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História Welcome To The Sh*t Of My F*cking Life - Capítulo 63 - Beam Me Up


Escrita por: lveedsh

Notas do Autor


Sentiram saudades???

Deixem preparado para ouvir: Beam me Up - Pink

Capítulo 63 - Capítulo 63 - Beam Me Up


Fanfic / Fanfiction Welcome To The Sh*t Of My F*cking Life - Capítulo 63 - Beam Me Up

— Hey … você precisa comer — Jess disse entrando no meu quarto, com uma bandeja cheia de comida. Já fazia três semanas que eu havia ganhado alta e um mês que Brian havia partido. Partido entre aspas, ele não abandonou o Nicci. Só eu. Nesse tempo que eu ainda estava no hospital ele continuou aqui, cuidando do Nicci enquanto meus pais e a Jess me davam assistência. Assim que eu ganhei alta ele voou para a Califórnia, já que a banda decidiu finalizar o álbum que eles estavam gravando antes do Jimmy morrer, agora com o Mike Portnoy como baterista. Durante esse tempo, ele fazia videochamada pelo menos duas vezes no dia para ver o Nicci, mas não falava comigo. Nem se ele quisesse eu falaria, já que, desde que eu voltei, eu não havia saído do meu quarto, muito menos da minha cama — Já fazem três semanas que você está aí, Ash. Você precisa reagir. — Jessica insistiu, mas eu continuei imóvel. Ela suspirou e se sentou ao meu lado na cama — Eu vou te forçar a comer. Você tem visita e não pode receber ninguém bagunçada assim! — ela resmungou e acariciou meus cabelos. Eu não me mexi — Eu não quero receber ninguém — afirmei e ela sorriu — E eu to nem aí. Pelo menos hoje você falou alguma coisa. Se eu fosse você, eu levantaria, tomaria um banho, comeria e me mostraria um pouco mais apresentável — ela resmungou e se saiu do quarto, deixando a bandeja cheia de comida já minha mesa de cabeceira. Suspirei e até cogitei fazer o que ela havia dito, mas não tinha forças. Meu corpo estava pesado e eu só queria dormir e esquecer tudo o que aconteceu. Dormir era a única forma de viver com o caos que minha vida se tornou. 

— Pelo que a Jess me falou, você claramente nem se mexeu — a porta se abriu e Myles apareceu com um sorriso tristonho nos lábios. Meu coração se aqueceu e eu comecei a chorar desesperadamente … tudo poderia ser tão diferente! Ele veio até mim de pronto, sentando ao meu lado na cama, quase se deitando comigo, me permitindo chorar em seus braços. Aceitei seu abraço de pronto e me deixei ser envolvida por ele, enquanto deixava as lágrimas rolarem sem pudor. Eu só queria que aquela dor passasse — Hey, eu sei, eu sei. Coloca pra fora, deixa essa dor sair, Ash. Eu tô aqui com você! 

— Eu não queria ter passado por tudo isso! — disse enquanto chorava, apertando o corpo do Myles — Eu não pedi pra engravidar, mas eu aceitei. Isso é algum tipo de castigo por eu ter desejado abortar? É isso? 

— Claro que não, Ash. Você não tem culpa em nada disso, nem é algum tipo de castigo. Você lutou até o fim e deu o seu melhor — Ele tentou me consolar, mas eu só chorava. 

— Ela morreu sem eu poder segurá-la em meus braços — funguei, tentando controlar o choro, sem sucesso — Como vocês querem que eu consiga viver assim? Como se nada tivesse acontecido? 

— Ash, você precisa viver assim. Nós precisamos. Não podemos perder você também — ele me olhou nos olhos, tentando me passar segurança — Você precisa reagir, por nós, pelo Nicci. Ele mais que ninguém precisa de você! 

— Ele está bem melhor sem mim, acredite. Tudo o que eu toco morre, ou vai embora. Eu tenho o dom de destruir as coisas importantes da minha vida.

— Eu ainda to aqui. E eu não vou embora nunca! Muito menos agora. Não poderia te deixar em uma hora dessas — Myles afirmou convicto e sabia que isso era uma indireta ao Brian. Tentei segurar o choro sem sucesso, não tendo palavras para responder. Apenas deitei minha cabeça em seu ombro e chorei até pegar no sono. Acordei em algum momento, na mesma posição, ainda abraçada ao Myles. Olhei rapidamente o relógio, já era noite, e ele continuava lá, me abraçando como se eu fosse fugir. 

— Achei que você tivesse sido um sonho — afirmei e ele riu. 

— Eu disse que eu não iria embora. E em breve eu terei companhia. Tem muita gente querendo te arrancar desse quarto e eu trouxe artilharia pesada pra isso — ele afirmou e eu revirei os olhos. 

— Posso barganhar com você? — perguntei me sentando. Era a primeira vez em dias que eu não estava deitada. 

— Você pode tentar — ele deu de ombros. 

— Eu como alguma coisa e você suspende a artilharia pesada — sugeri e ele riu. 

— Por mim tudo bem — ele deu de ombros — Você só vai precisar pegar sua comida lá embaixo. 

— Isso é jogo baixo — pontuei.

— É a minha condição — ele argumentou e eu revirei os olhos, me levantando da cama. Eu estava uma visão dos infernos: Usava um pijama surrado, meu cabelo estava em um nó e minha cara com certeza estava inchada e com olheiras profundas, mas eu pouco me importava. A minha estética era a última coisa que me importava naquele momento. 

— Você joga sujo — apontei e ele riu novamente, me acompanhando para sair do quarto. Desci as escadas e encontrei na cozinha Jessica e minha mãe dando mamadeira para o Nicci, enquanto meu pai fazia algo no fogão. Os olhos das duas marejaram ao me ver e meu pai piscou perplexo por uns minutos ao ver minha entrada na cozinha. 

