História When It Rains - Capítulo Único

O telefone tocou pela décima vez consecutiva, deitada na cama, Julie não fez nenhum um movimento para levantar e pegar o aparelho na mesa da sala. Ela não queria falar com ninguém, não queria lembrar que existia um mundo além dos limites do seu minúsculo apartamento. Ela já estava ali há horas. Inúmeros pensamentos passaram pela sua cabeça, inclusive aqueles que durante os momentos felizes ela jurou nunca mais pensar. As lágrimas molhavam o travesseiro, mas ela não se importava. Julie empurrou as cobertas devagar e levantou-se, ficou um pouco tonta mas conseguiu se firmar. Seu estômago doía e ela não conseguia se lembrar qual a última vez que tinha comido alguma coisa. Mas isso logo não faria diferença.

O caminho do quarto até o banheiro era curto, apenas sete passos, mas pareceu para ela quase interminável. Chegando ao seu destino, ela se assustou com a imagem que viu no espelho, o rosto que a encarava em nada parecia com a jovem que ela lembrava ser. Sua pele estava pálida pela falta de exposição ao sol. Seus cabelos, outrora lisos, estavam uma bagunça, totalmente embaraçados, seus olhos azuis que lhe rendera vários elogios anteriormente, estavam vermelhos e inchados, rodeados por olheiras profundas. Quando foi que ela tinha se tornado aquele fantasma? Como foi que ela chegou a esse ponto? Ela tinha uma boa vida, uma família amorosa e vivia cercada de amigos. Entretanto ela sempre sentiu vazia, uma estranha no meio de tudo, completamente deslocada. E com o tempo ela parou de ver os amigos e a família, largou os estudos, perdeu o emprego. Foi afundando cada vez mais dentro da tristeza. Aos vinte e três anos, Julie tinha um futuro promissor pela frente, porém a jovem não conseguia enxerga-lo.

A lâmina era fria contra o seu pulso, um pequeno filete de sangue escorreu assim que ela a pressionou contra a pele. Suas mãos tremiam, mas ela não hesitou em continuar, tinha que ser rápida. Fez o corte no outro pulso, menos profundo que o primeiro, seus dedos já não tinham tanta força. Ela podia sentir o calor do seu sangue enquanto ele escorria dos cortes, pingando no chão, formando uma poça ao seu redor. Ela se sentia fraca, sua visão ficou turva, era o fim. Não haveria mais lágrimas depois disso, nem tristeza, o vazio finalmente acabaria. Sua dor se extinguiria assim como ela própria.