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História Whirling Crescendo - Sinful Succulence


Escrita por: ShiVoodoo

Notas do Autor


Como eu estou repostando tudo aqui, resolvi juntar esses dois capítulos "Aura" e "Sinful Succulence" em um só. Deixando avisado para quem seguia no Nyah, não achar estranho.

Capítulo 6 - Sinful Succulence


Fanfic / Fanfiction Whirling Crescendo - Sinful Succulence

Draven sentiu o sol forte no rosto, e tentou se virar na cama,para continuar dormindo. A pesada curtina estava entreaberta, deixando a luz entrar diretamente em seu rosto. Percebeu um peso no seu lado esquerdo, e se viu obrigado a abrir os olhos, relutantemente acordando. Sona ainda estava envolvida em seus braços, deitada com a cabeça apoiada no seu peito, tranquilamente dormindo. Não parecia se importar em nada com os raios de sol que banhavam os dois.

Fechou os olhos novamente, e tentou se lembrar da noite passada. Nada. Alguns fragmentos, mas nada concreto.

Se pegou observando a garota, os longos cabelos azuis estavam soltos e formavam um mar ondulado em volta deles,as pontas douradas brilhando no sol. A luz a emoldurava de uma maneira quase etérea e Draven sentiu um arrepio ao observar as suas curvas delineadas pela luz dourada.

Fez menção de se sentar, mas no menor movimento sentiu uma pontada na cabeça, e se deitou de novo, levando a mão ao rosto. Tudo parecia estar girando,e ele tentou se recuperar.

–Merda...- resmungou, e sentiu Sona se movimentar nos seus braços. Virando lentamente, ela se espreguiçou, e o olhou preguiçosa. Quando Draven abriu os olhos novamente, encontrou os dela bem juntos aos seus,duas orbes azuis com pingos de ouro, o encarando em uma feição assustada.

–Eu sei, eu sei que deve ser incrível acordar ao meu lado de manhã, mas não precisa ficar tão em cima...- A musicista tocou no seu rosto com as duas mãos, ainda o olhando intensamente, quase assustada. - ...Sério, não precisa.

“Draven?”

Ele se virou assustado, procurando a origem do chamado. Esqueceu por um segundo da ressaca, mas no mesmo instante se arrependeu de ter se mexido tão rápido.

–Ai, ai! - Ele segurou a cabeça, e olhou pelo quarto. Ninguém, além deles, se encontrava ali. Será que havia bebido tanto que ainda estava afetado? - Mas que merda...?

“Você consegue.... me ouvir?”

Draven se virou desconfiado para Sona. Ela se encontrava sentada na cama agora, afastada dele. Sorria radiante,os cabelos flutuando ao seu redor embalados por uma brisa inexistente. O puxando pela mão, fez Draven se sentar na sua frente, e ficou quase que pulando de felicidade.

“Sou eu,Sona! Você pode me ouvir, não é?”

–Sim, estou ouvindo,estou ouvindo!Cala essa boca que a sua voz tá piorando minha dor de cabeça.

“Perdão. Mas é que eu não consigo falar com ninguém assim desde.... bem, eu só consegui isso uma vez, e...”

–Para uma muda, você fala demais. - Apoiando-se,Draven tentou se levantar, mas Sona o puxou de volta.

“Desculpe, mesmo. Você ainda está bem zonzo por causa de ontem, não imaginava que fosse tão fraco assim...”

– Eu não sou fraco. Aposto que tinha alguma coisa naquele coquetel.

“Sonífero talvez...Fique aqui, acho que posso lhe ajudar a diminuir a dor.”

Sona se levantou, e foi até Etwahl, que vibrou de leve ao sentir sua aproximação. Com um sorriso, Sona fez um gesto suave e a citara levitou, ao seu encontro. Sentou-se na beirada da cama, e delicadamente começou a tocar as cordas do instrumento.

No mesmo momento, o quarto estava repleto da melodia calmante e curativa de Sona. Draven sentiu-se envolvido por uma leve brisa, e num instante estava sentindo-se melhor do que nunca.

-Isso foi... refrescante- Ele passou as mãos nos cabelos, os jogando para trás. - Me lembre de sempre acordar no seu lado quando estiver de ressaca.

