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História Wellef - Capítulo 29


Escrita por: CarolineWhite

Notas do Autor


"Não, porque dezembro tá ai, férias vai me fazer escrever mais"
Adivinha quem teve que resolver coisa de faculdade até dia 15 de dezembro e depois resolver a própria vida? Eu mesma, e pra ser sincera, eu ainda não resolvi minha vida.
Mas eu voltei! Quase 40 dias sem atualizar, me perdoem.
Como vocês tem passado? Espero que bem, se não, espero que fiquem.
E um feliz 2019 pra vocês também!

E, ok, isso aqui é IMPORTANTE:

Eu fiz uma PEQUENA modificação no capítulo anterior, eu ainda não consegui parar pra revisar ele, mas eu vi que isso precisava ser ajeitado pra eu poder postar esse capítulo aqui (que também falta revisar, mas não quis deixar vcs esperando mais). Essa alteração, pra situar vocês é que enquanto o Jyne foi lá avisar o Etton, o John ainda estava sendo levado no carro, então talvez explique melhor a passagem de tempo nesse capítulo e pra vcs saberem que lobos são rápidos, mas eles não são o Seninha.

Capítulo 29 - Capítulo 29


Jyne entrou na grande casa afobado, sem se importar em que estava a sua frente ou com os xingamentos que ouviu pelo caminho. Só parou quando finalmente encontrou Etton, que se encontrava numa pequena sala, conversando com Alko sobre alguma coisa da alcateia, que agora o loiro não se importava.

O ômega parou na frente do líder da alcateia, vendo a feição dele confusa o encarando.

— Jyne? — O lobo prateado perguntou, confuso.

O lobo loiro afirmou com a cabeça e o alfa vendo o quão ofegante Jyne estava, sentiu seu coração bater um pouco mais forte. Foi até um pequeno bau no canto da sala e pegou uma capa que tinham ali para momentos como esse. Cobriu Jyne com a capa e viu-o voltar a sua outra forma rapidamente.

— Humanos levaram John. — Disse rápido, ainda um tanto ofegante.

Os dois lobos pararam, chocados. O alfa parou, tenso, parando de respirar por alguns breves segundo enquanto a informação era compreendida. Entretanto o beta, após o breve choque, foi o primeiro a falar:

— Como assim?

— Eu ia ver ele, eu cheguei lá e a casa estava vazia, eu fui atrás dele e eu encontrei a cesta dele no chão, com algumas frutas e o cheiro de humanos e umas marcas no chão daquelas coisas estranhas que eles andam. — Explicou, ainda nervoso.

Etton ouvia aquilo, mas parecia que não era... Real. Como se não fosse consigo, como se não tivessem levado John, como se aquilo fosse algo distante, uma história que alguém estava passando e não algo seu. Como um filme distante.

Mas a realidade é dura e logo sua mente concebeu a informação e sentiu seu coração bater rápido, a raiva encher seu peito. Tinham levado John. Tinham o tirado de sua casa, o levado para longe e Etton não tinha a mínima ideia de onde ele poderia estar, ou como estaria, além do que fazia todos seus instintos mais primitivos gritarem. Seus filhotes. Tinha levado dele, seu grande amor, esperando seus filhotes, talvez sendo levado pelo estresse e agora em algum lugar em desespero.

Um rosnado saiu de sua garganta sem que o mesmo percebesse. Olhou para os outros dois lobos na sala que o encaravam claramente preocupados. Engoliu um pouco a vontade de arrancar a cabeça de alguém e deixou sua racionalidade falar um pouco, ao menos naquele momento, era um líder, precisava ser um pelos outros lobos, por John e por si.

— Alko, eu vou ir atrás dele. Os outros lobos não podem saber que ele foi levado por humanos. Jyne, chame meus pais por favor e Etore, vou precisar que eles venham comigo, chame Mery também. Mas ninguém pode saber, isso pode gerar um problema maior do que o atual. — Etton disse, se concentrando para não parar ou perder a razão no meio, mas a voz mais séria que ambos os lobos já o tinha visto usar.

