Park Sooyoung tinha 13 anos e estava parada em frente ao espelho após receber duas notas baixas em matemática. Tinha passado noites em claro, estudando e quebrando a cabeça com exercício atrás de exercício, reafirmando seu conhecimento com testes e mais testes. Mesmo assim, mesmo dando o seu melhor, havia falhado. Encarava seu reflexo, suas expressões tristes e as olheiras profundas e se perguntava se um dia seria boa em alguma coisa.
Park Sooyoung agora era mais velha, tinha 18 anos, mas continuava parada em frente ao espelho. Desta vez, rímel escorria por seu rosto e o que ainda restava de sua maquiagem não parecia em melhor estado. Havia terminado com seu primeiro namorado e se sentia horrível, completamente sem chão. Pensou que seria boa nisso, que conseguiria, ao menos, manter um relacionamento. Encarava seu reflexo e se perguntava no que seria boa de verdade.
Com 22 anos, Park Sooyoung ainda se encontrava em seu lugar em frente ao espelho. Estava prestes a se formar na faculdade, tinha sido demitida de seu estágio com as piores qualificações. Não conseguia nem mesmo ser boa na profissão que havia escolhido exercer. Encarava seu reflexo e se perguntava se algum dia seria boa o suficiente em alguma coisa.
Era seu aniversário de 30 anos e, ao invés de comemorar, Park Sooyoung encarava seu reflexo no espelho. Havia passado o dia todo correndo de um lado para outro no hospital, após sua filha recém nascida pegar uma virose. Se olhava, com rugas de preocupação acumuladas na testa, e se odiava porque não conseguia sequer ser uma boa mãe. Era uma mulher e imaginava que seus instintos maternos fossem apurados o suficiente para que situações que colocassem em risco a vida de sua filha nunca acontecessem. Nem mesmo todos os livros sobre o assunto que lera durante a gravidez haviam sido o suficiente. Encarava seu reflexo e se perguntava se, algum dia, ainda conseguiria ser boa em algo.
Park Sooyoung tinha 45 anos e lidava com uma filha adolescente. Não estava parada em frente ao espelho, como sempre costumava fazer. Desta vez, encarava sua filha por uma fresta na porta. Havia recebido seu boletim e duas notas vermelhas manchavam o papel, uma em matemática e a outra em química. Sooyoung sabia o quanto sua filha havia se esforçado para evitar que isso acontecesse, quantas horas havia estudado sozinha em seu quarto, tentando tirar notas boas. Se lembrou de si mesma, quando tirava as piores notas em matemática, e se culpou, tendo a certeza de que ela havia herdado sua falta de talento com os números. Encarava a filha, que se encarava pelo espelho, e tentou imaginar que tipo de pensamento passavam por sua cabeça. Se eram iguais aos que tinha, quando fazia o mesmo na adolescência.
Deitada em sua cama, Sooyoung rolou de um lado para outro, sem conseguir dormir. Todas as vezes que fechava os olhos, a imagem de sua filha cabisbaixa em frente ao espelho se repetia e seu coração apertava. Será que sua filha pensava que não era boa o suficiente? Mas Sooyoung enxergava tantas qualidades quando olhava para ela! Era uma ótima maquiadora, tinha um senso de moda que expressava exatamente sua personalidade e arrasava nos patins! Cortava o próprio cabelo e, mesmo que sua mãe insistisse em acompanhá-la onde quer que fosse, era independente e sabia se virar. Sua filha era, sem favoritismo nenhum, a adolescente mais legal que conhecia. Como poderia, então, que aqueles pensamentos dominassem sua mente?
Virou para o outro lado da cama, disposta a esquecer do assunto. Ela e sua filha eram pessoas diferentes. Não havia nenhum porquê para sua preocupação exagerada. Fechou os olhos, mas logo os abriu novamente, perturbada com as lembranças de sua própria adolescência. Do quão solitária se sentia nas madrugadas, principalmente depois de uma nota ruim. Se perguntou se não deveria ir conferir como ela estava, se precisava de colo, e estava pronta para oferecer o que fosse necessário, se não tivesse se lembrado da realidade. Sooyoung não era uma boa mãe. Tentava o seu melhor para criar sua filha, é claro, mas estava sempre falhando. Mesmo que não fosse cruel o suficiente para pensar que mães não erravam, ela sabia que as mães sempre tinham uma explicação na ponta da língua.
Sooyoung se encolheu. O que responderia a sua filha se ela perguntasse sobre coisas que não tinha a resposta? E se fizesse perguntas que também assombravam sua vida? Como responderia a isso? Não saberia disfarçar sua inexperiência, suas dúvidas, não conseguiria consolá-la.
Pensou na solidão que sentia todas as noites que passava em frente ao espelho. Em como desejava respostas que ainda não havia encontrado, mesmo depois de adulta. Como gostaria de ser acolhida e consolada, de ter alguém que segurasse em sua mão e lhe contasse sobre como seria o futuro, como poderia ser o seu futuro. Ao menos isso, ao menos um abraço, sabia que poderia oferecer.
Se levantou e caminhou na ponta dos pés até o quarto de sua filha, não esperando encontrá-la acordada. Mas a encontrou, ainda parada em frente ao espelho como Sooyoung costumava fazer. Os mesmos olhos tristes encarando-se sem piscar. Bateu suavemente na porta e perguntou:
"Posso entrar?" Entendeu a falta de resposta como uma permissão.
Aproximou-se de sua filha e a abraçou por trás e com força. Seu gesto, apesar de pequeno, foi o suficiente para que algo clicasse e o primeiro soluço saísse pelos lábios dela. Sooyoung olhou para o teto, segurando suas próprias lágrimas. Não sabia exatamente qual o motivo pelo qual sua filha chorava, não tinha tido tempo de perguntar sobre os pensamentos que a assombravam, mas, por alguma razão, a entendia. Seu choro, vindo do mais profundo desespero, parecia conversar com os sentimentos que Sooyoung tentava ignorar, aqueles que escondia em seu peito e protegia como se fossem seu maior segredo.
Não conseguiu fazer mais nada além de abraçá-la e apertá-la contra o peito. Deixou que sua filha se acalmasse sozinha, que chorasse o quanto fosse necessário, esperou pacientemente, sem diminuir a força com que a segurava. Em completo silêncio, Sooyoung a levou para a cama e a cobriu, acariciou seu cabelo e beijou sua testa antes de sair, apagando as luzes.
Desceu as escadas e esperou até que estivesse escondida embaixo da mesa da cozinha para começar a chorar. Não sabia porque chorava, as lágrimas apenas caiam por seu rosto e molhavam tudo. Se perguntou se sua filha se sentia sempre assim, como ela. Se cresceria e continuaria a se encarar pelo espelho, perturbada pelos mesmo pensamentos. Envolveu seus braços contra seu tronco e soluçou.
Sooyoung não sabia no que era boa de verdade, não tinha nada a que se apegar. Não sabia como consolar sua filha, não sabia responder a todas as suas perguntas. Não era uma boa mãe, não era uma boa esposa. Apenas não era boa. Queria muito ser boa em algo, desejava e pedia que ao menos não fosse tão ruim. Considerar que sua filha, mesmo tão jovem, pensava o mesmo quebrava seu coração ainda mais.
Se perguntou se aquele não era apenas o destino de todas as mulheres e suspirou. Talvez esse fosse o seu talento: ser como todas as outras.
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