1. Spirit Fanfics >
  2. Will you be mine? >
  3. Passos trocados

História Will you be mine? - Passos trocados


Escrita por: Niccha

Notas do Autor


Opa, cap novo. Como esse e o anterior meio que foram "divididos" o tamanho ficou assim. Aliás, queria agradecer os 400+ favoritos, fiquei soft. Já passou dos 400 tem um tempinho, mas não agradeci propriamente. Vou desenhar alguma coisa pra colocar no próximo cap~
Não revisei o capítulo, vou dar uma olhada depois, to meio sem tempo e queria postar logo pra vocês
(Mais comentários nas notas finais)

Capítulo 15 - Passos trocados


Suspirando longamente, Midoriya recostou a nuca na borda da banheira, fitando a parede através da cortina enevoada que se formara no ambiente. Ambiente que, como todos os outros cantos da casa, cheiravam à Todoroki. Esse, entretanto, de forma diferente. Os outros lugares – especialmente o quarto – cheiravam à essência do Alpha, mas o banheiro ia além disso. Cheirava à Todoroki como um todo, e agora Midoriya provavelmente ia ficar mais do que nunca cheirando a ele também.

Dormira na cama do Alpha, agora estava tomando banho no banheiro do Alpha, com as coisas do Alpha, e ia vestir as roupas do Alpha. Se continuasse assim, quem sabe ele mesmo se tornasse um Alpha.

Olhando para o lado, ele fitou o lugar vazio a frente da bancada, no qual ele mesmo ficara de pé no dia anterior, numa situação incomparavelmente desesperadora. Agora, entretanto, se sentia tranquilo. Confortável, até. Era difícil definir, mas apesar de se sentir cansado, sentia-se revigorado, de certa forma. Não conseguia lembrar de já ter se sentido assim, algum dia.

De qualquer forma, ainda não conseguia evitar de se sentir extremamente envergonhado, toda vez que sua mente vagava para os eventos das últimas 24 horas. Tinha medo de que vermelho fosse se tornar a nova cor “oficial” de seu rosto.

O meio a meio parecia agora, mais do que nunca, como alguém completamente irreal. Todas as suas atitudes e palavras não paravam de surpreender o Omega, e sempre que o mesmo pensava estar começando a se acostumar, provavelmente já tendo visto tudo que o outro poderia lhe mostrar quanto àquilo, Todoroki o pegava desprevenido mais uma vez.

Até mesmo a pequena parte de sua mente que insistia em o alertar sobre como havia a possibilidade de tudo aquilo não passar de uma armação já não passava de uma mera lembrança enfadada, incapaz de se manter relevante depois de tudo.

Virando o corpo para o lado, ele cruzou os braços sobre a borda da banheira e apoiou o rosto neles, suspirando mais uma vez (vinha fazendo isso com muita frequência) e fitando a porta. Alguns pingos caíram de seu cabelo, e Midoriya tentou apurar os ouvidos. Tirando o som que sua própria movimentação na água produzia, tudo parecia silencioso. Ele se perguntava o que Todoroki estava fazendo, agora.

E então ele amassou a bochecha contra os braços, franzindo as sobrancelhas. O que ele ia fazer, agora? Tinha algumas opções, mas nenhuma parecia realista. Fingir que nada tinha acontecido? Não tinha como fazer aquilo! Ele não conseguiria agir de acordo. Com certeza só ia tornar tudo mais estranho, se tentasse.

E, claro, havia mais um detalhe. Um que fazia seu coração dar cambalhotas em seu peito e um nó se formar em seu estômago com a perspectiva. Talvez ele simplesmente não quisesse fingir que não tinha acontecido.

Balançando a cabeça em negativa de maneira enfática, ele recuou e voltou a recostar o corpo, escondendo o rosto entre as mãos ao se obrigar a desviar do pensamento. Era embaraçoso demais. A água ao seu redor se agitou com o movimento.

Então, que opções lhe restavam?