 Jyne assentiu com a cabeça, deixando a sala, enquanto em pouco tempo Sydan já chegava na sala, a feição séria, talvez mais séria do que a do próprio filho.

— Filho, John tem comido nos últimos dias? — Perguntou sério.

Etton ergueu uma sobrancelha, mas em seguida parou para relembrar, não se lembrava de ter visto o lobo comer nos últimos dias. Negou com a cabeça.

Sydan respirou fundo.

— Eu vou com você então, ele pode estar muito perto de parir e isso pode ser extremamente perigoso. Melhor que Mary vá com você, eu vou ficar aqui e deixar as coisas arrumadas caso ele entre em trabalho de parto. E ele é um lutador, algo que eu não sou. — O beta disse, sério, porém a voz deixando clara sua preocupação.

O alfa assentiu, esperando todos chegarem para enfim sair em busca de seu amor. Viu os outros lobos tão nervosos quanto si, e isso deixou o alfa ainda mais nervoso, mesmo tendo seu pai ali para tentar acalmá-lo um pouco.

Etton ainda sentia o ódio dentro de si, sabia que as coisas provavelmente seriam mais difíceis quando encontrasse John e os humanos. Sabia que era um tanto... Receoso com humanos. Não gostava muito deles, como tratavam a terra e os outros seres, sabia que não eram todos iguais, mas nesse momento, só conseguia pensar no pior deles.

Enquanto Etton ia atrás dos humanos que tinham levado seu amor, John se encontrava naquela pequena sala, vendo após tanto tempo uma mulher, e essa, no caso, o explicando o que tinha acontecido.

— John, é um caso recente de crianças sumindo na cidade nos últimos meses, já foram contadas cinco crianças. Carter é o responsável pela investigação e as pistas levaram para a floresta, eles acreditam que a maior possibilidade é que seja quem for que esteja sequestrando essas crianças. Nenhuma foi encontrada, viva ou morta. — Anna explicou, enquanto observava a feição de John, preocupada com qualquer reação.

O lobo respirou fundo, os braços quase cruzados, os lábios se mexendo enquanto pensava naquilo. Encarou a mulher, a face um tanto séria.

— Você tinha dito algo sobre os lobos ajudarem. — Disse, esperando a mulher continuar.

— O território de vocês é um lugar que os outros humanos não conhecem, ou não tem acesso, eu sei que tem alguns humanos que tentam se enfiar na terra de vocês, ou fazer até viagens clandestinas. E eu sinto muito por isso. Mas é justamente por isso que existe a possibilidade deles se enfiarem lá e a ajuda de vocês para encontrar eles, em qualquer lugar dessa floresta, poderia ser vital. Com o olfato de vocês e o fato de vocês conhecerem muito melhor que nós a floresta. — A mulher explicou.

— E foi por isso que aqueles dois homens se enfiaram no nosso território sem saber. E o mesmo motivo que seja quem for sequestrou as crianças. — Disse alto, mas mais para si do que para os outros dois na sala. — Eu... Não posso garantir que os anciões ajudem, nem as outras alcateias, mas eu posso falar com Etton. Ele provavelmente não vai ficar muito feliz com a situação atual, mas ele pode ficar um pouco mais tranquilo quando ver que está... Tudo bem.

Anna soltou um som avaliado, estava extremamente preocupada que John fosse apenas não se importar e talvez contribuir com a fúria de um líder que logo cairia sobre eles. Mas a mulher percebeu que o lobo se moveu um tanto desconfortável na cadeira onde estava sentado e rapidamente perceber que existia uma possibilidade, mesmo que não fosse especialista nisso, que o lobo poderia estar mais perto do parto do que parecia.

Mas o que a mulher não sabia, é que John começava a sentir algo estranho. Não era dor, era um impulso que crescia mais a cada segundo, se transformar, de virar um lobo, como se fosse algo extremamente necessário. Mas ao mesmo tempo tinha outra coisa gritando dentro de si, dizendo que não podia. Que ainda não era a hora. E isso trazia dentro de John uma ansiedade, como se algo estivesse o comendo por dentro.

