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História We Got Married - Too Late


Escrita por: suniyye

Capítulo 33 - Too Late


JIMIN

Puxo mais um trago, soltando a fumaça pelo céu aberto. Observo a paisagem da cobertura, no mesmo lugar em que estou desde que acordei. É um domingo, então não tenho compromissos por hoje e, caso tivesse, sempre faço questão de cancelá-los num dia desses.

Já sinto minha cabeça pesar, diferente do usual efeito da maconha, e acredito que seja pelo fato de que estou tragando cigarros pelas últimas horas, nos últimos dias, até quando posso. É um hábito terrível se não aproveito dos efeitos apenas para me divertir ou quando quero relaxar. A verdade é que não desejo nenhuma dessas coisas.

Preciso esquecer, esvaziar minha mente do que a está controlando. Os pensamentos irritantes voltam sempre até o rosto de uma certa pessoa. De cabelos castanhos e sorriso bonito.

Sopro a fumaça para cima, com os olhos fechados contra o sol. Acomodo-me mais na cadeira, com as pernas sobre a mesinha de vidro. Passo as mãos pelo cabelo, suspirando.

Não há sentido para ainda estar com todas essas sensações e desejos. Era para Nahyun sair da minha cabeça no momento em que decidi isso. Mas deveria saber que não é desse jeito que a merda das coisas funcionam. E então ela fica e fica na minha mente, com sua risada e voz ecoando na minha cabeça, dia e noite.

Já faz duas semanas desde que aquele maldito reality acabou e ainda me pego pensando no que aconteceu. Em como terminou. Estive disposto a admitir para ela tudo o que sentia naquela noite, depois de ter ido contra tudo o que estava pensando que fazia isso ser uma péssima ideia. Mas, porra, não consegui. Fiquei com o celular na mão, aberto nas nossas mensagens, mas não mandei nada. Porque não é o certo.

Porque ela não quer nada comigo e também porque merece alguém melhor, seguir em frente e encontrar uma pessoa que não esteja completamente fodida como eu. Que não seja um covarde que soluciona seus problemas na merda de uma boate, achando conforto em bebidas e tragos de cigarro.

É também um dos motivos para os garotos estarem putos comigo. Ontem dei uma saída durante a madrugada e acabei numa festa qualquer, com pessoas que não me dedurassem por estar ali. Enchi a cara até chegar em casa, desnorteado, sem saber o caminho para o quarto. Eles me viram caído no chão, perto do pé da cama. Foi Jin e Tae quem me acharam e me colocaram de volta no colchão, antes que eu dormisse de novo.

Foi uma merda, não converso com eles desde que acordei e nem mesmo quero. Só vão ficar falando na minha cabeça e Namjoon vai dar o discurso de líder que já estou cansado — e acostumado —, então me tranquei aqui em cima, com tudo o que preciso. Maconha e liberdade. Daria um bom nome para uma camiseta.

E agora estou aqui em cima. Livre, com tudo o que provavelmente deveria ser o necessário, mas o vazio dentro de mim ainda permanece. Como se uma última coisa estivesse faltando. Odeio admitir, mas acabei me acostumando em gravar aquele programa, em parte porque Nahyun estava ali para me divertir, me distrair da rotina agitada e desinteressante. Uma das únicas pessoas que me deixava confortável em ser quem eu era. E então acabou.

A pior parte é que ainda me detesto por ter me deixado sentir essas coisas. Em que momento eu, Park Jimin, decidi que seria uma boa ideia me apaixonar por alguém? Acho que é esse o problema: eu não decidi porra nenhuma. Essas coisas te pegam desprevenido, e Nahyun me pegou em cheio, com qualquer que seja o tipo de magia que aquela garota fez.

Quando volto a pensar nos meus últimos dias, comecei a perceber que os episódios de ansiedade estão se intensificando com mais frequência. Depois da última crise que tive isso parou por um tempo, mas agora está voltando. Uma outra parte implicante de mim, que também me deixa atordoado com a percepção, sente que isso voltou a acontecer por causa de Nahyun. Ou pela sua falta. Porque eu conseguia respirar quando estava com ela.

Ouço batidas na porta de vidro e viro meu rosto, percebendo que é Hoseok quem está ali. Ele faz um gesto para que eu abra a porta, então me levanto.

— Não vou te dizer nada — é a primeira coisa que ele diz ao ver minha careta. — Não tenho paciência nem mesmo hipocrisia para isso —. Ele então pega meu cigarro. Pelo menos ele sabe como me sinto, já que é o segundo mais festeiro da casa. — E também porque Namjoon quer fazer isso — completa.

