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História Wicked Souls - Olhos de lobo


Escrita por: Chrissy_RDC03

Capítulo 3 - Olhos de lobo


Fanfic / Fanfiction Wicked Souls - Olhos de lobo

"Então vi outro anjo poderoso, que desceu dos céus. Ele estava envolto numa nuvem, e havia um arco-íris acima de sua cabeça. Sua face era como o sol, e suas pernas eram como colunas de fogo."

(Apocalipse 10:1)

*Zayn*

— Saia da porra da minha cama.

Vesti a camiseta preta depois de uma ducha sendo observado pelos olhos verdes da mulher nua no colchão, embolada nos lençóis.

— Essa nem é a sua cama. Você não deixa ninguém além de você ir até o seu quarto, esqueceu? — A ruiva resmungou, se espreguiçando e se sentando na cama logo em seguida, cobrindo os seios com o lençol. — E por que diabos você acorda tão cedo, Malik? Você só teve umas três ou quatro horas de sono.

— Eu sou a droga do presidente deste clube. Se eu não me mexer, ninguém se mexe nessa porra.

Eu calçava as minhas botas enquanto ela me olhava com os olhos verdes esbanjando malícia antes de morder o lábio inferior, enrolando um dos dedos nos cabelos lisos.

— É sério, Lori, some daqui. Eu não vou pedir de novo. Não quero ter que arrastar você pela porta.

— Eu acho que você está estressado demais para alguém que teve uma boa foda essa noite. — A garota disse, ficando de joelhos na cama e se aproximando de mim. Ela segurou os meus ombros e olhou para mim, o que me fez revirar os meus olhos.

— Eu estou saindo. Não posso me atrasar.

— Tenho certeza que você tem alguns minutinhos para relaxar mais um pouco, hum? — Ela mexeu as sobrancelhas ralas enquanto abria o zíper da calça que eu havia acabado de vestir, me olhando com tanta luxúria que parecia estar implorando para ter o meu pau na sua boca. Apenas observei enquanto ela deitava de bruços na minha frente, segurando a base do meu membro antes de começar a droga do boquete. Bem, se ela queria tanto assim, ela teria aquela merda. Não tive escolha a não ser segurar os seus cabelos com força e guia-la como eu queria, no meu ritmo, por mais experiente que Lori fosse depois de todos aqueles anos. Fechei os meus olhos e tombei a minha cabeça para trás, permitindo a mim mesmo que eu relaxasse um pouco. Aumentei a velocidade conforme sentia o orgasmo mais próximo, e sem ter a porra do controle da minha própria mente, a minha imaginação voou até aqueles malditos olhos azuis. Eu nunca havia visto nada minimamente parecido com aqueles olhos antes, que pareciam ter dizimado a minha sanidade desde a porra da primeira vez que eu olhei para ela. Olhos grandes, do tom mais claro de azul possível, como água cristalina, do tipo que demanda a sua atenção para que os contemple. Tentava projetar uma imagem da versão da garota de dentro da cerca dez anos depois. Imaginei os lábios carnudos e vermelhos ao redor do meu pau no lugar dos da ruiva. Imaginei densos cabelos castanhos escuros, compridos e ondulados, não mais presos na trança que ela usava, mas soltos. Selvagens. Naturais.

Não é como se eu pudesse evitar. A garota misteriosa da cerca ocupava os meus sonhos e pensamentos todo dia. Quando eu menos esperava, estava pensando nela; em qual havia sido o seu destino; o que ela estaria fazendo agora. Eu sequer sei se ela ainda está viva. Às vezes acho que ela não passou de um fantasma ou do fruto da imaginação de um garoto frustrado de quinze anos. Talvez eu me sentisse culpado por tê-la deixado quando ela claramente pediu por ajuda e eu lhe dei as costas. Talvez, se isso tivesse acontecido hoje e não quando eu era apenas um garoto, eu teria feito algo por ela. Teria tentado ajudá-la.

Eu não saberia explicar a razão por trás da insistência da minha própria memória.

