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História Wicked Souls - A vocação do sacrifício


Escrita por: Chrissy_RDC03

Notas do Autor


oi oi oi

❗Aviso: esse capítulo pode conter gatilhos sobre abuso sexual a partir do "[...]". Eu tentei tratar do assunto com a maior delicadeza possível, mas mesmo assim ficou detalhado.❗

Com a maracugina em mãos, vamos ao capítulo! Espero que gostem :)

Boa leitura!

Capítulo 17 - A vocação do sacrifício


Fanfic / Fanfiction Wicked Souls - A vocação do sacrifício

“Este é o meu consolo no meu sofrimento: a tua promessa dá-me vida.”

(Salmos 119:50)

*Evangeline*

Entrei embaixo do chuveiro e a água quente caiu sobre a minha cabeça, molhando os meus cabelos, que a esse ponto, alcançavam o fim das minhas costelas. Eu havia percebido que era a única que tinha o cabelo tão longo assim, mas era como todas as mulheres da Ordem deveriam ser. Talvez eu devesse pedir a ajuda de Karen para mudar um pouco, não apenas para que eu pudesse sentir que estava me encaixando, mas também porque, se eu pudesse deixar o mínimo que conseguisse para me desfazer do meu passado, eu o faria. Outras características estavam marcadas em minha pele, impossíveis de serem lavadas, cortadas ou escondidas, e outras estavam incrustadas em minha própria personalidade. Eu não estaria sendo vaidosa apenas por querer mudar a minha aparência um pouco, estaria?

Depois que terminei, me sequei rapidamente com a toalha e a envolvi ao redor do meu corpo. O espelho estava um pouco embaçado pelo vapor, mas ainda era possível ver o meu próprio reflexo. Eu me sentia curiosa, devo admitir. Eu ainda não havia me observado por mais que alguns segundos, sempre fugindo da minha própria imagem, com medo do que encontraria e acostumada demais a não saber como eu sou. Eu desviei os olhos rapidamente e abri a porta do banheiro com pressa, parando imediatamente ao me deparar com Zayn. Agarrei a toalha com força em meu corpo, assustada, por mais que soubesse que aquele era o quarto dele e não havia muito o que eu pudesse fazer para evitá-lo naquele ambiente. Ele estava sentado em sua cama, com os cotovelos apoiados nos joelhos, e ergueu a cabeça para me encarar. Seus lábios se entreabriram à medida em que seus olhos pareceram vaguear pela minha pele, passeando tranquilamente pelas minhas pernas. Usei uma das minhas mãos para puxar a toalha mais para baixo, até os joelhos, escondendo as minhas coxas e sentindo uma onda de calor se apoderando de mim.

— O que está fazendo aqui? — Eu perguntei, trêmula.

— É o meu quarto. — Ele respondeu, sério, tendo muita dificuldade de desviar os olhos do meu corpo. Eu me perguntei se ele poderia estar procurando por algo, talvez pelos defeitos que não via em Lori. Ou — eu engoli em seco ao pensar, poderia estar querendo algo. Seu olhar não era muito diferente da luxúria em que eu via nos olhos de Jacob quando ele procurava ficar sozinho comigo. De repente, ele ficou em pé na minha frente, o que deixava a situação ainda mais intimidante por ele ser maior que eu em todos os sentidos. Dei três passos para trás, quase tocando a bancada da pia do banheiro quando ele andou para frente e se apoiou com as duas mãos no batente da porta. — Você ainda não olha para o próprio reflexo.

— Não. — Eu neguei com a cabeça de forma sútil, agarrando a toalha com tanta força que meus dedos estavam começando a doer.

— Quer mudar isso? — Um leve movimento de uma das sobrancelhas me deixou hipnotizada. Céus, parecia que ele tinha uma espécie de encanto sobre mim sendo tão bonito daquele jeito. Eu mal podia responder por mim mesma e travei. Ele se aproximou ainda mais, sem deixar de me olhar, e então plantou as duas mãos em minha cintura, e mesmo por cima da toalha, seu toque era tão quente que parecia me queimar. — Podemos tentar. Você confia em mim?

