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História Você sou eu e eu sou você (jikook) - Talvez esteja na hora de uma trégua


Escrita por: b_penny_b

Notas do Autor


Boa leitura💜

Capítulo 5 - Talvez esteja na hora de uma trégua


Fanfic / Fanfiction Você sou eu e eu sou você (jikook) - Talvez esteja na hora de uma trégua

"Você tem o físico exato
E tem esse orgulho intacto
Você tem tantas qualidades, elas não parecem reais
Eu gosto tanto de você
E você está sempre brigando comigo
Sem drama, sem drama, sem drama
Por que tão orgulhoso? Se no final sempre me chama"
(No Drama — Becky G)

∆∆∆

Jimin ainda não podia acreditar no que havia acontecido, realmente parecia surreal. Era como se a qualquer momento alguém fosse sair gritando que aquilo era uma pegadinha e a cara dele foi impagável.

Suas mãos ainda estavam tremendo quando ele passou pela porta do palácio, seguido de perto por seus seguranças, Yoongi e Jungkook.

Ele não sabia exatamente o que tinha acontecido de fato. Jungkook lhe fez decorar uma frase curta e retornar para a reunião, e após dizer as palavras, de forma um tanto enrolada, Jimin viu o primeiro-ministro sorrir e concordar com muito entusiasmo.

E foi isso.

Fim da reunião, eles se despediram e ali estava ele, muito confuso e um pouco ressentido com o fato de que estava devendo uma para Jeon, que não escondia sua satisfação com isso ao andar todo confiante ao lado do Park como se fosse o rei. E ele era, mas não ali naquele momento.

— O que exatamente eu falei pra ele? — Jimin não conseguiu conter sua curiosidade, e já que estavam alguns passos à frente dos demais, ele aproveitou para falar baixo com o general. Se o homem aceitou de bom grado suas palavras era sinal de que ele disse algo bom, mas o que teria sido?

— Você disse que ainda está lutando com os efeitos do acidente e acredita que é melhor discutir esses assuntos com ele no palácio, onde se sente mais seguro e confortável. Disse que seu assistente vai mandar a data e o horário — respondeu o moreno. Ele olhou de relance o homem ao seu lado. Jimin não tinha postura. Na verdade ele mantinha a coluna bem ereta, mas andava quase como um soldado, estático e robótico.

Ele tinha muito a aprender. 

— Eu juro que vou matar vocês dois! — Jungkook precisou voltar a si e desviar o olhar de Jimin quando ouviu o grito raivoso lhe atingir pelo corredor.

Os dois travaram os pés onde estavam e olharam adiante, mais precisamente para o homem que vinha em sua direção. Os guardas pararam de imediato, aguardando as ordens do general e Yoongi precisou desviar rapidamente para não bater nas costas de Jimin.

Hoseok bufando de raiva daquela forma só podia significar duas coisas, e Jimin e Jungkook o conheciam bem o bastante para saber que não devia ser porque alguém bebeu a última latinha de sprite do frigobar.

Ele parou diante dos dois, cruzou os braços e moveu o pescoço de um lado para outro com indignação.

— Dispense seus homens, general — Jimin sussurrou entre dentes. 

Jungkook não se moveu. Mas quem poderia culpá-lo? Ele não tinha acostumado totalmente com todo aquele lance de inversão de papéis.

Jimin lhe deu uma cotovelada leve e ele então percebeu que o assunto era consigo.

— Ah, eu, certo! — ele disse aproximando o relógio da boca, pronto para engrossar a voz e bancar o general másculo e prepotente, quando Jimin colocou a mão sobre a sua e abaixou devagar, lhe olhando de lado.

— Eles estão atrás de você, gênio — Jimin repreendeu.

Jungkook pigarreou e virou para os homens. Namjoon parecia ter um pé atrás com ele o dia todo e estreitou os olhos em direção a Jeon como se o examinasse. Apesar de ser bem calado, o Kim lhe dava arrepios.

