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História Vodka and Tears - Rilaya - Família Perfeita


Escrita por: Aikn

Notas do Autor


Eu sumi, mas não vou pedir desculpas por isso. Minha escrita é muito lerda, e espero ter compensado vocês com esse capítulo.
Aproveitem... enton...

Capítulo 3 - Família Perfeita


Ouvia aquela doce voz rouca e falha chamando seu nome. A voz mais melodiosa e quente que já tinha ouvido em sua vida. A chamando como se fosse um anjo. Maya queria se agarrar àquela voz para sempre, pois sabia que quando aquilo acabasse, nunca mais se repetiria. Queria tanto se abraçar àquela voz. Sabia que era a única lembrança que tinha do homem que lhe fazia cócegas, do homem que lhe enchia de beijos em seu aniversário, do homem que tocava violão no Natal, a luz de estrelas.

Acordou com um grito. Geralmente, quando aquilo acontecia, lágrimas vinham aos olhos de Maya, prontos para inundar seu travesseiro. Ficava ali por algum tempo, abraçando o travesseiro, entre os lençóis finos e baratos, enquanto tentava se agarrar as lembranças mais próximas que tinha do homem que mais odiava em sua vida. Mas não podia negar que de certa forma, também o amava.

Mas não dessa vez. Não estava sozinha. Lágrimas vieram como sempre vinham, mas com as lágrimas, veio um abraço e vários beijos em sua pele clara. Não conseguia se controlar. Já fazia quanto tempo que chorava nos braços de alguém? Não se lembrava daquela sensação de fraqueza misturada com conforto. A última pessoa fora Farkle, em um momento em que os dois estavam fracos como passarinhos sendo perseguidos por caçadores brutais.

- Eu lamento pelo que fiz – Sussurrou Farkle em seu ouvido suavemente, e Maya se permitiu relaxar enquanto abraçava o amigo. Mesmo Maya sendo baixa, Farkle conseguia ser menor ainda, e gostava daquilo – Não devia ter te abandonado. Prometo nunca mais fazer isso.

Ele não cumpriu a merda da promessa.

Mas não estava com Farkle. Os lábios macios e levemente rosados de Riley a acalmavam de certa forma, e gostava daquele poder que a garota tinha sobre ela. Aquilo era estranho, mas tentador demais para resistir. Gostou daquela sensação preenchendo o vazio que vários machucados tinham lhe causado.

Não soube dizer por quanto tempo as duas ficaram ali, trocando carícias e beijos, mas gostou daquele momento, e queria dar pausa exatamente ali. Poderia morrer feliz agora. Se esqueceu de tantos problemas apenas com aquelas demonstrações de carinho. Gostaria de ter mais momentos assim. Gostaria que Katy Hart demonstrasse mais afeição pela filha perdida. Gostaria de reviver a pobre senhora Svorski para que assim conversassem sobre o país natal da velha. Gostaria de ver seu pai.

Somente depois de suas lágrimas secarem que Maya resolveu se afastar do conforto. A   quilo era demais. Toda aquela demonstração de carinho de uma vez só fez Maya se sentir estranha demais. O que era aquela merda? Não que Maya não tivesse gostado. Tinha amado os beijos de Riley, os abraços, os carinhos, e as palavras. Mas Maya estava quebrada, e agora que tinha um escape, um carinho, agora que tinha alguém, aquilo ainda parecia ser um sonho, um desejo.

- Por que você sempre se afasta? – Perguntou Riley confusa, e Maya sequer a olhou nos olhos. Odiava fazer contato visual em uma briga, pois sabia que assim que olhasse aqueles olhos castanhos, voltaria a chorar.

- Por nada – Foi a única coisa que disse. Contaria para Riley seus sentimentos? O motivo de sempre se afastar? Não conseguia. Talvez ela ainda gostasse de Lucas, o garoto perfeito – Eu tenho que ir para casa.

Começou a se vestir. Queria ir para casa. Queria ficar em casa, sozinha, assistindo séries idiotas na Netflix, comer algum pacote de macarrão instantâneo, ou então dar uma corrida. Só queria ficar sozinha. Queria? Queria mesmo ficar sozinha?