Mas, Evangeline...

Porra, aquele nome vagueava pela minha mente muito mais do que deveria. Eu constantemente achava que estava doente por causa disso. Louco. Só poderia ser.

Ainda pensando na maldita versão gostosa que eu criei para a minha própria infelicidade e frustração, não foi difícil gozar. Soltei os cabelos de Lori e olhei para baixo, abrindo os olhos. E, de repente, e poeira abaixou quando eu encarei o seu rosto. Ela estava ofegante, tentando recuperar o fôlego, mas mesmo assim sorriu de orelha a orelha.

— Eu apreciaria muito se você ao menos olhasse para mim quando eu estiver chupando o seu pau, Malik.

Eu subi as minhas calças enquanto sorria para Lori com sarcasmo antes de me agachar e segurar o seu rosto com uma das minhas mãos.

— E eu apreciaria muito se você saísse do quarto agora, Lorraine.

Deixei um selinho rápido em sua boca, mal tocando os seus lábios antes de me afastar, o que fez ela revirar os olhos, finalmente saindo da minha cama e começando a se vestir.

— Você é mesmo um babaca.

— Eu não sou conhecido pela minha sutileza, devo dizer. De longe, não é o meu forte. — Pisquei para ela, que saiu bufando pela porta. Vesti a jaqueta de couro, como o costume, e então saí.

O Texas estava passando por uma onda de frio do caralho. Eu não lembrava a última vez que havíamos tido um inverno tão rigoroso, já que não chegava a nevar sempre. Mas dessa vez, eu sentia como se a porra das minhas mãos fossem congelar a qualquer momento. Desci pelas escadas de ferro enferrujado enquanto esfregava uma na outra, tentando aquecê-las. Apesar da sensação congelante, eu preferia bem mais tremer de frio do que suar pelo calor.

Entrei pela porta da Boca del Diablo, como o clube carinhosamente chamava a espécie de salão que tinha diferentes funções de acordo com o horário. Era costume, por exemplo, que Abigail estivesse fazendo um banquete de café da manhã para todos os homens que pegariam a estrada daqui a pouco, e por isso o cheiro de bacon e ovos já era familiar para mim, mas poderia facilmente funcionar como um bar à noite. Como sempre, onde dois ou mais homens do clube estivessem reunidos, qualquer lugar virava um pandemônio. Não importava se ainda eram sete da manhã de uma quinta-feira, todos eles estavam gargalhando e gritando palavrões de forma escandalosa, batendo na mesa com a mão fechada quando queriam enfatizar uma frase enquanto Hammer To Fall tocava a pleno funcionamento nas caixas de som.

— E aqui vem o rei! — Harry fez questão de gritar para que todos ouvissem quando me viu, erguendo os braços para cima. No instante seguinte, todos eles fizeram o mesmo que ele em uma forma de saudação. Eu fiz um aceno discreto com a cabeça, agradecendo pela gritaria. Puxei uma cadeira para mim na mesma mesa em que o de cabelos castanhos compridos e olhos verdes estava. — Como você está nessa bela manhã de fevereiro, Malik?

— Normal. — Eu dei de ombros quando o meu prato foi colocado na minha frente por Abigail. A mulher loira tinha cerca de quarenta anos ou um pouco mais e usava suas típicas roupas pretas e de couro, combinando com a maquiagem da mesma cor ao redor de seus olhos claros.

— Eu fiquei sabendo sobre as boas novas. — Ela sorriu para mim, colocando o pano de prato sobre o ombro e apoiando o quadril na mesa. — Sobre você e Lori.

— Que boas novas? — Eu fiz uma careta, confuso, levando uma fatia de bacon à boca.

— Como assim? Sobre você fazer dela a sua Old Lady.

— De onde você tirou isso? Eu nunca faria isso.

— Bem, é isso que ela está dizendo para todos. Mas eu não posso culpa-la por ter esperanças. Vocês estão juntos há anos!

— Não estamos juntos. Eu fodo ela há anos. Há uma grande diferença entre essas duas coisas. É bom que ela pare de espalhar essas merdas falsas por aí.

