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História We are Better Together - Tanta coisa que eu quero lhe dizer


Escrita por: brunacezario

Notas do Autor


Tenho que dizer que diferente de capítulo anterior esse sim ficou do jeitinho que eu queria. Dei várias esboçadas sim, confesso.

Ótima leitura!

Capítulo 28 - Tanta coisa que eu quero lhe dizer


Dia 1

O consultório parecia com a maioria dos consultórios de séries e filmes que elas já tinham assistido. Exceto pela falta de um divã, algo que não era um problema, elas haviam entrado em um acordo que nenhuma das duas deitaria em um.

Elas estavam sentadas uma do lado da outra em um sofá de três lugares cinza, enquanto a terapeuta estava sentada em uma poltrona de couro preta na frente delas.

Coincidência ou não a terapeuta que escolheram era negra - assim como Berdie -, na casa dos 40 anos, os cabelos negros - naquele dia - estavam presos em um coque. Ela usava óculos com a lente quadrada, grande, ocupando praticamente toda a parte do rosto em que ficava seus olhos.

Trajava roupas sociais normais e em  suas mãos tinha um bloco para anotações que, desde que elas entraram naquele consultório, ela não parava de anotar coisas.

Se ambas estivessem conversando como duas pessoas normais, como duas pessoas que se amavam ao invés de terem decidido que não iriam trocar muitas palavras até o dia da consulta para evitar brigas, com toda certeza elas fariam alguma piada dizendo que a terapeuta estava lendo os pensamentos delas, pois elas ainda não tinham dito uma única palavra.

- Tudo bem. - a terapeuta pousou o bloco de anotações em suas pernas e tirou os óculos, pendurando-os em sua blusa social branca. - O que trouxeram vocês aqui?

Elas se entreolharam.

Pelo olhar de Piper, se dependesse dela, essa pergunta e todas as outras que a terapeuta viesse a fazer, não seriam respondidas.

Alex se segurou para não revirar os olhos. Estavam de acordo que precisavam de ajudar e mesmo assim Piper estava relutante a conseguir uma.

Esperava que as consultas servissem realmente para entender o que estava passando pela cabeça da esposa porque não aguentava mais todo aquele comportamento.

- Tem seis meses que perdemos o nosso filho. - disse Alex percebendo Piper contrair-se no sofá. Aquilo tinha mesmo começado a ficar real. - E nós não estamos lidando com isso muito bem.

- Como vocês estão se sentindo após essa perda? - Piper bufou fazendo uma expressão de deboche ganhando a atenção da terapeuta. - Piper?

- Eu estou me sentindo ótima! - o tom era irônico. - Tão ótima que vim gastar uma hora da minha vida com uma terapeuta que não sabe nem como alguém se sente quando perde um filho. - levantou-se do sofá pegando sua bolsa. - Eu sabia que isso era uma péssima ideia.

E Piper saiu do consultório deixando uma Alex totalmente sem reação.

Quando Alex conseguiu encontrar Piper, a loira já estava no estacionamento do prédio, praguejando por não conseguir abrir a porta do carro por estar sem a chave.

- Você disse que ia fazer isso! - esbravejou Alex realmente irritada. - Você concordou que precisávamos de ajuda.

- Isso foi um erro. - tentou abrir a porta do carro mais uma vez. - Por que eu tenho que falar o que eu estou sentindo para uma estranha? - bateu a mão no vidro do carro. - Merda!

- Se você conseguisse falar o que está sentindo para mim nós não precisaríamos falar com uma estranha. - mostrou a chave do carro para Piper que ainda tentava abrir a porta do veículo sem sucesso. - Eu não vou deixar você acabar com esse casamento.

- Abre essa porra logo Alex!

- Só se você prometer que vamos voltar semana que vem e você vai falar tudo que está sentindo para uma estranha.

- Isso não vai ajudar.