Sentiu beijos em seu ombro, e logo aqueles lábios partiram para seu pescoço enquanto mãos ágeis lhe puxavam para um abraço. Lágrimas surgiram em seus olhos. Deuses, como estava fraca. Agora, estava tão quebrada que chorava por qualquer coisa. Riley não entenderia... ou entenderia? Foda-se, pois Maya não se importava. Já não se importava com muita coisa. Se rendeu aos beijos de uma forma assustadora. Como aquilo era bom, viciante. Era melhor do que a heroína que Louie Two Shoes lhe arranjava sempre que se encontravam.

- Eu não quero só ficar nos beijos hoje – Falou Riley, quebrando mais um beijo que já estava começando a se desenrolar, como uma música – Quero conversar com você.

Aquilo sempre a assustou. Odiava conversas, apesar de que precisava delas para sobreviver. Se bem que na maior parte do tempo, Maya se encontrava sozinha, calada e com fones de ouvido, tentando sobreviver em meio ao caos que sua vida se tornara. Gostava dos fones de ouvido, de suas músicas, dos jogos idiotas que estavam em seu celular. Aquilo fazia com que Maya se esquecesse de que tinha obrigações e sofrimento.

Mas se deixou levar pelos lindos olhos castanhos.

Riley a conduziu até a janela saliente. Assim que se sentou ali, sentiu as almofadas a abraçarem como mil amantes em uma noite fria de amor. Maya notou que o sol ainda estava no céu. Já não ia para casa fazia seis dias, não que sua mãe se importasse com aquilo, já que nem ela ia para casa.

- Antes, eu sempre vinha aqui com Isadora, Zay e Lucas – Contou Riley sorridente, e Maya sabia que ela estava tendo suas lembranças – Conversávamos sobre os problemas, e eles pareciam se resolver assim que sentávamos aqui. – Não demorou para lágrimas chegarem aos olhos da Matthews – E meu pai disse que eu só posso trazer pessoas especiais para essa janela.

Estranha. Maya se sentia estranha. Sempre se sentia estranha quando estava com Riley. Não conseguia entender o que acontecia. Seu coração disparava, suas mãos ficavam inquietas e sua boca necessitava da dela.

Mas o sentimento de se sentir estranha não era novo. Sempre se sentiu assim. Desde que seu pai a deixou, se sentia uma garotinha estranha. Como sua mãe quase nunca estava presente, acabou conversando com as paredes, literalmente. Precisava de amigos. Precisava conversar com alguém. Geralmente, montava um personagem que já tinha visto antes em algum desenho, ou inventava algum em sua cabeça. Antes, estava apaixonada por um livro que descrevia o personagem bem alto, com a pele escura e cabelos espetados, com lindos olhos de gato verdes. Maya o imaginava bem ali, na sua frente, tocando em sua mão, enquanto conversava com ele. Criou vários outros amigos e costumava conversar com eles sempre que se sentia solitária, ou seja, na maior parte do tempo. Mas, mais tarde, esses amigos se tornaram demônios. O que era para ser seu escape da realidade se tornou sua tortura pessoal. Esses seus amigos se tornaram vozes em sua cabeça, lhe dizendo o que fazer e o que não fazer. Odiava aquilo. Quando tinha nove, estava tão necessitada de seu amigo escuro e de olhos verdes, que começou a conversar com ele na escola. Quando as outras crianças repararam nisso, começaram a sussurrar por suas costas, lhe chamando de nomes e nomes. Como crianças de dez anos poderiam conhecer todos aqueles nomes sujos? Maya se sentiu tão nojenta e impura ao receber aqueles nomes em seus ouvidos como sussurros de demônios da noite com asas e escamas. Seus antigos amigos se tornaram monstros, e observavam tudo. Sempre estavam ali para dizer o quanto era insuficiente para qualquer um, o quanto era um pedaço de merda e o quanto ninguém se importava com ela. Gostaria de conversar com alguém sobre aquilo, mas não conseguia. Se sentiria humilhada demais. Como falaria para alguém que vozes em sua cabeça a atormentavam? Às vezes sentia vontade de gritar.

- Eu sou especial? – Soltou aquela pergunta do nada.

Riley a olhou de uma forma estranha. Sentia suas entranhas virarem água, seus ossos quebrarem e seu coração acelerar. Deuses, aquele sentimento era tão estranho, tão assustador... e tão bom.

- Se não fosse, não teria te trago aqui – Sussurrou Riley, se aproximando da loira lentamente. – Vem... quero tomar um banho...