— Que surpresa — resmungo, revirando os olhos. Volto a me acomodar na mesma posição, enquanto Hoseok senta na cadeira à minha frente. Ele dá mais um trago.

— Mas estou preocupado — franze o cenho, soltando a fumaça.

— Não que você precise — digo, desinteressado. Acendo outro baseado que sobra.

Logo volto a pensar no dia em que Nahyun veio aqui. Quando ficou admirada e chocada pelo tamanho da casa. Acabei optando por não mostrar a ela a cobertura, porque tenho certeza que me jogaria daqui de cima quando soubesse. É torturante até mesmo ficar no meu quarto, porque me lembro da vez em que ela esteve ali, sentada na minha cama, propagando o seu cheiro.

— Estou mesmo preocupado — Hobi completa após chamar pelo meu nome novamente quando eu não o escuto. — Está assim desde aquele programa, cara.

— Não é nada, Hobi — minto. Não quero ter que contá-los sobre isso.

Já basta estar tendo esses sentimentos, não preciso passar pela humilhação de dizer aos caras. E também porque não durará muito.

— Acho que alguma coisa aconteceu e você não quer nos contar — ele insiste de novo.

— Está tudo sob controle — abro um sorriso.

— Mesmo? Sua soneca de bêbado no chão do quarto não esclareceu isso muito bem.

Dou uma risada, com a cabeça inclinada para trás e a fumaça saindo dos meus lábios. É ridículo, porque na minha cabeça eu realmente consegui chegar até minha cama.

— Te recomendo, é um lugar agradável — digo por fim. Hoseok então se levanta depois de dar seu último trago e bate a mão no meu ombro.

— Só tome mais cuidado.

Rio fraco mais uma vez, tanto pelo efeito da maconha quanto pelo seu comentário. Tarde demais, meu coração também se esqueceu de me alertar sobre isso.




(...)

Entro na sala, cumprimentando os assistentes que estão ali. Estamos fazendo o dia todo de entrevistas, então meu humor não está um dos melhores, mas preciso disfarçar. Tirando isso, o clima entre eu e Namjoon não está um dos melhores também. Os garotos aceitaram bem, como sempre, o meu estado depois que assegurei que tomaria mais cuidado com as minhas saídas. Namjoon, por outro lado, não ficou muito satisfeito com as minhas tentativas de tranquilizá-lo. Ele sabe muito bem que não me limitarei a ter essas rotinas cansativas sem um pouco de distração. Ele apenas pediu para que eu tomasse cuidado, como todo mundo parece querer me alertar frequentemente.

Minha ficha está um pouco limpa depois que participei do programa — o primeiro ponto positivo desde que terminei de gravá-lo —, então não há muita pressão sobre mim vindo da mídia. E espero sinceramente que continue assim.

— Estou aqui com os garotos do BTS, o grupo mais famoso atualmente, e começarei com as perguntas dos fãs — o entrevistador começa, olhando para as câmeras.

E então as perguntas se iniciam. Eu fico sentado na frente, o que chama atenção para que o entrevistador comece a interagir e me perguntar com mais frequência. Não demora até que o assunto do programa vem à tona, como eu temia.

— Depois do sucesso que essa temporada fez, tem muita gente querendo saber como está sendo a relação entre você e Kim Nahyun. Ainda mantém contato? Há alguma coisa que não nos contaram?

Sua expressão é curiosa, como se eu realmente fosse lhe contar alguma coisa que estivesse esperando. E mesmo que fosse verdade, a resposta é não. Não há porquê encher a mídia de detalhes pessoais quando é tudo o que eles querem para acabar com sua carreira de vez.

Meu olhar se endurece quando ouço seu nome. Não há porquê trazer esse assunto pra esse tipo de ocasião. Mas não tem como fugir da pergunta, então penso bem antes de dizer, querendo esclarecer tudo para as pessoas de uma vez.

— Não existe nada entre nós — começo, a expressão neutra. — Quando o programa acabou perdemos totalmente o contato. Não tenho o que falar a não ser que não estamos juntos.

Termino, convencendo a mim mesmo no processo. É isso, acabou. Nahyun irá continuar com a sua vida, aproveitando o novo sucesso do seu grupo e, espero, prestes a encontrar alguém melhor.

Mal percebo quando a entrevista termina. E então outra começa e também acaba. E o dia todo se passa assim. As palavras que eu disse em voz alta ainda ecoam na minha cabeça. Eu a perdi. Completamente.

