Consequentemente, já estava tarde para voltar para casa, os corredores todos escuros sinalizando que os pacientes estavam a ir dormir. Passarei o resto da noite no hospital, quando amanhecer irei voltar para casa e irei direto para universidade.
Meu estômago rangeu e então me lembrei que não havia comido nada desde a tarde, movi meus olhos para meu pulso olhando meu relógio, indicavam exatamente meia noite e meia. Suspirei caminhando para a grande porta de saída na esperança de ter algo funcionando para saciar minha fome. Em frente ao hospital haviam vários comércios, porém fechados. Rolei os olhos, a rua não estava tão vazia pois alí também continha um parque com algumas árvores e uns banquinhos de madeira desgastados,onde adolescentes se faziam presentes.
Meu olfato atacou, movi meus olhos rapidamente para uma espécie de carrinho com pipocas dentro, suspirei aliviada e caminhei ainda mais rápido para lá, o senhor parou assim que notou meu "desespero" e sorriu.
— O senhor salvou minha noite. — digo com sinceridade, pipocas não era lá o que eu procurava mas com certeza é melhor do que nada. Escolho o maior saco possível e o pago.
— Obrigada jovem. — respondeu ele, retomando seu caminho.
Voltei novamente ao hospital, indo silenciosamente para o quarto da Marie, ela dormia serenamente e isso me fez soltar um sorriso. Sentei em uma poltrona um pouco empoeirada e a movi para a frente da janela, bati as mãos nela tentando amenizar a sujeira, passei as mãos por minhas calças jeans e depois voltei a comer livremente. Tateei meus bolsos e gemi em frustração quando não achei meu celular. Agora sim eu estava destinada ao tédio total.
Depois de comer a metade das pipocas dentro do pote me senti satisfeita e o fechei. Bufei comigo mesmo, estava tudo em um grande silêncio, sem opção nenhuma me reencostei na poltrona e fechei meus olhos procurando descansar um pouco.
Parecendo o propósito, assim que me concentrei para dormir ouvi batidas desesperadas na porta, o som era longe então deduzi que não era onde eu me encontrava. Não pensei duas vezes e deixei a sala indo em direção ao barulho. As batidas estavam vindo da ala de psiquiatria, não estou surpresa por isso. O quarto era o 223 e o som estava vindo de dentro para fora. Girei a tranca de segurança e a destranquei, logo após segurei a maçaneta e abri a porta, um corpo veio contra mim dando um impulso que me fez dar passos para trás.
— Eles disseram que… — Oh meu deus é Harry… ele está fortemente agarrado a mim como se sentisse medo de alguma coisa, me sinto sufocada, mas não saio dali em circunstância nenhuma. Envolvo meus braços em sua volta e o reconforto.— Que ela está vindo…
— Acalme-se Harry.… — passo a mão pelos seus cabelos pouco bagunçados e ele nega frequentemente com a cabeça. — Quem está vindo?
— Ela está vindo... — diz ele a beira de lágrimas, esquizofrenia é a pior coisa que pode-se ter, ela te causa delírios e alucinações perturbadoras, te faz pensar em ideias totalmentes falsas que mexem com sua mente. — Não não não — ele diz repetidamente andando de um lado para o outro com as mãos posicionadas na cabeça enquanto lágrimas escorrem pelos seus olhos,me apresso em correr atrás dele.
— Harry ninguém está vindo, acalme-se… — Posiciono minhas mãos em seu rosto delicadamente para não assusta-lo, olho em suas íris, transmitindo conforto. — está tudo bem ninguém está vindo.
— Mas… — ele tenta argumentar olhando para todos os lados, mas nego com a cabeça.
— Vem vamos voltar para o quarto.— menciono e ele se cola novamente em mim, me dificulto a andar até chegarmos na cama, mas enfim consigo. Harry deita devagar e encosta sua cabeça no travesseiro sem tirar seus olhos de mim. Pego o coberto e o cubro até a altura do seus ombros. — Boa noite Harry — sussuro encostando meus lábios em sua testa. Caminho de volta a saída, ouço sua voz suave e me viro para trás para o dar antenção.