— Vocês podem sair — o general disse, sacudindo as duas mãos em direção a eles, como alguém que diz ao cãozinho de estimação para ir brincar no quintal. Jimin fechou os olhos com força e respirou fundo.

— O que eu fiz pra merecer isso? — Park murmurou consigo mesmo.

Namjoon se aproximou deles, seus olhos foram até Jimin, que o olhou de relance e em seguida focou os olhos em Hoseok como se não estivesse focado nos movimentos do tenente. O Kim era esperto, até demais.

Ele lançou um olhar desconfiado para Jungkook, que sorriu nervosamente.

— Me encontre no arsenal mais tarde, general — Namjoon tocou o ombro do homem com força desmedida e Jungkook teve a leve impressão de que aquilo significava que ele levaria uma bronca das boas. E sequer sabia o motivo. O tenente então ergueu um pendrive que Jeon realmente não sabia de onde havia saído. — Aqui está o que me pediu.

Jungkook pegou a pequena peça com cautela e olhou Jimin de esguelha antes de engolir seco e assentir. Namjoon se afastou, levando os outros guardas consigo.

Yoongi, que também parecia querer uma reunião particular com o general e o rei, decidiu que Hoseok estava com os nervos mais aflorados que ele e se precisasse aguentar mais uma pessoa sendo estranha naquele dia, teria graves problemas psicológicos.

— Eu vou pegar uns calmantes e talvez tirar um cochilo de umas quatro horas. — o Min apontou o corredor e começou a se afastar, e bem a tempo. Pois Hoseok não estava mais se contendo. Ele sequer esperou que Yoongi sumisse no corredor.

— Eu desvio o olhar de vocês por algumas horas e vocês cometem essa atrocidade?! — Hobi gesticulou apontando para os dois, não se importava que seus gritos pudessem ser ouvidos por todo o palácio. Jimin e Jungkook olharam para si mesmos. Ele com certeza estava falando das roupas. Ele apontou o dedo diante do rosto de Jungkook. — Você nem sabe abotoar uma camisa…

Ele fez questão de enfatizar o que dizia, apontando o botão solitário que havia ficado sem casa e estava dando nos nervos de Hoseok, pois ele tinha TOC e aquela camisa torta estava causando um ataque quase fulminante.

Ele desviou o dedo indicador e quase bateu no nariz de Jimin.

— E você… — Jimin sinceramente não entendia porque Hoseok estava mais irritado com ele do que com Jungkook que nem havia passado a camisa. — Eu não acredito que pode me trair dessa forma! Nem um brinco, Jimin! Você não colocou nem a merda de um brinco! O que eu significo pra você?

— Do que você tá falando? Eu não uso bijuteria! — Jimin fez uma careta. — E por que a bronca maior ficou para mim? Ele nem fechou o zíper!

Jungkook olhou para baixo. Jimin poderia ter avisado antes, mas ele obviamente tinha que deixá-lo passar vergonha. Fechou rapidamente, tentando desviar o assunto antes que suas bochechas corassem.

— Eu sou pago para vestir você, e eu fiz uma centena de roupas maravilhosas que você ignorou para sair vestido como um diretor de escola! — Hoseok tocou o dedo indicador no peito dele. Esse tipo de intimidade que se ele demonstrasse em outro lugar, provavelmente teria a mão arrancada por algum fanático que tratava o rei como um deus.

Hobi pareceu perceber que havia extrapolado e parou, endireitando a postura e fechando os olhos enquanto respirava fundo em uma espécie de meditação. Ele pareceu finalmente se acalmar e abriu os olhos, para encontrar dois rostos distorcidos em total falta de compreensão. 

— Olha, não temos tempo para discutir sobre moda — Jimin disse, cortando aquele assunto para o que lhe interessava. — O V ligou pra você?

Hoseok deixou os ombros caírem, com um beicinho decepcionado nos lábios.