— Parece que temos uma companhia pro jantar de hoje, Nicci! — Minha mãe disse animada, dando a mamadeira para ele. Admirei meu filho de longe, encantada com a perfeição que ele era. Ele era a cara do Brian. Era muito doloroso olhar pra ele, desejar cuidar dele e me sentir incapaz de lhe dar e fazer o que ele merecia. Um prato de lasanha apareceu na minha frente, retirando por completo minha atenção. Jessica havia colocado a comida para mim. 

— Anda Mitchell, o acordo só vale se você comer direito, não se ficar encarando o prato — Myles disse se sentando ao meu lado. 

— Você é insuportável — resmunguei e revirei os olhos e ele riu. Peguei o garfo e comecei a comer, colocando um pedaço na boca — Satisfeito? 

— Não. Saul, Brent, Frank e Todd já estão na cidade, doidos pra vir aqui. Lembre-se disso na hora de pensar em parar de comer — ele relembrou e eu bufei, continuando a comer, mesmo recebendo o olhar admirado dos meus pais e da Jess. Enquanto eu comia, os quatro conversavam entre si, tentando fingir naturalidade, porém mantendo os olhares furtivos e impressionados com minha presença. Tentei ignorar, enquanto comia sem prazer algum a lasanha. Comi o prato em completo silêncio, somente o erguendo vazio no final, mostrando que comi tudo. Levantei da mesa e voltei para o meu quarto sem me despedir de ninguém. 

— Ela está parecendo uma adolescente! — ouvi Jess conversar baixo com eles assim que eu saí da cozinha. 

— Ela está num quadro de depressão profunda, no mínimo — minha mãe disse tristonha — Me surpreendeu o Myles ter consegui tirá-la de lá. 

— Ela só precisa de insistência, paciência e terapia — Myles suspirou. — É sério. Agora ela só dorme e chora, quando ela sair de quadro é que é perigoso. 

— Verdade. E ela lidou com muita coisa, de alguma forma ela se culpa pelo que aconteceu —meu pai afirmou e eu terminei de subir as escadas, tristes por eles estarem certos. Me sentia mal por estar fazendo aquilo com eles, por não estar dando o amor que meu filho merecia, mas eu simplesmente não conseguia fazer mais. Toda a minha força foi gasta levantando e comendo alguma coisa. Deitei e chorei até não conseguir mais. As noites eram sempre as mais difíceis. 



A Ash estava melhorando. A passos lentos, mas estava melhorando. Fazia quase um mês que eu praticamente havia me mudado para a casa dos Mitchell, para dar assistência a Ruiva. Nunca pensei que após tudo o que aconteceu entre eu e ela, com a traição e todo o caos, os pais dela me tratariam tão bem. Era triste, porém curioso pra mim ver que eu que eles tanto subjugaram, era quem estava ao lado dela naquele momento cheio de luto, e não o amado é perfeito Brian deles. Aquele filho da puta vinha uma vez por semana pra ver o filho, e mesmo assim eu não esbarrava com ele, pois além de estar com a Ash, poderia criar um verdadeiro caos, o que seria ruim para ela. 

A Ash já havia voltado a viver. A fase pior já havia passado, com as medicações e a terapia que ela começou, ela já conseguia interagir com todos, cuidar do Nicci e viver uma vida aparentemente normal para a mídia, mas nós sabíamos que ela estava por um fio. Ela ainda passava muito tempo trancada no quarto sem falar com ninguém, ainda tinha crises intensas de choro e ainda tinha algumas mudanças de humor bruscas, mas já estava bem melhor se comparado ao zumbi que ela havia se tornado após a alta do hospital. 

— Quem diria, hein Myles? Você já convivendo pacificamente com o Jeff — Saul deu uma risada. Estávamos nos estúdios, trabalhando no novo CD dele. Todos estávamos em Nova Iorque e decidimos seguir com as gravações lá para apoiar a Ash. 

— Depois da última vez, eu achei que o Jeff ia te matar — Todd afirmou e eu ri.

— Eu também. Não sei como ele aceitou a ideia da Jess de me chamar — disse rindo. 

— Desespero. Aquela não é a Ash que a gente conhece. Ela claramente precisava de muita ajuda — Frank afirmou e nós concordamos.

— Ela já teve suas fases mais sombrias … mas não nesse nível — Saul pontuou.

— O que me preocupa nela é que ao mesmo tempo que a Ash é um espelho, não consegue guardar o que sente … quando se trata dos problemas dela, ela é indecifrável. Você só nota que tem algo errado quando a bomba explode — comentei e os cinco me olharam curiosos.

— Como assim? — Brent perguntou.

— Ela melhorou bem e isso é ótimo. Mas eu não sei … ainda acho que ela está mascarando alguma coisa. Fico com a sensação de que ainda tem algo a mais é que ela não melhorou tanto assim — completei.

— Eu acho que você está errado, mas ela é realmente uma caixinha de surpresa — Todd disse — Tomara que você esteja errado, Myles.

— Falando nela, onde ela está agora? — Brent perguntou, tentando tirar o peso do assunto. 

— Foi reencontrar uns amigos do trabalho, ou escola. Não sei bem. Hoje é dia do Gates ir lá ver o Nicci e ela achou melhor não ficar lá — disse com uma careta, que foi repetida por eles.

— É a primeira vez que ela sai depois disso tudo, não é? — Frank perguntou e eu assenti — Acho q é por isso que você está preocupado.

— Pode ser. Espero que seja — dei de ombros.

— Myles … você ainda ama a Ash, não é? — Todd perguntou, me pegando de surpresa.

— Claro que amo. Todos nós amamos — dei de ombros, como quem responde sem entender. 

— Não … não dessa forma. Nós a amamos como amiga. Quero saber se você ainda a ama como antes — ele explicou e eu fiz um “ah”, e fiquei em silêncio.

— Exatamente — Brent disse rindo.

— Olha … eu acho que sempre vou amá-la, Kerns. Mas a Ash está certa … nós não fomos feitos pra ficarmos juntos. Ela sempre vai carregar parte de mim e eu dela. Mas acho que não passaremos de grandes amigos — dei um sorriso tristonho.

— Mesmo depois disso tudo? — Frank perguntou e eu dei de ombros.

— Acho que sim.