A musa parou de tocar abruptamente, corando o rosto de leve. Virou-se, mas Draven não deixou de notar, e sorriu.

“Bem...você não está assustado...? Estou falando dentro da sua cabeça agora....”

–Assustado? Nah. Estou me perguntando por que você não fez isso desde o começo. Sua letra é horrível, sabe.

“ Eu não sabia que conseguiria. Como disse, eu só fiz isso uma vez, e foi com uma raposa.”

–Você fala com raposas, algumas coisas estão começando a se explicar.

Sona o ignorou, e continuou:

“Hoje de manhã, quando acordei... eu pude ver sua aura de um jeito diferente. Acho que por estar esgotada ontem a noite, não pude ver direito...”

–Então você precisar transar com o cara para conseguir conversar? -Draven disse, ignorando metade das palavras que ela entoava em sua mente.

Sona corou ainda mais, e olhou brava pra ele. E parecia estar falando sério, que absurdo. Cruzou os braços e respondeu:

“É claro que não. Até porque se fosse assim, não estaríamos conversando agora.”

Erguendo a sobrancelha, Draven perguntou, intrigado:

–Do que você está falando?

“Me diga,o que você se lembra de ontem à noite?”

Parando um instante, ele tentou relembrar. Sem a dor de cabeça latejante, era mais fácil. Se lembrava de ter bebido com ela no bar...

–E viemos para o quarto.

“E então...?” - Sona admitia que estava se divertindo um pouco,imaginando a reação dele quando soubesse. Tinha um meio sorriso e olhava curiosa para ele,esperando a resposta.

–Então...-Já sem muita paciência aproximou-se, e a trouxe para perto de si.

Draven segurou seu rosto próximo ao dela,mas sem beijá-la. Sona percebeu que estava com a respiração descompassada e fechou rapidamente a boca, tentando se recuperar. Estavam tão próximos que ela demorou uns instantes para conseguir se compenetrar e continuar perguntando.

“E depois...”

–Por que você não me mostra,hm?- Segurando o queixo da Sona, impedia que ela desviasse o olhar. Se sentia irritada com aquele ar arrogante dele, e queria tirar o sorriso convencido estampado no seu rosto.

Mas por que sentia seu corpo tão vulnerável assim, perto dele? Aparentemente não havia sido o álcool que a afetara ontem a noite.Ela não gostava muito de admitir, mas estava absurdamente atraída por aquele homem.

Tentou desviar o olhar e se desprender, mas ele a puxou e a segurou forte. Sentia o rosto tão quente que estava espantada no fato das mãos de Draven não estarem queimadas ao tocá-la.

Pelo menos na noite anterior as coisas pareciam mais fáceis depois de várias bebidas. No escuro ela não havia notado como eram claros os olhos verdes que a encaravam agora. Eram gelados, e com um brilho sádico no olhar.

“Draven...por favor me solte.”– Ela olhou para baixo,tentando fugir dos olhos penetrantes, e encontrou o peito semi-exposto pela camiseta desabotoada até a metade. Via a tatuagem seguindo pelo torax definido, e teve que cerrar as mãos para não perder o controle e tocá-lo. Droga, isso não está ajudando.

–Não solto, até você me mostrar.

Ela respirou fundo.

“Não tem o que mostrar, eu já disse. Você dormiu ontem, não aconteceu nada entre nós. Poof, caiu morto.”

Sona não sabia exatamente qual reação estava esperando, mas com certeza não era a que recebeu. Talvez achou que ele ficaria incrédulo e estupefato ,assim como na noite anterior, quando ela disse que não o conhecia.

Mas em vez disso, ele continuou sorrindo, e com um olhar intrigado disse:

– Mesmo? Isso explica por que eu realmente não me lembro de nada. -Passou a mão por uma mecha do cabelo de Sona, e acariciou o seu rosto. - Mas admita que foi você que colocou algo na minha bebida,é a única explicação para isso ter acontecido. Não tem problema, eu te perdoo.

Ela suspirou. Olha a arrogância e prepotência de novo. Ela mal podia acreditar no que ouvia, e o encarou brava.

“Se fosse assim, meu plano teria dado incrivelmente errado porque foi bem frustrante você dormir justo na melhor parte. Agora, me solta.”