— Não! Dá pra acreditar nisso? — ele tomou fôlego. — É o primeiro cara pra quem eu dou meu número e não me liga de volta no primeiro dia. E como eu fico? Devastated.  Mas por sorte eu sou persistente, gosto dos difíceis. 

Ele sorriu com malícia e mordeu o lábio.

— Foco, Hobi! — Jungkook estalou os dedos diante do rosto dele, o trazendo de volta para a conversa.

— A propósito, o nome verdadeiro dele é Kim Taehyung, tem vinte e quatro anos e vem de uma família de ciganos e médiuns muito conhecidos, dizem que ele tem o dom de ver o passado e o futuro, alguns dizem que ele pode sentir as almas — Hoseok disse, ainda mais empolgado. — Signo ocidental é capricórnio, o horóscopo chinês é porco, tipo sanguíneo AB e ele nasceu em trinta de dezembro de 1995. Ele meio que tem uma ótima reputação e dizem que nunca falhou em uma previsão, o cara é uma lenda.

Jimin piscou com força diante do aglomerado de informações.

— Uau, descobriu isso tudo na internet? — perguntou ele.

— Pedi para o Namjoon investigar pra mim e ele me ajudou, mas primeiro fez eu assinar um papel dizendo que não ia perseguir o cara e nem aparecer na casa dele às duas da manhã — falou o estilista, com um suspiro cansado. — Isso foi bem específico, o que me faz refletir sobre o que o tenente Kim pensa de mim.

Jimin respirou fundo e voltou a andar pelo corredor, sendo seguido por Jungkook e Hobi sem precisar dizer nada.

— Nós precisamos nos inteirar sobre tudo para ter ao menos uma noção do que estamos fazendo aqui — Park disse, tomando o rumo das escadas que levariam ao segundo andar do palácio. — Descobri ontem que sou um carrasco que quer vender a própria irmã a um rico qualquer e nem sei o motivo.

— O trono precisa de um herdeiro e você não pode dar, então a princesa é a única chance de a coroa não passar para seu primo — Hoseok explicou, como se fosse a coisa mais natural do mundo. 

Jimin parou, um degrau acima deles, de forma brusca. Seus olhos se arregalaram e ele girou os calcanhares para encarar o platinado com total incredulidade.

— Como assim eu não posso dar um herdeiro ao trono? — o loiro perguntou alto até demais. Jungkook olhou em volta apreensivo e levou o dedo aos lábios em um pedido agressivo de silêncio.

— Foi o que você disse. Ninguém no reino sabe ainda, isso é uma coisa que só as pessoas de mais confiança da coroa sabem — o estilista explicou com um olhar confuso. Talvez ele ainda não tivesse entendido completamente o que era igual e o que não era no mundo de onde aqueles dois vieram. — Isso me inclui porque sou seu melhor amigo. A família Jeon, o tenente Kim, Yoongi e o doutor Kim Seokjin. Até onde sei, Lalisa do canal doze também sabe, mas você pagou uma boa quantia para manter a boca dela fechada.

— Mas qual o motivo de eu não poder ter filhos? Não tem nada de errado comigo! — Jimin parecia ofendido com aquela ideia. Ele endireitou a postura e se virou novamente. — Quer saber? Não importa, eu vou dar o fora daqui antes que precise me preocupar com isso.

Ele voltou a subir as escadas.

— Você não é um carrasco, mas não fica longe disso — Hoseok tentou soar delicado. Jimin ouvia com atenção. Era algo que ele já tinha desconfiado, mas era diferente ouvir da boca do cara que ali era seu melhor amigo. Jungkook ficou sua atenção na reação de Jimin ao ouvir aquilo, tentando andar ao lado dele apenas para olhar seu rosto. — Digamos que você é distante e muito metódico. Mesmo comigo tem coisas das quais você não fala nunca. Rosé basicamente faz tudo que você pede à risca e ela nunca questiona suas ordens, você mandou ela se casar até o fim do ano e é isso que ela vai fazer. Na mente dela, está apenas cumprindo o dever como princesa.