— Acho que você está sendo pessimista — Saul afirmou. 

— Eu acho q é muito cedo pra afirmar qualquer coisa — continuei, encerrando o assunto com eles — Vamos voltar? Temos algumas músicas para terminar. 



Acordei. Levantei, fiz minha higiene. Comi. Alimentei o Nicci e depois o pus para dormir. Assisti qualquer coisa na televisão. Fiz minha terapia. Tomei meus remédios para a depressão. 

Me olhei no espelho do banheiro do Nicci, repetindo minha rotina medíocre no espelho, tentando me identificar com a imagem pálida e sem vida que eu havia me tornado. Estava magra, muito magra, o que ainda era reflexo do hospital e dos dias sem comer. Minha pele estava apagada, as olheiras marcavam meus olhos e meu cabelo vivia em um coque bagunçado. Faziam meses que eu não vestia algo decente. Eu não me reconhecia no espelho e me olhar era constatar algo que eu já sabia: eu estava morta. Aquilo era apenas uma figura vazia de mim. 

Nicci começou a chorar e eu deixei meus pensamentos de lado pra olhar a minha única lembrança boa: ele. O peguei nos braços, vendo o quão perfeito ele era e não consegui deixar de lembrar da Bella. Me apegava diariamente ao pouco que eu lembrava dela, aqueles olhinhos azuis como a água espremidos enquanto chorava. Os dois foram as coisas mais perfeitas que eu já havia feito na vida! 

— Hey … não chore, meu amor. Mamãe fez uma música pra você e sua irmã, sabia? — disse ninando ele, que não deveria estar chorando, já que havia acabado de mamar. — Eu preciso que você ouça essa música quando eu não estiver mais aqui. Preciso que você entenda que eu amava muito vocês! — afirmei emocionada, segurando a pequena mãozinha dele, incapaz de deixar de lado tudo aquilo que me atormentava. Ele começou a brincar com o móbile e eu aproveitei para pegar meu violão. Aqueles dias sombrios haviam me rendido boas músicas, apesar de todas serem sombrias demais. 


Colocar Beam me Up - Pink para tocar 


There's a whole 'nother conversation going on

Tem uma conversa completamente diferente acontecendo 

In a parallel universe.

Em um universo paralelo

Where nothing breaks and nothing hurts.

Onde nada se quebra e nem machuca


Comecei os primeiros acordes, dedilhando o violão. Era a primeira vez que eu tocava para ele e eu queria que fosse uma música significativa. Algo que mostrasse o quanto eu o amava e o quanto a irmã me fazia falta. 


There's a waltz playing frozen in time

Tem uma valsa tocando congelada no tempo

Blades of grass on tiny bare feet

Espadas de grama nos pequenos pés descalços 

I look at you and you're looking at me.

Eu olho para vocês e vocês olham para mim. 



Could you beam me up,

Vocês poderiam me fazer sorrir? 

Give me a minute, I don't know what I'd say in it

Me dê um minuto, eu não sei o que eu diria aqui

I'd probably just stare,

Eu provavelmente só olharia, 

Happy just to be there, holding your face

Ficaria feliz só de estar aqui, segurando seu rosto

Beam me up,

Me faça sorrir 

Let me be lighter, I'm tired of being a fighter,

Me deixe ser calma, estou cansada de ser uma lutadora

I think, a minute's enough,

Eu acho, que um minuto é o suficiente 

Just beam me up.

Apenas me faça sorrir. 


As lágrimas começaram a encher meus olhos, enquanto eu cantava emocionada. Eu queria viver naquele universo, vendo as minhas duas perfeições juntas. 


Some black birds soaring in the sky,

Alguns pássaros negros voando no céu 

Barely a breath I caught one last sight

Quase uma respira como a última que nós demos

Tell me that was you, saying goodbye,

Diga-me que foi você, dizendo adeus

There are times I feel the shiver and cold,

Há momentos que eu sinto os arrepios e o frio,

It only happens when I'm on my own,

Isso só acontece quando eu estou sozinha

That's how you tell me, I'm not alone

Eu digo a vocês, me digam, que eu não estou sozinha


Could you beam me up,

Vocês poderiam me fazer sorrir? 

Give me a minute, I don't know what I'd say in it

Me dê um minuto, eu não sei o que eu diria aqui

I'd probably just stare,

Eu provavelmente só olharia, 

Happy just to be there, holding your face

Ficaria feliz só de estar aqui, segurando seu rosto

Beam me up,

Me faça sorrir 

Let me be lighter, I'm tired of being a fighter,

Me deixe ser calma, estou cansada de ser uma lutadora

I think, a minute's enough,

Eu acho, que um minuto é o suficiente 

Just beam me up.

Apenas me faça sorrir. 


Confessei culpada, compartilhando com ele meu amor e minha dor. Eu precisava de um minuto para respirar, longe de todo aquele caos. 



In my head, I see your baby blues

Na minha mente, eu vejo seus olhos azul bebe

I hear your voice and I, I break in two and now there's

Eu ouço sua voz e eu, eu me parto em dois e agora há 

One of me, with you

Um de mim com você 



So when I need you can I send you a sign

Então quando precisar de você eu posso te mandar um sinal  

I'll burn a candle and turn off the lights

Eu acenderei uma vez e apagarei as luzes

I'll pick a star and watch you shine

Eu pegarei uma estrela e te verei brilhando


Nicci olhou em meus olhos, estendendo a mão para mim. Sorri, vendo que a música o havia acalmado e tranquilizado, apesar de internamente eu estar um caos. 

Just beam me up,

Apenas me faça sorrir

Give me a minute, I don't know what I'd say in it

Me dê um minuto, eu não sei o que eu diria aqui

I'd probably just stare,

Eu provavelmente só olharia, 

Happy just to be there, holding your face

Ficaria feliz só de estar aqui, segurando seu rosto

Beam me up,

Me faça sorrir 

Let me be lighter, I'm tired of being a fighter,

Me deixe ser calma, estou cansada de ser uma lutadora

I think, a minute's enough,

Eu acho, que um minuto é o suficiente 

Just beam me up.

