História We're Back Pitches - De Volta Para Barden

Era engraçado como a vida poderia mudar tanto em um intervalo relativamente curto de tempo. Há cinco anos atrás, Chloe tinha pensado que sua jornada como uma Bella seria eternamente marcada por uma única apresentação da qual sua melhor amiga vomitou todo seu nervosismo e apreensão em cima do público. Foi memorável, mas não do jeito que gostaria. Entretanto, ela e Aubrey iriam conseguir colocar o grupo de volta na competição com força máxima e terminariam seu último ano de faculdade com um título. E Chloe pensou que seria simples, elas poderiam achar oito boas cantoras, não necessariamente com corpos esculturais como Aubrey adorava frisar, mas boas cantoras, sem dúvidas. Era uma pessoa otimista, sempre foi.

Ela estava errada.

Completamente errada.

Seria simples de fato, se as pessoas parassem para pelo menos ouvir o que tinha a dizer ou aceitassem o panfleto que tinha em mãos. Porém Chloe não era de desistir facilmente, embora estivesse começando a ficar realmente preocupada. Foi então que ela avistou uma esperança e não deixaria ela passar, mesmo que Aubrey pensasse que era muito “alternativa”. Talvez fosse exatamente isso que elas precisassem no momento, uma alternativa diferente para fazê-las sobressair e chegar ao topo.

Chloe estava convicta que aquela pequena garota vagando sem rumo aparente era a pessoa perfeita para ajudá-las, conseguia inexplicavelmente sentir. Além do mais, quem quer que fosse a menina, tinha potencial para ser uma Bella. Aubrey não tinha como negar que ao menos ela era atraente, a característica que sua amiga acreditava ser a mais primordial em uma Barden Bella.

Então Chloe a entregou um panfleto e ela o pegou - o que já foi um significativo avanço considerando as prévias investidas. Ela ainda a ouviu explicar muito excitadamente (não conseguia evitar) sobre a cappella e apresentar os grupos do campus. A garota prestou atenção a tudo e mesmo tecendo comentários sarcásticos sobre, permaneceu e esperou até o final do discurso da ruiva para recusá-la. Chloe ficou seriamente decepcionada, principalmente quando a morena disse que sequer cantava. Sua esperança havia lhe dado adeus. Era definitivamente o fim.

Ela estava errada.

Completamente errada.

De novo.

E não demorou muito para perceber seu erro quando uma voz ressoou pela excelente acústica do banheiro capturando cada parcela de sua atenção. Ela ficou extremamente tentada, queria ouvir mais! E mesmo que isso a desse uma reputação depois, acabou deixando seus instintos dominarem sob suas ações. Invadiu o chuveiro sem sequer pensar duas vezes e ficou feliz ao notar que quem estava lá dentro era exatamente a pessoa da qual esperava ver.

Deveria ter sido uma situação completamente estranha, mas Chloe não possuía nenhum filtro para vergonha, ela estava mais do que à vontade com tudo aquilo. E logo ela percebeu a morena também relaxar quando suas vozes harmonizaram perfeitamente uma com a outra. Elas entraram em impecável sintonia, se complementando e contribuindo mutuamente para construir a música, que para o azar da garota, havia escolhido “Titanium”. Essa música levava Chloe a fazer coisas que não faria normalmente, coisas do tipo invadir chuveiros sem ser convidada... (claro, quem cantava foi outro fator motivador, mas ela irá negar até a morte que isso sequer cruzou sua cabeça).

Chloe já havia harmonizado várias vezes com outras pessoas. Afinal, essa é a base da a cappella, mas ela nunca encontrara alguém com que sua voz encaixasse tão bem. Foi como se as duas cantassem juntas há anos. Era impressionante e mais ainda como Beca Mitchell conseguiu mexer com todas as suas estruturas em apenas dois encontros. Beca era capaz disso, ela conseguia te arrebatar com seus olhos azuis profundos e seu sorriso reservado, porém genuíno quando ela se descuidava por um instante e deixava transparecer suas reais emoções.