Ele não a soltou, pelo contrario, a trouxe para mais perto. Seu sorriso havia sumido, e Sona percebeu que ele falava entre os dentes serrados, quando disse perto de seu ouvido:

–Frustrada? Podemos resolver isso. Que tal continuarmos de onde paramos ontem?

Sona riu.

“Para que? Para me desapontar de novo?Você também estava prometendo muito ontem--”

Interrompeu o pensamento, ao sentir as costas no colchão duro. Draven a empurrou com força, e se pôs diante dela, prendendo seus braços acima da cabeça. Beijou de leve o pescoço, subindo e mordendo a orelha dela.

Sona suspirou ao sentir a barba por fazer roçando no seu pescoço. Sentia seu corpo reagindo, e isso não era bom. Havia chegado a conclusão de que não seria absolutamente nada prudente se envolver com este homem. Na noite anterior estava tão abalada e afetada pela bebida que até era compreensível, mas agora totalmente sóbria, percebia que havia cometido um erro ao se aproximar dele.

Qualquer pessoa com o mínimo de bom senso saberia que não seria bom, para alguém na sua situação, ter um caso justo com o carrasco de Noxus. Mas cada vez mais era difícil de se convencer disso, com uma das mãos de Draven lhe percorrendo o corpo e lhe acariciando. A outra mão ainda a segurava, e com um puxão ela tentou se soltar, sem sucesso.

Sona arfou e contorceu-se um pouco ao sentir o toque dele sobre seu seio, apertando com relativa força.

Ele sorriu ao ver a reação dela, e a olhou com um sorriso malicioso.

–Ia dizendo...?

A musicista o amaldiçoou. Sentia as pernas bambas, e uma urgência em tocar no corpo sobre ela, que ela mal conseguia controlar. Seus braços começavam a ficar dormentes, e ela tentou se libertar novamente.

“Me solte... meus braços estão doendo. Por favor.”

Após uma rápida olhadela desconfiada, Draven soltou as mãos de Sona. Ela as baixou, mexendo um pouco os pulsos para se recuperar.

Para a surpresa de Draven, agora com as mãos livres ela o puxou para um beijo, um pouco timido mais ainda assim um beijo. Ele não demorou em respondê-la , com a língua abrindo espaço para um beijo mais intenso. Ela ofegou, o apertando forte junto a si,deslizando as mãos por suas costas largas.

Houve uma batida na porta. Sona congelou, parando de retribuir as caricias. Era como se nada tivesse acontecido para Draven, que agora seguida caminho beijando do pescoço até a altura da clavícula, e sem muita delicadeza abaixando as alças finas do vestido de Sona.

“Draven, tem alguém batendo na porta...”

–Deixa baterem.

Ela fez uma careta. Seria isso o universo provando que era realmente uma péssima ideia se entregar para esse esquisito? Antes que Draven notasse, ela se esgueirou para fora da cama, escorregadia quando ele tentou puxá-la de volta. Já estava de pé arrumando novamente o vestido quando ele se jogou na cama, com a cara no travesseiro, resmungando.

–Mas que merda hein, e depois fala de mim. Foda-se.

Ela puxou as alças de volta, e notou que ele havia rasgado uma delas. Ótimo. Quando alcançou a porta, já estavam batendo pela terceira vez.

Ela abriu apenas uma fresta da porta, bocejando e esfregando os olhos como se tivesse acordado naquele momento. Encontrou o Sr. Wolstenholme parado no corredor, com um pacote na mão.

–Sinto acordá-la, Senhorita Buvelle. Sei que deve ter sido uma noite dificil. - Sona respondeu com um aceno leve de mão, deixando isso para lá. Saiu apressada para o corredor, e fechou a porta rapidamente atrás de si. - Esse pacote chegou hoje de manhã cedo para a senhorita. Provavelmente que de algum admirador.

Ela pegou o embrulho. Era grande,e mais leve do que pensava. Agradeceu com um sorriso,e puxou novamente o vestido que estava caindo.

–Sinta-se a vontade para andar pelo teatro se assim desejar. O Alto Comando ainda está por aqui, mas acredito que não irão lhe incomodar. Procure-me em meu escritório se precisar de algo.

Acenando novamente, ela observou o homem grisalho se afastar.

