História What are we waiting for - Now United (Concluída) - Eighth - Dinner pt 1

### JOSH

Sexta feira era, sem sombra de dúvidas, um dos dias mais agitados da minha semana. Acordar cedo, academia, escola, treino de dança, estudar e noite da família.

Mas esse era o meu ritmo, o ritmo perfeito. 

Nesse momento, eu estava saindo dum doce banho depois de um treino puxado de braço na academia. Desci as escadas com meu uniforme e a mochila nas costas e encontrei mamãe na cozinha, preparando o café.

“Duas torradas com ricota, tomate e rúcula saindo.” Dona Úrsula disse sorrindo e me entregando um prato com meu café. “E sua vitamina já ta pronta.” Ela indicou meu copo já cheio em cima da mesa.

“É por isso que você é a melhor mãe do mundo.” Eu disse antes de dar uma gigante mordida na minha torrada.

“Bom dia, campeão.” Meu pai disse descendo as escadas com um largo sorriso no rosto. Ele me deu um tapa nas costas e um suave beijo e mamãe. Ah aquilo era lindo de se ver.

Balancei a cabeça sorrindo e peguei minha vitamina, indo em direção a garagem. “Josh, não esqueça que hoje é noite da família.” Mamãe gritou.

“Estarei em casa as 21:30h.” Gritei de volta enquanto entrava no carro.

Cheguei na escola ainda 10 minutos antes de bater o sinal, então resolvi passar na biblioteca e pegar os livros para aula de literatura.

Eu não posso dizer que sou o cara mais dedicado de toda a escola, mas nunca tirei nenhuma nota vermelha graças ao meu objetivo simples e claro: Tisch School. Uma das maiores escolas de artes do país era a da universidade de Nova York e eles tinham um dos melhores cursos de dança do mundo. Então todo o meu treino e esforço era focado em ser aceito lá. Porém, universidades como a de Nova York não aceitam nada menos do que as melhores notas possíveis, por isso eu devia focar também nos meus estudos além de só em treinos.

Na biblioteca, peguei os livros de literatura e sentei em algum canto da escola para tentar engolir aquilo o quanto antes.

“Josh!” Olhei para trás e Noah vinha correndo na minha direção tentando evitar pisar nos belos canteiros de flores que Charlie, o zelador, cuidava como se fossem seus filhos. Na ponta dos pés, ele tentava pular de um tijolo para o outro, tomando o maior cuidado para não pisar em cima de nenhum narciso. “Josh...” Ele parou ao meu lado ofegante. “Você não tem ideia do que aconteceu.”

“Cara, relaxa.” Eu fechei o livro e o larguei em cima da minha mochila. Não tinha progredido nada naquela porcaria e tinha que ler ele até a semana que vem. “O que houve?”

“A Sina...” Ele começou me olhando desesperado. Por alguns segundos fiquei preocupado. Será que aconteceu algo? Será que ela está bem? “Ela me convidou para sair.” Então ele se jogou sentado na sombra da árvore ainda com a expressão de choque no rosto. Sério cara? Todo esse drama por isso?

Balancei a cabeça e dei um sorriso. Ah, Noah, você é um idiota mesmo. “Ela convidou?”

“Quando eu tava chegando agora ela veio até o meu armário e disse que domingo de tarde vai rolar uma exposição de arte de um artista que ela gosta e perguntou se eu quero ir junto.” Ele falava com dificuldade devido a respiração ofegante.

“Desde quando a Sina gosta de exposições de arte?” Eu perguntei fazendo uma careta. Desde que conheço a alemã, ela nunca falou nada sobre gostar desse tipo de coisa.

“Eu não entendi nada do que ela falou. Parece que é uma exposição contemporânea misturada com vanguarda e arte pop.” Ela deu os ombros, dando a entender que não fazia ideia do que aquilo significava, e eu sabia muito menos.

“Me diz que você não surtou quando ela te convidou, por favor.”

“Não.” Ele sorriu orgulhoso. “Consegui até parecer meio desencanado, sabe?”

“É por isso que eu tenho orgulho de você, irmão.” Dei um tapa no seu ombro o parabenizando.