Era engraçado como a vida poderia mudar tanto com tão pouco. Foi só isso que precisou: dois encontros (e olhos azuis penetrantes). Dois encontros (e um sorriso tímido) e de repente a vida de Chloe não se tratava mais só das Bellas, mas da pequena garota que constantemente invadia seus pensamentos. Ela não havia brincado sobre as duas serem amigas rapidamente, compartilharam uma forte conexão desde o início. Conexão essa que estava disposta a abraçar firmemente. E quanto mais Chloe se agarrava a esse elo, mais ela se perdia no mistério que era o coração de Beca. Ela gostaria de desvendá-lo, gostaria de derrubar cada barreira que a morena construiu ao redor de si mesma para conhecê-la em sua essência. Ela queria ver cada detalhe incrível sobre Beca que olhos desatentos não eram capazes de apreciar.

E ao longo dos anos foi exatamente isso que fez. Se empenhou em conquistá-la e Beca não falhava em deixá-la impressionada, seja com seu talento, seja com sua personalidade forte. Cada descoberta, cada obstáculo vencido era um espaço a mais no coração da morena. Um espaço do qual Chloe se dedicava para preencher de felicidade, pois ela sabia que era a única que Beca permitia avançar por suas defesas. Ou praticamente a única... Havia Jesse em quem Beca provavelmente confiava tanto quanto nela. Isso não deveria magoá-la do jeito que a magoou, mas o fato de Beca ter escondido seu estágio dela não ajudou em nada a cessar esse sentimento, principalmente quando já havia confiado esse segredo a Jesse. Não que houvesse algo de errado nisso, mas Chloe sempre esteve ao lado de Beca, literalmente e figurativamente. A ruiva foi a sua maior fã durante todo esse tempo e mesmo assim, ela preferiu a manter no escuro sobre algo tão importante na vida dela.

Mas tudo bem quando tudo termina bem.

Beca estava com medo do futuro incerto e por isso ficou receosa de contá-la a verdade. Chloe a compreendeu, também estava apavorada (para dizer o mínimo) com as mudanças repentinas, apavorada com o pensamento de deixar tudo que mais amava para trás. Porém, ela conseguiu superar seus medos e fez da vitória do Mundial a sua despedida e seu novo começo para perseguir outras de suas paixões há tanto renegadas. Ela finalmente se formou após três anos falhando propositalmente para poder continuar sendo uma Bella com as amigas que se tornaram sua família.

Agora, trabalhava transmitindo todo o seu conhecimento em música para crianças desprivilegiadas e descobriu que possuía um dom para lecionar. Ela também vivia com Aubrey em um apartamento não muito afastado de Barden (realmente não era boa em se desapegar) e estava próxima da maioria das pessoas que a importavam.

Tudo estava perfeito.

- Você acredita nisso!? Por que esse tipo de coisa sempre acontece quando eu não tô por perto!? Primeiro foram você e Beca que fizeram as Bellas virarem uma vergonha nacional... – Aubrey caminhava furiosamente pela sala de estar, com o celular quase escapando por entre seus dedos. – Sem ofensas.

- Aquilo foi um acidente, eu achei que já tínhamos superado isso. Nós conseguimos nos redimir no final, lembra? – Chloe tentava acalmá-la, sentada no sofá a sua frente. Porém sabia que era em vão. Era muito difícil racionalizar com Aubrey quando ela entrava em seu modo General Posen. Era um lado da loira que nunca se aposentaria, embora agora ela se esforçasse para parecer controlada e não, controladora. Chloe se lembrava perfeitamente de quando havia pedido sua ajuda para salvar as Bellas... Aubrey entrou em colapso, mas de alguma forma ela conseguiu esconder isso no acampamento e se mostrou uma líder motivadora e firme.

- É, mas agora Emily tá arruinando tudo que nós conquistamos! Elas perderam nossa hegemonia! Em quanto tempo elas vão perder todo o resto!? – Já podia sentir seu estômago se revirando e um refluxo se aproximando. Parou e respirou fundo levando a mão a boca, não gostaria de ter o evento se repetindo novamente.

- Ok, se acalma. Se acontecer de novo vai ser a sua vez de limpar. - Apontou, se afastando discretamente da mira da loira. - Olha, a Emily é nova nisso e nós não tivemos muito tempo pra ensiná-la tudo. Ela precisa de alguém pra guiá-la, só isso. Então pega leve.