Analisou o pacote. Ela recebia presentes de admiradores toda hora. Muitas vezes quando chegava em seu camarim após um espetáculo, era bajulada com flores, joias e declarações. Mas essa era uma situação diferente.

Seu espetáculo fora uma tragédia, para não dizer pior. Nem fizera o gran finale, coisa que a tocou muitíssimo. Não esperava mesmo nenhuma demonstração de admiração naquela situação.

Voltou para o quarto, abrindo o pacote. Achou Draven sentado na cama, calçando os sapatos e abotoando a camisa. Ao vê-lo sentiu uma mescla de sensações que deixaram seu estomago bagunçado. Como ela queria se jogar nos braços dele e simplesmente esquecer da vida. Mas ao mesmo tempo se sentia aliviada por ter conseguido escapar de mais um erro desastroso.

Quem sabe tudo tenha sido para o melhor de ambos.

Abrindo o papel fino que envolvia o presente, foi revelado uma grande caixa de chocolate, com bombons e doces de todos os tamanhos e formatos. Os olhos de Sona brilharam, e Draven olhou disfarçadamente para a caixa, para não mostrar que estava curioso.

–Espero que tenha algo muito bom aí dentro, para justificar você trocar o Draven por isso. - ele resmungou, enquanto se levantava e ia em direção ao espelho.

Sona rolou os olhos. Nunca que dormiria com um cara desses, foi bom que ela conseguiu se livrar dessa situação. Sentou-se no sofá, e abriu a caixa, mordiscando um grande bombom com cobertura branca.

“Draven, infelizmente não vou poder te dar nenhum desses bombons, eles são de licor”– ela colocou o restante do doce na boca, se deliciando com o sabor. - “Não queremos nenhum acidente por aí, vai que você dorme no meio da rua?”

Ele terminou de arrumar o cabelo, e repetindo baixinho “Vai que você dorme no meio da rua.” imitando a voz de Sona.

Ela riu, pegou todo o papel que envolvia a caixa e o amassou. Ao fazer isso, sentiu um volume entre o papel, e o abriu para procurar o que era. Embaixo da caixa havia outro pacotinho, esse com um bilhete preso.

“'Espero que me perdoe'. É o que está escrito.”-Abrindo o embrulho, encontrou um pequeno colar com um pingente em formato de gota, com uma tonalidade roxa. Um delicado cordão de ouro estava preso a ele.

–O que é?- Draven deixou a curiosidade vir à tona, e sentou-se ao lado dela no sofá.

“Um colar”– ela o estendeu para que pudesse ver. - “É lindo. Parece ser uma ametista.”

Ele deu de ombros, não entendia nada disso. Pegou 3 bombons pequenos e comeu todos de uma vez.

“Hey, esses bombons vão ser meu almoço, não coma tudo!”

Sorrindo maléficamente, ele pegou mais 2, jogando-os pra cima e os amparando com a boca.

“Isso não tem graça!” - O cabelo de Sona se movimentava mais agitadamente agora, e puxou a caixa para longe.

–Que droga de almoço que você vai ter hein?

“O que posso fazer, não conheço nada aqui em Noxus, e não quero me arriscar a sair sozinha.”

Draven suspirou, encarando o teto do quarto. Durante um momento ficaram os dois assim, em silêncio. Sona tentava prender o pingente no pescoço, e Draven parecia extremamente interessado no lustre.

Quando ela finalmente prendera o colar, e olhava feliz para a pequena pedra no pescoço, Draven disse:

–Hoje eu farei uma execução.

Sona sentiu um calafrio. Mais pessoas seriam mortas. Por um momento se esquecera com quem estava lidando. Olhou cabisbaixa para as mãos.

Pelo menos essas mortes ela não precisaria ver.

–Eu quero que você venha me assistir.

Ela levantou o rosto, encontrando o dele. A observava sério, até que o olhar desceu até o colar. Ele pareceu se irritar, e desviou o olhar.

Não respondeu. Percebera que não fora uma pergunta. Bem, se ele queria, que ficasse querendo. Estava pensando no que lhe dizer, quando ele continuou:

–Na verdade, Darius deve estar feito louco me procurando agora. – Isso pareceu lhe divertir. - A execução vai ser ao pôr-do-sol, na Arena. Não deve ser difícil de encontrar,é só--

“Eu não posso ir sozinha.”- Ela o interrompeu. “Nunca que acharia.”