— Você pode ficar? — ele pede.— Pelo menos até eu dormir?
— Ahm… claro! — respondo sorrindo, refaço meu caminho e me sento em um banquinho mínino no canto da sala perto da sua cama. Um silêncio constrangedor se instala e eu me mexo desconfortável.
— Pode… me dar a mão? — pronunciou erguendo as mãos, um sorriso alargou o meu rosto, levei minha mão até a sua e as entrelacei, Harry puxou - as para de baixo do seu queixo e suspirou. — Me sinto seguro agora.
Sem ter o que dizer apenas sorri, eu não queria estragar o momento de paz que habitava alí, mas estava tão curiosa para saber o que aconteceu com ele para ter ficado dessa forma. Decido ficar quieta, não é da minha conta e não vou incomoda-lo com o assunto, como ele mesmo disse teve uma infância ruim e isso poderia o causar um ataque.
— Sim ela é… — observo Harry e ele está olhando para a parede branca vazia. — Você já disse isso antes. — ele menciona, logo percebo que ele está falando com suas alucinações. — Estão dizendo que você é bonita. — direciona o olhar a mim e logo sorrio em resposta.
— Você também é bonito Harry — as palavras escapam da minha boca e quando percebo já as soltei.
— Eu sou? — indagou ele confuso, oh sim ele era bem bonito e certamente estava conseguindo um lugar especial no meu coração, afirmo que sim. — É eu sou! — diz ele todo orgulhoso e eu gargalho.
Um rangido soa vindo da porta e ela se abre lentamente, Harry começa a se esconder entre os lençóis e eu engulo seco mas logo riu novamente.
— Eu medo escuro… — Marie disse desengonçada enquanto engatinhava, fez uma forcinha e ficou de pé erguendo os bracinhos e eu a peguei no colo retornando ao banquinho ao lado de Harry.
— Harry… está tudo bem. — asseguro e ele sai do cobertor lentamente. — Essa é a Marie.
— Loco! — exclama ela assustada ao mesmo tempo que Harry grita a palavra "criança". Mas não é um grito de medo e sim de surpreso. Rio me lembrando de hoje mas cedo quando ela saiu corredor a fora gritando a palavra louco repetida das vezes.
— Eu brincar. — diz a menininha empolgada batendo as palminhas, ergo ela no ar depois a coloco na cama de Harry. Levanto com a intenção de ir pegar a bola, mas a voz rouca de Harry me para.
— Você vai me deixar? — pergunta ele parecendo estar magoado.
— Ela pega Bola! — Marie exclama irritada cruzando os braços, assinto e volto a sala pegando o objeto vermelho, no caminho de volta ouço uma conversa dos dois e seguro o riso.
— Seu cabelo de menina sim! — ela aponta o dedo afrontando, enquanto ele nega freneticamente com a cabeça de um lado para o outro. — Então tá véio.
— Voltou. — ouço Harry mencionar com um sorriso do rosto.
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— ROSE! — abro os olhos rapidamente enxergando tudo embaçado a tontura me atinge, levo minhas mãos aos olhos e massageio as pálpebras me dando uma visão nítida. Observo minha mãe furiosa na porta. — O que está fazendo aqui? — susurrou mais baixo. Meus olhos procuraram Harry e ele dividia seu espaço com a Marie na cama. Sorri, mas logo me desfiz quando voltei a olhar para minha mãe.
— Desculpe… — só foi o que eu consegui dizer, como aconteceu antes minha mãe foi solicitada, até parece que ela não tinha sossego neste hospital.
— Saia imediatamente ouviu? — ela sussurra gritando, assinto rapidamente e vejo Harry se mexer. Pego Marie, ainda dormindo, e a envolvo nos meus braços indo em direção a porta.
— Espera… — era Harry. — Você vai voltar? — sua voz transmitia esperança.
— Sempre.
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