- Você tá certa... Ela precisa de alguém pra ensiná-la. Eu vou fazer isso. – O olhar de Aubrey era ameaçador e Chloe sabia que ela não tinha a mínima intenção de pegar leve quando a mesma saiu fulminante pela porta.

- Aubrey, espera! - Suspirou.

[Chloe] Aubrey acabou de sair correndo daqui, eu deveria segui-la, né?

[Becs] Provavelmente, a menos que vc queira a aca-baby morta. Eu encontro com vocês em Barden.

Um sorriso enorme se apoderou do seu rosto após a mensagem de Beca aparecer no seu celular. Embora as duas se encontrassem com relativa frequência, não se comparava com como as coisas eram antigamente. Logo, qualquer oportunidade deveria ser aproveitada ao máximo. Além do mais, a perspectiva de cantar com as novas Bellas e estar novamente em contato direto com esse espírito de a cappella colegial a aqueciam por dentro.

[Chloe] Okaaaay ;)

Chloe não conseguiu conter a empolgação efervescente em si ao pensar em tudo isso, saltando animada do sofá e correndo atrás de Aubrey com pulinhos de excitação, o que destoava totalmente do humor da loira.

- Vamos, você não tá nem um pouco ansiosa pra conhecer as nossas novas irmãs?

- Eu estou ansiosa pra colocá-las em forma. – Os nervos de Aubrey não se dissiparam mesmo depois das duas já terem alcançado o campus. O local estava bastante movimentado, o que era esperado para o início do ano em que todos os calouros estavam se mudando para a nova etapa de sua vida.

Estar vagando ao lado de Aubrey pelo gramado procurando por Bellas, incendiava um sentimento de nostalgia em Chloe. Foi então que a ruiva avistou um rosto familiar se esgueirando por entre a multidão de estudantes e seu coração acelerou em seu peito, podia sentir seus lábios abrindo espaço para um gigantesco sorriso. Ela poderia ter gritado, mas se impediu antes que pudesse chamar a atenção para si, não que ela se importasse em ser o centro das atenções, mas preferia ter a abordagem surpresa ao seu favor. Ao invés de se fazer ouvir, simplesmente correu em direção a pequena garota que estava alheia a aproximação da ruiva.

- Ei, Chloe! Aonde você... – A sentença de Aubrey morreu em sua garganta quando avistou a pessoa a quem Chloe estava se dirigindo e um sorriso compreensivo quebrou sua expressão preocupada. – Já entendi.

Beca estava perdida e estressada. Barden havia conseguido o improvável e arrumara mais gente esquisita para preencher seus dormitórios. Já havia se esquivado de um grupo de torcedores do time de futebol americano da faculdade (mascote incluso) e de uma líder de torcida que quase chutou seu rosto em um movimento abrupto de pernas. Ninguém deveria ser capaz de levantar as pernas tão alto, era um perigo a segurança pública e especialmente para pessoas de um metro e meio.

"Deveria ser fácil encontrar a Emily... Qual é! A garota é um pilar enorme, como eu não posso achá-la!?"

Esse foi o último pensamento que cruzou sua mente, quando uma figura pulou em sua frente com um sonoro “OI!”. Beca jurou que teria visto a vida passar diante de seus olhos, se não fosse pelo fato de que tudo que conseguia enxergar eram um vulto alaranjado e orbes azuis celestiais a encarando divertidos a centímetros de distância de seu rosto.

- Oh, meu... – Foi tudo que conseguiu soltar exasperadamente enquanto  recuava involuntariamente um passo para trás, levando a mão ao peito em uma tentativa fútil de recalibrar seus batimentos cardíacos e respiração a níveis considerados normais e saudáveis.

- Você tem algum interesse em se juntar ao nosso grupo a cappella? – A ruiva não se deixou abalar pela reação de Beca e tentou ao máximo falar sem deixar uma risada escapar, porém seu sorriso a denunciava.

A voz conhecida, as palavras familiares e o sorriso inconfundível fizeram com que Beca se recompusesse rapidamente e entendesse ligeiramente o que estava acontecendo.

