele não sabe traduzir direito para o português. No fim ele só perde tempo tentando me explicar e eu tentando entender, então é impossível que eu consiga fazer algo. Meu pai Erik que acaba dando uma mão, mas administrar um salão e uma filial francesa são coisas absurdamente diferentes.

- Bom, é uma filial _repetiu o atentando para o fato _o Camus não pode pedir ajuda para a matriz?

- É ai que a coisa fica estranha _se ajeitou melhor recostando agora na cabeceira da cama e abraçando o travesseiro macio _é um negócio de família, não entendo o motivo de tantos problemas e nenhuma solução. Ele não fala sobre isso com freqüência _confessou _meus pais acharam estranho, por isso o pappa Filip bate o pé falando que o Camus não é honesto desde o começo, mas eu já verifiquei tudo o que eu podia! A empresa é real, a filial é real, estão no mercado faz anos, tem toda uma reputação lá fora. O Camus não está mentindo, só... falta alguma coisa nesse quebra cabeça.

- ...Di, olha... talvez _disse lentamente _é só uma hipótese, ok? O problema seja dinheiro. Calma, me deixa terminar _completou ao vê-lo abrir a boca rapidamente _não da família dele como um todo, mas o Brasil é um país que só sobrevive o mais esperto. Não tem uma licitação sem superfaturamento ou uma privatização sem tramóia, nada é de graça, tudo só sai por meio de bajulação e muito, mas muito dinheiro em jogo. É uma droga, eu sei, mas o Camus pode estar perdendo o jogo por tentar fazer tudo certinho agora nesse tempo de crise na economia e... quem sabe ele só não quer te contar isso ainda, está tentando dar um jeito sozinho sem te aborrecer.

- Então eu sou inútil mesmo nesse momento _murmurou tristonho.

- Claro que não, você não precisa aprender a administrar uma empresa para dar apoio. As coisas vão melhorar, tenta... sei lá, você sabe agradar, é noivo dele _disse o óbvio _e outra, se o Camus consegue separar o trabalho da vida particular, repito o que já te disse: é um bom sinal ao meu ver. Lógico, 100% é impossível né, uma cara feia ou outra todo mundo faz, principalmente eu como você bem sabe...

- Ainda mais quando te ligam no meio do sexo _comentou a esmo, indignado e fazendo Mu corar no mesmo instante.

- Intimidade é um pau no cu _respondeu rindo e perdendo totalmente o fio da conversa.

- Literalmente.

- Ow, ow!! Calma lá, a gente nunca transou.

- Justo _deu os ombros _ “Ai você não faz meu tipo, loirinho delicado, unha feita e piercing no nariz” _o imitou balançando a cabeça e estalando os dedos _mereço viu, tudo pra acabar, ironicamente _enfatizou _com um loiro magrelo cheio de penduricalho nos braços, de saia. SAIA _repetiu.  

- ‘Tá! ‘Tá bom, você ganhou!! Não tenho nem o que responder.

- Não responda mesmo! Eu levei um fora de um playboyzinho de camiseta polo e sapatênis, ah minha reputação foi pro lixo naquele dia.

                Mu gargalhou, estava sendo ofendido nas entrelinhas, mas não ligou. Era sempre ótimo conversar sobre o passado principalmente quando se tratava de sentimentos leves e passagens engraçadas. Afrodite e ele nunca foram apaixonados um pelo outro, entretanto devida as circunstâncias do encontro, o pisciano acabou apegado a si chegando em partes, confundir seus sentimentos.

                O assunto morreu novamente, não queria desenterrar tantas coisas assim e, num suspiro profundo, Afrodite se levantou ajeitando os cabelos e espalhando alguns fios azuis pelo chão.

- Me dá uma carona?

- Claro _murmurou se recompondo.  

- Vou lá dar uns beijos no meu ruivo _piscou _obrigado Mu.

- Tenta conversar com ele a respeito disso _segurou firme em seu ombro _e tenta não distrair ele enquanto trabalha.

- Ah calado! Foi só uma vez _afastou o amigo com um safanão _o filho da mãe me senta no sofá sem camisa e com a calça desabotoada, você quer que eu faça o que? Ainda vem me pedir pra chupar um sorvete, ah meu filho, mas na hora fui atender o pedido.  

- Chega! Sem detalhes sórdidos _pegou a chave da moto e a jaqueta habitual.

                Saíram do quarto se empurrando e brincando, Kiki, que por ali passava, desviou o caminho para o banheiro prestando bem atenção nos amigos. Afrodite percebeu o mais novo e seus olhares se cruzaram, o pisciano crispou os lábios nesse momento e uma faísca de culpa foi lida em seus olhos.

- Já vai, Di? _cruzou os braços. 

- Uhum _disse com o coração aos pulos _vou lá me despedir dos seus pais e do Santino.

- Beleza, mais a tarde a gente se fala _deu um tapinha rápido em seu ombro.

- O-ok, até mais!

                Mu, que nada percebeu de errado na conversa simples, o acompanhou para a área externa. Ele não sabia ainda, mas as mudanças estavam muito mais perto do que imaginava.

>>>


Notas Finais


Título - https://www.youtube.com/watch?v=V5M2WZiAy6k

Notas:
- St. Marche: Rede de supermercados em SP
- Canafístula: Planta carregada de botões dourados que se abrem em flores amarelas.

Referências:
1 - Centro Empresarial de SP (CENESP): Complexo de escritórios que abriga várias empresas, localizado próximo à Marginal Pinheiros.
2 - Bromance: é uma expressão utilizada para designar um relacionamento íntimo, não-sexual e romântico, entre dois homens. O famoso: no homo bro. UHAUHAUHAUHAUAHAUH.

Gente, foi mal pela demora ~ mas estamos ai kkkkkkkkkkk


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