— Ótimo, algo mais? Eu por acaso chuto órfãos nas horas vagas? — ironizou ele, empurrando as portas do quarto com força desmedida e fazendo com que elas batessem na parede com um estrondo.

O Jung parou na porta e deixou que Jungkook entrasse. Ele decidiu que aquela explosão era sua deixa para sair.

— Beleza, não que eu não te ame, mas preciso fazer outras coisas. Então se sinta à vontade para quebrar o quarto todo e gritar com todo mundo. — ele beijou a ponta dos dedos e os virou na direção de Jimin com um aceno. Em seguida seu sorriso sumiu e ele assumiu uma expressão matadora. —  E se algum de vocês sair desse palácio sem antes eu aprovar as vestimentas, não vou ligar para hierarquia, eu vou assar os dois vivos!

Hobi fez questão de lhe lançar o olhar mais ameaçador enquanto fechava as portas lentamente, sob os olhares atentos dos dois homens.

Quando enfim a porta estava fechada, Jimin bufou e pulou na cama, tendo que fazer um grande esforço para se sentar na beirada, com seus pés sem conseguir tocar o chão.

Jungkook olhou para ele, parado no meio do quarto sem saber ao certo o que dizer e o que fazer em seguida. Não parecia uma boa hora para jogar na cara de Jimin que ele estava errado e lhe devia desculpas. Não pelo olhar cansado e dolorido do loiro.

Jungkook ia fazer alguma piadinha, algo para irritar Jimin e fazer com que focasse em gritar com ele e não no que quer que estivesse o deixando daquele jeito tão deprê. Mas ele foi interrompido, por um som frutal que saiu de seu estômago, algo bem parecido com uma britadeira, acompanhado por uma dorzinha chata que o fez colocar a mão sobre o abdômen.

Jimin franziu a testa e o olhou de imediato.

— Isso foi seu estômago? — ele perguntou, parecendo bem surpreso.

— Eu não comi nada além de algumas frutas desde o acidente — Jungkook retrucou.

— Você é doido? Sabe que sua pressão cai se fica sem comer, queria desmaiar por aí? — Jimin se levantou rapidamente. Além de estar em um lugar totalmente diferente e bizarro, ele ainda precisava bancar a babá de Jungkook. 

— Eu não sei cozinhar! — o moreno se defendeu.

Jimin sacudiu a cabeça e estalou a língua, atravessando o quarto em direção a porta. Ele a abriu rapidamente.

— Podia ter pedido alguma coisa pelo telefone! Existe tele entrega de fast food 24 horas! — ele disse, por cima do ombro, antes de colocar a cabeça para fora da porta.

Vasculhou o corredor com os olhos, decidindo que a moça com o espanador era a melhor opção. Ele assobiou para chamar sua atenção e ela se assustou, virando rapidamente e quase derrubando um vaso no processo. Em seguida, se inclinou em uma reverência profunda.

— Você aí, vem cá!  — Jimin gesticulou na direção dela. A garota não hesitou em se aproximar dele, um tanto tímida e com as bochechas coradas. — Preciso que peça para alguém trazer comida. Uma refeição completa, não precisa trazer muitos vegetais, de preferência algo bem forte. Também traga vinho, o babaca não come se não tiver vinho. 

Ela pareceu confusa com as ordens, pela forma como os olhos estavam vidrados nele, Jimin se forçou a rever toda a frase em busca de algo que tivesse errado.

— Oh, claro… por favor. Ficarei agradecido — ele acrescentou, mas ele ter dito as palavrinhas mágicas pareceu apenas assustar ainda mais a pobre empregada. Ela sorriu sem jeito e assentiu, antes de fazer uma reverência e sair pelo corredor apressada, sem dizer uma palavra. Jimin suspirou reflexivo. — Será que essa versão minha não costuma dizer "por favor"?

(...)