Riu com aquilo. Adorava rir com Riley. As duas foram pelo quarto até chegarem ao banheiro, que era bem maior e mais organizado do que o de Maya. Toda a casa da família Matthews era mais bela do que a casa de Maya. Sentiu uma inveja consumi-la, mas o sentimento que sentia por Riley era maior, anulando qualquer sentimento ruim que pudesse surgir.

A água era morna e caía sobre sua pele com leveza. Sua água, em casa, era gelada como neve, fazendo Maya tremer a cada gota de água que lhe tocava. A água da casa de Riley era morna, aquecendo a pele de Maya. Ali, naquele chuveiro, as duas trocaram carícias e beijos antes mesmo de começarem a passar os cremes hidratantes.

- O que é isso no seu braço? – A pergunta foi fria e cortante como uma faca.

Sabia ao que ela se referia. Seu braço era um mistério até para a própria Maya. Tinha apenas dez anos quando viu que a lâmina era sua única solução. Precisava de algum escape da fria realidade que a cercava todos os dias. Precisava se esquecer de seu pai desaparecido e de sua mãe alcóolatra. Na verdade, já estava pensando nas lâminas já fazia algum tempo. Mas quando Isa descobriu aquilo, a abraçou e Farkle se juntou as duas. Os dois convenceram a Hart de que a amizade deles iria ajudá-la. Mas Lucas Friar chegou com seu sorriso encantador e seus belos olhos verdes brilhantes. Isadora se foi. Farkle lhe prometera que ficaria ao seu lado.

- Eu lamento pelo que fiz – Sussurrava Farkle em seu ouvido. Aquela era a única lembrança da voz de Farkle que Maya tinha. A lembrança de seu melhor amigo lhe fazendo uma promessa e logo no dia seguinte deixando de cumpri-la.

Ficara dias encarando a lâmina que tinha comprado com um dinheiro que tinha pegado da bolsa de sua mãe. Poderia pegar metade do salário de Katy, mas esta não notaria, já que a bebida não deixava ela notar. Maya ficou dias encarando aquele objeto brilhante e encantador, que lhe prendia a atenção. Mas de início, não o fez. Estava com uma esperança absurda de que Farkle voltaria no dia seguinte com um abraço e um pedido de desculpas. Mas quando ele não o fez, o coração da Hart se partiu, e a lâmina se tornou sua única salvação.

Assim que sentiu aquele objeto frio tocar sua pele naquela noite chuvosa e sombria, Maya estremeceu e deixou lágrimas escaparem de seus olhos azuis, imaginando como seria se Farkle estivesse ali, contando piadas idiotas e a fazendo rir. Maya estava tão dependente de Farkle que quando este se foi, doeu demais perdê-lo. Agora, dificilmente se apegava a alguém.

No começo, fazia os cortes perfeitamente alinhados. Sempre procurava um lugar límpido para ser arruinado pela lâmina. Mas depois, com o tempo se acostumando com a lâmina, o lugar onde se cortava não importava mais. Contanto que a lâmina tocasse em sua pele, já era o suficiente. Logo partiu para torturas maiores. Seu braço não era a única parte do corpo que conhecia a lâmina. Nunca tinha passado do antebraço, porém, suas pernas estavam ali, claras e calmas, prontas para serem arruinadas. Logo viu suas costas. Descobriu coisas além das lâminas. Às vezes, velas tocavam em sua pele clara até a carne aparecer. Batia suas mãos nas paredes até sangrarem. Assim que o cigarro estava quase em seu fim, sentia ele tocar a pele clara de sua barriga. Passou a usar meia-calça, blusas de manga cumprida, e qualquer coisa que escondesse o estrago que fazia.

- Algo que eu faço para aliviar a dor – Sua resposta foi rápida e fácil, como algo programado em sua mente.

Maya não soube dizer se Riley estava chorando ou não. No chuveiro, era impossível saber daquilo. O abraço que a morena deu foi uma aquarela de emoções. Aquilo foi bom, foi ótimo, foi perfeito. Logo as duas tomavam um banho de lágrimas enquanto Maya mostrava seus machucados. O seu preferido era um triângulo que tinha feito em sua barriga com uma faca de cozinha. Aquilo era a única coisa que representava a família que gostaria de ter. Um triângulo, três lados, três pessoas. Seu pai, sua mãe e ela. Três pessoas quebradas, destruídas, que já não se amavam mais. Mas ficou surpresa quando mostrou esse machucado e a Matthews se ajoelhou no chão molhado do banheiro claro, e beijou o machucado levemente. Maya não conseguiu reprimir um gemido.