— Isso é como se fosse um pedido de casamento com pétalas de rosa por aqui. — Ela revirou os olhos, mas sorria enquanto colocava café em uma caneca para mim.

— Você está dizendo que eu não sou romântico, Abby? — Buck surgiu atrás dela, agarrando a sua cintura com força com suas mãos enormes, tatuadas e calejadas, deixando um beijo estalado na bochecha da sua mulher, o que fez ela rir, se virando para ele e tocando o seu rosto barbado.

— Eu nunca diria um absurdo desses sobre você, Buck.

Eu sorri, voltando a olhar para o meu prato enquanto negava com a cabeça em incredulidade. Eu amava esse lugar.

— Nada em particular para analisar hoje no território, Prez? — Payne perguntou, se sentando no lugar vago a minha frente com o seu prato e uma caneca de café como a minha.

— Não. Tudo tem estado muito quieto pelos arredores ultimamente.

— Estranhamente quieto. Acha que o Rooker pode estar tramando algo?

Eu finquei um pedaço de bacon com o garfo com força ao ouvir aquele nome.

— Ele não teria coragem. Ele sabe que eu arrancaria a porra da traqueia dele pela sua boca com as minhas próprias mãos.

— Eu não tenho dúvidas, Zayn. O problema é que nós sabemos que ele não tem medo disso.

— Pois deveria. — Eu terminei de comer e empurrei o meu prato, irritado, ficando em pé logo em seguida. — Eu vou indo na frente. Quero todos na estrada em cinco minutos, sem atraso, fui claro?

— Como cristal, chefe. — Buck fez fez um aceno de marinheiro com os dois dedos perto da testa antes que eu caminhasse até a porta. Quando estava de saída, Lori estava entrando com Samantha e Kate. Ela sorriu ao me ver, andando em minha direção com o porra do nariz empinado antes de segurar o meu braço e ficar na ponta dos pés para tentar me beijar. Eu apenas segurei o seu braço com firmeza e a impedi.

— Eu sei o que você está fazendo, Lori. E eu estou mandando você parar.

— O que eu estou fazendo? — Ela franziu as sobrancelhas ralas.

— Está tentando me usar como escada para chegar onde quer, mas eu já vou dizendo... — Eu aproximei o meu rosto do dela e a encarei com o semblante duro, o que fez ela suspirar sob o meu aperto. — ...eu não gosto dessa porra de exibição.

— Eu não sei do que você está falando.

— Eu sei muito bem que você não é estúpida, então não se faça. Eu não gosto de falsidade.

— Zayn...

— Eu vou deixar bem claro pra você entender, hum? — Eu apontei para eu e ela. — Nós dois não somos nada um do outro e nunca iremos ser. Nós fodemos. E isso é tudo.

Antes que ela dissesse mais alguma coisa, eu soltei o seu braço e saí.

[...]

Lembro-me muito bem de uma das minhas memórias mais antigas. Talvez eu tivesse seis ou sete anos quando o meu pai me levou em uma das suas missões pelas ruas mais asfaltadas do centro de Austin, beirando as florestas densas e de coloração escura. Ele já tinha feito isso antes, mas eu ainda era pequeno demais para lembrar de alguma coisa. No entanto, naquele dia, eu lembro que foi a primeira vez que senti o amor pelas estradas ao qual ele tanto se referia. Ver tudo ficando para trás enquanto o vento forte batia em seu rosto e lhe obrigava a semicerrar os olhos era de longe a melhor sensação que eu já senti. Ele me segurou contra o seu peito na moto enquanto a guiava com a outra mão, e tudo que eu conseguia pensar era que queria ser como ele um dia. Ter aquela tamanha habilidade ao sequer precisar usar as duas mãos para dirigir algo tão grande e a uma velocidade tão alta. Ele sempre havia sido o meu herói, mas naquele dia, eu finalmente pude entender porquê o respeitavam tanto no clube.