Apenas me faça sorrir. 

Beam me up

Me faça sorrir 

Beam me up

Me faça sorrir 

Beam me up

Me faça sorrir 

Could you beam me up?

Vocês poderiam me fazer sorrir? 


— É uma bela música — minha mãe afirmou, me assustando por achar que eu estava sozinha no quarto — Cheguei na segunda estrofe. 

— Vigiar a conversa alheia é errado, sabia? — semicerrei os olhos, pegando Nicci no colo, já que ele começou a se agitar novamente. 

— Vocês estavam muito quietos, aí eu fiquei curiosa. Depois eu só ouvi o violão e quis ver o que estava acontecendo … faz tempo que você não toca — ela deu um sorriso triste. 

— Faz tempo que eu não toco alto … eu estou tocando em todas as madrugadas — dei um sorriso, tentando amenizar o peso da minha fala.

— A insônia está atrapalhando ainda? 

— A noite é sempre mais difícil. Mas eu estou bem, relaxa — tranquilizei ela — Jess já chegou na Califórnia? 

— Sim, ela chegou lá e o Brian chegou aqui. Ela já está reclamando de saudades do sobrinho — minha mãe riu e eu repeti o sorriso. Jessica havia retornado para resolver problemas da loja e matar as saudades do noivo após muita insistência minha. Ela precisaria dele hoje. 

— Brian vem hoje, não é? 

— Já está aí — ela fez uma careta, que eu repeti. 

— Okay, meu amor … você vai para o seu pai, mas não se esqueça que a mamãe te ama, viu? Ele é um idiota, mas ele te ama de verdade. Não tanto como eu te amo, mas te ama. Nunca esqueça disso, viu? — dei beijos nas bochechas macias e rodadas dele, o apertando, prolongando ao máximo o momento. 

— Você vai amassar ele! — minha mãe disse rindo. 

— Eu não me importo! — respondi o apertando ainda mais, dando mais beijos e o entregando para ela — leva ele pra aquele idiota antes que eu mude de ideia! 

— Okay — ela respondeu rindo, saindo com o meu pequeno nos braços. Suspirei e observei o quarto, memorizando cada pedacinho do quarto decorado às pressas para ele. 

Hoje eu iria, pra sempre. Eu não podia continuar trazendo dor e preocupação para minha família e meus amigos. Brian hoje está aqui, ele já é um pai incrível para o Nicci e saberá oferecer muito mais do que eu para ele. Voltei para meu quarto com os olhos marejados, começando a me arrumar para sair. Deixei os cabelos soltos, coloquei um vestido longo preto de gola alta, com uma fenda até o meio da coxa. O tecido era leve, marcava meu corpo magro e tinha um caimento esvoaçante. Coloquei um chinelo, um óculos escuro aviador, peguei minha bolsa e joguei somente a carteira e um maço de cigarros. Não estava amamentando por conta dos antidepressivos, por isso não me culpava por fumar. Aquele era o menor dos meus problemas no momento. 

Me maquiei pela primeira vez em dias, corrigindo as olheiras, passando um rímel, blush e um batom rosado, trazendo mais cor ao meu rosto. Se eu ia, que eu fosse passando a imagem de que estava bem. Não queria ser mais uma pálida triste no caixão. Peguei as cartas que escrevi para cada um e coloquei embaixo do meu travesseiro antes de sair. 

— Uau! Você está linda! — meu pai afirmou surpreso, assim que passei pelo escritório dele. Papai estava trabalhando de casa desde que eu voltei. Ele dizia que queria me dar todo o suporte e estar vendo de perto o neto — Vai pra onde assim? 

— Encontrar algumas amigas. Acho que já está na hora de pegar algum sol … perdi todo o bronzeado da Califórnia — fiz um bico e ele riu.

— Você nunca se bronzeou, querida. Mas o sol vai te fazer bem … o dia está lindo! Aproveite — ele beijou o topo da minha cabeça e eu o abracei com força, lhe surpreendendo. 

— Eu te amo, sabia? Obrigada por sempre me apoiar, em tudo. Você é o melhor pai do mundo e eu sou muito grata por tudo o que você me ensinou — confessei, tentando segurar as lágrimas — O Nicci tem muita sorte de te ter como exemplo!

— O Nicci tem muita sorte de nos ter como exemplo, baixinha — ele respondeu o abraço, acariciando meus cabelos — Também te amo, minha filha. 

— Estou indo. Se cuide! — me afastei sorrindo, bagunçando o cabelo dele.

— Cuidado! Quer ir com o Clancy? — ele ofereceu, me olhando preocupado. 

— E perder a chance de dirigir um dos seus carros? Não mesmo — brinquei rindo e ele sorriu, negando com a cabeça — Adeus, pai! 

— Tchau, Ash! Qualquer coisa liga — ele se voltou pra sua mesa e eu saí. Respirei fundo antes de ir até a sala, sabendo que minha mãe e Brian estariam lá. Essa seria a primeira vez que eu o veria, antes dele me abandonar no hospital. Entrei na sala e seus olhos alcançaram os meus instantaneamente. Sorte que eu estava de óculos, então consegui disfarçar como aquelas orbes castanhas me abalaram. Perdê-lo junto com a Bella foi a coisa mais difícil que já passei na vida. 

— Já vai sair? — minha mãe seguiu o olhar do Brian e se surpreendeu ao me ver, me perguntando curiosa. 

— Não quero me atrasar — disse fria, controlando minhas emoções para lidar com Brian. Tirei os óculos e o coloquei na bolsa, fugindo do olhar atento sobre mim. Nenhuma palavra dita desde então. 

— Você está linda! — minha mãe sorriu e eu a puxei para um abraço.

— Obrigada — agradeci por tudo, mesmo sabendo que ela estaria entendendo que era uma resposta ao seu elogio — Eu te amo, sabia? 

— Também te amo, querida — ela piscou confusa e eu a abracei forte novamente. 