- Certo... Isso é um lance agora. - Disse, tentando relembrar exatamente quais haviam sido suas palavras no dia em que conheceu Chloe. No entanto, não foi necessário muito esforço, a lembrança era vívida em sua mente. Porém a sentença de agora saindo mais esbaforida do que naquela época, seu coração ainda não havia se recuperado completamente do choque.

- Oh, total. – O sorriso de Chloe se alargou mais ainda (se isso era possível) quando Beca entrou na pilha. A conexão entre elas não havia enfraquecido nem um pouco, continuavam capazes de entender uma a outra com uma mera troca de olhares, o que permitiu a Chloe perceber o sorriso de Beca aumentando sutilmente após ela ter terminado de falar, como se a garota tivesse acabado de relembrar uma piada.

Agora a morena sabia como esse total havia parado em seu vocabulário.

- Desculpa interromper a reuniãozinha de vocês, mas nós temos uma missão aqui. – Aubrey, que já estava ali a tempo suficiente para pegar a interação entre elas e cuja existência fora completamente ignorada desde que as duas pousaram os olhos uma na outra, finalmente interveio. E apesar de ter soado rude, suas feições demonstravam que estava tentando esconder suas reais emoções.

- Eu tenho certeza que essa não era a sua deixa ainda. – Disse Beca, fingindo indignação.

Após alguns segundos se encarando e fazendo uma espécie de jogo do sério, as três finalmente se permitiram rir e se abraçaram, entregando-se a alegria de terem se reencontrado novamente.

- OK. Então onde estão essas aca-bitches?* – Aubrey se pronunciou, quebrando o momento e ajeitando suas roupas. A loira parecia escanear furiosamente o campus em busca de Emily ou de algo que as indicasse onde as Bellas poderiam estar. E sem mais avisos, ela começou a andar deixando Beca e Chloe para trás enquanto as duas tentavam acompanhar sua marcha.

- E aí, como vão as coisas? – Foi Chloe que iniciara a conversa, o que aparentemente também não mudara após todos esses anos.

- Estão indo... O problema é que eu não sei pra onde. – Uma risada fraca escapou de Beca e apesar da resposta vaga, como era comum da morena, não impediu que Chloe percebesse que ela estava realmente preocupada com algo, mas antes que pudesse ir a fundo em tal tópico, a garota prosseguiu. – E com você?

- Estão ótimas! – Animação exalou de cada palavra quando Chloe percebeu a expressão de Beca aliviar a medida que as pronunciava. Porém se fez uma nota mental para perguntá-la mais tarde o quê estava havendo. – Eu realmente amo as crianças e ensinar é algo que eu gosto muito e eu acho que sou muito boa nisso.

- Você deveria deixar as crianças dizerem se você é boa ou não. – Respondeu sorrindo. Embora soubesse que Chloe provavelmente estava certa. A ruiva sempre foi muita atenciosa e paciente para ensinar. No seu primeiro ano em Barden, durante os ensaios das Bellas, Chloe se dispusera a pessoalmente guiá-la passo a passo pelas coreografias. Beca costumava ser a última a aprender, se confundindo facilmente com os movimentos complexos de mãos e pernas e por isso a ruiva tinha que dá-la atenção exclusiva todas as vezes. No início, teimosa, Beca afirmou que conseguiria sozinha, que era capaz de mexer os braços sincronizadamente sem parecer um pinguim em fuga. Porém o tempo (e os olhares de desprezo de Aubrey por ter falhado de novo) a fizeram ser grata pela dedicação da ruiva em ajudá-la. E ela não estaria sendo totalmente sincera consigo mesma se não admitisse que de certa forma gostava desse tratamento especial... E só talvez ela inconscientemente tenha errado de propósito alguns passos.

- Você pode perguntar pra elas, eu aposto que vão concordar comigo! – Respondeu com um tom levemente desafiador.

- Mas sabe, eu fico feliz em saber disso. Eu temia que no final você terminaria escolhendo dançar eroticamente. – Ao dizer isso, Chloe a empurrou com a cintura fazendo com que cambaleasse um pouco para o lado, o que não foi o suficiente para retirar o sorriso de seu rosto.

- Mas eu deveria ter ido com essa opção. Com certeza eu estaria ganhando mais agora. – Apesar dessa resposta, era evidente que não estava falando sério, o que mesmo assim não impediu Beca de perguntar.