Quando eu fiquei em silêncio, lutando em uma batalha interna, ele ergueu uma das mãos e tocou o meu queixo, me olhando com os olhos castanhos que pareciam suplicar por algo em silêncio. Por aproximação, por toque, por contato. Por permissão. Com a mão pousada em minha bochecha e em meu pescoço, seu dedo polegar escovou o meu lábio inferior com delicadeza enquanto ele claramente encarava a minha boca com desespero. Ele estava tão perto; seu perfume me deixava zonza e de repente aquele banheiro cheio de vapor parecia ainda mais quente. Eu tive a impressão que ele inibiu todos os meus sentidos, ao mesmo tempo em que eu podia sentir tudo em uma intensidade dez vezes maior. Como se eu estivesse dormente, mas isso me deixava ainda mais sensível.

— Eu ainda estou chateada com você. — Eu me surpreendi quando disse aquelas palavras sussurradas, já com a cabeça inclinada para trás e os olhos quase fechados.

— Então me deixa concertar. — Zayn segurou o meu rosto com as duas mãos e mordeu o meu queixo antes de o beijar e fazer uma trilha de beijos que desceram até o meu pescoço. — Vai ter que confiar em mim.

Antes que eu sequer pudesse processar as suas palavras, ele agarrou a minha cintura e me fez virar de frente para o espelho embaçado atrás da pia, com as minhas costas grudadas em seu peito. Eu ofeguei e engoli em seco, nervosa, por mais que não pudesse enxergar nada mais que as nossas silhuetas mal desenhadas. Ele se inclinou para a frente e usou a manga da jaqueta para limpar o vapor do espelho na minha frente. Eu só assisti, quieta e um pouco assustada.

Um rosto espantado me encarou de volta. Enormes olhos azuis em um rosto pálido, apesar da coloração vermelha em minhas bochechas, em meu pescoço e em meu colo por conta do calor, e, talvez, por causa de Zayn também. Lábios mais cheios do que eu achava que eram, bem desenhados, vermelhos demais. Sobrancelhas escuras, grossas e arqueadas. Cabelos longos, ondulados e molhados. Um corpo esguio, com ombros esbeltos e a tatuagem de narcisos em minha clavícula. Meus olhos arderam quando eu percebi o quanto eu era parecida com Genevieve, muito mais do que eu esperava, mesmo que ela costumasse ter os cabelos mais claros que os meus. Era como vê-la novamente, em pé na minha frente, me encarando. Um alarme soou em minha cabeça e foi difícil não desviar os olhos da imagem com pressa, apavorada. Sentia o meu coração esmurrando o meu peito enquanto a adrenalina do proibido corria pelas minhas veias. A imagem de Zayn atrás de mim, com as mãos sobre a minha barriga, me mantendo sempre colada a ele parecia ser o mais próximo de pecado que eu poderia chegar. Ele era cerca de dez centímetros mais alto que eu, e por isso estava um pouco debruçado sobre mim.

— Gosta do que vê? — Zayn murmurou, com o rosto colado ao meu enquanto também encarava o meu reflexo. Por um momento, eu tive certeza que esqueci como falar, principalmente quando ele ergueu um dos cantos dos lábios, formando um sorriso lascivo, encarando diretamente os meus olhos. — Porque eu gosto pra caralho.

Eu estremeci. O moreno colocou o meu cabelo para trás para ter acesso ao meu pescoço, fungando a região sem pressa alguma, com os olhos fechados. Tirei os meus olhos dele por alguns segundos, reunindo toda a minha coragem. Eu não podia vencer contra a minha própria curiosidade, e sempre foi assim. Toquei as minhas bochechas, estudando o reflexo da garota que parecia tão estranha e familiar para mim ao mesmo tempo. Deslizo o dedo sobre o nariz, traço a forma do queixo e toco os meus lábios, perplexa.