- Você não pode ter certeza disso sendo que ainda nem tentou. - Piper revirou os olhos. Passou a mão pelos cabelos tentando conter sua irritação. Sabia que elas precisavam mesmo de ajuda. Sabia que ela precisava de ajuda e essa era a oportunidade de conseguirem. De alguma coisa teria que adiantar. - Piper... - odiava aquele olhar de cachorro que caiu do caminhão da mudança de Alex. Única coisa que não a deixava irritada ultimamente. Se ainda quisesse saber dos "talvez" aquilo poderia mesmo ser um começo. - Por favor.

- Tudo bem! - respondeu em tom contrariado. - Agora abre essa porra! Eu quero ir para casa!

Alex destravou o carro e assim elas foram o caminho todo até chegar em casa em completo silêncio.

Era melhor isso do que ficarem se atacando sem necessidade. Estavam na torcida para que isso começasse a mudar no decorrer das consultas.

Dia 2

- Então? - a terapeuta ainda esperava pela resposta para a pergunta feita na semana interior.

- Com raiva. - Piper respondeu. Prometeu que tentaria e por mais que já estivesse exausta de tentar, essa seria a última vez. - Eu me sinto com raiva o tempo todo.

- De quem?

- Eu não sei... - encarou suas mãos que estavam cruzadas em cima de seu colo. - De todo mundo? - voltou a olhar para a terapeuta. - Eu não sei... Eu só sinto raiva.

- Alex?

- Culpa. - Piper balançou a cabeça em negativo e em seguida apoiou a cabeça em sua mão que passou a ficar com o cotovelo apoiado no braço do sofá. - Desculpa se você não aguenta mais eu dizendo isso, mas eu me sinto culpada por ele ter morrido. E eu sei que você me culpa também, caso contrário não estaríamos aqui.

- Isso é verdade Piper? Você culpa a Alex pela morte do Chris?

- Que diferença isso faz? Ela já pediu desculpas tantas vezes e mesmo assim ela ainda se culpa. Eu dizer que a culpo ou não vai mudar no que?

- Você nunca deixou com que eu me desculpasse.

- Desculpas não iam trazer o Chris de volta! - exclamou com o tom de voz um pouco alterado. - Não venha me culpar pelo seu sentimento de culpa.

- Tudo bem... Você quer que eu te culpe pelo o que então? Por não me perdoar por eu ter descuidado do Chris por alguns segundos enquanto eu conversava com você no telefone. Por não ter se aberto comigo? Por ter me proibido de passar um tempo sozinha com os meus filhos? De ter feito nós duas pararmos aqui? Você quer que eu te culpe referente ao que especificamente?

- Você não estava no local quando o Chris morreu, Piper?

- Desculpa, reviver a noite em que o meu filho morreu vai nos ajudar no que?

- Eu só estou tentando entender quando começou o problema de vocês.

- Nosso problema começou quando eu fiquei sentada na porra daquele táxi, ouvindo todo o desespero da Alex pelo meu celular sem saber o que estava acontecendo. Foi a partir desse momento que a porra do nosso problema começou.

Dia 3

- Como vocês se conheceram?

- Sério mesmo? - Piper perguntou com indignação. - Você nunca leu o livro com a nossa história? - a terapeuta a olhou com indiferença pela pergunta. - Orange is the New Black? Você nunca leu?

- Se eu li ou não isso não faz diferença, eu ainda vou querer ouvir de vocês.

- Há 18 anos. - respondeu Piper em tom de tédio. Até agora não fazia ideia do progresso que estavam tendo com todas aquelas perguntas idiotas e olha que ela estava acostumada com as perguntas idiotas da Berdie. - Eu estava deixando meu currículo em um bar quando a Alex apareceu para tirar sarro dele.

- Quem coloca aquele monte de mentira em um currículo? - Piper fez uma careta. - Eu paguei uma bebida para ela, ficamos conversando por um tempo e quando ela entrou no táxi depois que eu a beijei eu pensei que jamais a veria novamente.

- E vocês estão juntas desde então?

- Não. - elas responderam juntas e foi impossível não trocar olhares devido a sincronia.