Espiando por entre os dedos, comprimiu os lábios. E então a voz do outro soou em sua cabeça, na forma de uma memória ainda muito recente. “Quero que saiba que pode pensar em mim como uma alternativa.”

Por um segundo, Midoriya se sentiu tonto. Não sabia se pelo calor da própria vergonha, ou se do ambiente. Talvez estivesse na banheira a tempo demais.

Como ele podia ter só dito aquilo?! Não havia nada que pudesse causar qualquer nível de embaraço no Alpha? Francamente, era quase desproporcional. Era a mesma pessoa que ele tinha descoberto ter ido dormir na sala, apesar de ser o Omega quem estava invadindo seu espaço!

Era quase fisicamente doloroso pensar sobre aquilo, tamanha era a vergonha que a hipótese lhe causava. Simplesmente “usar” Todoroki? Como podia sequer cogitar isso? Não importava que o meio a meio dissesse que não se importava, aquilo não deveria nem ser uma opção. Não podia fazer isso. Não queria fazer isso. Odiava a ideia de ser usado simplesmente para satisfazer um Alpha, como poderia considerar a ideia de ser ele a fazer isso? Além disso, se aquilo fosse voltar a acontecer com Todoroki, não queria que fosse apenas...

Arregalando os olhos, Midoriya arqueou as sobrancelhas. O que estava pensando?

Deixando o corpo escorregar de propósito, o rapaz mergulhou na água, deixando até a cabeça submersa.

E então ele gritou.