— Tão linda... — Ele murmura em um tom grave, me envolvendo com ainda mais força em seus braços. Gostaria de poder tirar uma foto para que pudesse ver aquela cena outras vezes. Eu gostei da imagem de nós dois juntos e foi isso que eu não consegui evitar um sorriso, tímida. Eu estava vermelha, iluminada, com um ar saudável que eu sinceramente não esperava encontrar em mim mesma. Deveria ser porque eu havia engordado alguns quilos por comer melhor aqui no clube. Zayn sorriu ainda mais, parecendo estar se divertindo. — Acredita em mim agora?

Eu não respondi, mas pela troca de olhares que aconteceu logo em seguida, mesmo que fosse pelo reflexo, ambos soubemos que não precisávamos de palavras. Sem deixar de me olhar e muito vagarosamente, suas mãos fizeram menção de tirar a toalha do meu corpo. Eu arregalei os meus olhos, segurando a mesma com o dobro da força agora, trêmula só de pensar na possibilidade de ele ver o meu corpo. Ou pior — eu pensei. Talvez eu ficasse mortificada quando eu visse o meu corpo. Eu não saberia dizer o que seria mais horrível.

— Eu não vou fazer nada que você não queira. É só me falar e eu paro.

Eu assenti, pensativa. Aquelas palavras eram muito mais do que havia sido garantido a mim durante toda a minha vida, de qualquer jeito. Me restava, então, acreditar nele. Com as mãos trêmulas, eu soltei o aperto da toalha gradativamente, nervosa. Seguindo os meus passos e sempre no mesmo ritmo que eu, não dando passos grandes demais, Zayn me ajudou. Eu mantive a minha cabeça baixa à princípio, receosa e morrendo de medo do que encontraria, o que fez o moreno tocar o meu pescoço, erguendo o meu queixo para cima, mas eu ainda mantive os meus olhos fechados. A minha cabeça pousou na curva confortável em seu ombro quando eu senti a toalha cair no chão. Senti o seu diafragma contraindo e expandindo contra as minhas costas mais rapidamente, e ouvi quando ele ofegou contra a pele nua do meu pescoço.

— Abra os seus olhos, babe. — A voz pareceu ainda mais grave aos meus ouvidos, já que a sua boca estava tão perto do meu ouvido direito.

No entanto, eu só abri os meus olhos de fato quando as suas mãos tocaram a minha cintura, fazendo os meus poros se arrepiarem instantaneamente. Pele com pele. Sem nada para impedir. De um ângulo totalmente diferente e novo, eu encarei o meu corpo. O espelho era mais largo que comprido, e por isso a visão das cicatrizes na parte interna das minhas coxas não eram visíveis, o que me deixou mais aliviada e relaxada. A pele pálida que por vinte e um anos não havia sido tocada pelo sol por conta das vestes compridas. Um tronco comprido e braços ainda magros demais. Um quadril mais largo do que pensei que fosse, e seios mais cheios do que achei que eram, pelo menos daquele ângulo. Braços envolvidos em uma jaqueta de couro preto abraçavam a minha cintura e mãos quase inteiramente tatuadas tocavam a minha pele sem pudor algum. O contraste era gritante. Eu e Zayn não poderíamos ser mais diferentes, mas era justamente isso que deixava aquela cena tão hipnotizante. O que quer que ele visse em mim, eu também via nele.

— Cristo, seria desperdício demais se você não se admirasse também. — As palavras saíram como um desabafo de sua boca enquanto ele ainda me analisava com olhos observadores. — Eu sei que cada um tem uma percepção, mas, porra, Eva, eu juro que você é a visão da minha versão de paraíso.

Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, já que nunca havia me sentido daquela forma antes. A cada palavra que saía pelos lábios dele, mais quente e irrequieta eu parecia ficar. Eu podia ouvir o meu coração bater em meus ouvidos como um tambor, e quanto mais ele me tocava, mais eu queria que me tocasse. Nunca parecia suficiente. Eu gemi baixinho, choramingando por algo que eu sequer sabia o que era. Segurei os seus braços com afinco, silenciosamente pedindo que ele aliviasse o que quer que fosse que estivesse me afligindo. Zayn nunca pareceu tão focado aos meus olhos, mergulhando o rosto com vontade em meu pescoço e chupando a minha pele, mordiscando algumas vezes de uma forma gostosa que eu nunca pensei que fosse gostar. Quase imperceptivelmente, suas mãos começaram a subir mais e mais até que ele tocasse os meus seios. Eu arfei, arregalando os olhos ao lembrar das palavras firmes de todas as mulheres da Ordem dizendo que se eu deixasse um menino me tocar daquela maneira, eu iria queimar no fogo no inferno por me permitir ser uma sedutora usando o meu corpo para tentá-lo. Tentei bloquear as memórias ruins de rostos cheios de raiva e frustração, dentes cerrados e dedos apontados para o meu rosto, mas não obtive muito sucesso.

— Relaxe, Eva. Você gosta disso? — Ele murmurou, concentrado, pinçando os bicos com os dedos. A sensação foi tão intensa que eu estremeci por inteira, arfando audivelmente e tendo que pressionar uma coxa contra a outra quando o que senti no meio das minhas pernas unicamente por conta do seu toque passou a ser incômodo, parecendo ser diretamente conectados com os meus seios. Eu estava perdida. Quente. Desesperada. Não fazia ideia de onde estava com a cabeça, mas estava adorando. Eu soltei todas as amarras, assentindo freneticamente com a cabeça e gemendo baixinho, sôfrega. Depois disso, não me restavam dúvidas de que eu com certeza iria para o inferno por estar me aproveitando disso. Do prazer sexual e da luxúria. Isso não é papel da mulher — a voz do profeta David soou baixinha em minha mente, mas foram logo abafadas pela de Zayn. — Se você sente e gosta disso é porque era para ser assim. Não é errado que você se permita aproveitar. Nada disso é pecado, Eva.

— Parece muito com um.

E não é delicioso?

Outro sorriso lateral que pareceu me desmontar por inteira, apesar das sobrancelhas franzidas em seriedade. As suas palavras pareceram me incendiar de dentro para fora, e por mais incrível que pareça, foi no bom sentido. Eu assenti com a cabeça, fechando os meus olhos e engolindo em seco.

— Quer saber do que mais o seu corpo é capaz?

Eu mordi o meu lábio inferior e assenti, ansiosa. Zayn sorriu, parecendo orgulhoso pela minha resposta, e logo a sua mão direita desceu pela minha barriga, trilhando um caminho até a minha intimidade. Eu arregalei os meus olhos, segurando a mesma em um impulso, por puro instinto. Ele apenas ergueu os olhos até os meus, em questionamento. Eu suspirei, fechando os meus olhos e tentando me acalmar. Logo lhe liberei do aperto, o que fez ele deixar um beijo na parte de trás da minha orelha, voltando ao que fazia antes, sem tirar a boca dali. Eu arfei, sem fôlego, quando ele me tocou usando apenas o seu dedo médio e o anelar. Eu estremeci por inteira, surpresa por tamanha sensitividade, gemendo baixinho e ficando na ponta dos pés. Ele não parou, e o braço livre que estava ao redor da minha barriga, me mantendo imóvel e presa a ele me pressionou ainda mais. Os movimentos circulares feitos com as pontas dos seus dedos se aceleraram mais um pouco e eu senti a minha corrente sanguínea pulsando em todas as partes do meu corpo. Eu não conseguia entender o que estava acontecendo, desde que nunca havia sentido ou sequer ouvido falar sobre algo como aquilo. Encarei o rosto de Zayn, que estava parcialmente escondido pelo meu próprio cabelo, e a expressão faminta em seu rosto fez com que eu sentisse algo selvagem. Agarrei o seu braço e finquei as minhas unhas em sua pele, mas dessa vez, não para afastá-lo, e sim para impedi-lo que parasse. Cada vez mais rápido, mais forte, mais intenso, mais quente. Eu tive a impressão que começaria a chorar a qualquer momento, por isso joguei a minha cabeça para trás, a apoiando em seu ombro e fechando os meus olhos com força, choramingando. O fim da linha parecia próximo, e eu sequer sabia o que esperar, mas de qualquer maneira, quando chegou, senti que perdi os meus próprios sentidos por um milésimo de segundo, ofegante, entreabrindo os meus lábios para gemer ao sentir o paraíso. Uma onda do mais puro prazer me atingiu em cheio e eu arqueei as minhas costas contra o peito dele, sentindo as minhas pernas bambas, mas Zayn não deixou com que eu me afastasse. Eu pressionei uma coxa contra a outra, sensível demais, mas ele continuou me tocando, escovando os dedos lentamente pela minha entrada enquanto eu sentia como se tivesse sido o alvo de uma avalanche. Trêmula, fraca, suada e confusa. O banheiro parecia ainda mais quente e o espelho começava a embaçar de novo. Eu estava ainda mais vermelha agora, e por incrível que pareça, eu gostei do que vi e não desviei os olhos da minha própria imagem, encantada pelo que encontrei. 