O homem, que até pouco tempo atrás estava quieto, falou pela primeira vez depois de toda aquela informação:

— Você disse que eles podem ajudar. Mas vocês dois já falaram sobre ele ficar bravo e o quão ruim isso é para nós?

— Bem, os pais dessas crianças devem estar bem bravos e tentando de tudo para recuperar seus filhotes, certo? — Perguntou.

O homem assentiu com a cabeça.

— O que acha que eles fariam se encontrassem quem levou os filhotes deles? Provavelmente abraçariam seus desejos mais instintivos. É a mesma coisa, só que com lobos. — Explicou, vendo pela expressão do humano que as coisas pareciam mais claras.

John percebeu algo chegou em seu olfato. Tinha lobos por perto, e não quaisquer. O primeiro cheiro que chegou em seu nariz, foi o de seu marido. O ômega encarou a mulher e o homem.

— Eles estão chegando. — Falou se levantando da cadeira.

Anna engoliu em seco enquanto Harry continuava em sua confusão.

— É melhor nós irmos para perto deles, vai ser ruim se eles não vierem para cá, pode causar — John foi interrompido, por um homem abrindo a porta.

— Me desculpe senhor, mas é que tem lobos se aproximando daqui. — Disse, encarando Anna e Harry, esperando uma solução para o caso.

A mulher respirou fundo, se levantando também.

— Avise para todos deixarem a entrada liberada e não atirar nem nada do tipo, não tentem assustar eles nem nada do tipo, vai ser pior. — A mulher avisou enquanto se encaminhava para fora da sala, fazendo um sinal para o lobo acompanha-la.

O lobo respirou fundo e seguiu a mulher, deixando a sala.

— Você sabe como lidar com ele. Eu vou manter os homens controlados, e, se ele não quiser ajudar e vocês só quiserem ir embora, eu vou entender. — Ela avisou, a voz leve, sem remorso.

John concordou com a cabeça, enquanto saiam daquele estranho local.

A primeira coisa que o ômega viu quando saiu do lugar, foram os humanos se encarando, confusos ou até assustados. E alguns encaravam John, como se de alguma forma ele fosse explicar aquelas estranhas coisas acontecendo ali. Mas a verdade é que logo sua atenção saiu daquelas pessoas, quando viu ao longe, olhos vermelhos e um pelo prateado, quase se misturando com a neve, se não fosse o seu brilho, vindo em sua direção.

E John soube exatamente quando Etton o viu, quando seus olhos se conectaram e um pouco daquela estranha sensação que parecia devorá-lo por dentro se acalmou um pouco e o alfa acelerou os passos. E quando John percebeu, já corria na direção do outro lobo, enquanto ouvia gritos atrás de si dos humanos estranhando, mas ignorou.

Etton se jogou sobre John, fazendo alguns dos humanos gritar, um deles chegou até a apontar a arma contra os dois, mas isso foi ignorado pelo casal. O alfa estava ocupado cheirando o ômega, verificando se estava bem e só sentiu seu coração se aliviar um pouco quando ouviu a voz de John em suas orelhas, como uma doce melodia.

— Eu estou bem. — Disse baixo, sussurrado, para acalmar o marido.

O humano que tinha apontado a arma para o casal, sentiu uma mão sobre a sua, o fazendo abaixar a arma e encarar a mulher. Anna estava ali, a face séria.

— Não atire. Também não levante a arma. — Ordenou, voltando a prestar atenção no casal de líderes.

— M-mas! Aqueles lobos são gigantes, ele pode matar aquela mulher! — Retrucou, mas voltou a ficar calado quando viu o lobo sair de cima da “mulher”.

John sentou-se no chão enquanto Etton sentava-se na frente do esposo. O ômega observou os outros lobos, reconhecendo Dyran, Mery e Etore. Levou as mãos até o rosto do alfa, sentindo o pelo fofo em suas mãos, quente, o fazendo ignorar o frio do inverno. Sorriu docemente para ele, vendo o lobo levar o rosto para perto de si e esfrega-lo em seu pescoço, algo que costumavam fazer em situações onde ambos estavam em suas verdadeiras formas, não era o caso agora, mas John gostava do carinho.