Podia sentir que ele estava sorrindo contra a minha cabeça quando falava comigo.

— Está vendo, Zayn? Tudo isso aqui será seu um dia. Quando você crescer, o dever de proteger o que é nosso estará em suas mãos por direito. Você nunca precisará de mais nada na sua vida além de uma Harley, de uma Fender e de uma Old Lady ao seu lado.

O Hell’s Wolves MC sempre foi tudo que eu conhecia. Tudo que eu tinha mais orgulho de ser parte. Tudo que eu mais amava, além da minha guitarra e da minha música. Eu daria o meu sangue por cada filho da puta desse clube, sem exceção, e isso nunca mudaria.

Já pela noite, acendi um cigarro com o isqueiro antes de descer da moto no estacionamento do galpão onde as nossas mercadorias eram entregues. Todos os outros me acompanharam logo em seguida enquanto eu soltava a fumaça pelos lábios no céu escuro. Eram cinquenta grades de AK47s, dez caixas de rifles sniper M82A1, e dez engradados de automáticas, todas semi top-grade. Algumas para o nosso próprio consumo, servindo para a proteção do clube contra outras gangues rivais, e outras que eventualmente seriam vendidas. Soava como o paraíso para mim.

— Eu não sei por quê você realmente não pensa em tornar Lori a sua Old Lady. — Eu bufei e revirei os meus olhos quando Harry trouxe aquele assunto à tona novamente. — Qual é, Zayn, você sabe que ter uma mulher para esquentar as suas costas na moto daria ainda mais estabilidade ao clube.

— Eu não preciso de mais estabilidade. Eu consigo lidar com isso sozinho.

— Mas você não precisa. — Eu evitei olhar em sua direção, mas ele parecia não ver problemas em me encarar como um psicopata. — A Lori não pode ser tão ruim assim. Vocês se dão bem. São amigos há anos!

— Isso não se trata sobre ela ou sobre qualquer outra pessoa, Styles. Se trata sobre mim. Eu não quero uma Old Lady e muito menos preciso de uma ao meu lado. Eu me dou muito bem sozinho.

— Isso ainda é sobre os seus pais?

Eu parei de andar no mesmo momento e me virei para ele, seriamente pensando se de repente um soco de direita em seu maxilar poderia acabar com a nossa amizade.

— Harry, eu sou o seu amigo mas também sou o seu presidente. E eu estou ordenando que esse assunto é estritamente proibido. — Joguei o cigarro no chão e pisei em cima, seguindo adiante.

— Certo. — Ele me seguiu, cruzando os braços e olhando para baixo, emburrado. — Eu só acho que você deveria me ouvir às vezes, porra.

— Styles, é sério, o meu punho tá coçando.

— Tudo bem, tudo bem, eu calo a boca.

Deixei aquele assunto de lado, por mais perturbador que fosse, quando adentramos pelas portas do galpão. Haviam quinze membros do clube comigo e por isso eu sabia que nossos passos poderiam ser ouvidos de longe. No entanto, assim que Joseph não apareceu para nos receber, como de costume desde os tempos da presidência do meu pai, eu soube que algo estava errado no minuto em que o silêncio reinou naquele lugar, causando eco. Meu corpo inteiro se tencionou de maneira instantânea. Eu parei de andar imediatamente e todos fizeram o mesmo que eu logo em seguida.

— Tem algo errado. — Eu disse, erguendo o meu dedo indicador para mostrar que deveríamos ficar atentos. Eu puxei a faca KM2000 Bundeswehr alemã da minha bota e ouvi o som de todos fazendo o mesmo atrás de mim. Com um único aceno de mão, pedi para que me seguissem enquanto passávamos cautelosamente pelas caixas de madeira. Eu fui o primeiro a notar a marca de um tiro em uma delas. Toquei o círculo preto com a ponta dos dedos e semicerrei os meus olhos quando notei que ainda parecia quente. — Esse lugar foi atacado.