Ele se levantou bruscamente, e fez um movimento com a mão para ela fazer o mesmo.

–Vai se arrumar então. Eu te levo.

Ela ficou olhando incrédula para ele, sem saber o que fazer.

“Eu achei que você havia ficado bravo comigo. Por ter ido atender a porta...”

Draven respondeu com um muxoxo.

–Um pouco, mas acho que posso dizer que fiquei foi frustrado. Mas, maldita seja mulher, se fosse qualquer outra, já teria te largado há muito tempo, e parado de perder meu tempo com você.

“Ah, muito obrigada por dizer que sou uma perda de tempo.”

–Não está prestando atenção. Você aparentemente não é perda de tempo.

Ela o analisou. Sabia que ia contra tudo o que ela havia decidido de não se relacionar com ele. E sabia que estava fazendo muita besteira. Mas assim como ele tinha a impressão de que ela “não era uma perda de tempo”, ela tinha a sensação de que poderia confiar nele. Sua aura por mais violenta e insana que fosse...não a assustava.

Levantando-se, largou a caixa no sofá, e disse:

“Me dê 5 minutos então.”

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

As ruas de Noxus eram imundas e precárias, mesmo estando numa zona não tão pobre da cidade. O calor e o mormaço do verão só pioravam a experiência de caminhar entre as ruelas esquecidas, coisa que Sona já não fazia de bom grado. Se Draven não se encontrasse junto dela, com certeza não teria pisado para a rua por vontade própria.

Estava agradecida por ter vestido uma roupa leve. Usava uma longa saia azul celeste, que ficava gradualmente transparente na barra, e uma blusa branca simples tomara-que-caia. O vento morno esvoaçava o tecido leve, e mesmo que ela não estivesse flutuando, lhe dava a impressão de deslizar pelos paralelepípedos. O calor estava realmente insuportável, e ela tentava o máximo manter o bom humor.

Prendera o indomável cabelo num coque apertado, esperando não chamar muita atenção. Agora ficara feliz em não ter a cascata de fios lhe causando mais calor.

“Então... o que você estava falando com aqueles homens?” Sona tentou puxar assunto. Estavam a alguns minutos andando pelo o que lhe parecia ser um labirinto de becos e ruas, sem trocarem uma palavra. O que é estranho, porque Draven não fica 5 minutos sem se gabar de como é ser Draven.

–Hã?- Ele diminuiu o passo, olhando para trás na direção da musicista. Carregava o estranho machado apoiado nas costas, e Sona percebeu que era algo natural para ele. - Com quem?

“Quando saímos da casa de ópera... eu vi que conversava com aqueles...soldados? Não pense que não notei que parou de falar com eles assim que me viu.”

Draven a avaliou dos pés a cabeça.

–Não é assunto da sua conta. - Voltou a andar no ritmo anterior, Sona diria que até mais rápido.

“Eu sei do que vocês estavam falando,é meio óbvio. O que infernos aconteceu ontem a noite? Você não acha que eu tenho direito de saber de alguma coisa?”

–Você, como uma Demaciana, não teria direito nem de permanecer viva aqui. Agradeça que estou sendo bonzinho com você, e não force a barra. Não vou falar nada.

“Não é justo...” Sona bufou, cruzando os braços.

–Sabe o que não é justo? - ele parou de andar, apoiando-se num muro próximo, na sombra de um grande casebre com aparência abandonada. - Se, e apenas se, tudo sair como você planeja na sua cabeça de contos de fadas, você volta para casa, feliz. De volta para Demacia, você pode ser uma ótima fonte de informações. O que você poderia ter visto e ouvido por aqui, não é? E digamos que você realmente não seja uma espiã Demaciana, e não pretenda falar nada para ninguém... Me diga, como você reagiria, quando Garen colocasse uma lâmina no seu pescoço, e a obrigasse a falar tudo o que sabe?

Sona o encarou, engolindo em seco. Silêncio reinou durante alguns segundos, até que finalmente Draven ouviu a voz suave ressonando em sua mente:

“Garen não faria isso. As coisas não são assim em Demacia.”

–Que bom querida, mas é assim que as coisas são aqui em Noxus. Te recomendo cuidar bem o que ouve e vê, senão quem vai estar com a lâmina no seu pescoço vai ser o Swain. Ou melhor, a putinha dele, Darius.