Se aquela tivesse sido a minha passagem definitiva para o inferno, eu insistiria ao demônio para não me deixar sair nunca mais.

Sem dizer uma só palavra, Zayn ergueu a mão que me tocava e levou os dois dedos à boca olhando dentro dos meus olhos, sério. Eu ofeguei, sem saber por quê o tamanho absurdo daquela cena era tão atraente para mim, me atingindo diretamente. Antes que eu sequer pudesse superar o ocorrido, ele me fez virar, me colocando de frente para ele e contra a bancada da pia. Agarrando o meu pescoço, ele me beijou com pressa, bruto, parecendo mergulhar fundo em mim, e eu tive a impressão que deixei o meu coração cair aos meus pés pela sensação da sua língua exigente contra a minha. Ele se afastou depois que pareceu matar a fome, tão ofegante quanto eu, com o rosto a pouquíssimos centímetros de distância.

— Isso é o certo. — Ele parecia um pouco bravo, dizendo as palavras com firmeza. — Isso é o que você deve sentir de verdade.

— Eles esconderam tudo. Eu sequer sabia que era...possível. — Sussurrei, sem força. Apesar de me sentir como se tivesse acabado de fazer uma corrida, era no melhor sentido possível. Zayn acariciou a minha bochecha com o seu polegar, atento.

— E o que foi que te ensinaram ao invés disso?

Eu desviei os olhos por alguns segundos, desconfortável. Depois de colocar a minha cabeça no lugar, tendo lapsos de memória horríveis, engoli em seco e voltei a encara-lo.

Dor.

 

[...]

 

Eu estava tentando reunir coragem enquanto Zayn tomava banho. Ele havia me oferecido uma das suas clássicas camisetas pretas para que eu pudesse dormir com ela, mas não tinha nada para cobrir as minhas coxas, por isso me escondi embaixo das cobertas. Eu estava sentada com as costas apoiadas na cabeceira da cama, encarando o cobertor há quinze minutos quando ouvi a água parar de cair no banheiro, o que me deixou nervosa. Comecei a brincar com os meus dedos sem parar até que a porta fosse aberta. O cheiro do perfume de Zayn me inundou imediatamente e logo ele saiu de lá usando apenas uma calça de moletom preta enquanto usava uma toalha para secar o cabelo. Meus olhos focaram instantaneamente nas inúmeras tatuagens espalhadas pela sua pele bronzeada e nos ombros largos que me atraíam tanto. A forma como ele flexionava os músculos dos braços ao passar a toalha pela cabeça me fez suspirar. Observei-o enquanto ele passava os dedos pelos fios para penteá-los, colocando-os em ordem sem precisar de uma escova, prático. Depois de pronto, ele caminhou em minha direção, decidido, se apoiando com os dois braços ao meu redor para deixar um beijo rápido em meus lábios, se sentando na minha frente logo em seguida. Eu quis me enrolar nele, me afundar nele, em sua temperatura convidativa e beijar toda a sua pele e sequer sabia de onde essa vontade vinha. Talvez eu só quisesse me distrair para que eu não tivesse que tocar naquele assunto.