— Bem, preciso ir. Deixe-me falar com meu menino — disfarcei a emoção, me virando para pegar Nicolangelo nos braços do Brian, que estava sentado no sofá. Me abaixei para pegar meu filho e olhei fundo nos olhos do guitarrista, sem reagir a chama que queimava em seus olhos. Peguei Nicci e virei o olhar, abraçando-o com sua cabeça na direção dos seus ouvidos. Sussurrei baixo somente para ele ouvir — Isso é por você. Para você viver feliz. Me desculpe. 

— Você está amassando ele de novo. Ele não vai fugir! — minha mãe brincou e eu dei um sorriso. 

— É inevitável. Ele é perfeito! — respondi com sinceridade e ela riu. 

— É verdade — Brian concordou, para minha surpresa. 

— Tchau, meu filho. Mamãe te ama, ama muito! Nunca esqueça disso! — beijei as bochechas dele e o devolvi ao pai.

— A primeira vez que saímos sem o bebê é realmente difícil — minha mãe comentou e eu assenti. 

— Nem fala! Mas vai dar tudo certo. Beijos! — concordei, sabendo que eu não voltaria. Me virei e fui para a porta, sentindo todo o peso da minha decisão. Eu não os veria mais, mas seria melhor pra eles. 



— Como está a Ash? — essa foi a primeira coisa que a Sarah me perguntou assim que cheguei em casa. Havia acabado de chegar em casa, após um vôo de Nova Iorque. Matt estava com os meninos no estúdio e eu aproveitei para colocar algumas coisas em ordem em casa. 

— Melhorando, na medida do possível — Dei de ombros, colocando a bolsa sobre a mesa — Eu confesso que vim com o coração apertado … eu nem queria voltar, Sarah. Queria ficar mais um tempo, já que agora que ela está voltando a viver de novo … minha irmã passou pelo inferno! 

— Eu sei. As coisas aqui também não foram nada fáceis … Brian voltou transtornado e quase teve uma briga feia com a banda por isso. A Ash internada, a morte do Jimmy e da Bella … foi demais pra todo mundo. Que dirá pra ela que nunca segurou a filha e quando voltou, não teve suporte nenhum do pai dos filhos dela — Sarah suspirou — É demais. Mas ela está melhorando a cada dia mais … foca nisso! 

— Vou focar. Ela até postou uma foto no Central Park agora! — sorri apontando o celular para a morena. 

— Que legenda é essa? — Sarah uniu as sobrancelhas confusa — À todos os prezados que já me injustiçaram, Eu sou, eu sou uma zumbi. 

— Eu sei lá! Será que é uma indireta pro Brian? — fiz uma careta e Sarah deu de ombros. 

— Pode ser. Será que eles vão voltar a aquela fase de brigarem a todo momento? — ela cogitou.

— Espero que não. E se forem, vai demorar até isso … ainda é tudo muito recente. E tem o Nicci no meio agora, né … eles precisam conviver minimamente bem por causa dele — dei de ombros e ela assentiu. 

— Ahhhh, eu quero tanto conhecer meu sobrinho pessoalmente! — Sarah se derreteu no assunto e eu ri — Ele é a cara do Brian, que merda!

— Mas é lindo. Diferente do pai — revirei os olhos e ela riu. 

— Ainda bem. Pelo menos ele puxou os olhos da Ash … eu amo aquele azul profundo dela! — ela disse sorrindo. Nesse momento meu telefone começou a tocar. O nome dela piscou na tela. 

— Falando nela … Fala, mãezona! Já com saudades de mim? — brinquei sorrindo ao atender o telefone. Ouvi uma respiração ofegante — Ash??

— Querida irmã, você pode me ajudar a mentir? — a Ash finalmente respondeu, com a voz embolada.

— Que? Mentir para o quê? — respondi confusa. Sarah me perguntou com gestos o que era e eu dei de ombros, negando com a cabeça. Ouvi barulho de vento forte, como se ela estivesse próximo a baía — Ash, onde você está? 

— Eu disse a verdade por tantos anos, mas ninguém parece querer ouvir! — ela disse com a mesma voz arrastada, agora chorando. Me preocupei. 

— Ouvir o que, meu amor? Eu estou ouvindo agora, me diz! — disse ansiosa. Alguma coisa estava acontecendo com ela. 

— Que eu não sou outra pessoa por dentro. Eu estive sozinha nessa estrada solitária …— ela suspirou e voltou a ficar ofegante. Ela estava correndo? 

— Ash, você é perfeita! Onde você está? Tem alguém com você? Eu estou aqui com você, meu amor  — perguntei e gesticulei para a Sarah ligar pro Myles. Ele tinha que estar com ela.

— Parece que eu não vou voltar pra casa — ela confessou cansada. Sarah estava tentando falar com o guitarrista. 

— Claro que vai, vou pedir pro Clancy te buscar. Só preciso que você me diga sua localização e você volta, está tudo bem — meu coração estava a mil.

— Mas eu não me importo — ela deu uma risada sinistra — Por favor, não chore. 

— Eu vou chorar se você não me disser onde está! — disse nervosa e a ligação caiu — Ashley? Porra! 

— O que houve? — Sarah perguntou, ainda pendurada ao telefone, provavelmente tentando falar com o Myles.

— Eu não sei, ela estava confusa, eu não entendi nada do que ela disse. Parecia drogada … conseguiu? — disse afobada.

— Sim! Toma! — ela me entregou o telefone e eu o peguei ansiosa. 

— Jess? Tudo bem? — Myles perguntou curioso, assim que atendeu o telefone.

— Myles, me diz que você está com a Ash aí! — implorei.

— Que? Não. Estou no estúdio. Aconteceu alguma coisa? — ele perguntou curioso.

— Ela me ligou agora, completamente confusa, com a voz arrastada dizendo que não sabe se vai voltar pra casa. Ela parecia drogada, Myles. Eu tô realmente preocupada.

— Pera, ela disse onde estava? Tinha mais alguém com ela? Ela disse que ia encontrar uns amigos. 

— Eu só ouvi o vento. Acho que ela estava na baía. — relembrei — Por favor, me ajuda! Não tem nada que eu possa fazer aqui e ela realmente me preocupou!