As duas saíram do banho quando seus dedos começaram a enrugar. Assim que saiu do banheiro, sentiu o frio abraçar sua pele e logo se arrepiou. Mas não tentou se aquecer. O frio era indiferente. Tudo era indiferente. Não se importava mais com as coisas... se importava com nada.

Riley lhe aqueceu com um abraço.

- Estou com fome – Disse Riley – Vamos comer alguma coisa.

Depois de se secarem, Riley lhe emprestou uma camisola. Geralmente, usava qualquer blusa velha e grande que achava em seu armário. Mas quando Riley lhe deu aquela camisola de seda leve e suave como algodão, Maya sentiu um frio na barriga. A camisola era de sua cor preferida. Amava cores escuras, mas sua cor preferida era um azul claro como o céu, calmo, tranquilo e amoroso. Vestiu a camisola e se olhou no espelho. Com aquela camisola que ia até seus joelhos e sem mangas, Maya deixava à mostra quase todos os seus machucados, seus remédios para a solidão. Mas pela primeira vez em sua vida, Maya não se importou de mostrar aquilo.

Saíram do quarto e foram até a cozinha. A casa da Matthews lhe dava inveja, não negava isso para si mesma, mas nunca diria isso a garota morena que a conduzia pelos corredores. Sabia que se o falasse, Riley a acharia horrenda.

A figura que encontrou na cozinha era baixa. Cabelos escuros e lisos, uma bela pele cor de oliva e um sorriso calmo e tranquilo. Aquela figura era completamente diferente da figura que Maya tinha na escola. Cory Matthews, pelo menos na escola, era um homem sério, que sempre usava terno e não se importava em reprovar os alunos. Até onde sabia, Cory sequer sabia seu nome e não se importava com ela. Maya era a indiferente na vida do professor de história do ensino fundamental, que passou a ser professor de história no ensino médio apenas para ficar com a filha. Perseguidor.

- Pai, o que temos para o jantar? – Perguntou Riley, se sentando na mesa, e Maya notou que as mãos das duas estavam entrelaçadas.

Quando o senhor Matthews a viu, Maya se esforçou para não corar. Odiava ser vista, odiava ser observada. Não queria olhos sobre ela. Por isso, gostava de ser a indiferente em alguns momentos. Ninguém a notava, ninguém a observava, mas quando uma pessoa passava por ela na rua e a olhava, Maya se sentia nua. Por mais que estivesse vestida dos pés à cabeça, se sentia completamente nua e vulnerável, sendo observada por mil olhos curiosos, prestes a espalharem seus segredos e rirem pelas suas costas.

- Senhorita Hart? – Disse Cory Matthews enquanto colocava os pratos em cima da mesa – Não sabia que vocês são amigas.

Não conseguiu controlar seu impulso.

- Você sabe meu nome? – Foi a primeira pergunta que apareceu em seus lábios e acabou escapando. As palavras eram flechas. Depois de atirá-las, não tinha como chamá-las de volta.¹

O senhor Matthews riu daquilo.

- Sei o nome dos meus alunos, senhorita Hart – Por um momento, não soube dizer se ele estava com a voz cheia de sarcasmo ou cheia de verdade. – Conheço você, conheço o seu trabalho.

Aquilo foi estranho. Mas gostava de coisas estranhas. Seu professor a conhecia? Até onde sabia, era a garota mais esquecível do mundo conhecido. Mas seu professor sabia quem ela era, e aquilo fez Maya odiá-lo bem menos.

- Onde estão Smackle, Lucas e Zay? – Perguntou o pai de sua... amiga.

- Eu... é complicado – Maya notou o quanto Riley era uma péssima mentirosa perto de seu pai. A panela de caldo de carne que Cory Matthews colocou ali na sua frente fez o estômago de Maya roncar – Smackle e eu tivemos uma pequena briga. Mas já estamos nos resolvendo.

Uma pequena briga? Já estão se resolvendo? Riley mentia até para os pais? Bem, Maya mentiria para sua mãe se tivesse chance, mas Katy sequer perguntava como foi seu dia. Katy sequer ia para casa, tal como Maya. Mas vendo os quadros pela casa, Maya até pensou que Riley poderia ser feliz com seus pais e não esconder coisas, mas estava errada. Realmente pensou que eles pudessem ser uma família perfeita, uma família que Maya sempre quis ter. Mas eles não eram. Nunca seriam. E Maya viu aquilo nos olhos escuros e sombrios de Riley.