“Mas não garanto que eu não vá surtar no domingo.” O sinal bateu e nós levantamos, indo em direção a nossa aula rindo. Percebi que Noah passou a aula inteira sorrindo para o nada como um bobo apaixonado. Por uns segundos, até senti um pouco de inveja.

-*-

“1, 2, 3.” Contei comigo mesmo enquanto praticava os passos de dança. “4, 5, 6.”

Quando fui fazer um dos passos onde eu deveria dar um salto com a perna esquerda, meu pé escorregou e eu fui para o chão. “Droga.” Xinguei a mim mesmo.

No fundo da sala, escutei meu telefone tocando então levantei e fui até minha mochila. O visor avisava a ligação da minha mãe e imediatamente olhei o horário para ter certeza que não estava atrasado para a noite da família, mas ainda eram 20h.

“Oi, mãe.” Falei quando atendi ao telefone.

“Oi, meu anjo.” Ela falou do outro lado da linha. “To ligando para avisar que temos mudanças de planos.”

Sentei no chão gelado de frente para o espelho e concordei com um “Uhum”.

“Encontrei com a Priscila hoje no supermercado. Você sabia que elas tinham voltado?” Apoiei a mão na testa. Droga, tinha esquecido de contar isso para mamãe.

“Sim, mãe. Eu tenho aula com a Any.”

“Nós vamos lá jantar na casa delas.” Não pude impedir um pequeno sorriso surgir no meu rosto. “Então se você puder voltar mais cedo.”

“Sem problemas.” Falei. “Já to indo pra casa.”

Desliguei o telefone, guardei minhas coisas e andei até o estacionamento, jogando tudo pra dentro do meu carro e voltando em direção a minha casa. Quando cheguei, Jaden já estava arrumado jogando videogame na sala enquanto mamãe embalava uma torta para sobremesa e papai tomava banho. Subi correndo e tomei meu banho, me aprontando o mais rápido que eu podia.

Eu tinha uma pequena intenção de continuar lendo o livro de literatura essa noite, mas com certeza Any era mil vezes mais interessante que ele.

Quem abriu a porta para nós foi Priscila, a mãe de Any, sorrindo de orelha a orelha. “Ron, quanto tempo!” Ela abraçou meu pai. “Como está o consultório?” Para quem não sabe, meu pai tem um consultório odontológico no centro da cidade.

“Tudo ótimo.”

“Jaden, como você cresceu.” Ela disse abraçando meu irmão mais novo. “Continua jogando muito hóquei?” Ela perguntou sorrindo.

“Demais. Eu entrei pro time da escola e sou o novo atacante.” Ele disse orgulhoso.

“Que bom, querido.” Quando ela olhou para mim fez uma cara de surpresa. “Josh?”

Sorri e balancei a cabeça. “Oi Sra Soares.”

“Como você ta lindo...” Ela disse me abraçando. “E gigante! Você já ta mais alto que seu pai.”

Todos concordamos rindo e entramos. Belinha veio nos cumprimentar, sorrindo e falando em um inglês bem difícil de entender. Procurei Any pela sala toda, mas ela não estava lá, então decidi me sentar no sofá e assistir TV com Belinha e Jaden. Mamãe, papai e Priscila conversavam na cozinha enquanto o jantar ainda não ficava pronto.

“A Any ta ai?” Perguntei para Belinha.

“No quarto.” Ela respondeu apontando a escada. Concordei com a cabeça e levantei do sofá, caminhado em direção as escadas.  

Eu conhecia bem a casa delas. Quando eramos mais novos, Any e eu vivíamos juntos, o que significa que eu sempre vinha brincar na casa dela e vice-versa. Eu poderia, de olhos fechado, entrar nessa casa e chegar até o quarto dela sem tropeçar uma única vez. Inclusive me orgulhava disso quando criança, enquanto brincávamos de cabra-cega.

Dei duas batidas na porta de seu quarto e ouvi sua voz lá dentro gritando um “já vou”. Quando abriu a porta, não pude evitar de sorrir ao vê-la. Meu Deus, ela é a coisa mais linda que eu já vi.