E para acabar com todas as dúvidas, quando fizemos a curva, encontramos corpos. Deveria ter cerca de meia dúzia deles, e ao longe, vi o velho Joseph imóvel e pálido no chão em uma posição estranha, com os braços estirados para cima e uma poça crescente de sangue embaixo dele, proveniente do buraco causado pela bala em seu peito. O mesmo homem que me colocava em seus ombros para brincar comigo toda vez que o meu pai me trazia até aqui com os membros mais velho dos clube. Morto.

Eu não podia demonstrar fraqueza. Sempre ouvi o meu pai dizendo que a única coisa que impede as pessoas de quererem destruir você em uma posição de liderança é se você se mostrar como um assassino à sangue frio, com punhos de ferro e zero tolerância. Eu precisava merecer respeito antes de demandar dele. Não que eu não confiasse em meus próprios homens, mas se o local discreto e secreto que havia funcionado por anos havia sido descoberto por mais alguém de uma gangue rival, aquilo queria dizer que tínhamos a porra de um rato traidor dentro do clube. Eu fechei os meus punhos com força e trinquei a minha mandíbula ao sentir a amargura do veneno da traição em minha boca.

— Merda! — Ouvi Tomlinson xingando ao meu lado, passando as duas mãos pelo rosto.

— Quem fez isso também roubou toda a nossa mercadoria. — Jayden, o garoto alto, de cabelos dourados e que sempre usava uma bandana vermelha ou azul na cabeça disse, parecendo preocupado, mas àquele ponto eu estava começando a desconfiar de todos. — Não há mais nada lá atrás e nem aqui na frente.

— Quem fez isso?!

— Isso significa guerra, não é, Malik?!

— Eu aposto que isso é obra do filho da puta do Rooker!

Logo antes que todos eles começassem a se dispersar e criar o caos, eu mandei que todos calassem a boca quando ouvi o som estridente das sirenes se aproximando rapidamente ao longe.

Como se não fosse suficiente, a droga dos tiras estavam à caminho.

Tá de brincadeira com a minha cara?! — Exclamei, possesso, guardando a faca dentro da minha bota antes de começar a correr. — Para as motos! De volta para a porra das motos!

Não tínhamos medo da polícia. Na verdade, nós sabíamos que a reputação dos Hell’s Wolves mantinha-os afastados em muitas das negociações que fazíamos. Eram aqueles caras que definitivamente tinham medo de nós por nunca terem prendido um membro sequer depois de algumas pequenas infrações, e olha que provas nunca faltavam. Mas aquilo ali era assassinato, um que nós não cometemos. Não haveria como ignorar aquilo. Eram pessoas boas. Pessoas muito conhecidas em uma boa parte de Austin. Eu não queria associar o nome do clube àquilo, ainda mais porque cheirava como armação para mim. Alguém sabia que faríamos negociações ali; sabia o horário que chegaríamos; e os responsáveis queriam nos incriminar ao acionar a polícia enquanto ainda estávamos na cena do crime.

Ah, mas eu resolveria aquilo ali em um piscar de olhos assim que estivesse em meu território. Nada que uma boa e velha ameaça não funcionasse. Iria encontrar a porra do rato infiltrado e estraçalha-lo, nem que eu tivesse que virar aquele clube de cabeça para baixo e manchar as minhas mãos com o sangue de alguém.

A raiva cega e ensurdecedora era tudo que eu sentia enquanto acelerava a minha moto no céu noturno do Texas. O frio continuava cortante, mas eu jurava que não demoraria muito para que eu começasse a suar de ódio embaixo da minha jaqueta de couro. Cortamos caminho pela floresta para que pudéssemos passar despercebidos e consequentemente despistar a polícia. Ela nunca entrava nessa parte obscura da floresta porque sabem muito bem que não mandam em nada ali. Era a porra da terra de ninguém. Todo tipo de crime e bizarrice já tinha acontecido naquele cenário, mas era possível fazer maravilhas sabendo manejar um lugar em que ninguém mais se atrevia a entrar. Eu conhecia aquelas terras como a palma da minha mão. Não precisava da luz do dia para me guiar, sabendo onde cada árvore e cada curva ficava.