Jimin bem que tentou focar sua atenção na tela do notebook, mas Jungkook mais parecia um bebê comendo. Era impossível se concentrar em outra coisa quando precisava ficar mandando ele limpar a boca e comer mais devagar para não engasgar.

O loiro estava sentado no meio da enorme cama, as pernas cruzadas e a mão segurando o queixo enquanto ele tentava ler. Seus olhos desviaram novamente na direção do Jeon, que bebeu a segunda taça de vinho em goles rápidos.

— Só não bebe demais, você está no meio do expediente — Park murmurou, voltando a encarar a tela.

Namjoon era um homem metódico e muito objetivo. Ele havia colocado cinco nomes na lista e um pequeno parágrafo sobre os motivos pelos quais as pessoas eram suspeitas. Mas era um tanto perturbador.

Min Yoongi, Mark Lee, Jackson Wang, Kim Jisoo e Rosé.

Talvez fosse surpreendente pelo fato de, na realidade a qual Jimin pertencia, aquelas pessoas todas eram as de maior confiança. Isso era perturbador.

— O que tinha no pendrive? — Jungkook perguntou, de boca cheia. Jimin soltou o ar que tinha acumulado nas bochechas.

— A lista que eu pedi com os nomes dos suspeitos. Apesar de ser estranho, todos eles têm motivos bem específicos para termos desconfiança — respondeu o loiro, sem nem ao menos olhar para ele. — Não sei se vale a pena gastar tempo resolvendo o mistério do atentado aqui, preciso descobrir quem nos traiu no nosso mundo.

— Por que está tão convencido de que alguém nos traiu? — o Jeon questionou — Era uma coletiva de imprensa, todos sabiam que eu estaria lá.

— A coletiva foi anunciada três dias antes, mesmo os russos precisariam no mínimo de duas semanas para armar o plano que eles armaram. Se infiltrar no meio da minha equipe, saber exatamente o momento e local certo em que poderiam nos render, calcular as possíveis rotas de fuga — Jimin disse, sem nem ao menos fazer uma pausa para respirar. — Não fariam isso se não soubessem os locais e horários exatos onde estaríamos.

— Você é meio paranóico, talvez eles só tenham tido sorte — o moreno retrucou, agarrando a garrafa e virando uma quantia considerável de bebida na taça.

— Eu não acredito em sorte, acredito em planejamento e premeditação, e aquilo não pode ter acontecido debaixo do meu nariz como algo de última hora — Park falou. Ele fechou o computador com força e esfregou os olhos, que já estavam ardendo pelo esforço. 

Jungkook continuou mastigando e observando de longe a forma como Jimin parecia frustrado consigo mesmo. O conhecia a tempo suficiente para saber que ele estava se culpando, que deveria estar querendo bater a própria cabeça na parede por ter sido negligente em seu trabalho.

E como sempre fazia, Jungkook resolveu mudar de assunto para distraí-lo.

— Posso fazer uma pergunta boba? — perguntou o moreno.

— Você sempre faz sem pedir, vá em frente — Jimin retrucou, jogando os braços para trás e se apoiando na cama para olhar o homem que estava sentado no sofá a uma certa distância.

— Você tem alguma foto na sua mesa de cabeceira? — Jungkook perguntou. Parecia alguma pegadinha, a julgar pelo jeito como ele não desgrudou os olhos do loiro enquanto enfiava um pedaço enorme de omelete na boca.

Jimin estreitou os olhos na direção dele. Já conhecia bem Jungkook para saber que não era só uma pergunta boba e inocente.

Em seus anos como colega de quarto dele na marinha, Jimin aprendeu muitas coisas sobre o rei que a maioria das pessoas nem imaginava, como o fato de ele usar meias de dedinhos e dormir com a boca aberta. Mas também, os dois eram jovens e com uma mentalidade de crianças do quinto ano, era comum fazerem piadas sujas e perguntas de duplo sentido.

Isso antes do acidente em Vladivostok, quando eles ainda se suportavam o suficiente para terem piadas internas.