— Você quer falar. — Ele afirmou, colocando uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha e tocando o meu queixo. Eu me impressionei pela facilidade que os meus olhos tinham de se desviar para o seu peitoral, admirando o contorno de seus músculos firmes por baixo da pele macia e das tatuagens detalhadas. Mais uma distração. Era como se a minha mente estivesse desesperadamente tentando mudar de curso para se auto preservar. Quando Zayn olhava dentro dos meus olhos daquela maneira, como se me entendesse melhor que ninguém e desde sempre, eu não tinha outra opção além de falar a verdade. Eu assenti discretamente com a cabeça. — Então fale comigo, Eva.

— Eu tinha quinze anos. — Eu sussurrei, trêmula, engolindo em seco. Abracei os meus joelhos, claramente em uma posição de defesa.

— O que aconteceu? — Ele semicerrou os olhos, confuso.

— Eu fui tirada da casa onde morava com os meus irmãos e irmãs para atender à minha vocação. Pelo menos era o que eles me diziam que era. — Eu dei de ombros, fungando e revirando os meus olhos. — Fui instalada em um outro lugar, bem longe das casas da comunidade, longe dos ouvidos e dos olhos das outras pessoas. Éramos quatro meninas. Quatro amaldiçoadas. Genevieve, a minha irmã, era uma delas no começo. Eu era a mais jovem de todas.

— É aquela garota da foto que você trouxe? — Eu assenti. — Você se parece muito com ela.

— Eu sei. — Suspirando, eu desviei os olhos. — Ela costumava dizer que me parecer com ela foi a pior coisa que eu poderia ter feito.

— Por que?

— Genevieve era muito bonita, mas além disso, ela era destemida. Não havia ninguém como ela dentro daquelas cercas. Era impossível não notar como todos reparavam nela. Foram inúmeras as vezes que ela pagou caro por ter a língua solta e afiada demais, e por mais que eu concordasse com cada palavra, eu nunca dizia isso em voz alta. Ela atraía as pessoas em todos os sentidos porque era tudo que eles não tinham coragem de ser. Gabriel, um dos Anciões, era claramente obcecado por ela por isso. Ao mesmo tempo em que parecia encantado...parecia confuso. Ele a machucava quase todos os dias, na maioria das vezes usando um chicote.

— Um chicote?! — Zayn arregalou os olhos, incrédulo, com os lábios entreabertos. Eu entendi perfeitamente a pergunta implícita em seus olhos, o que me fez desviar os olhos para baixo. — Evangeline, você...

— Ele a forçava a ter relações com ele. Eu nunca vou esquecer como ela chegou em casa na primeira vez. Tão machucada, sangrando e totalmente descrente na vida. Não havia ninguém para cuidar dela além de mim, e eu não podia fazer muito porque tinha só doze anos! Eu poderia ter como ajudá-la melhor se fosse mais velha. — A minha voz começou a ficar mais aguda conforme a minha garganta se fechava e eu tentava ao máximo não chorar. — A mesma coisa aconteceu comigo.

— Eva... — Zayn segurou a minha mão, parecendo mais horrorizado a cada minuto que se passava.

— No terceiro dia em que vi você, eu estava chorando. — Ele assentiu levemente com a cabeça, afirmando a história com um semblante preocupado e perturbado. — Foi a primeira vez que o Ancião Jacob usou o chicote contra mim, porque eu não quis mostrar o doce que você havia me dado. Doeu como o inferno e eu estava tão assustada! Foi por isso que pedi para que você me tirasse dali. Eu estava desesperada.

Zayn negou com a cabeça em descrença, levando a mão que segurava aos lábios e deixando um beijo na mesma, sem deixar de me olhar.