Elas contaram toda a história do relacionamento das duas para a terapeuta.

Poderia ser coisa da cabeça delas, mas viram os olhos da terapeuta brilhar durante toda a história.

A mulher nem piscava de tão entretida que estava na história das duas. Estava prestando atenção em cada  detalhe do que elas contavam. Além de algumas vezes demonstrar encantamento - que ela tentava disfarçar - pela sincronia que as duas tinham na hora de contar a história. A forma que elas continuavam exatamente da onde a outra parou ou falavam juntas a mesma coisa em alguns momentos.

A terapeuta pode não ter contado a elas, mas ela tinha sim lido o livro e assistindo algumas entrevistas de Piper, mas ela podia dizer que existia uma diferença enorme entre as personagens daquele livro e a inspiração na frente dela.

Por mais que o livro contasse uma excelente história, ele ainda não fazia jus ao que as duas contaram com suas próprias palavras.

Se elas já tivessem recuperado o brilho no olhar por causa da morte de Chris e o sorriso sincero, com toda certeza elas passariam uma emoção completa. Pois da forma que elas contaram a própria história eram de duas pessoas que ainda se amavam incondicionalmente e que só tinham perdido o caminho de volta de uma para outra. Diferente de muitos casais que ela atendia, que mesmo que o casamento fosse salvo ao fim das sessões, não tinha metade do amor que as duas tinham quando, teoricamente, estavam se odiando no momento.

Dia 4

- Vocês sempre encontraram uma forma de se encontrarem novamente. O que está faltando dessa vez?

Elas se entreolharam.

Não era para isso que elas foram fazer terapia?

E, como se pudesse ler o pensamento de Piper, Alex tomou a frente antes que a esposa falasse em voz alta o que ambas estavam pensando.

- Honestidade? - viu Piper se ajeitando no sofá e cruzando os braços, tinha certeza que ela estava se segurando para não fazer uma careta. - Depois de tudo que passamos falamos que íamos ser honestas uma com a outra. Que falaríamos tudo que estávamos pensando para tentar resolver o problema e... - fez uma breve pausa voltando sua atenção para Piper. Ergueu os ombros. - Eu não sei mais o que você pensa. E você não é honesta comigo com o que está pensando, então...

- Você não ia gostar de saber o que eu estou pensando.

- Por que você não tenta?

- Por que nem eu gosto do que eu estou pensando. O que está faltando para a gente se encontrar novamente é nosso filho nunca ter morrido assim nós não estaríamos aqui. Assim nós não teríamos nos perdido.

Dia 5

- Antes do Chris morrer vocês brigavam? Estavam com algum problema? Por menor que fosse, existia alguma desavença entre vocês?

- Claro que existia! - respondeu Alex recebendo olhares confusos de Piper. - Como conviver com alguém que não shippa Japril?

- Falou aquela que não shippa Jolex e ficou duas temporadas inteiras reclamando que estavam descaracterizando a Callie quando ela sempre foi daquele jeito. - retrucou com falsa ofensa arrancando um discreto sorriso de Alex. - Agora que ela começou a se situar na vida.

- O maior problema de vocês era Grey's Anatomy? - a terapeuta perguntou com uma sobrancelha erguida.

- E de quem não é? - responderam juntas e logo em seguida trocaram olhares.

A sintonia ainda funcionava as vezes. Aquilo deveria ser um bom sinal.

- Fora isso não existia nada?

- Nós também não podíamos dar conselhos amorosos. - respondeu Piper naturalmente. - Mas isso já não era problema nosso e sim das nossas amigas que não aceitavam que finalmente éramos um casal estável.

Alex assentiu concordando com o que a esposa tinha acabado de dizer. Estava gostando daquela sessão em especial. Não parecia que tinha aquela nuvem cinza em cima das duas como nas consultas anteriores.

- Nós estávamos felizes. - Alex prosseguiu. - Se não fosse essas coisas bestas não iríamos discutir nunca.