- Tá falando sério!? – Um sorriso de incredulidade se espalhou por seu rosto. Sabia que Chloe estava brincando sobre isso, mas parecia ter tido uma possibilidade real da ruiva ter enveredado por esse caminho. Beca achou que tinha sido apenas uma piada quando, no acampamento, ela revelou suas ambições para o futuro.

- Não... Stacie meio que roubou a minha ideia, mas eu poderia totalmente fazer isso! – Beca riu. Aceitar essa hipótese de carreira era mais a cara da Stacie do que da Chloe.

- Você é uma ótima professora. As crianças com certeza ficariam arrasadas. – Disse exageradamente. Embora não soubesse apontar exatamente o motivo que a remota ideia de ter Chloe dançando eroticamente para os outros (ok, talvez essa não tenha sido uma boa escolha de palavras, mas não foi isso que quis dizer!) a incomodava.

- Ah! Agora você admite que eu sou uma boa professora! – Chloe notou que Beca possivelmente estava incomodada e esperava ser pelo motivo que secretamente estava desejando.

- Eu nunca disse que você não era. Eu disse que você deveria deixar as crianças te dizerem isso. – Falou ligeiramente apressada. Sua boca já estava produzindo mais palavras do que seu cérebro poderia processar e filtrar. De novo, como a conversa havia chegado naquele ponto? É verdade, foi ela. Por que ela se sentia com se estivesse sendo jogada contra parede agora!?

- Sabe, mas eu acho que seria uma ótima dançarina também. – Disse com uma piscada sugestiva. Chloe não perderia a oportunidade de implicar Beca com isso, ela tornava tão fácil ficando rapidamente envergonhada. E não existia nada mais adorável que uma Beca Mitchell envergonhada.

- Mas... e as crianças!? – Disse, fingindo ultraje e tentando não se abalar e enrubescer quando Chloe agia dessa forma. Esse tipo de brincadeira era recorrente entre as duas, na maioria dos casos partindo da ruiva. Beca em algumas ocasiões conseguia responder à altura sem pestanejar, em outras ela era apenas pega de surpresa pela espontaneidade com que Chloe fazia isso.

- Elas iriam superar... Eventualmente. – Talvez Beca não estivesse tornando isso tão fácil quanto previu. – Mas pelo visto, elas não iriam ser as únicas a ficarem arrasadas com isso. – Preferiu então ser um pouco mais incisiva e o jeito como os olhos da morena arregalaram levemente por uma fração de segundo em surpresa e em como sua boca se movimentou por instantes sem produzir nenhum som, a disseram que atingiu seu objetivo com sucesso.

- Eu acho que você já tá se achando demais... – E falhou miseravelmente em parecer sagaz. Esbravejava internamente por ser tão transparente com Chloe o que a permitia fazer esse tipo de coisa com ela. E o olhar de satisfação que a mesma estava a oferecendo juntamente com a risada triunfante que a acompanhou, não estavam ajudando em nada.

- E quem foi mesmo que disse que eu tinha razão em ser confiante sobre... Tudo isso!? – Disse orgulhosa, fazendo menção ao próprio corpo. Era bom saber que ela possuía esse efeito em Beca, mesmo que isso não devesse alimentar nenhuma esperança dentro dela.

- É, isso me lembra porque eu nunca te elogio. Você fica insuportável. - Riu. Só Chloe para deixá-la envergonhada e a fazer rir disso depois. Se fosse qualquer outra pessoa, Beca se sentiria extremamente desconfortável e se valeria de ofensas e sarcasmo para traçar os limites.

- Você diz isso, mas na verdade não consegue resistir. Eu não te culpo, eu sou incrível. - Disse, enquanto seu dedo cutucava delicadamente a bochecha da morena, que riu e segurou sua mão gentilmente em resposta para que parasse.

O coração de Chloe pareceu falhar até voltar novamente a bater quando a morena a soltou, após segundos que mais pareceram uma existência.

- Você é estranha. – Suas palavras pinceladas com seu sarcasmo característico, que por alguma razão, acabaram saindo mais carinhosas do que sarcásticas.

Porém a morena não fazia ideia do impacto que essa sentença possuía em Chloe, que teve sua expressão caindo por um breve momento antes de recuperar sua luz usual.