— Tenho — respondeu Jimin, estreitando os olhos em direção ao Jeon de forma suspeita.

— Qual a foto? — insistiu o moreno, com ar de inocência.

Jimin sentiu um leve frio na barriga. A foto não era nada demais, não queria dizer nada demais. Era só uma das muitas lembranças de sua vida da qual ele não podia remover Jungkook. Ele não tinha culpa se a melhor foto com o uniforme da marinha tinha o Jeon ao seu lado.

— Uma foto minha, com o uniforme da marinha — Jimin falou. Não precisava acrescentar que Jungkook estava junto, isso levaria a um monte de perguntas que ele não queria e nem poderia responder.

Afinal, que tipo de cara tem a foto da pessoa que menos suporta no mundo, ao lado da cama? 

Ninguém com estabilidade mental tem a foto de alguém que odeia onde possa ver todos os dias assim que acorda. Era um tanto bizarro e anormal.

Jungkook o encarou por um tempo, de um jeito que fez Jimin repensar sobre todos os seus pecados e o obrigou a desviar o olhar antes que suas bochechas corassem. Foi quando Jeon se deu por satisfeito e soltou uma risadinha antes de voltar a atenção para a comida novamente.

Jimin brincou com o lençol bordado e escandaloso e respirou fundo. Era difícil para ele admitir um erro, mas apesar de doer, ele nunca conseguia guardar para si quando percebia que estava errado.

E talvez ele tenha sido duro demais com Jungkook.

Ainda o achava mimado, irresponsável e idiota. Mas estava começando a entender o real peso da coroa, as renúncias e as decisões que precisavam ser tomadas constantemente.

Ele entrou em pânico pelo simples encontro com o primeiro-ministro britânico, e olha que aquela deveria ser a tarefa mais fácil do dia.

— Eu acho que lhe devo um pedido de desculpas, Majestade — Jimin disse, se recusando a erguer a cabeça para olhar nos olhos do homem.

— Você me deve muitas coisas, general — Jungkook disse, com a boca cheia. Jimin ergueu a cabeça apenas para lhe lançar um olhar irritado, Jeon bufou. — Mas aceito suas desculpas, por enquanto.

— Eu cheguei a conclusão que precisamos colocar nossas diferenças de lado, pelo menos até conseguirmos descobrir o que nos trouxe aqui e como voltar — Jimin continuou, usando as mãos para gesticular, como costumava fazer nas reuniões da guarda real. — Não temos outra alternativa a não ser fingir, e ninguém além de você pode me ensinar como fingir ser o rei. Assim como ninguém além de mim pode te ensinar a fingir ser o general.

— Temos que pensar a longo prazo, não sabemos quanto tempo isso vai durar — Jungkook disse, levando a taça perto da boca. — Então tem algo que você precisa me ensinar.

(...)

— Eu até entendo o capacete, mas francamente, o colete salva vidas é exagero! — Jungkook não estava feliz com aquilo, ainda mais quando sabia que a maior intenção de Jimin era lhe irritar e amedrontar.

— Da última vez que estive com você em um carro eu quase morri. Ou morri de fato. Ainda não descobrimos isso — Jimin respondeu, terminando de prender o colete salva vidas, com certa dificuldade por conta do capacete.

— Mas era você quem estava dirigindo! — o moreno replicou.

— Isso é só um detalhe — Park retrucou.

Jungkook bufou.

— Regra número um da direção: não preste a atenção nos passageiros e sim na estrada — retrucou Jimin. Ele realmente estava assustado com aquilo, afinal, quem confiava em Jungkook na direção de um carro? O mínimo que podia fazer era se preparar para todas as situações possíveis. — Já ajustou o banco?

— Sim — Jeon respondeu.

— Os espelhos? — Jimin travou o cinto de segurança.

— Já — o moreno já estava impaciente. — Pode me dar a porra da chave?