- Nós contamos nossa história para você. - em um tom um pouco mais baixo. - Já que aparentemente você não leu o nosso livro. - Alex se segurou para não rir, tanto da forma que a esposa falou quanto da expressão de desdém em seu rosto pela terapeuta não ter lido o livro. - Finalmente, depois de tudo que passamos, estávamos bem. Nosso relacionamento estava melhor do que imaginávamos. Nós nos amávamos. Tínhamos uma família. Pra que destruir algo que demoramos para construir? Pra que destruir toda nossa felicidade?

- Você não acha que tem muito passado no que você disse?

- Você que quis saber como éramos antes da morte do Chris.

Dia 6

- Piper, você tem dificuldade para lidar com seus sentimentos?

- Quem não tem?

- Nem todo mundo fica fora de si por causa disso.

- Ah já entendi! - abriu um sorriso debochado. - Eu não lembro do meu tempo na segurança máxima. - fitou Alex, seus olhos traziam um pouco de raiva. - Você que mandou ela entrar nesse assunto?

- Eu...? - Alex se enrolou para completar. Foi pega de surpresa com a acusação. - Não, eu não falei nada!

- Vocês nunca conversaram sobre isso?

- Claro que conversamos! - Alex passou na frente para responder e ver se assim conseguia convencer Piper de que ela não tinha nada a ver com aquilo. - Ela só não gosta de falar sobre isso.

- Então você não sabe exatamente o que...

- Não, ela não sabe! - Piper interrompeu, indignada. - Mas como parece que isso é tão importante para essa terapia inútil... Eu... Não... Lembro. - disse pausadamente para ver se assim a terapeuta entendia. - As poucas coisas que eu lembro é da Nicky falando: "Cara, ela não te viu ai". - disse imitando a voz de Nicky. - "Será que você não percebeu que ela é um peso morto? Ela não vai sentir porra nenhuma se você bater nela. E se você quiser matá-la com toda certeza vai estar fazendo uma favor". - fez uma pausa. Sua perna sacodia em um ritmo frenético. Não se sentia nenhum pouco confortável contando aquilo. Odiava ter que vivenciar o pouco que se lembrava novamente. - Eu estava presa dentro do meu corpo, então até quando eu queria responder, poucas vezes eu conseguia. Nem quando Nicky conversava comigo antes de dormir. Eu não lembro uma única palavra do que ela me dizia, mas eu sei que ela estava lá. Por isso que eu agradeço por não lembrar de muita coisa porque era horrível.

A última frase saiu em um tom embargado.

Piper queria saber se era mais pela história ou pelo olhar complacente de Alex.

Por isso que não queria contar aquela história. Por isso não se importava de Alex não sabê-la. Não ia fazer diferença nenhuma na vida das duas, mas mesmo assim parecia que a terapeuta amava mexer em ferida cicatrizada. 

- Foi assim também quando você foi para a ala psiquiátrica?

- Não. - enxugou uma fina lágrima que foi teimosa o suficiente para escorrer pelo seu rosto mesmo ela se segurando. Aquilo praticamente arrancou o coração de Alex fora. - Eu estava dopada por causa dos remédios, então eu conversa com uma voz. - tentou soar natural. - Ela não era muito amigável. Fez com que eu prometesse que iria mudar. Que eu iria ficar bem porque eu precisava saber se a Alex estava bem.

- Então você voltou pela Alex? - Piper fugiu da troca de olhares da morena e simplesmente assentiu. - Você não acha que toda essa raiva que você sente é que, mesmo depois da morte do seu filho, você voltou por ela novamente?

- Você tem certeza que é graduada? - o tom era ríspido. Estava se segurando para não começar a chorar. - Eu voltei pelos meus filhos, não pela Alex. Se não fosse eles eu tenho quase certeza que eu não teria voltado. - levantou do sofá. Já tinha falado demais e mesmo assim sentia necessidade de prosseguir. - Esse é um dos motivos que me deixa com raiva.

E deixou o consultório.

A última coisa que queria ver na vida era o olhar de Alex por ter se dado conta de que não é suficiente. De que o amor das duas não é o suficiente.