— Eu vou dar um jeito. A gente vai se falando! — ele disse e desligou. Passei as mãos pelos cabelos e me sentei, sentindo meu coração na boca. 



Assim que a Jessica me ligou, interrompemos a gravação para procurar a Ash. Ligamos para Jeff e Donna, que informaram não saber o paradeiro da Ruiva, somente que ela havia saído com os amigos. Nesse meio tempo Donna encontrou cartas destinadas a cada um de nós, e foi aí que nos desesperamos. Ela havia se despedido de mim, da Jess, dos pais, do Avenged, do Brian e do Nicci. Nos dividimos para procurá-la pela cidade, todos correndo contra o tempo. 

Até o Haner decidiu ajudar e pela primeira vez eu achei que ele estava fazendo algo que prestasse. 

Eu segui para a baía, seguindo as coordenadas da Jess. Jeff e Donna se dividiram para ir nos lugares preferidos dela, enquanto o restante foi para o Central Park. Estava quase atropelando todos os carros com raiva do engarrafamento e quase explodir de alegria quando vi que estava chegando. 

— Porra, Ashley … eu juro que se você não morrer eu te mato! — xinguei ansioso, parando o carro de qualquer jeito no Brooklin. Havia um local vazio, próximo ao mar que ela sempre ia quando estava sozinha. Aquele foi o primeiro lugar que me veio à mente. 

Comecei a vasculhar o local e já estava perdendo as esperanças quando encontrei uma bolsa preta jogada no cais. Meu coração se agitou e fui até a bolsa, ansioso por ter algum documento dela. Abri a bolsa e encontrei cigarros, batom e a carteira dela. Comecei a procurá-la eufórico, ela havia passado por lá! 

— Hey! Vocês viram alguma ruiva baixinha de preto passando por aqui? — perguntei para um casal de adolescentes, que estavam sentados olhando o mar. 

— Você é o Myles Kennedy? — perguntou a garota. 

— É sério, vocês viram alguma ruiva de preto, anã? — insisti, ignorando a pergunta. 

— Cara, eu vi uma menina assim perto do cais da ponta, tem uns minutos — o rapaz respondeu, apontando para a direção oposta e eu nem me preocupei em agradecer, apenas corri na direção que ele apontou. Corri com todas as minhas forças e assim que cheguei ao local, encontrei os cabelos ruivos conhecidos boiando na água. 

— Não não não não não! — exclamei e me joguei no mar, pouco me importando com o que tinha nos meus bolsos. Mergulhei e tirei ela da água, lutando contra maré, para sairmos bem de lá. Voltei a superfície com ela mole em meus braços, gelada, pálida, com os lábios azulados. Ela estava sem pulso. Num desespero, comecei a fazer a respiração boca a boca nela, pedindo para que não fosse tarde demais — Volta Ash, por favor! — Exclamei nervoso enquanto reanimava ela, intercalando com a respiração. 

— Meu Pai amado! — alguém gritou e só então vi que o tal casal havia vindo. 

— Ligue para uma ambulância! — ordenei e o homem logo fez o que eu ordenei, enquanto a menina olhava tudo assustada. Meu braços estavam cansados quando ela tossiu, cuspindo água. Ela voltou! 

— Ainda bem! — A menina exclamou chorosa e eu parei ao lado dela, preocupado em ela estar mesmo respirando. Alguns segundos a ambulância chegou, levando ela às pressas para o hospital. Fui junto na ambulância, desabando ao vê-la mais perto da morte que da vida. Mais uma vez. 

— Donna, eu encontrei ela. Eu a encontrei no mar, apagada. Estamos indo para o hospital e acho que lá vamos ter mais notícias dela. O quadro dela é estável, a princípio — tentei ligar para Donna, mas ela não atendia. Deixei um recado e encaminhei a mensagem para todos, esperando que aquilo fosse o suficiente até ter mais notícias. 

Chegamos ao hospital e ela foi rapidamente atendida. A notícia que ela havia tentado suicídio já havia se espalhado por completo pela mídia, então justamente por isso eu fiquei aguardando por notícias em uma sala reservada, que logo foi ocupada por todos que estavam buscando ela. Em cerca de dez minutos, Saul, Todd, Brent, Donna, Jeff e Frank já estavam lá. 

— Eu não aguento mais esse hospital! — Jeff exclamou enxugando as lágrimas — Meus piores dias foram aqui e eu jurei pra mim que nunca passaria por isso de novo! 

— É horrível estar nessa posição — Todd afirmou com o rosto tristonho. 

— E pensar que há algumas horas atrás ela estava cantando pro Nicci … agora tudo faz sentido! — Donna choramingou, apoiada no marido.

— Vocês leram as cartas? — Saul perguntou e Jeff e Donna negaram.

— Não consegui. Eu comecei e parei. Era simplesmente demais … não conseguia pensar que estava perdendo ela novamente — Donna afirmou negando com a cabeça — Eu já passei por isso antes. 

— E você leu a sua? — Jeff perguntou. 

— Não. Nem sei se vou — o guitarrista deu de ombros, a tristeza tomando o rosto dele. Passei as mãos pelo cabelo aflito. Nesse momento Brian chegou, o rosto impossível de se decifrar. Todos os olhares da sala se voltaram para ele, parte curiosa, parte hostil, parte surpresa. Acredito que muitos depositavam parte da culpa de tudo aquilo nele. E era de fato. 

— Achei que você não iria vir — Jeff disse de forma indecifrável. 

— Esse lugar me dá calafrios, mas eu não ia conseguir esperar notícias de lá — ele explicou se sentando ao lado dos ex-sogros. Donna o encarava com os olhos em chamas, como ela já olhou pra mim uma vez. 

— Achei que isso não fosse um problema pra você — alfinetei e ele me olhou furioso. 

— Não entendi o que você quis dizer, Kennedy — ele disse entredentes e eu dei de ombros.