Virando as costas, ele continuou a caminhar. Cabisbaixa, Sona demorou alguns instantes para continuar seguindo-o, pensando no que ele disse. Sempre tentava pensar positivo sobre as coisas, mas ele não estava ajudando. Quando levantou o rosto, avistou a sua direita uma confeitaria, com alguns doces muito convidativos na vitrine.

Desviou automaticamente do caminho, e ficou babando por todos aqueles bolos, tortas, pudins e pãezinhos doces. Sentiu a barriga roncar. Ela ainda não havia almoçado, e já passava do meio dia.

Demorou alguns instantes até Draven notar o sumiço dela, voltar e a encontrar salivando na frente das guloseimas.

–O que está fazendo aí? Você está... babando? - Ele a encarou com a sobrancelha erguida.

Ela limpou o canto da boca rapidamente, e o olhou com olhos pidões.

“Eu não almocei ainda...”

–E nem eu. -Ele avaliou o interior da confeitaria, que era escura e mal se conseguia ver alguma coisa. Dando alguns passos para trás, olhou para cima, procurando a fachada. “Sinful Succulence ” se encontrava escrito na madeira antiga e gasta.

–Certeza de que você quer realmente algo daqui?

A garota assentiu positivamente, com os olhos brilhando.

Draven suspirou.

–Ok,então.- Abriu a porta com força, sendo seguido por Sona logo atrás. Ela ouviu um sininho tocar em algum lugar na pequena loja. Demorou alguns segundos para se acostumar com a fraca iluminação do ambiente, e sentiu um cheiro agridoce logo que entrou.

–Só um momento! - Uma voz feminina foi ouvida de uma porta a esquerda, de trás do balcão.

Sona se abaixou, observando alguns dos doces expostos no balcão. Sentiu salivar especificamente para uma torta de limão, com uma decoração um pouco suspeita,com pequenos pedaços de biscoitos arroxeados. Ouviu um xingamento vindo da cozinha, e se levantou, a tempo de ver a dona da voz surgir pela porta, irritada e retirando furiosa as luvas térmicas que usava. Fumaça e cheiro de queimado invadiram a sala, fazendo Sona franzir o nariz.

A aparência da confeiteira a assustou um pouco a principio. Seus longos cabelos roxos, adornado no topo da cabeça com um grande chapéu de chef, emolduravam o rosto irritadiço da mulher. Usava um avental branco, e pelo que Sona conseguiu ver, a parte de baixo era composta por uma longa saia azul. Mas o que mais lhe espantou não foram as orelhas compridas e pontudas,ou os olhos brilhantes e ardentes; mas sim as asas negras enormes que pendiam de suas costas, se mexendo desconfortavelmente no pequeno espaço.

–Ah.... é você. - Seu humor conseguiu piorar ainda mais, ao ver que Draven estava do outro lado,apoiado com o cotovelo no balcão e sorrindo para ela.

–E aí, Morgana? Vejo que está radiante, como sempre.

–Meu dia estava indo muito bem até ver esse seu sorriso cretino, Draven. - respondeu entre os dentes,o encarando mortalmente. - Seu irmão ainda não me pagou todo aquele chocolate, me deu um prejuízo absurdo.

–Isso é problema de vocês dois, não tenho nada haver com isso. - voltou-se para Sona, que observava ainda as gloriosas asas de Morgana. Notara que em vários pontos as penas estavam falhas e desgastadas, e ficou imaginando quem seria essa mulher. - Escolhe logo o que você quer e vamos embora.

Morgana virou a cabeça na mesma direção, e percebeu pela primeira vez que a garota estava ali. A avaliou por um instante, e disse com malícia:

–Ora Draven, mais uma? E trouxe ela justamente aqui, me sinto lisonjeada.

Sona sentiu o veneno nas palavras da confeiteira, e corou levemente. Mas em seguida sentiu um pouco de raiva: ela não era “mais uma” coisíssima nenhuma! Olhou indignada para o homem ao seu lado, esperando alguma resposta.

–Essa sua espelunca seria o último lugar que eu traria alguém, e sinta-se mais grata porque foi ela que insistiu para entrar nesse lixo. - Draven respondeu com tanto veneno quanto Morgana, que olhou desconfiada para Sona.