Entretanto, antes que o ômega pudesse falar algo, sentiu algo junto daquela estranha urgência de se transformar, um dor, um incomodo em sua barriga. E o alfa claramente percebeu, encarando o rosto do esposo.

Anna saiu do meio dos outros humanos, andando até os lobos, parando quando ouviu Etton rosnar. A mulher encarou o lobo de olhos vermelhos, vendo ele se colocar na frente do ômega, numa posição protetiva.

— Ele está perto do parto, não? — Perguntou baixo, mas sabia que os lobos ouviriam.

E foi quando John conectou os fatos, seus filhotes queriam nascer e para nascer, John precisava estar em sua forma de lobo. E isso não era algo possível naquele momento, não na frente daqueles humanos, não era seguro. Mas ao mesmo tempo a necessidade de se transformar gritava mais enquanto aquele pequeno incomodo ia aumentando dentro de si.

— Eu acho que já estou nele. — Respondeu, baixo, vendo o lobo prateado o encarar surpreso, junto dos outros lobos.

Provavelmente pelo estresse que já tinha passado mais cedo que tinha feito seu parto começar a chegar um pouco antes do esperado. E a verdade é que se tinha começado antes, não tinha percebido, mas essa pequena dor estava começando a preocupa-lo, a sensação de que tinha algo muito errado, de que não estava seguro, só cresciam e isso ia se tornando desesperador.

— Etton, se você permitir, eu posso levar vocês de volta. Eu sei que é uma viagem longa e o tempo que vocês demoraram para chegar até aqui deve ter sido todo o tempo desde que ele saiu. — A mulher ofereceu.

Etton a encarou furioso, algo que ela esperava, o fato de John estar bem e vivo deixava as coisas mais tranquilas, mas isso não mudava o fato que nada disso teria acontecido se não fosse pelos humanos.

— Etton — John chamou-o —, eu sei que você deve estar bravo, mas pode ser mais fácil e... Eu preciso que você ouça o que ela tem a dizer, eles precisam da nossa ajuda.

O lobo prateado encarou o esposo, a expressão ainda brava e o lobo negro sabia que se o lobo estivesse em sua forma normal ele provavelmente teria dito algo não muito agradável, mas com aquele tanto de humanos ali e por não poder falar em sua forma real, tinha apenas se mantido quieto.

A verdade é que tentava ponderar se devia ou não voltar a sua forma “humana”, poderia se comunicar com os humanos, jogar todo seu ódio neles e com muita certeza se aceitassem a ajuda da humana, seria mais fácil entrar num carro sem serem lobos enormes. Mas isso poderia acarretar problemas para eles depois, porque claramente todos os outros humanos ali não sabiam o que estava acontecendo.

Mas foi no meio do impasse do Etton, que ouviu a voz de um humano vinda lá de trás, gritar.

— Todos para dentro! Deixem Anna cuidar disso. — Harry gritava, chamando seus agentes para dentro.

Quando ninguém se mexeu ele gritou novamente.

— Vamos! Não temos tempo para perder com lobos, temos crianças para achar! — Ordenou mais uma vez, vendo desta vez seus agentes junto dos guardas florestais entrarem dentro do local.

Assim que todos entraram, o homem fechou as portas. Fazendo Anna soltar um suspiro aliviado.

No mesmo segundo que a porta se fechou, Etton voltou a sua outro forma, sentado de frente para John e sentindo a neve gelada em sua pele. Os olhos vermelhos ardendo de raiva.

— Você pensa em levar nós de carro até a alcateia? — Etton perguntou, seco.

— Sim, é mais rápido. Ao menos perto o suficiente para não levarem quase três horas para chegar lá.

— Eles precisam da nossa ajuda Etton, tem crianças desaparecidas. — John disse, encarando o marido.

