Angel P.O.V
Fazia um mês que Cameron havia saído com os meninos para a nova Magcon Tour e seis meses desde a minha entrada na Chanel.
Muitas coisas mudaram. Apesar de ser mais nova, passei a ser a mais respeitada designer da equipe. Até mesmo a vaca da Caitlin passou a tomar cuidado com o que falava comigo. Eu estava adorando.
Tem sido uma luta interminável com meu pai no tribunal para ter a guarda de Ally. Tudo culpa de uma piranha loira que virou a cabeça dele. Mamãe fazia muita falta.
— Quer que eu traga seu Cappuccino, amor? — perguntou Christopher, parado no batente de minha porta.
Neguei com a cabeça e passei os dedos por cima de minhas pálpebras fechadas.
— Não, mas pode me trazer uma aspirina? Essa dor de cabeça está me matando. — Respondi.
— Você anda com essas dores todos os dias. Um dia é dor de cabeça, no outro é nos músculos e já te vi exausta. Ah, tenho que lembrar da visão embaçada também? — Chris enumerava todos os meus sintomas — Talvez você precise deixar suas lentes de lado e voltar a usar óculos, querida.
Respirei fundo. A enxaqueca estava me matando e Christopher falando alto só piorava a situação.
— Só pegue a droga do remédio pra mim, por favor. — botei as mãos em minha cabeça e encostei a testa na superfície gelada de minha mesa.
Ele não disse mais nada e apenas saiu do escritório, deixando-me com minha dor e minha papelada.
Levantei a cabeça e olhei em volta. Tudo embaçado novamente. Isso vem junto com a dor de cabeça. Talvez eu tenha que ir ao médico ver o que é isso.
Meu celular tocou alto, assustando-me. Dei um leve pulinho na cadeira e o peguei para ver.
"Amo você, estou com saudades.
-Cam"
A curta mensagem fez um sorriso se formar em meus lábios, mas foi a última coisa que eu vi antes de apagar completamente.
Abri meus olhos e olhei em volta. Um quarto branco. Agulhas conectadas em meu braço e uma roupa que já não era mais um vestido curto feito por mim e sim uma bata feita de papel.
Christopher estava sentado na poltrona ao lado de minha maca. Ele babava e roncava. Nunca pensei que fosse ver Christopher, que é sempre tão refinado, desta maneira.
O dia do lado de fora da janela já havia se tornado noite. E eu não fazia a mínima ideia de por que estava ali.
— Chris? — chamei-o.
O homem tomou um susto e por pouco não pulou de sua poltrona. Quando me viu, se ajeitou e retomou sua postura.
— Oh, graças à Deus você acordou.
— O que aconteceu? Por que estou aqui? — arqueei minha sobrancelha direita.
Ele respirou fundo.
— Você desmaiou no escritório. Foi do nada. Tentamos acordar você de todas as formas, mas nada. Achei melhor trazer você pro hospital.
Fechei meus olhos e respirei fundo. Eu detesto hospital.
— Sei que você não gosta de hospital, mas eu achei extremamente necessário... E avisei a Cameron...
— VOCÊ O QUÊ?
— E deixei a Alice na casa da minha mãe.
— Com a Alice tudo bem mas... POR QUE AVISOU AO CAMERON? — bati na minha testa — Você sabe como ele é! Vai querer voltar da América Central por uma coisa boba!
Vi o olhar de Chris se entristecer e se desviar para o chão.
— Angel, não acho que seja uma coisa boba — ele coçou a nuca — Acho melhor eu chamar o médico pra ele te explicar.
Chris se levantou e se retirou do quarto.
Droga, a dor de cabeça voltou.
Uns cinco minutos depois, Chris voltou acompanhado do médico.
— Srta. Kendrew, vejo que acordou — disse o médico e eu apenas assenti.
Chris sentou na beira de minha maca e o Dr.Howard — li em seu jaleco — se posicionou na frente da maca.
— Srta. Kendrew, seu amigo nos contou sobre seu histórico de dores de cabeça e outros sintomas. Isso está certo? — perguntou, eu assenti e em seguida ele prosseguiu — Tomei liberdade de fazer uma bateria de exames, com assinatura de concordância de Christopher — ele mostrou uma pasta grande e branca — Os resultados chegaram e... Não foram agradáveis.
Respirei fundo.
— Doutor, pode falar. Não sou mais uma criança e detesto quando enrolam de mais. Pode ir direto ao ponto? — Respondi.
O médico e Chris se entreolharam.
— Você possui uma massa maligna no seu Lobo Frontal do cérebro. Não costumamos classificar os graus de câncer cerebral, mas se fosse em outra região, eu diria que é grau III.
Demorei alguns segundos para absorver a informação enquanto olhava para um ponto fixo no chão. Eu com câncer. Hilário.
— Eu vou morrer não vou? — Levantei o rosto e olhei nos olhos do médico.
— Não há cura para o câncer, Angel. Mas podemos reduzi-lo ao máximo e retirá-lo através de cirurgia. Nada garante que ele não voltará, mas ainda posso te garantir muitos anos de vida.
Voltei a olhar para o ponto fixo.
— Posso... Ficar sozinha e absorver a informação? — perguntei.
Christopher e Dr.Howard se retiraram de meu quarto e eu me perdi em pensamentos.
Minha mãe morreu de câncer. Eu vou morrer de câncer. Alice vai ficar sozinha nas mãos de uma vaca repugnante e Cameron vai sofrer.
Eu realmente não sabia o que fazer.
O tratamento é terrível. Acompanhei minha mãe na maioria das secessões de quimioterapia e a vi definhar aos poucos.
Não sabia o que fazer e minha vontade de chorar só aumentava.
Queria um abraço forte de alguém que fosse levantar meu rosto sem sentir pena de mim, mas Cameron estava há centenas de quilômetros e minha mãe estava morta. Nem mesmo a Gaby me entenderia.
O que poderia fazer? Escolher a forma de morrer mais devagar era minha melhor opção.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.