As duas comeram a refeição enquanto o pai e a filha conversavam sobre a escola, e diziam nomes que Maya conhecia. Alguns garotos faziam parte do grupo de Lucas e Zay, que comandavam o time da escola. Algumas garotas faziam parte do grupo de Riley e Smackle, que eram as líderes de torcida. O nível deles era tão doentio ao olhos de Maya que eles até tinham uma mesa no refeitório, e apenas eles podiam sentar lá. Maya já vira esses grupinhos em ação, machucando e humilhando os outros. Devia ter feito algo. Sabia disso. Mas não conseguia. Estava machucada demais para ajudar os outros, e isso a deixava pior ainda.

O olhar que Cory Matthews lhe deu foi assombroso. A maneira de como ele olhou para seus braços e seu pescoço, admirando seus machucados com aquelas duas pérolas escuras. Maya se sentiu nua, sendo completamente exposta. Mas não fez um movimento para esconder seus machucados. Se sentia segura para mostrar seus ferimentos ao lado de Riley, e notou que os pés das duas estavam juntos.

- E como foi essa briga entre você e Smackle? – Perguntou o professor de história. Maya notou a pele de Riley se arrepiando de uma vez só.

- Foi uma briga idiota pai. Queremos planejar o baile de fim de ano de maneiras diferentes – Mentiu Riley, e Maya notou que a garota teve que desviar o olhar para mentir para o pai. Para Maya, já não era difícil mentir para sua mãe quando precisava. A conversa das duas era sempre fria, como se fossem desconhecidas... e realmente eram, apesar de dividirem o teto.

- E você vai ajudar, Senhorita Hart? – Mais uma pergunta feita pelo professor de história, que não tinha um pelo em seu peito escuro.

Mas não teve chances de responder.

- Claro que ela vai ajudar – Respondeu Riley com uma animação que surgiu do nada. Aquilo deixou Maya assustada. Como ela conseguia? Precisava aprender aquilo. Se bem que não teria ninguém para fingir estar feliz. – Estou... morrendo de sono.

A Matthews a arrasou até o quarto, deixando o pai para trás arrumando o que elas tinham bagunçado enquanto comiam. Fazia tempo que não comia algo tão bom. Vivia de barras de cereais e besteiras. Mas tinha vezes que se permitia pegar um pouco do dinheiro que a Senhora Svorski tinha lhe deixado quando morreu para comer em um restaurante bem chique. Raramente fazia isso, e a última vez que o tinha feito tinha sido ano passado, durante o Natal, quando se permitiu ter um Natal feliz. Tinha encomendado uma pequena ceia em uma padaria, e valera a pena.

Foi para o quarto de Riley sentindo os olhos escuros do professor a observando com curiosidade.

Assim que chegaram lá, Riley desabou na cama, e pois se a chorar. Algo dentro de Maya que estava guardado em uma caixinha explodiu, fazendo Maya se quebrar completamente. Fazia quanto tempo que Maya não tinha sentido por alguém? Ver Riley ali, com lágrimas incontroláveis caindo de seus olhos em um choro silencioso para seu pai não ouvir, Maya se identificou.

Sua primeira ação foi procurar algo para abafar o choro da garota. Não queria que Cory Matthews entrasse ali. Procurou, e não demorou para achar uma caixa de som pequena e simples. Viu que o pendrive já estava conectado, e colocou a primeira música que viu. Não sabia quem era a cantora, mas tinha uma voz calma e tranquila, tal como a melodia da música.

Se aproximou de Riley com passos pequenos e leves, se deitando ao lado da garota e a abraçando com força, demonstrando o que sentia. Deuses, o relacionamento das duas seria sempre assim? Apenas lágrimas e lágrimas? A única coisa que poderia fazer era abraçá-la, mostrar que estava ali por ela, e que ela tinha alguém. Se sentia tão inútil, mas era a única coisa que podia fazer.

Riley a olhou, e em seus olhos, pôde ver um apelo mudo. Maya estremeceu, e entrelaçou os dedos dela com os seus. Só queria mostrar que se importava, e que estava ali para ela. Foi isso que a Matthews fez por ela, e só queria retribuir o favor. Ali, naquele momento vulnerável, viu o quanto a garota Matthews estava tão quebrada quanto ela.