–Hm... então, o que vai ser?

Ainda brava, Sona apontou para a torta de limão que a estava seduzindo minutos atrás. E também para alguns bolinhos, pãezinhos salgados e doces.

–Tudo isso?- ao se virar para a garota, Draven viu que ela o olhava brava. - Espera, você tá brava comigo?Por que, eu to pagando tudo isso que você pediu, não seja ingrata você também!

Sem responder, Sona saiu a passos largos da confeitaria, e o esperou no lado de fora. Se sentia bem infantil e tola, se irritando com algo tão bobo. O calor na rua estava pior do que se lembrava, então ficou escorada na sombra, tentando abstrair.

Ficara tão afetada ao ouvir alguém dizendo em voz alta,o que ela já sabia: Ela era apenas mais uma diversão de Draven,um cara qualquer que nem ela conhecia direito. Isso era mais do que óbvio, mas o fato de que ficou abalada com isso, a preocupava.

Isso estava indo longe demais. Estava tão desamparada naquele lugar, que estava criando laços com um estranho egomaníaco, com um gosto estranho para bigodes. Se bem que ela estava começando a gostar do bigode...

–Toma. - Ela foi puxada de volta para a realidade, quando sentiu o saco de papel pardo que Draven jogou em sua direção. Ela a segurou com cuidado, esperando que a torta ainda estivesse intacta. - Essa cara emburrada pra que, não gosta de doces? Se é isso, por que você pediu...

“Eu gosto de doces.”–Olhou dentro do pacote, e encontrou tudo inteiro, por um milagre. - “Obrigada.”

Depois de um momento de silêncio, ele finalmente respondeu:

–Hm..certo. - Ele voltou a andar,sem perguntar mais nada.

“Eu nem sequer perguntei se você tinha como pagar, realmente não tenho nada comigo... Quem cuidava de tudo isso era a Tirzah, e ela levou tudo...”

Sentiu o estômago embrulhar, e de repente o bolinho de menta em sua mão já não era mais tão apetitoso. Tentava esquecer o fato de que fora literalmente abandonada e roubada na mesma noite, mas estava sendo difícil. Apesar de tudo, ele a estava ajudando a se distrair ao menos.

–Não pense que essa é a minha função aqui.

Sona deu um salto ao ouvi-lo. Será que ela havia, de alguma maneira, pensado aquilo alto demais, e transmitido para ele? Isso ainda era difícil para ela, mas sempre que se comunicava era preciso de muita concentração.

“Perdão...o que?”

–Ficar pagando todos os seus caprichos. Pelo menos, não sem nada em troca.

Ela suspirou aliviada.

“Sim, perdão...estou ciente disso, não vou me--Espere, como assim 'sem nada em troca' , está achando que eu sou mais uma qualquer que você pega na rua...!”

Com força, bateu com a bolsa no braço de Draven, mas ele pareceu não se importar. Ao contrário, gargalhou e se virou para ela, dizendo:

–Então você realmente ficou bolada com a Morgana te chamando de “mais uma” ? Sona, achei que era mais segura de si...

“Mas... é claro que sou segura de mim! Sou Sona Buvelle, Mestra das Cordas, maior prodígio musical de Demacia no ultimo século, aplaudida e idolatrada por milhares!Eu posso ser tudo, Draven ... Mas não sou apenas mais uma. Nem para você, nem para ninguém.”

Sona percebeu que esmagara o restante do bolo na mão, e lamentou pelo desperdício, estava delicioso. Mas antes mesmo de conseguir completar o pensamento, sentiu seu rosto sendo puxado, e os lábios de Draven nos seus. Respondeu o beijo, Draven sentiu o hálito de menta da garota, e sorriu, a enlaçando num abraço apertado.

–Estou começando a entender isso, senhorita Sona Buvelle.- ela ainda estava surpresa, e não respondeu nada. Apenas correspondeu o abraço, fechando os olhos e ouviu com atenção suas palavras, que tinham um toque de sarcasmo na voz – Faça valer a pena, e não seja apenas mais uma , ok?


Notas Finais


Fanart da capa desse capitulo foi uma collab entre eu e a Anna Antunes.
Ela fez a arte, e eu colori!


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