— Ah, você sabe. Você já abandonou ela a beira da morte no hospital antes. Mais uma vez não vai fazer diferença pra você — disse irônico e vi a ira flamejar nos olhos do guitarrista.

— Você não sabe do que você está falando, Kennedy — ele praticamente cuspiu.

— Eu sei muito bem do que eu estou falando, Haner. Todo mundo aqui sabe que parte do motivo de estarmos todos aqui esperando notícias dela é sua. É muito fácil aparecer agora que ela não precisa de você, não é mesmo? — desafiei e ele se levantou e parou na minha frente. Me levantei também e ficamos os dois se desafiando no olhar. 

— Pra você foi muito fácil aparecer quando soube que eu não estava mais aqui, não é? — ele foi irônico — Aposto que você estava torcendo pra que eu saísse logo, não é? Mal esperou eu sair pra vir tentar comer ela de novo.

— Não foi não, sabe por que?  A única pessoa que teve facilidade em viver normalmente ao ver a Ashley mal foi você. Pra você a Ash morreu junto com sua filha — disse e num acesso de raiva ele me deu um soco. Donna gritou e Slash e Todd seguraram Brian na hora. Jeff veio em minha direção, mas gesticulei que eu não iria revidar.

— Você pode me bater quantas vezes quiser, Brian. Mas nada disso vai mudar o fato de que você abandonou sua mulher morrendo uma vez. Nenhum soco vai conseguir tirar a sua culpa e o seu remorso de saber que se ela está aqui é por culpa sua. Toda sua! — praticamente cuspi, furioso. Brian quis vir para cima de mim novamente, mas estava sendo segurado.

— Chega vocês dois! Agora! — Frank exclamou, se colocando entre nós — Já temos desgraça demais aqui, vocês querem arrumar mais problemas?! Sejam adultos! 

— Vem beber uma água Gates, e Myles, vai respirar um ar! — Brent exclamou, saindo com o guitarrista da sala. Bufei e passei aos mais nos cabelos, nervoso. Resolvi então seguir o que ele disse … eu precisava respirar. 


Abri os olhos e encontrei um teto branco. Meu corpo pesava mil quilos, minha cabeça doía e um bipe chato preenchia o silêncio. Ah, legal. Eu não morri, pensei. Estava no hospital, novamente. O mesmo bipe, o mesmo cheiro, a mesma luz. Se bobear era o mesmo quarto. 

— Hey … você nos assustou, pequena! — ouvi a voz doce da minha mãe e logo seu rosto apareceu no meu campo de visão. Ela me abraçou e eu senti lágrimas quentes caindo em mim — Nunca mais faça isso, Ashley! Ouviu? Nunca! 

— O que houve? — perguntei baixo, minha voz estava fraca. Parecia que eu não falava há dias! 

— O que houve?! O que houve, sua safada, é que você se drogou e jogou no mar, sua burra retardada! — Jessica entrou no quarto como um furacão no quarto e me agarrou, aos prantos. Matt apareceu logo atrás dela — Foi pra isso que você me mandou pra Califórnia?!

— Foi — confirmei e ela se afastou para me olhar furiosa. 

— Sua … — ela começou a querer dizer algo e depois me abraçou com força, chorando horrorosamente — Eu achei que você ia morrer e eu estava longe! Não faz mais isso Ash, por favor! 

— Tá, eu tô viva agora, não tô? Uhuuul! — festejei irônica e todos no quarto me olharam com a cara fechada. Ignorei.  — Alguém tem água? Minha garganta está doendo.

— É porque fizeram uma lavagem no seu estômago pra tirar toda a droga que você tomou — meu pai disse com a cara fechada e os braços cruzados. Meus olhos marejaram. 

— Agora vai ficar sem água pra aprender — Matt disse com a cara fechada e eu revirei os olhos. 

— Como vocês me acharam? — perguntei e minha mãe me deu um copo com água. 

— Myles te achou. Ele foi até o píer e achou seus documentos. Começou a te procurar e te achou desacordada, na água — minha mãe disse.

 Ele te reanimou e chamou a ambulância — meu pai explicou e eu assenti, processando as informações — Você teve uma overdose de morfina e dos seus antidepressivos e se afogou. Chegou no hospital, teve uma parada, os médicos te reanimaram e depois seguiram com o protocolo. 

— Quando eu vou pra casa? — perguntei mexendo nos cabos presos em mim, tentando engolir o choro.

— Em alguns dias — Jess disse e eu somente assenti. Suspirei e soltei o ar pesada, querendo voltar a dormir. O silêncio pairou no ar e eu senti que eles estavam hesitando em falar alguma coisa. 

— O que vocês estão escondendo? — perguntei olhando nos olhos deles. 

— Nada — Minha mãe negou, com a voz aguda.

— Você está mentindo muito mal — comentei — qual a desgraça da vez? 

— Credo, Ashley! — ela exclamou e eu ri. 

— Desculpa. É sério! O que é tão ruim que vocês estão escondendo de mim? — perguntei com a voz embargada e nenhum deles falou nada. Bufei. Meu humor estava tão volátil! 

— Você vai ficar alguns dias em uma clínica — Matt finalmente disse e eu olhei surpresa para eles.

— É sério? — perguntei impressionada. Não segurei. Comecei a chorar e vi minha mãe começando a fazer o mesmo. 

— Infelizmente, Ash. Você colocou sua vida em risco. Estamos realmente preocupados — meu pai disse e segurou minha mão. Neguei com a cabeça, sem dizer nada — É para o seu bem, querida. 

— Argh — grunhi irritada, olhando minhas mãos, enquanto as lágrimas caiam. 

— Vai passar rápido — Jess tentou me consolar e eu dei um sorriso falso sem dentes.

— Pensa nisso antes de tentar se matar de novo — Matt brincou e eu revirei os olhos, secando as lágrimas. 

— A ideia não era continuar viva, sabe? — funguei e meu pai fechou a cara — Que é? É a verdade!

— E você acha que alguém ia te deixar morrer?! Eu hein, que ideia Ashley! — Jess bravejou e eu soltei uma risada infeliz — Não ri não! É sério! Qualquer pessoa aqui iria até o inferno pra te deixar viva, sua idiota! 