- Meu pai... quer que eu seja perfeita – Sussurrou Riley, e Maya teve que se aproximar bastante para ouvi-la, por causa da caixa de som, que ainda tocava sua música – E com você ali, do meu lado, com todos esses machucados—

O nariz da Hart quase tocava o nariz da Matthews enquanto elas conversavam apenas com os olhos. Deuses, como Riley conseguia? A vida perfeita da garota perfeita. Era tudo uma farsa? Maya se sentiu tão suja. Como pôde pensar que Riley era perfeita? Como pôde ter sido tão idiota àquele ponto. O beijo que as duas tiveram ali foi uma aquarela gigantesca. Uma explosão de cores. Deuses, aquele era o poder que Riley tinha sobre Maya!

- Ele manda eu fazer coisas... quer que eu seja a destaque da escola... – As palavras saíam de sua boca como águas sendo jorradas de uma enorme cachoeira. Sem controle algum, fazendo Maya se assustar. – Eu sou a garota perfeita. Tenho um namorado perfeito. A família... perfeita.

Riley chegava a soluçar.

- Mas sua família... é perfeita—

- Minha mãe tem um amante – Revelou Riley em um impulso. Maya não se deu conta de quando sua mão clara começou a passear pelos cabelos lisos e escuros da garota – Meu pai só é casado com a minha mãe por que ela sustenta a família, e se ele se divorciar, ele não tem para onde ir, pois a família dele odeia ele e não o aceitaria de volta. – A cada palavra, lágrimas e lágrimas caíam dos olhos escuros que a Matthews herdara do pai – Meu irmão, que só tem dez anos de idade, começou a se cortar... e eu...

Deuses, como a família de Riley tinha se machucado tanto?

- Eu sou a garota perfeita. Sou chefe de líder de torcida, sempre me esforço para ter ótimas notas. Tenho um namorado tão perfeito quanto eu – Percebeu que as mãos da garota tremiam descontroladamente – Meu namorado me traiu com minha melhor amiga. E o pior... é que meu pai vai forçar o Auggie. Eu tenho... bulimia... por que tenho que ficar magra e bonita... para o Lucas.

Com aquilo, seu coração quebrou. Então essa era a vida perfeita de Riley? Por que Maya foi tão idiota em julgá-la? Maya não conhecia sua história, e não tinha aquele direito. Riley estava tão quebrada e sofrida quanto ela, sendo caçada brutalmente pelos fantasmas que colecionara durante os anos de abuso e sofrimento. A abraçou com todo o seu ser destruído e a encheu de beijos. Em seus lábios, pôde sentir o gosto das lágrimas salgadas como o mar.

Uma vez, tinha visto sua mãe chorar. Tinha apenas sete anos de idade, e encontrara sua mãe com a garrafa de whisky cheia em suas mãos trêmulas. De alguma forma, mesmo que tivesse somente sete anos de idade, sabia que ela estava fazendo uma escolha difícil. Estava pensando se a bebida era sua única salvação. Se aproximou da mulher e a encheu de beijos. Katy Hart a encarou confusa, sem conseguir dizer uma palavra. Para distrair a mulher, Maya a levou até sua janela, que tinha uma vista linda da cidade. Da janela de seu quarto, as duas olharam para o horizonte iluminado e belo que New York oferecia. Moravam longe do aeroporto, mas mesmo assim, conseguiam ver os faróis dos aviões quando estes levantavam voo, e ficavam observando uma pequena luz se misturar com as luzes dos faróis e depois subir entre o céu negro, ficando cada vez mais alto e alto. Maya e Katy observavam aquela luz até ela sumir. Não se lembrou de ter dormido, mas se lembrou de ter acordado e não ter encontrado sua mãe ali. Foi para a sala, e encontrou a garrafa de whisky completamente vazia, sem uma gota, e pois se a chorar.

- Eu lamento que... isso tenha acontecido – Maya sussurrou no rosto da Matthews – E que esteja acontecendo... Eu lamento.

Deuses, o que mais poderia dizer? A única coisa que poderia dar era seu apoio. A Matthews a abraçou com força enquanto mais lágrimas caíam. Quando que Riley deixou de ser a garota perfeita para ser apenas seu passarinho? Mas naquele momento de fraqueza, Maya notou que não importava o que Riley era, ficaria ao lado da... amiga. 


Notas Finais


Blá Blá Blá :)
Xau


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