E a ironia de tudo isso é que nem mesmo nos beijamos. Chegamos a ser amigos e nada mais que isso. Não tem razão para eu ter me apaixonado quando desde o início Nahyun nunca se mostrou mais que uma garota atraente, que por acaso, me divertia, em situações que poderiam ou não ser verdadeiras. Posso dizer que o que prevalece como certo foi os poucos momentos que tivemos fora das câmeras, mas que ainda não me asseguram se Nahyun estava fingindo ou não em todos eles.

Quando estamos de volta na rua, já há fãs nos esperando na porta. Não faço ideia de como conseguem nos encontrar, é uma dúvida que eu e os garotos sempre temos. Assim que saímos do prédio, elas começam a gritar. No início da nossa estréia ainda era fácil de lidar com o número de fãs que apareciam, porém agora é impossível de passar sem pelo menos dez guarda-costas nos ajudando.

— Taehyung! Yoongi! — elas exclamam nossos nomes, ao mesmo tempo que tentam se aproximar.

— Jin! Agora eu tenho uma chance? — uma delas brinca, provocando os risinhos das outras.

— Você tem treze anos! — ele diz, alterado, mas sabemos que está brincando. Apenas na parte de não estar bravo, no caso.

— Quinze! — ela retruca.

— Se prometer trocar a fralda dele daqui alguns anos — Jungkook diz pra menina, enquanto pega canetas e assina alguns papéis que aparecem do nada. — E a sua também.

— Ei! — ela dispara e já estão todas rindo.

É só então que conseguimos chegar até a porta da van. Estou quieto, apenas ouvindo as conversas e gritarias, quando ouço um comentário que chama minha atenção.

— Jimin, você não merece aquela vadia! — me viro rapidamente, tentando encontrar a pessoa que diz isso. Apenas comprovo quem ela está insinuando quando percebo que é a mesma garota que estava na multidão, quando gravávamos o programa no centro da cidade, e que xingou e puxou Nahyun.

— E por que acha isso? — pergunto pra ela. Algumas das fãs não prestam atenção, estão focadas em chamar pelos outros caras. Ela arregala os olhos quando vê que estou lhe encarando, e então abre um sorriso.

— Porque você é bem melhor.

— Não — franzo a sobrancelha, negando. — E nunca mais a chame assim.

Mas já estou sendo apressado novamente para dentro da van. A garota não diz mais nada, apenas me encara constrangida, talvez esperando que eu fosse concordar com o que disse.

Sento-me num dos assentos vazios no fundo, enquanto os garotos ficam na frente. Fecho os olhos, ainda sentindo as batidas contra o carro e ouvindo os gritos. Só não entendo porquê os ataques contra Nahyun continuam mesmo que o programa tenha acabado, não faz sentido ela ser tratada desse modo quando não fez absolutamente nada. Tenho medo do que acontecerá uma vez que um dos garotos anunciar alguma namorada.

No caminho até em casa, os garotos ficam com vontade de passar em algum fast-food, então um dos staffs que estão no carro com a gente vai até lá fora fazer os pedidos.

— Que merda foi aquela? — Taehyung se vira pra mim do assento dele, sussurrando. Suspiro. Acredito que ele tenha sido o único a notar.

— Era uma sasaeng — explico simplesmente. — Ela também estava na multidão naquele dia.

— Porra — ele suspira.

Tivemos alguns casos com “fãs” obsessivas nos últimos anos, então é foda ter que encontrar alguma no caminho. Desde que estouramos as situações ficam cada vez mais recorrentes com elas, então o cuidado tem que ser dobrado. Mas acredito que com essa aí é a situação que mais me deixa preocupado, porque não diz respeito apenas a mim ou aos garotos, mas sim também à pessoa por quem estou apaixonado.

Taehyung já sabe o que quero dizer mesmo com minha falta de detalhes. Todos eles sabem sobre aquele dia, não exatamente o que ingeri pra ter ficado daquele jeito, mas acabaram juntando os pontinhos, o fato da minha chegada tarde à noite, alterado, e então expliquei para eles na manhã seguinte o que aconteceu. Não mencionei meu ataque de pânico, apenas disse sobre o que aconteceu antes disso.

— Está se sentindo bem? — ele me olha, cauteloso.

— Não vou começar a beber, se é o que está me perguntando — abro um sorriso, disfarçando. Mas digo a verdade, não estou tão mal assim, dessa vez não foi tão ruim.