— No mesmo dia em que fiz quinze anos, foi ele quem teve o poder de me tirar de casa, alegando à comuna que eu era tentadora demais para ter o livre-arbítrio de ir e vir entre eles, e todos os homens decidiram à favor dele. Por mais que as mulheres não tenham voz para decidir esse tipo de coisa, eu sabia que elas também concordaram. Eu senti que a maioria delas sentiam inveja por não chamarem a atenção que eu e Genevieve chamávamos, mas eu faria qualquer coisa para ser qualquer uma delas. Acreditavam que eu era uma pecadora natural e que não estaria satisfeita até levar o último dos homens à ruína. Como uma amaldiçoada, eu deveria ser punida. Como uma mulher, eu nunca deveria negar prazer a um homem porque seria pecado. Recusar o meu próprio corpo, o meu próprio prazer e bem-estar para prover aos outros. A vocação do sacrifício. — Eu criei coragem para encarar os seus olhos. — Acreditavam que os discípulos se aproximavam de Deus através da libertação sexual. Através dos nossos corpos. Quatro garotas para quatro Anciões, e é claro que nós não éramos as primeiras. Era como achavam que a paz na comuna era mantida. Jacob me queria e ele tinha o poder necessário para isso...então ele me teve.

— O que fizeram com você? — Ele perguntou tão baixo que era como se não tivesse certeza que quisesse saber a resposta. — O que causou as cicatrizes?

Eu arfei, me surpreendendo por ele saber. É claro que havia notado. Não tinha como esconder algo tão...monstruoso quanto elas. Com cuidado e pensando bem em minhas palavras, eu respondi.

— Gen sempre me dizia que eu deveria aprender a pensar em um lugar seguro, me ligar a ele e bloquear a dor, porque senão seria pior. Eu tentei, eu juro que eu tentei inúmeras vezes, mas eu não conseguia simplesmente ficar em um estado inconsciente. Eu não conseguia parar de me mover, tentando me libertar. — Fechei os meus olhos e mordi o meu lábio inferior. — Então eu era amarrada todas as vezes por seis anos. Uma armadilha me impedia de fechar as pernas. Algo cortante. Afiado.

— Isso é doente! — Ele exclamou, ofegante, ficando em pé e se afastando, passando uma das mãos pelo cabelo com os olhos castanhos arregalados e andando em círculos pelo quarto, parecendo completamente alterado. — Isso é fodido em níveis extremos, Eva! Tudo isso não passa de uma mentira de merda criada para fazer uma lavagem cerebral na cabeça todos para dentro da porra de um esquema podre de estupro! Apodrecer em uma cela não chega aos pés do que esses filhos da puta merecem! São eles que merecem arder no fogo do inferno e pagar por isso! Não você! Não você, porra! — Percebendo a minha confusão depois de alguns segundos tentando se acalmar, Zayn voltou a se sentar na minha frente e segurou as minhas duas mãos, olhando dentro dos meus olhos. — Isso sim é errado, Eva. Isso é estupro. É crime aqui fora. O pior e mais nojento deles, na minha opinião.

— Crime? — Eu franzi as minhas sobrancelhas.

— A lei e a própria moral não deveriam permitir que uma pessoa force qualquer situação sexual contra outra. Porra, Eva, você era só uma menina! — Quando ele tocou o meu rosto com tanto carinho, eu não consegui segurar as lágrimas. Meus olhos arderam e eu coloquei a minha mão por cima da dele, inclinando o rosto contra a mesma. Ele piscou algumas vezes, entreabriu os lábios e arfou antes de passar um braço ao redor da minha cintura e me trazer para o seu colo. Eu abracei o seu pescoço com força, escondendo o meu rosto ali. Zayn afagou os meus cabelos, tentando me tranquilizar quando alguns soluços me escaparam. Nada se assemelhava à sensação de proteção que eu sentia quando ele me tomava em seus braços assim. Era tudo que eu desejei por anos, muitas vezes sem saber exatamente do que eu sentia falta. Afeto, ternura, carinho.

Quando me senti um pouco melhor, eu me afastei apenas o suficiente para limpar as minhas lágrimas e olhar para o seu rosto.