- Está tudo bem. - Alex disse assim que a encontrou no estacionamento tentando abrir a porta do carro.

- Por que você ainda está aqui? - soltou a trava do carro com raiva.

- Eu sou a sua carona. - sacudiu o chaveiro em suas mãos. - Eu não vou para lugar nenhum Piper.

- Mas deveria. Você não merece isso e eu não acredito que nós duas temos salvação.

- Não se preocupe - destravou a porta do carro - eu acredito por nós duas.

- Por que você é uma idiota. - disse entrando no carro.

- Você acha que eu coloquei nos nossos votos que nunca ia desistir de nós duas só para que ficassem bonitinhos, Chapman? - perguntou com um sorriso divertido no rosto. - Eu estava falando sério. Eu só estou aqui cumprindo a minha promessa.

- Por que você é uma idiota.

- Talvez eu seja. - deu de ombros. - Talvez você seja a idiota.

- Onde está toda a sua raiva?

- Agora? - Piper assentiu. - Eu não sei... Talvez eu só fique com raiva por não saber o que você está pensando. Quando você não se abre comigo. Hoje nós estamos bem. - mandou uma piscadela para Piper.

- Nós estamos longe de estar bem Vause.

- Eu disse hoje.

Dia 7

- É normal não querer ser tocada após um trauma. – pois é, elas sabem onde a consulta daquele dia as levaria. – Quando, de alguma forma, se sente traída. É assim que você se sente em relação a Alex depois que o Chris morreu?

- Traumatizada ou traída? – balançou a cabeça em negativo. – Pode deixar em branco? – a terapeuta nada respondeu, só ficou a encarando com indiferença. Depois de todas aquelas semanas era impossível que Piper ainda achasse que poderia atingi-la com todo seu sarcasmo. – Isso é meu mecanismo de defesa.

- Mecanismo de defesa? – Alex franziu o cenho. – Qual o problema de receber um pouco de carinho? Um pouco de afeto? Ainda mais nesse momento que estamos?

- O problema é que eu sei que não vou conseguir retribuir.

- Você não precisa.

- Se eu não precisasse, nós não estaríamos aqui agora.

Dia 8

- Ela foi embora! - reclamava Alex visivelmente irritada. - Ela levantou dizendo que ia ao banheiro e minutos depois me mandou uma mensagem dizendo que estava indo embora! - o tom era de indignação devido as lembranças da noite anterior. - Ela não consegue ficar sem destruir nossa noite uma única vez!

- Desde quando nós temos uma noite? - perguntou também irritada. - Eu nem queria ir na porra daquela inauguração. Você que chegou em casa - imitando a voz da Alex - "Por que você não está arrumada ainda?" e praticamente me obrigou a ir.

- Era a inauguração do restaurante da Red! - exclamou exasperada pela esposa parecer que não estava entendendo o óbvio motivo de sua irritação. - Ela queria você lá! Era importante para ela.

- Me desculpa se você consegue ficar mais de meia hora em um lugar com pessoas te julgando com o olhar. - o tom era irônico. - Por que eu não consigo!

- Pelo amor de Deus, Piper! Quem estava te julgando? Por que estariam te julgando?

- Por que é isso que todo mundo faz. Eu sempre sou a culpada por destruir nós duas e mesmo quando eu não sou a culpada eu levo a culpa mesmo assim. Eu sei que todas naquela mesa estavam me julgando e culpando por nosso casamento estar indo por água a baixo.

- É sério isso? Você acha que as suas amigas estavam te culpando pela nossa crise?

- Suas amigas. Elas sempre estiveram do seu lado. Até quando você fazia merda a culpa sempre era minha. Por que dessa vez seria diferente?

- Você viu que, assim como a Jess, a Polly também estava sentada naquela mesa, certo?

Piper soltou um riso incrédulo balançado a cabeça em negativo.