— Que bom — ele sorri, começando a se virar. — Odiaria que a gente tivesse que te colocar na cama de novo.

Apenas revirou os olhos, calado. Alguns minutos depois a comida chega e então voltamos a seguir o caminho para casa. Já está escuro assim que entramos no estacionamento do apartamento. Eu e os meninos subimos, todos reclamando de exaustão pelo dia cheio.

Na próxima semana já teremos vários shows em outras cidades, então o que menos temos agora é tempo, já que precisamos conciliar todos os nossos compromissos antes, para que não atrapalhem os trabalhos mais importantes. Subimos até o apartamento e alguns deles se espalham pra descansar, tomar banho e, outros, como Jin e Jungkook, já vão direto comer.

Eu subo para o meu quarto e vou tomar um banho. Não entendo como eles conseguem chegar em casa e fazer suas coisas normalmente sem se sentirem sujos pelo dia todo fora. Quando saio do chuveiro, coloco uma roupa e desço. Eu me junto com Yoongi, Hoseok e Namjoon que estão no sofá, comendo. Jin odeia quando comemos aqui, mas de tanto não darmos ouvidos, ele desistiu dos sermões.

Estou mexendo no celular ao mesmo tempo que dou mordidas no hambúrguer. Pelo Instagram, vejo uma foto de Nahyun que aparece na minha timeline. Engulo em seco, sentindo aquele irritante pulo no peito assim que a vejo. Está com as outras meninas do seu grupo e, pela sua cor de cabelo — ela estaria orgulhosa em ver que eu notei — e a legenda da foto, vejo que é uma foto recente. Chuto pela data sendo de poucos dias atrás, pois está agradecendo à notícia de alguma conquista que seu grupo teve nos charts há dois dias, e estão segurando o prêmio na foto.

Sigo o seu braço esquerdo, que está apoiado no seu colo e observo que não há nada no seu pulso. Nenhum objeto dourado. A questão é que não sei como deveria me sentir sobre isso. A percepção do que esse detalhe significa é o que eu já estava certo de que era verdade, então não sei porque fico decepcionado e angustiado ao ver isso. 

Subo as escadas novamente e, no processo, tiro o colar que está em volta do meu pescoço. Observo a corrente nas minhas mãos, já não tão prateada, e sim com um tom mais escuro pelo tempo. Levanto minha mão, vendo sua inicial balançar na minha frente. Nunca imaginaria que um pequeno N faria tanto estrago.

E não sei porquê continuei usando isso esse tempo todo, desde que o programa terminou. Acho que era uma motivação para me deixar ainda esperançoso. De que no final as circunstâncias que nos encontramos fossem outras e então eu poderia confessar para ela o que sinto, não pelo fato de que acho que daria certo, mas apenas pela satisfação em tirar essa sensação sufocante do peito.

Vou até o final do meu closet e me agacho, indo até uma das últimas gavetas no canto e então a abro. Pego o baseado e fico indeciso com a última opção. No final, acabo pegando também o pacotinho transparente. Sento-me na beirada da cama, deixando a correntinha prateada sobre a escrivaninha. Automaticamente me lembro de quando ela esteve aqui. Caminhando por esse quarto. Sentando-se exatamente onde estou.

— Merda — murmuro, frustrado.

Por que eu tinha que ter sido tão fraco a ponto de começar a sentir isso? Uma parte de mim agora gostaria que eu nunca tivesse pedido desculpas à Nahyun. Que eu continuasse sendo aquele mesmo babaca que a encontrou pela primeira vez. As coisas estariam sendo bem mais fáceis, pelo menos. Eu ainda estaria achando ela uma garota irritada tentando ser perfeita para todo mundo. E estaria bem com isso agora. Vivendo a minha vida como se nada estivesse acontecendo. Porque era pra nada ter acontecido.

Pego então o baseado e acendo-o, soltando a fumaça furiosamente. Continuo tragando, sem mesmo pensar na satisfação que o efeito sempre me traz. Quando termino o cigarro sequer estou com a sensação tranquilizante que me provoca. Então decido ir para a segunda opção.

Me inclino até a escrivaninha ao lado da cama e pego uma nota de dinheiro que está jogada. Dobro-a até que fique firme.

Não penso demais, é esse o problema, nesses momentos parece que não há um pensamento coerente dentro da minha cabeça. Jogo o conteúdo branco na superfície de madeira e separo linhas com a nota de dinheiro.

E então, como da primeira vez, o pensamento racional vem à minha mente em segundos. Não. Mas já é tarde demais para isso também. Como tudo agora parece ser.



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