Beca sentia falta dessas interações sendo diárias, dessas conversas e brincadeiras idiotas. Os dias eram incompletos sem conviver com Chloe e as outras meninas debaixo do mesmo teto. E embora ela sempre tivesse reclamado do quão difícil era morar com pessoas tão barulhentas, internamente apreciava tudo aquilo, ansiava por aquilo. Entretanto, agora estavam todas separadas vivendo suas vidas independentemente e não conseguia deixar de se sentir um pouco triste ao pensar nisso. E talvez ela tenha deixado uma parcela desse sentimento transparecer em seu semblante, pois Chloe colocou um braço em volta dos seus ombros e a sacudiu levemente a trazendo para perto em um abraço enquanto continuavam a caminhar atrás de Aubrey.

Ela sorriu em resposta a esse gesto. Seu sorriso sendo retribuído com outro da ruiva. O importante é que Chloe estava ali agora e não importava o quanto a vida tentasse entrar no caminho, elas sempre dariam um jeito de se manterem juntas.

Elas e as outras meninas.

- Eu desisto! Nós nunca vamos achá-las nessa confusão! – Aubrey parou de repente, passando a mão no cabelo, frustrada e virando-se para encarar as duas garotas, que a essa altura já haviam se separado.

- Ahn... Talvez eu possa ajudá-las. – A voz de um garoto timidamente rompeu os sons ao redor,  fazendo com que as três virassem para encará-lo.

- Benji! – Beca exclamou ao reconhecer o garoto.

- Olá, Beca. Meninas. – Chloe e Aubrey também o cumprimentaram.

- O que você tá fazendo aqui? Eu achei que você tinha se formado com a gente. – Pelo que Beca se recordava, Benji havia entrado em Barden no mesmo período que Jesse e ela e era estranho de todas as pessoas, ele não ter se formado. No entanto, Beca se arrependeu de perguntar assim que notou ter atingido um nervo.

- É... que... Ahn... Uh... Eu... Em... ily... – Nenhuma palavra completa saía da boca de Benji e ele parecia estar realmente se esforçando para colocar os pensamentos em ordem.

Não deu muito certo.

- Ok, eu te entendo completamente... – Chloe disse, balançando a cabeça positivamente com uma expressão de compreensão, colocando uma mão no ombro do garoto.

Beca a encarou, seu olhar a questionando: Você entende!? Porque a única palavra que distinguira foi "Emily" e isso ainda estava aberto a debates.

- Eu também fiz isso e entendo seus motivos. Não tem porquê se envergonhar. – Acrescentou, o reassegurando . Isso tranquilizou o garoto que entendeu a mensagem passada. Ele sorria aliviado por saber que não fora o único que havia tomado a decisão de falhar propositadamente na faculdade. Seu olhar passeou entre a ruiva e Beca, ele sempre achara a amizade das duas poética e agora mais ainda.

- Que bom que todos nos entendemos. Isso é lindo, mas... Benji, você disse que pode nos ajudar a achar a Emily e as Bellas? – Beca olhou para Aubrey que deveria retrabalhar imediatamente o conceito dela de todos. O que foi aquilo!? E porque Benji estava sorrindo para ela daquele jeito!? Ela foi a única que não entendeu absolutamente nada!? Porque até mesmo Aubrey parecia estar um passo a diante dela no assunto.

Por sua vez, a loira estava tentando não soar muito obcecada e paranoica, mas não estava fazendo progresso. Parte de Beca queria rir disso, porque Aubrey estava simplesmente sendo... Aubrey. Porém sua outra parte continuava confusa com o diálogo esquisito entre Chloe e Benji.

"Eles são estranhos, o que mais eu poderia esperar!?"

E com isso varreu a confusão de sua cabeça, deixando para lá. Ela já deveria estar mais do que acostumada com as esquisitices de seus amigos, afinal, ela também era estranha... às vezes.

- Claro que eu posso ajudar! Estou aqui para isso. – Disse, fazendo um gesto sinuoso com os braços apontando para si mesmo e liderando as três no seu caminho. – Vocês não vão acreditar no quanto Barden mudou depois que vocês ganharam o Mundial! – Benji aparentemente também não perderia a oportunidade de ser um guia turístico.