O alfa respirou fundo, encarando o esposo em seguida, a raiva ainda o consumia, mas não jogaria isso em seu esposo, muito menos nele tentando entrar em trabalho e parto.

— Eu deveria arrancar a cabeça deles. Mas você e nossos filhotes são mais importantes. Você pode nos levar de carro até perto da alcateia, mas depois não quero ver mais nenhum traço de vocês nas nossas terras ou falarei com os anciões. E seja lá o que precisam e ajuda, é bom ser bom o suficiente para não me fazer voltar aqui e matar todos vocês. — Disse sério.

— Certo. Vou pegar o carro. — Anna disse, saindo dali e deixando os lobos a sós.

John encarou o marido, enquanto controlava sua própria respiração, ainda bem que ter ajudado em todos aqueles partos o tinha ensinado algumas técnicas para ajudar no momento.

— Trouxeram roupas? — John perguntou, tentando focar em uma coisa que não fosse o fato que seu corpo queria que tivesse seus filhotes.

— Sim, eu vou me vestir rapidamente, continue controlando sua respiração. Eu continuo aqui, ok? — Etton falou, preocupado.

O lobo negro assentiu com a cabeça.

Os outros lobos se afastaram, mas ainda de alguma forma sob a visão de John e mesmo sabendo que eles estavam ali, não ver Etton por aquele curto período fez tudo aquilo que sentia piorar muito. A urgência de segurar sua transformação, de proteger seus filhotes, começava a gritar dentro de sua cabeça.

Assim que os lobos voltaram vestidos, viu Mery andar até si, antes mesmo de Etton, o lobo parou a sua frente, levando as mãos ao rosto do ômega mais novo, o analisando.

— Eu preciso que continue respirando desse jeito. Sydan está com tudo preparado lá, nós vamos chegar e vamos executar o parto, ok? — Perguntou, a voz suave de um jeito que John nunca tinha visto antes.

John assentiu com a cabeça, vendo o ômega mais velho sorrir e se virar para Etton em seguida.

— Leve-o no colo, andar pode acelerar o processo. Também vai deixar ele mais tranquilo estar mais próximo de você. Temos que ir o mais rápido possível para ele se manter racional. Etore e Dyran, fiquem de olhos nos humanos por favor, inclusive na humana.

O beta e o alfa assimilaram enquanto Etton pegava o esposo e carregava-o nos braços. Deixando-o mais confortável possível.

Logo ouviram o barulho do carro se aproximando, a mulher parou a frente deles, era um carro mais esportivo, o esperado de uma guarda florestal. Tinha lugares na frente, atrás e um espaço atrás para carregar coisas. A mulher desceu do carro, abriu a porta para os lobos entrarem, era um tanto apertado por ser feito para humanos e lobos são consideravelmente mais altos que humanos, principalmente os ativos.

Fechou a porta quando todos entrarem e voltou para seu lugar, fechando a porta e dando partida no carro. Não era exatamente fácil pilotar com aquela neve, mas sabia que o carro aguentava, só tinha que tomar cuidado para não acelerar de mais, poderia coloca-los em perigo, principalmente pela falta de trilhas.

— Devemos chegar em duas horas. — Avisou, enquanto dirigia.

Dyran estava no banco da frente, prestando atenção na mulher, Etton com John no colo no banco de trás junto de Mery e Etore tinha ido na parte de trás, se segurando nas laterais do carro e prestando atenção nos horizontes no caso de algum outro humano ter seguido eles, além de tentar não ficar enjoado com o movimento do carro.

Como humanos andavam nessas coisas estranhas?

— A melhor coisa é manter ele distraído durante o caminho. — Mery avisou, os olhos fixos no outro ômega.

— Conte a eles o que me disse. — John pediu, sentindo um pouco da dor aumentar.

Não sabia se o parto de humanos era assim, não tinha bolsa estourando, não tinha cólicas — ao menos acreditava que aquilo que sentia não eram cólicas — sentia só essa dor e angustia crescendo dentro de si, como se algo estivesse se rasgando em seu interior.