- Talvez elas estejam certas. - levantou do sofá. - Eu sou a culpada por tudo isso. - fez um gesto com as mãos mostrando a proporção. - Até minha melhor amiga deve estar me culpando por isso. - soltou um riso de nervoso. - Por que eu não me abro. - começou a contabilizar no dedo. - Por que eu trato você mal. Por que eu te machuco. Por que eu faço você acreditar que eu te culpo pela morte do nosso filho. - caminhou até a porta do consultório. - Por que eu não sou a esposa perfeita. - abriu a porta. - Por que eu não sou a Alex Vause.

E a porta foi batida com toda a raiva que Piper tinha naquele momento, mas estava tentando mascarar enquanto desabafava.

Alex olhou para a terapeuta, totalmente perplexa. Queria entender o que tinha acabado de acontecer ali.

Piper estava parecendo uma bomba relógio.

Às vezes não dizia nada que - a seu ver - ajudaria na terapia, além de muitas vezes ser mais debochada e irônica do que ela e Nicky juntas. Era totalmente previsível. Não causava dano nenhum. E, em outras vezes, ela explodia sem nem ao menos conseguirem prever.

Alex achava ótimo quando isso acontecia, pelo menos conseguia entender um pouco do que estava se passando na cabeça de Piper, mas mesmo assim tudo que ela juntava estava longe de resolver a crise das duas e a terapeuta parecia não estar ajudando muito.

A mulher passava sempre as consultas fazendo perguntas que pareciam que não iam leva-las para lugar nenhum e, quando acontecia situações parecidas com essa, ela parecia satisfeita com o que via, mas nunca dizia absolutamente nada sobre como prosseguir diante aquilo.

Se era para ter uma telespectadora fiel para as brigas das duas era melhor chamar a Nicky. Pelo menos a amiga não cobrava por hora.

Novamente Alex encontrou Piper tentando abrir a porta do carro sem obter nenhum sucesso já que a chave permanecia com ela.

- Por que a chave sempre fica com você? - revirou os olhos soltando a fechadura da porta.

- Por que você disse que para não correr o risco de você me matar batendo o carro em algum lugar era melhor que eu dirigisse.

- Eu nunca disse isso. - abriu a porta do carro assim que Alex destravou. - Posso ter pensado, mas...

Alex soltou um riso. Gostava quando a Piper com senso de humor aparecia era sinal de que as coisas estavam caminhando.

Normalmente elas sempre encontravam um buraco e caiam nele nessa caminhada, mas ela gostava do trajeto.

- Não tem problema nenhum em ser Piper Chapman. - Alex disse em tom ameno, doce, olhando para Piper que encarava o vidro carro. A loira fez um som com a boca, como se dissesse que aquilo era uma das melhores mentiras que Alex já tinha contado. - Que graça teria a minha vida se eu não fosse casada com você?

- Que graça está tendo a sua vida agora? - perguntou ainda fitando a janela do carro. - Você não cansa de ser machuca por mim?

- Mas é isso que nós fazemos.

- Se você acha que é isso que nós fazemos eu não sei por que ainda estamos fazendo essa terapia. - voltou sua atenção para Alex. Seu olhar estava triste, mais do que o normal e o tom de voz trazia frustração, desapontamento e um pouco de tristeza também. - Eu não quero que a gente volte a ser esse tipo de casal.

- Nós não vamos. - pensou em tocar na mão de Piper que estava apoiando na perna, mas recuou. - Isso é só o que fazemos quando não sabemos o que fazer.

- Então eu acho melhor encontrarmos outra forma de fazermos isso. - voltou a olhar para o vidro. - Por que isso não é justo com nenhuma de nós duas. Não é justo para a nossa família.

Dia 9

Piper passava o olhar por todo o consultório tentando fugir da troca de olhares com a terapeuta.

Consultou seu celular algumas vezes para ver se Alex tinha dado sinal de vida justificando seu atraso só que até aquele momento nada.

Sentia que a terapeuta a observava. Provavelmente deveria estar lendo sua mente.

Boa sorte para ela!