Mas então, já estando muito perto do complexo do clube, eu tive que frear bruscamente, causando um som alto de todas as motos atrás de mim fazendo o mesmo, com as rodas quase grudadas nas minhas. Com todas as luzes acesas iluminando a frente, ficou fácil de ver o que estava atravessado no meio da estrada.

Uma pessoa.

A droga de uma pessoa encolhida no chão e com as costas viradas para nós.

— Não me diga que é a porra de um outro corpo. — Styles resmungou, descendo da sua moto antes mesmo que eu. Observei ele indo até o corpo e o virando para cima, agarrando-o pelos ombros. Seu rosto congelou no mesmo momento e seus lábios se entreabririam quando ele olhou em nossa direção. — É uma garota.

Eu desci da moto no mesmo momento, franzindo as sobrancelhas enquanto caminhava até Harry. Observei ele tirando uma camada espessa e comprida de cabelo castanho da frente do seu rosto. Mesmo com um pouco de terra na face direita, algo fez com que toda a minha atenção se prendesse nela no segundo em que fixei os meus olhos naquele rosto. Pálida como a neve e com os lábios roxos pelo frio, ela me parecia estranhamente familiar. Tentei me lembrar de onde eu conhecia aquelas espessas sobrancelhas escuras e arqueadas ou aquela boca mas eu simplesmente não conseguia me concentrar enquanto a adrenalina ainda parecia pulsar nas minhas veias.

Cristo.

Ela parecia encantadora, apesar de toda a lama, com a pele de porcelana e os cabelos tão longos e escuros. Era mesmo uma pena que estivesse morta, porque ela teria sido gostosa pra cacete.

— Ela está fria como gelo. — Exposta naquela nevasca e usando apenas uma fina camada de roupa, eu não duvidava que tivesse tido hipotermia. Harry aproximou o rosto do seu para tentar ouvir algum sinal de respiração. Logo depois ele partiu para o pulso, demorando bons segundos ali e fazendo uma careta. — Não estou sentindo nada.

Olhei para baixo, para o corpo dela, e me agachei quando percebi a grande mancha de sangue em seu vestido estranho e azul, um pouco sujo de terra. Ela parecia ter tido um grave ferimento na lateral da barriga que ainda parecia fresco. Além disso, suas pernas estavam machucadas pelos espinhos da floresta, fazendo com que o sangue escorresse por elas também.

— O que quer que tenha acontecido, eu acho que ela bateu as botas. — Harry disse, tentando ouvir o seu coração com a cabeça pousada em seu peito.

— A garota está morta? — Tomlinson se aproximou, com os braços cruzados enquanto analisava o que acontecia ali. — Porque ela parece estar.

— Temos que tirar ela daqui. Uma garota morta aparece perto do nosso território? Com a polícia já na nossa cola? Nada bom. — Eu me levantei, dando as costas para eles e esfregando as minhas mãos em minhas calças despreocupadamente.

Puta merda!

Virei para trás novamente ao ouvir o tom assustado na voz de Harry. Ele encarava a garota com os olhos arregalados agora, de pé e há alguns passos dela. Quando olhei para baixo, preciso admitir que também fui pego de surpresa quando vi olhos abertos.

E então eu soube.

Puta que pariu.

Aqueles olhos.

Aqueles malditos olhos. Os mais claros que eu já tinha visto em toda a minha vida. Eu jurava que eles brilhavam. Eram de gelo azul, como um maldito lobo. Só vi um par de olhos como esses antes. Eu não podia deixar de pensar na garota atrás da cerca há dez anos atrás. Aquela que eu deixei para trás. Quebrada. Machucada.

— Ela não está morta! — Horan berrou da sua moto com o sotaque irlandês carregado. Como de costume, afirmando a porra do óbvio.