Anna começou a contar o que tinha contado para John, das crianças sumidas, que iam pedir ajuda aos lobos, até os outros humanos, que não sabiam a verdade levarem John acreditando que era uma mulher gravida em perigo no meio da floresta. O que consumiu ao menos um pouquinho do tempo da viagem.

— Você quer nossa ajuda para achar as crianças então? — Etton perguntou, a voz séria, mas o olhar focado no esposo em seu colo.

— Sim. Eu vou entender se você negar, principalmente depois do que aconteceu, mas são crianças em perigo que precisam voltar para a casa delas. Além de que seja lá quem fez isso e porque, se eles realmente estão enfiados no território de vocês, eles podem tentar fazer isso com os filhotes de algum lobo e isso pode causar uma chacina e eu sei que lado sai perdendo nisso. — A mulher explicou, os olhos focados no caminho.

Etton levantou o olhar para a mulher, tirando um pouco seu foco dos olhos lilases abaixo de si e em dor. Respirou pesado, aquilo tudo era um problema. O parto de John, humanos se metendo onde não deveriam. As vezes se perguntava o quão mais fácil seriam as coisas se as pessoas não se metessem nos assuntos dos outros. Ou não se enfiassem no território de lobos mágicos com crianças sequestradas por Deus sabe qual motivo.

— Eu falarei com o líder do Sul para ajudar vocês, se ele não aceitar tente com os anciões. Mas eu não poderei ajudar, não agora. É o que posso fazer por vocês e porque John pediu. — Falou, o tom sério.

A mulher sorriu de leve.

— Obrigado, mais uma hora e chegaremos.

Os lobos assentiram, exceto John, A dor tinha aumentado, se segurava em seu marido cada vez que sentia uma pontada, as vezes podia jurar que começava a se transformar e em seguida impedia a si mesmo. Não sabia se era algo externo ou não, mas podia jurar que suas garras tinham aumentado nesses momentos.

Ouvir estava se tornando complicado, as vozes costumavam a se misturar, a virar sons sem sentido. As vezes podia ouvir Etton o chamando, tentando chama-lo de volta para a realidade, mas parecia que ficava cada vez mais difícil.

— Ele está perdendo a racionalidade. Precisa falar algo que chame-o de volta, alguma coisa. — Mery falou, encarando o lobo prateado.

Etton encarou o esposo. O que falar? Não sabia nada que poderia chama-lo de volta, não assim, não agora, quanto mais tentava formular algo, mais sua mente chegava em nada.

— John — Anna chamou-o —, seu nome não me é estranho. Nem seu rosto, eu não disse nada antes. Mas por acaso você era humano antes? Vivia na floresta? — Disse, um tanto alto, chamando a atenção de todos ali, inclusive de John.

O ômega encarou a mulher, confuso, tirando um pouco o foco de seu marido e da dor.

— Como sabe...? — Perguntou, a voz fraca.

— O nome de sua mãe, era Ingrid? — A voz séria, a mulher se virou rapidamente para trás, vendo os olhos lilases e depois se focando no trajeto novamente.

John ficou mais confuso, parou, tentando lembrar o nome da própria mãe. Seus pais tinham morrido quando eram tão novo, não se lembrava do rosto deles, não tinham nem fotos deles para ver. Mas como se alguém sussurrasse em seu ouvido, lembrou-se de uma memória rápida, de seu avô dizendo “Ingrid te amou tanto”.

— Sim. — Respondeu, tentando sentar no colo do marido, sendo ajudado por ele e olhando para a mulher no volante que se mantinha focada na estrada.

— Minha mãe conheceu sua mãe, eu conheci ela também, você ainda não existia na época. Você é praticamente idêntico a ela, a mesma beleza. Só os olhos que não, você tem olhos de lobo. Ela era uma mulher incrível, ela era doce, sorridente, sempre muito aberta a aceitar a todos. — Começou a falar, focada no caminho, percebendo que os lobos ali apenas ouviam. — Lembro da minha mãe contar que um dia uma moça diferente tinha comprado uma casa na floresta, no limite antes do território de vocês. Foi quando ela foi me contar sobre os lobos, sobre todos vocês e ela me disse que tinha sido a primeira vez que ela tinha visto um lobo se apaixonar por uma humana.