Seu celular notificou indicando que tinha chegado uma mensagem de Alex. Esboçou um sorriso fraco e levantou-se do sofá pegando sua bolsa.

- Ela ficou presa em uma reunião, não vai conseguir vir.

- Não tem problema. – Piper parou no meio do caminho, fechou os olhos praguejando a mulher mentalmente, tinha a sensação de que não conseguiria fugir daquela consulta. – Podemos conversa só eu e você.

- Eu só estou aqui por causa de Alex. De todas as vezes que eu gastei dinheiro com coisas inúteis, essa terapia está se superando. Eu tenho certeza que você não faz ideia de como nos ajudar.

- Isso é por que eu não disse para a Alex que você não a culpa pelo que aconteceu com o Chris?

Talvez não estivesse sendo tão inútil assim a terapia.

Piper fez uma careta por causa do meio sorriso convencido que a terapeuta esboçou assim que ela sentou de volta no sofá.

- Por que você deixa a Alex pensar que você a culpa? Ou você acha que ela vai decifrar isso com todas as vezes que você fica impaciente ou foge do assunto quando ela pergunta por que você a culpa?

- Ela não deveria nem se culpar. A culpa não foi dela.

- Mas ela acha que sim e também acha que você acha que sim. Quando você vai dizer a ela que não a culpa?

- Eu não sei.

- Por quê?

- Você sabe... Todos esses seus “porquês” não estão nos ajudando. Quando você vai perguntar menos e nos ajudar mais?

- Vocês que tem que se ajudar. Vocês que tem que resolver seus problemas. Eu só estou aqui para fazer vocês enxergarem o que está de errado nesse relacionamento.

- Nós duas sabemos muito bem a resposta para isso.

Dia 10

Fazia uns 15 minutos que a terapeuta estava sentada em silêncio lendo e anotando algumas coisas em seu bloco de anotações.

As duas olhavam a cena tentando decifrar o que ela estava fazendo. Era a primeira vez naquelas 10 semanas que ela ficava tanto tempo em silêncio. Normalmente ela só ficava quieta quando as duas estavam discutindo. Às vezes ela tinha a sensação que a qualquer momento ela até levantaria para fazer uma pipoca e reclinar a poltrona – caso ela fosse de reclinar – para assistir as duas mais confortavelmente.

- Será que ela está jogando jogo da velha com ela mesma? – perguntou Piper em um sussurro arrancando risos de Alex.

- Quem será que está ganhando? – seguiu com a brincadeira e, para sua surpresa, também conseguiu arrancar um breve riso de Piper.

- É o seguinte. – pousou o bloco em suas pernas e pendurou seus óculos na blusa social. – Vocês vão sair daqui e a partir do momento que pisarem em casa vão tentar ser o casal que vocês eram antes. – elas se entreolham e, como se a terapeuta pudesse mesmo ler seus pensamentos, ela prosseguiu. - Eu sei que vocês acham que não são mais essas pessoas. Sei também que vocês perderam um filho e por isso acham que não são mais essas pessoas. Mas vocês são e vão tentar encontrá-las nas próximas quatro semanas. Vocês vão ser sinceras uma com a outra. Não vão tentar vocês vão ser sinceras. Alex quando a Piper não quiser ir para os lugares você não vai obrigá-la a ir. Ela só vai quando se sentir totalmente confortável. – Piper abriu um sorrisinho cínico. Às vezes a terapeuta tinha a sensação de que estava lidando com crianças. - Mas você vai dizer para a Alex o motivo de não querer ir. Nada de ser monossilábica. É para dizer a verdade da mesma forma que você falou nas nossas sessões. – foi a vez da morena de abrir um sorriso cínico. Piper revirou os olhos. – Você também vai deixar a Alex sair com as crianças. E vocês não vão brigar na frente delas. Guardem todas as frustrações e depois despejem de uma vez só quando não estiverem na frente de seus filhos. – as duas assentiram, envergonhadas. Nunca deveriam receber esse tipo de chamada de atenção. – Por fim, vocês vão tentar se reconectar. Com toques, muitos toques. Eu sei que vai ser difícil, caso contrário vocês não estariam aqui, mas eu quero alguns progressos quando vocês voltarem daqui um mês. Estamos entendidas?