— Merda! Nós vamos despejar ela? Ou podemos mantê-la aqui? Os federais estão nos observando, Malik. Viking disse que temos dois agentes estacionados a um quilômetro de distância. Ainda assim, o senador está em nossas costas. Vai ser arriscado transportar alguma garota ensanguentada daqui sem sermos questionados. — Liam surgiu, já tentando pensar em alguma solução. Ele tocou o meu ombro, tentando chamar a minha atenção. — Pode ser uma mensagem de alguém, ou ela pode ter sido plantada para nos colocar na merda com a lei.

Eu ouvia o que eles estavam dizendo, mas eu não conseguia parar de olhar para o rosto pálido dela, que ainda parecia inconsciente. Apesar dos olhos meio abertos, ela olhava para cima, e de repente gemido longo, doloroso e ofegante escorregou de sua boca, fazendo-me mudar o foco.

Merda!

— Nenhuma das opções. Ela vem com a gente.

— O que?! Isso pode ser uma emboscada! — Harry exclamou, me olhando com desespero. — Quer que o inimigo entre na nossa casa pela porta da frente?!

— Ela não é a porra do inimigo.

— Você não a conhece!

Eu não respondi. Antes que Liam se agachasse para pega-la em seus braços, eu fui mais rápido, sentindo como se um fantasma protetor de merda tivesse tomado conta da minha alma.

— Deixe ela comigo. Vão na frente.

— Mas, Zayn...

— Isso é uma ordem, Styles. Guie os homens até o complexo.

Eu podia ver que ele discordava com o que eu estava fazendo, que achava que eu estava cometendo um erro e sendo descuidado, e os outros também não pareciam muito satisfeitos, mas a minha consciência falava mais alto dessa vez. Eu tinha a deixado uma vez. Definitivamente não faria isso de novo.

Toquei a garota, sentindo as minhas mãos tremendo um pouco. Ela estava mesmo muito gelada. Preocupantemente fria. Arranquei a minha jaqueta, fiz ela se sentar e a envolvi com a mesma, ainda sob o olhar surpreso de todos. Eu admito que eu não costumava realizar muitos atos de caridade como esse, mas com Evangeline era mais que caridade. Eu sentia como se o dever de protege-la fosse meu desde quando ela pediu por ajuda e desde então eu não tive mais sanidade. Achei que estivesse perturbado. E porra, quais eram as chances de ela aparecer na minha frente, aqui e agora, tão perto da minha própria casa?! E que diabos aconteceu com ela? Por que estava ali, no meio de nada, literalmente morrendo de frio? Por que estava machucada? E mais importante, onde é que ela esteve todos estes anos malditos? Ainda enjaulada naquele campo de concentração de merda? Ainda sem falar, com medo de sua própria sombra?

Tinha algo muito errado naquela história.

Ela pesava como nada. Com certeza não comia direito há um bom tempo. Todos os homens já haviam seguido o seu caminho pela estrada quando eu me sentei no banco de couro da moto. Passei as minhas mãos rapidamente pelos seus braços, tentando aquecê-la mais rápido, e então afastei os cabelos de seu rosto. Ela tinha voltado ao estado de inconsciência, com a respiração entrecortada, com os olhos fechados e a boca entreaberta, e parecia tão pequena e encolhida em meu peito. Toquei a sua bochecha gelada, esperando por algum tipo de reação dela, mas nada.

— Vamos lá, Evangeline, eu sei que é você. — Eu franzi as minhas sobrancelhas, concentrado. — Porra, eu esperei por você por dez anos. Sem morrer agora, está me ouvindo?!

Com um único chute, liguei a Harley-Davidson e a guiei pela estrada com uma única mão em uma velocidade menor da que eu estava acostumado a usar pelos poucos metros que faltavam até chegarmos ao território do clube.


Notas Finais


Só pra deixar claro, "Old Lady" é um termo carinhoso que usam em clubes como o do Zayn para mulheres comprometidas, como se fosse casamento (apesar de não parecer carinhoso kkk)

Espero que tenham gostado da história até aqui. A partir de agora que tudo vai começar...

Não deixem de comentar! E muuuuito obrigada por todo o apoio!

Até o próximo capítulo!


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