— Jessica! O médico disse pra gente pegar leve — Matt interrompeu a noiva. 

— Não vou pegar leve não. Eu peguei leve e essa safada fez isso comigo — ela empinou o queixo e eu dei uma risada. Ele me olhou de cara feia. 

— Tá, vamos sair pra tomar um ar? — Minha mãe disse meiga, tentando amenizar o clima ruim — Tem muitas pessoas querendo te ver. Daqui a pouco a gente volta!

— Uhum — disse sem vontade, dando mais um sorriso falso. Suspirei quando eles saíram, no meu primeiro momento sozinha. Coloquei os braços nos olhos, enquanto pensava em tudo o que havia acontecido. Não estava arrependida do que havia feito, estava triste por ainda continuar com todo aquele sofrimento. Não resolveu, não passou. A dor, o vazio … tudo ainda estava ali. 

— Pensei que ela estava acordada — ouvi a voz divertida do Slash ressoar pelo quarto e dei um pulo assustada, me deparando com a banda completa ali. Myles, Slash, Frank, Todd e Brent me encaravam com admiração.

— Que susto! — exclamei, colocando a mão no peito. 

— Legal, Né? Não é nem um terço do que a gente sentiu quando soube de você — Todd disse e me abraçou com força. Aceitei o abraço, me emocionando — Sua vaca ruiva desnutrida! 

— Desculpa — choraminguei, caindo num pranto desesperado. 

— Hey, não precisa chorar. Eu falei brincando! — ele exclamou, tentando me consolar, quando viu que eu estava chorando — Pelo menos a parte do vaca desnutrida é brincadeira! 

— Para de falar merda, Kerns! — Slash mandou e eu ri — Sai, me deixa abraçar ela! 

— Eu tô aqui, sabia? — Todd disse para o guitarrista, que revirou os olhos e bufou impaciente — Pelo menos eu consegui te fazer rir.

— Você?! Fui eu, seu idiota — disse Saul impaciente, tomando o lugar do outro — Nunca mais dê esse susto na gente, Ash! 

— Desculpa — Disse recebendo o abraço dele. Logo ele deu lugar ao Brent, que me abraçou em silêncio, assim como Frank. Myles ficou por último.

— Céus, como é bom te abraçar e não te sentir gelada — ele exclamou aliviado, me apertando ligeiramente.

— Literalmente te devo uma vida agora — brinquei ainda recebendo o abraço dele.

— Nunca mais tente se matar, mocinha! — ele ordenou e me soltou. 

— Dá muito trabalho pra gente te manter viva, não estraga esse trabalho — Frank comentou.

— Anotado pra próxima — brinquei e os cinco me olharam de cara feia. 

— É brincadeira, calma! — ergui as mãos em defesa, sobre os olhares dos tatuados emburrados — Vai, me abracem! Eu tô viva agora, lembra? Cadê aquele papo cueca??

— Larga de ironia, Ashley — Brent disse e eu ri — É sério! 

— Tá bom, parei! — disse rindo — Olhem, eu ainda tenho 25. Roqueiros só morrem aos 27 anos. Vocês tem dois anos comigo ainda. 

— Seu aniversário de 27 anos você vai passar trancada e amarrada em correntes — Myles murmurou emburrado. 

— É uma boa ideia — brinquei, tentando quebrar o clima tenso. 

— Céus, ela não toma jeito nunca! — Frank exclamou e eu dei uma risada. 

— Vai, eu quero abraços — exclamei chamando eles que me ignoraram — Eu estou há quantos dias apagada? 

— Um dia. Tudo isso foi ontem — Brent explicou.

— Foi um inferno — Myles afirmou passando a mão no rosto e só então notei que ele estava com um roxo no olho. 

— O que houve com seu olho? — perguntei curiosa,ignorando o assunto da minha quase morte. 

— Oh, isso? Foi o merda do seu ex — ele afirmou com uma careta e eu olhei intrigada.

— Meu ex? Qual deles? — perguntei e Slash riu.

— O último. O Gates — Todd disse divertido e Myles revirou os olhos. 

— Por que ele fez isso?! — perguntei sem entender. Myles suspirou.

— Ele ficou aqui, esperando notícias suas aqui no hospital conosco. Eu só disse algumas verdades sobre vocês e ele não gostou — ele deu de ombros e eu bufei. 

— Agora ele se importa comigo? — revirei os olhos.

— Foi mais ou menos o que eu disse — Myles afirmou e eu neguei com a cabeça.

— Ele espera falar com você — Frank coçou a cabeça e eu olhei pra ele surpresa. 

— Nossa, dessa vez ele decidiu esperar eu acordar? — disse irônica, claramente afetada — Mande-o pro inferno. Eu morri pra ele no dia que ele me largou aqui. Eu não tenho nada pra falar com ele. 

— Ash … ele é o pai do seu filho — Brent disse sem jeito. 

— Se for algo sobre o Nicci, tudo bem, apesar de no momento eu não ter nem capacidade para me manter viva, que dirá decidir pelo Nicci — disse impaciente — Agora, se ele quer vir choramingar pro meu lado, que se foda. O tempo dele fazer isso já passou. 

— Eu disse que ela ia reagir assim — Saul disse erguendo as mãos em sinal de impotência, assim que os meninos se entreolharam. 

Uma enfermeira entrou no quarto em seguida com alguns medicamentos para eu tomar é uma bolsa de soro para trocar. 

— Hora do remédio — ela anunciou com um sorriso gentil.

— Por favor, me diz que tem alguma coisa que vai me fazer dormir! Esses marmanjos estão atrapalhando meus planos de dormir eternamente — implorei e ela riu. 

— Tem sim — ela afirmou e eu tomei os comprimidos — Em alguns minutos você vai se sentir mais sonolenta. 

— Ótimo! — comemorei e eles negaram com a cabeça. 

— Sabe Ash, você já foi melhor! — Todd brincou.

— Eu concordo — concordei e eles me olharam de cara feia. 


Notas Finais




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