Elas assentiram.

Tinham medo de contestar referente a uma das recomendações e receberem uma comida de rabo. A terapeuta estava parecendo uma mãe com todos aqueles sermões, então era melhor só dessa vez elas ficarem na delas.

Foram o caminho inteiro até em casa caladas. Elas sabiam que não eram para interpretar um papel. Que era para elas serem elas mesmas.

Mas como realmente fazer isso?

Ultimamente elas só estavam sendo elas mesmas nas sessões e mesmo assim estavam longe de serem completamente elas. Sempre parecia que estava faltando alguma coisa.

Se ainda estivessem acreditando em “talvez” provavelmente essas quatro semanas seriam para encontrar o que estava faltando.

- Vocês estão vivas! – exclamou Carol com um sorriso ao vê-las.

- Quantas vezes eu tenho que dizer que nós vamos para terapia, não para um campo de guerra. – respondeu Alex sem paciência.

- Eu não vejo diferença. – respondeu Piper naturalmente. – Eles já tomaram banho?

- E quase inundaram a casa inteira. – deu um beijo na bochecha de Piper. – Deixa eu correr porque eu e a Marka vamos jantar em Las Vegas.

- Ninguém janta em Las Vegas, mãe. Nicky e Jess casaram em Las Vegas.

- Eu sei. – respondeu com um sorrisinho.

- Mãe se você voltar casada com um estranho, eu vou pedir para a Michelle me adotar.

- Você é tão desnecessária Piper. – respondeu com uma careta.

- Ela disse que você não pode casar com um estranho, mas não disse nada sobre você casar com a Marka.

- Alex! – Piper tentou exclamar em um tom de repreensão, mas foi obrigada a rir. Algo que fez com que a morena abrisse um sorriso.

- O problema de vocês lésbicas é esse... – se encaminhou até a porta. - Só porque vocês são lésbicas todo o resto do mundo precisa ser. – abriu a porta. – Ditadura lésbica agora. – bateu a porta atrás de si.

- Nicky é a nossa líder?

Piper balançou a cabeça em negativo com um sorrisinho. Não sabia dizer ao certo o que tinha acontecido, mas os encontros de sua mãe com Alex tinham passado a ficar bem mais agradáveis. Parecia até que elas tinham se entendido.

- Quem vai querer comer o famoso bife com batata frita? – perguntou Alex na entrada na sala. Lucas e Diane não pensaram duas vezes antes de levantar a mão e gritar que eles. – Espero que estejam com bastante fome porque eu vou fazer o melhor bife com batata frita do mundo hoje.

- Nós vamos fazer. – disse Piper frisando o “nós”. - Você não vai levar todo o crédito.

- Vocês vão cozinhar juntas? – perguntou Diane com desconfiança.

- Jantar com duas vezes mais amor. – Piper deu um beijo na cabeça da filha e em seguida deu um na cabeça do filho. – Tentem manter a sala inteira enquanto estamos cozinhando, tudo bem?

- Na última vez foi o Litch e a Lolita que quebraram o vidro da mesa. – disse Lucas. Os cachorros latiram em sua defesa. – Foram vocês sim.

- Nós vamos ficar de olho neles. – respondeu Diane. – Podem ir fazer o melhor bife com batata frita do mundo.

Elas se entreolharam com um pequeno sorriso e foram para a cozinha começar a fazer o melhor bife com batata frita do mundo.

Será que a terapia tinha mesmo começado a dar certo? Porque parecia que elas estavam caminhando e que não iam cair em nenhum buraco dessa vez.


Notas Finais


Ué... Como assim a terapeuta é de bem, sensata e positiva? Será se elas vão continuar fazendo direitinho o que a terapeuta mandou ou é coisa de um dia só?

Até o próximo capítulo <3


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