Jimin abriu a boca em um "oh" surpreso. Desde a infância, ele nunca tinha ouvido uma palavra mais forte que "catapimbas" da boca do Jeon. Com aquela regra boba da realeza, que os proibia de usar palavras torpes, Jimin nunca soube como aquela sujeira soava na boca do rei.

— Você aprendeu um palavrão? Que feio, vou ter que te deixar de castigo — Jimin sacudiu a cabeça em uma negativa e estalou a língua. — Essas crianças de hoje em dia, onde o mundo vai parar?

Jungkook abaixou o visor do capacete de Jimin e tomou a chave da mão dele sem cerimônias e levou aí buraco da ignição.

— Aqui eu não sou Sua Majestade, sou seu general. Então aqui posso dizer todos os palavrões que eu sempre quis falar na sua cara. Começando com: — Jeon olhou para ele, com o maior sorriso nos lábios e a tremenda satisfação de poder dizer aquilo em voz alta finalmente. — vá se foder, Park Jimin, seu controladorzinho de merda.

— Nossa. — Jimin cruzou os braços e olhou para a frente. — Obrigado por compartilhar seus sentimentos comigo, foi realmente muito significativo.

— Foi libertador, obrigado — Jungkook ironizou, encarando a estrada vazia à sua frente.

Era apenas uma estradinha de chão batido que ficava nos fundos do palácio e só era utilizada quando chegavam as compras semanais do mercado, isso na segunda-feira. Como era quinta, absolutamente ninguém os encontraria ali.

— Agora foca na merda…

— Olhe a boca, Majestade — Jeon interrompeu. Parecia estar se divertindo muito, ainda mais quando viu Jimin formar uma linha com os lábios e provavelmente gritar mentalmente todos os palavrões que conhecia.

— Pode, por obséquio, ligar o carro antes que eu desista disso e resolva passar com ele por cima de você? — Jungkook o fez e Jimin resolveu tratar aquilo com seriedade, por isso, tirou o capacete e jogou no banco de trás. Ele olhou para o moreno com atenção. — Você vai pisar no… eu nem falei em qual pedal você tem que pisar, tira o pé daí!

Jungkook resmungou, com impaciência. Jimin respirou fundo para evitar agressões físicas.

— O carro tem câmbio automático, então você não vai precisar se preocupar com a troca de marcha — Park explicou — Só precisa prestar atenção nos espelhos, na estrada, no acelerador e no painel.

isso? — Jungkook já sentia suas mãos suando. Realmente ele era grato por ter tido motoristas particulares a vida toda, aquilo era pressão demais.

— Não é tão difícil quanto parece. — o loiro parecia muito sério. — Coloca o pé no freio… — Jungkook obedeceu.  — Isso é o acelerador. — ele trocou rapidamente. — Agora sim. Você vai mudar o câmbio até o final, aqui onde tem a letra D.

— Eu não posso contratar um instrutor de direção? Tenho certeza que o salário de general é suficiente pra isso. — Jungkook respirou fundo, agora estava começando a tremer e suas mãos escorregavam no volante por conta do suor.

— O objetivo é não deixar ninguém saber que estamos diferentes, o você daqui deve saber dirigir desde os dezesseis. Eu sou a única pessoa que pode te ensinar, é pegar ou largar, Majestade — Jimin ralhou.

— Tá — o moreno bufou e respirou fundo — Certo. Podemos prosseguir.

— Ótimo. Pé no freio, agora você vai mover o câmbio até aqui no fundo e vai soltar o freio de mão, mas não tira o pé do freio até eu mandar — Jimin instruiu, Jungkook seguiu a risca. — Agora tira o pé do freio devagar.

O carro começou a se mover e Jungkook mordeu o lábio, concentrado na estrada. Se perdesse o controle, no máximo Jimin saltaria sobre ele e tomaria a direção para evitar que batessem em uma árvore, mas ali não tinha tanto risco de algo muito grave acontecer. Mesmo assim, a pressão do olhar crítico de Jimin era suficiente para fazer seu coração disparar.