John estava focado no que a mulher falava, ainda sentia a dor consumir seu corpo, sentia a urgência de se transformar, mas era a primeira vez que ouvia sobre seu passado dessa forma. Era a primeira vez que ouvia sobre sua mãe humana.

— Ela também me contou que foi a melhor amiga que ele teve por anos, até ela falecer. Ela disse que você tinha meses, e que Ingrid nunca tinha estado tão feliz, que ela tinha pedido aos deuses dos lobos que a deixassem ter um de vocês, que deixassem essa união acontecer. Mas ai, poucos meses depois, ela estava gravida de você. Minha mãe chegava a dizer que ela queria ter ficado feliz assim quando engravidou de mim, que sua mãe parecia brilhar de tão feliz. Ela sempre disse que o mundo talvez tenha perdido o melhor de nós quando Ingrid faleceu. — A voz um pouco triste, como uma melancolia que não era dela. — Mas... Ela disse ter visto a criança dela, você, uma única vez, sendo criada pelo avô e que... Era como ver uma criança lobo completamente humana, e que mesmo muito mais lobo que humano, ela conseguia ver tudo que Ingrid tinha passado mesmo sem conseguir te criar de fato. “Era como olhar a perfeita fusão dela com um lobo” ela chegou a dizer uma vez. — Sorriu para o lobo negro, voltando a focar no caminho em seguida.

John parou alguns segundos, a dor ainda consumindo seu ser, mas aquelas palavras doces sobre sua mãe, sobre si, de pessoas que nem se lembrava eram estranhamente reconfortantes.

— Ela era tudo isso mesmo? — Perguntou, a voz um pouco ofegante.

— Eu não tenho dúvidas! E olhando para você agora, acho que entendo melhor o que minha mãe me disse. Qualquer outro lobo na sua posição teria deixado um banho de sangue acontecer, não teria se importado em si quer me ouvir. Talvez só tivesse matado aqueles dois idiotas que te trouxeram. Mas você, você nem si quer ergue a voz e eu acho isso louvável. Eu não sei se é algo no sangue dela que também está em você, ou se foi seu avô que te criou, mas eu consigo entender que talvez o melhor que os humanos podiam ter está em você e agora, isso é só dos lobos.  — O sorriso continuava no rosto, mesmo que John não pudesse vê-lo agora.

O ômega sorriu, mesmo que rápido e logo tomado pelo dor novamente, tentando se controlar pela respiração.

— Quanto falta? — Etton perguntou.

— Estamos quase lá, mas eu não vou poder chegar muito perto da alcateia.

As vozes voltaram a ficar confusas, dessa vez muito mais rápido, fazendo com que o esforço da mulher logo se tornasse em vão, parecia que tudo tinha se potencializado e quando viu estava agarrado ao marido, buscando até a última gota da sensação de segurança que ele poderia lhe dar.

O carro parou e John mal percebeu, só percebeu quando sentiu Etton o ajeitando nos braços e um pouco do vento batendo em seu rosto.

O lobo prateado corria na direção da alcateia, para sua casa, onde Sydan já tinha preparado tudo, sendo acompanhado de Mery que o acompanhava tranquilamente, as vezes esquecia que o lobo era um guerreiro.

Assim que chegaram na cabana, Etton colocou o esposo que se debatia um pouco de dor sob as peles, Mery foi lavar as mãos enquanto começava a dar instruções.

— Se transforme! Isso vai incentivar ele a se transformar também, fique o mais perto dele possível. Sydan, vá limpando ele enquanto eu acabo de me levar e preparar algo para ele conseguir relaxar. Ele ainda vai precisar dilatar depois de transformar, temos que fazer ele esperar até dilatar o suficiente para não machucar ele.