- Sério!? O que nós mudamos? – Chloe ficou visivelmente interessada e isso empolgou Benji ainda mais a continuar. Beca suspirou, seria uma jornada mais longa do que planejara. Daqui a pouco até esqueceria a razão de estar ali para começar. Precisava conversar com Emily e pegar algumas dicas para compor e torcer para que isso fosse o suficiente para acender a inspiração ou algo do gênero.

- Vocês revolucionaram a cappella! – Disse, dramático. Como ator, Benji era um excelente mágico. – Eu nunca vi tantos grupos no campus e tantas pessoas interessadas!

Beca sabia no que isso daria e não demorou para que Benji as mostrassem cada um dos novos grupos a cappella de Barden.

- Nós temos sete agora. Além das Bellas, dos Trebles, dos BU Harmonics e dos High Notes, é claro... - Tomou uma pausa para respirar e depois prosseguiu, apontando para um grupo de garotos e garotas. – ... Aqueles são os Aca Monkeys, eles são muito bons e tem muito estilo.

O grupo parecia de jovens saídos de um filme dos anos 80 ou 90, com jaquetas, óculos escuros e muito gel no cabelo. Eles estavam cantando o que parecia ser “Why You'd Only Call Me When You're High”, sentados no gramado à sombra de uma árvore enquanto alguns dos High Notes que estavam deitados próximos a eles riam sem parar.

- Deixa eu adivinhar... Eles cantam muito Arctic Monkeys. – Beca disse sarcástica, um sorriso descrente no rosto. Benji não pôde negar.

- E eu pensei que você fosse muito alternativa... – Beca revirou os olhos e ignorou o comentário que escapou de Aubrey. Chloe se limitou a rir da interação das duas, elas continuavam no mesmo ritmo de sempre.

- Bem ali, estão os Loose Canons. Eles são bem ecléticos e são realmente incríveis. – Por ecléticos, Benji queria dizer... peculiares. Eles pareciam um grupo bem diverso de pessoas com os estilos mais variados possíveis. Beca pensou que devido a isso eles deveriam ter uma gama vasta de estilos musicais que poderiam cantar. Dariam bons adversários em um Riff Off.

- Eles devem dar trabalho no Riff Off... – Chloe deu voz aos pensamentos da morena que sorriu ao ver que chegaram a mesma conclusão.

- Com certeza. – O garoto concordou e as levou para ver o último grupo que faltava, sua expressão e empolgação caindo quase imediatamente. – E aquelas... São as Wrecking Belles... – Benji não gostava das garotas, ele teve que passar um bom tempo tentando consolar Emily depois do que aconteceu na competição e boa parte disso era culpa delas. – Atuais campeãs das Regionais.

- Outro grupo feminino... Então são elas o inimigo que temos que derrubar. – A raiva emanada de Aubrey poderia matar se possuísse tal capacidade. Percebendo isso, instintivamente os três deram um passo para trás.

- Wrecking Belles... Engraçado que esse nome me lembra... – Beca deixou sua fala ser perdida quando realização a abateu. – Oh, sério!?

- Eu acho que a gente inspirou as pessoas erradas. – Chloe constatou.

- Não! Aquilo não deveria ter sido inspiração pra ninguém! – Uma expressão de confusão e nojo se misturava no rosto da morena. Desde quando Fat Amy virou uma espécie de lenda por causa daquele fatídico evento!? E se agora ela era uma lenda, por quê elas tiveram que passar por tudo aquilo, afinal!?

- Eu não sei o que é mais preocupante: nós termos motivado o inimigo ou elas serem discípulas da Fat Amy. – Aubrey se pronunciou, não tirando os olhos das garotas que estavam fazendo uma performance chamativa demais no meio do campus.

- Se servir de consolo, eu acho que são o mesmo problema. – Beca respondeu, agora também encarando as garotas espalhafatosas. Aubrey apenas a fitou, contrariada. – Nós não podemos tipo, deixar tudo pra lá e esperar que elas repitam o incidente e se derrotem sozinhas?

Quando todos a encararam, ela percebeu que a resposta para sua pergunta definitivamente era “não”.

"Foi o que pensei."