— Eu nunca me senti bem com isso. Nunca senti...gratificação. Eu odiava. Meu Senhor, eu odiava tudo! A cada momento! Eu não sabia como esse tipo de prazer era...ou até se era capaz de sentir. A dor foi tudo que eu sempre conheci, tudo com o que eu estava acostumada. Como uma velha amiga que se não estava por perto naquele momento, estaria logo. — Eu engoli em seco, brincando com a corrente prata ao redor de seu pescoço. — Hoje foi diferente. Eu estava receosa no começo, mas eu queria. Queria estar ali e queria que você continuasse. Eu nunca me senti tão bem em toda a minha vida.

— Cristo, você ainda merece muito mais. Há muito para você experimentar ainda. — Soltei a sua corrente e corri os meus dedos pelo seu pescoço, pelas linhas das tatuagens, percebendo quando ele engoliu em seco e me abraçou com ainda mais afinco. — Você está fora do inferno agora, Eva. Você nunca vai ter que passar por isso de novo, eu prometo. Eu posso proteger você. Eu vou proteger você. Aqueles sacos de merda não são nada para os Wolves. — Zayn segurou uma das minhas mãos, e mais uma vez deixou um beijo nela. Eu gostava daquilo, o que me fez sorrir pequeno em agradecimento, apesar da expressão de preocupação que eu sabia que carregava no rosto agora.

— Eu acho que eles estão procurando por mim. — Sussurrei como se eles pudessem me ouvir, e assim, me encontrar e me tirar à força daqui. Eu não queria sair. Não queria ir embora. Eu queria ficar. — Eles não vão parar até me conseguirem de volta. Eu vi acontecer, Zayn. Eles atiraram em mim enquanto eu corria! Preferiram arriscar a minha vida a me deixar livre!

Eu não quis falar que, quando fugi, eu não era mais apenas uma amaldiçoada. Preferi ocultar aquele detalhe. Não quis revelar que a minha importância para a comuna era tão significante à ponto de eles me procurarem por dias e noites a fio. Estando ali, eu estava fazendo do clube um alvo perfeito. Eu era perigo. Eles tinham um propósito a cumprir. Eu também tinha, e fugi dele. Eles nunca desistiriam.

— Eles se aproximam do clube; eles morrem. — Respondeu, cerrando os dentes, bravo.

E ainda assim, aquela promessa de proteção era tudo que eu tinha. Era em tudo que eu poderia colocar a minha fé.

— Posso fazer uma reunião amanhã e avisar aos homens que fiquem atentos sobre essas pessoas. — Zayn parecia empenhado e focado na missão de me manter a salvo. Apesar de tocar o meu cabelo carinhosamente, eu percebia como o seu olhar estava distante, como se já estivesse pensando em como colocar seus planos em ação assim que pudesse. Só Deus sabe o quanto eu o admirava por isso. Eu já havia visto o bastante para saber que as promessas dele nunca eram rasas e sem base. Zayn sabia o que fazia, o que estava no alcance do clube ou não. Ele tocou o meu lábio inferior, olhando intensamente para a minha boca. — Será mais fácil agora que você me contou tudo.

Eu estava seminua no quarto e no colo de um homem que de longe era a maior personificação de pecado que eu poderia imaginar. Havia deixado que ele me tocasse — e como ele mesmo havia dito, pela primeira vez do jeito certo, e que me mostrasse o desejo, a luxúria, e finalmente, o prazer que ele poderia desencadear de mim. Havia adorado cada parte e confesso que mal podia esperar para ver o que vinha depois. Acho que aquela era a primeira vez que eu não me sentia culpada por isso. Pelo menos, não inteiramente.

Porém, simplesmente não tive coragem de dizer que aquilo, de fato, ainda não era tudo.


Notas Finais


Parece que a Eva também tem segredos...

E aí??? O que acharam? Comentem! ❤

Muito obrigada pelos comentários do capítulo anterior! Eu amei todos eles e me incentivaram muito! Obrigada, obrigada, obrigada!!!

Espero que tenham gostado!

Até o próximo capítulo!


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