Etton assentiu, se transformando em sua forma de lobo, e se aproximando do esposo, lhe lambendo o rosto e vendo olhos lilases o encarem e por fim se transformar, revelando o lobo negro agora ofegante. Sydan rapidamente foi até o genro, tirando as roupas do meio do caminho, relevando o lobo com as mamas inchadas e a barriga protuberante, ajeitou a posição dele e em seguida tirou as roupas do filho, indicando para ele deitar do lado do lobo negro, ficar perto dele.

Mery acabou se preparar as coisas e foi até John, observou como estava a dilatação. Estava indo rápido, mas parecia causar mais dor ao lobo que não tinha tido como se transformar antes, passou um pouco de uma pomada que tinha feito ali, para amenizar a dor, teria que limpar antes dos filhotes nascerem, mas agora era importante para John relaxar.

A verdade é que John agora não ouvia os outros, não sabia o que estava acontecendo a sua volta, a dor de antes tinha passado, a urgência também, mas agora sentia pontadas, cólicas fortes, além da dor que parecia ter melhorado um pouco, sabia que não duraria muito. Sentia algo junto de si, o rondando, protegendo, sabia que Etton estava ali, sabia que seu marido estava ali, que estava tudo bem.

A respiração estava ofegante, não sabia a quanto tempo estava ali, sentia algo sair de si, um pouco de liquido, mas não conseguia conceber o que era. Só soube que algo estava acontecendo quando sentiu novamente algo, mas desta vez algo maior, chorou um pouco, doía. Tinha algo saindo e si.

Sentiu a dor tomar seu corpo mais uma vez, mas sentiu junto o impulso de empurrar e foi o que fez, até passar, o deixando respirar mais uma vez sem problema.

— Foi o primeiro, falta os próximos, Etton continue ai. E John, você está indo muito bem, continue assim. Certo? — Mery encorajou o outro, mesmo sabendo que agora ele provavelmente não ouvia ou não entendia.

A dor que tinha sentido voltou mais uma vez, tinha algo saindo de novo e mais uma vez ele empurrou até conseguir respirar de novo, o que não durou muito, mais uma vez o mesmo processo e depois mais uma. Até finalmente sentir aquilo parar e a respiração acalmar, o corpo cansado. Sentiu uma lambida no rosto, abrindo os olhos lilases e olhando na direção de sua barriga, estavam ali, aninhados, perto de suas mamas, quatro filhotes, os filhotes mais lindos que já tinha visto em toda sua vida.

E por um segundo, toda aquela dor, todo aquele sofrimento, não importava mais. Um era manchado, prateado e preto, um dos olhos tinha uma manchinha preta em volta. Outro era todo preto como si, era o maior dos quatro e se aproximava de uma de suas mamas com ajuda de Etton que o empurrava com o focinho para deixa-lo mamar. O terceiro era todo prateado como o alfa, tirando a cauda que tinha a ponta negra. E o último, tinha o corpo todo prateado, mais claro que seu pai, mas as patas eram negras como a noite, muito mais que John.

Se ajeitou com dificuldade em volta de seus filhotes, cheirou cada um deles, sentiu o cheiro doce, mas diferente do seu, não era flores, não eram frutas, era o cheiro doce de um bebê. Ou ao menos parecia. Lambeu cada um deles, sentindo em seguida Etton esfregar a cabeça na sua e deitar-se perto de si, com o tronco perto da cabeça do ômega, que aproveitou para deitar a cabeça nos pelos quentes de seu marido.

Deixou os olhos se fecharem, estava tão cansado, tão exausto, não sabia nem quanto tempo tinha se passado em aquilo tudo. Só queria dormir, só um pouco. Era hora de descansar. 


Notas Finais


Vou tentar dar um bom gás nessa história esse mês, mas a mesmo tempo não posso prometer isso!
Eu espero que vocês tenham gostado, eu sei que to devendo respostas de alguns comentários, mas não se preocupem que vou responder tudo.
A gente se vê no capítulo 30 que ainda tem água pra passar por baixo dessa ponte ;)


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