— Pode acelerar um pouco — o loiro disse. Jungkook engoliu seco e pisou levemente no acelerador, sentindo o carro dar um solavanco para a frente e tirando o pé rapidamente e colocando no freio ao mesmo tempo, travando o automóvel com a mesma velocidade. Ele olhou para Jimin com os olhos arregalados e esperou uma bronca.

Mas ao invés disso, Park riu. Tentou se conter, colocando a mão na boca, mas sua gargalhada ficou mais alta, um som tão suave que Jungkook não teve como não sorrir, apesar de saber que ele era o motivo da risada. Jungkook desligou o carro e puxou o freio de mão.

Seu general apontou para ele, ainda com a mão cobrindo a boca.

— Tinha que ver a sua cara! — Jimin se jogou para trás e bateu na própria coxa. 

— Não pode rir de mim, eu sou seu rei! — Jungkook tentou soar sério, mas estava difícil controlar a própria risada.

— Não! — Jimin passou a mão nos cabelos e o olhou com superioridade. — No momento, eu sou o seu rei! Então acho que é você quem tem que me respeitar.

— Você nunca me respeitou — o moreno bufou com uma risada falsa e voltou a olhar a estrada deserta.

— Ei — Jimin lhe acertou um tapa no braço — Eu sempre respeitei você. Nunca me viu erguer a voz e desobedecer suas ordens, por mais estúpidas que fossem.

— Você me mandou a merda enquanto dormia, Jimin! — Jeon acusou.

Jimin abriu a boca como se tivesse acabado de receber uma notícia bombástica, em seguida fechou a boca rapidamente e franziu a testa.

— Eu não falo dormindo — ele retrucou.

— Fala sim, só não sabe porque você está dormindo — o moreno falou.

— Podemos focar no essencial? Você precisa saber dirigir. — Jimin cruzou os braços. Ele se lembrou de algo, e antes de continuar, enfiou a mão no bolso da calça, puxando de lá o objeto que Yoongi havia lhe entregado pela manhã. — Seu anel. Estava com Yoongi, ele pegou de você na enfermaria depois do acidente.

Jungkook franziu a testa para a jóia estendida na ponta dos dedos de Jimin. Não hesitou em pegar, apesar de algo lhe parecer errado. Ele levou próximo dos olhos e analisou aquele pedaço de metal com atenção aos mínimos detalhes.

Por fim, Jeon o devolveu.

— Não é o meu anel — ele declarou com convicção.

— Como não? Você não tira isso do dedo desde a coroação — Jimin questionou, confuso.

— Tem o seu sobrenome gravado, não o meu — Jeon afirmou — Esse não é meu anel, é o anel do rei Park.

O loiro analisou a jóia, encontrando em seu interior, as letras que formavam seu sobrenome no alfabeto hangul. Sua mente tentava a todo o custo entender o que estava acontecendo, mas ele não conseguia.

— Ótimo, se esse anel não é seu… por qual motivo o anel do rei estaria no dedo do general? Isso não faz o menor sentido — ele disse, ainda olhando o anel e prendendo a unha entre os dentes, pensativo.

Jungkook deu de ombros despreocupado.

— O anel é só um símbolo. Você sabe a tradição: o rei recebe da própria mãe na coroação como símbolo da assunção do trono e passa para a futura rainha quando afirma o compromisso de noivad… oh meu Deus! — os dois arregalaram os olhos ao mesmo tempo, assim que chegaram à mesma conclusão. Jungkook cobriu a boca para evitar praguejar em voz alta e Jimin olhou com total espanto para o anel, o soltando de imediato como se estivesse fervendo.

Os dois se olharam em silêncio e completo choque.

— Que merda! — soltaram em uníssono assim que perceberam que aquilo não era apenas um pesadelo. Era O Pesadelo. Com 'P' maiúsculo de: Puta que pariu, onde fomos parar?


Notas Finais


Espero que estejam gostando🥰


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