Não ia conseguir chegar a uma conclusão nesse ritmo.

~~~

Quando Midoriya saiu do banheiro, Todoroki, que estava colocando algo na bancada da cozinha, parou para olhá-lo.

Comprimindo os lábios, o menor apertou a ponta da toalha que estava sobre sua cabeça, desviando o olhar. Com algum esforço, se fez soar por sobre a parede que sua própria vergonha formava.

- Mm, obrigado... – Começou, sem saber bem o que dizer. – Pelas coisas que emprestou.

Todoroki balançou a cabeça, dando a entender que não havia problema. Entretanto, parecia que tinha algo a dizer, e assim o fez, ganhando novamente a atenção do mais baixo.

- Não de quê. Eu não olhei, mas seu celular não para de vibrar. – Contou o Alpha, em seu usual tom apático. – Você devia dar uma olhada, talvez seja importante.

Com a sugestão, ele voltou a fazer o que quer que estivesse fazendo, e Midoriya sentiu uma súbita realização atingi-lo.

Quando tinha sido a última vez que tinha falado com Uraraka?

Suas coisas ainda estavam no mesmo lugar que ele havia colocado no dia anterior, e Midoriya se apressou naquela direção com a crescente sensação de frio na barriga se instalando. Apanhando o próprio celular, ele engoliu em seco. Como ele temia, havia diversas novas mensagens da colega, as quais ele obviamente não tinha visto. Entretanto, não havia tantas ligações perdidas quanto ele esperava.

Como se por destino, seu celular começou a vibrar naquele instante, o fazendo ter um pequeno sobressalto, quase derrubando o objeto. Depois do susto, o menor rearrumou o aparelho nas mãos, atendendo a ligação e levando o celular até a própria orelha, sentindo o nervosismo crescer à medida que percebia que não tinha uma boa desculpa para dar a colega.

- A-Alô? – Respondeu de maneira desnorteada, soando o que com certeza era muito mais suspeito do que ele pretendia.

Da cozinha, Todoroki parou para fitá-lo de canto.

- Deku-kun! – Soou a voz de Uraraka do outro lado, e Midoriya encolheu os ombros. – Estava começando a ficar preocupada! – Reclamou ela, e Midoriya franziu as sobrancelhas, um pouco confuso. “Começando”? De fato, havia repreensão no tom de voz da amiga, mas nada muito além disso. Midoriya certamente estava esperando uma reação pior.

- A-Ah, mm, desculpe... – Respondeu, agora sem ter certeza quanto a sobre o que estava se desculpando.

- Não tem problema. Espero não ter te acordado! Decidiu faltar aula? Que incomum pra você. – Começou ela em desabalo, e Midoriya se sentiu mais confuso do que nunca. Do que ela estava falando? Abrindo e fechando a boca, ele estava começando a se preocupar sobre como ia responder àquilo, quando, para sua sorte, a Beta continuou. – Ah, quer dizer, não tem problema, claro! Mas, não era sobre isso que eu ia falar. Você viu minhas mensagens?

- A-Ainda não... Acabei de pegar o celular. – Respondeu, incerto.

- Eu sinto muito por não ter dado notícias mais cedo, espero que não tenha te deixado muito preocupado. – Se desculpou a garota, e Midoriya teve que piscar várias vezes para ter certeza se tinha ouvido certo.

- E-Eh...?

- Tsuyu-chan e eu acabamos passando mais tempo do que deveríamos nas lojas, e quando vimos a chuva já tinha começado. Como a casa dela era mais perto, decidi ir pra lá esperar um tempo, mas acabou que a chuva só piorou, e eu dormi lá. Tentei ligar, mas o celular não tinha sinal nenhum. Realmente sinto muito.

Com as sobrancelhas arqueadas, Midoriya levou algum tempo para absorver o que estava acontecendo. Uraraka não tinha dormido em casa. Ela não estava ligando para reclamar com ele, e sim para se desculpar. Ele não estava em apuros, agora.

- Deku-kun? – Chamou a Beta, depois da falta de resposta por parte do Omega.

Com mais um sobressalto, Midoriya balançou a cabeça, pensando no que dizer às pressas.

- N-Não tem problema! Fico feliz que esteja bem...!

Ele pôde ouvir um suspiro.

- De qualquer forma, e você? Conseguiu chegar em casa bem? Você voltou pra pegar a agenda, não?

- Ah, sim! E-Eu estou bem! E também estou com a agenda, e-então... – Uma pontada de culpa cruzou seu peito, mas parte dele se sentiu aliviado.

- Isso é um alívio. Fiquei preocupada quando você não deu notícias, mas fico feliz em saber que está tudo bem. Não sei se você pretende vir para faculdade ainda, hoje, mas não se esforce demais, é bom saber que você tirou um tempo pra descansar, sua cara não estava nada boa, ontem.

- Mm... – Confirmou, também com a cabeça, apesar de saber que ela não o estava vendo.

- Ah, eu tenho que ir agora! A gente se vê mais tarde, me avise se quiser que eu leve algo no caminho! – Falou ela, agora com um pouco de pressa.

- Tudo bem! N-Não precisa trazer nada, mas eu aviso se lembrar de algo! – Respondeu, também se apressando.

- Certo, até depois, Deku!

E, simples assim, a Beta desligou.

Ainda desnorteado, Midoriya afastou o aparelho da orelha, fitando o objeto em mãos por alguns instantes enquanto processava o que tinha acontecido. Não podia acreditar na sorte que tivera. Ele não sabia nem como ele mesmo ia lidar com aquela situação ainda, então não estava nem um pouco ansioso para ter que pensar nas desculpas que teria de dar a Uraraka. Entretanto, agora sabia que sua colega não tinha a menor noção de que ele não passara a noite em casa, e ele decidira manter isso assim. Ele não conseguia nem mesmo imaginar qual seria a reação de sua amiga caso ele contasse sequer sobre ter passado a noite na casa do Alpha. Não, aquela situação definitivamente era melhor.

Em seu momento de alívio, um pequeno suspiro lhe escapou, e seus ombros caíram. E foi por estar distraído com a nova realização que quando a voz de Todoroki soou, o Omega teve um novo sobressalto.

- Tudo bem? – Indagou o Alpha, e Midoriya se voltou para ele, subitamente se sentindo nervoso.

- S-Sim... – Confirmou, desviando o olhar. Não tinha falado a Uraraka onde estava. Todoroki tinha percebido isso? Aquilo o incomodava? – Era Uraraka... Ela não dormiu em casa, estava ligando pra pedir desculpas por não ter avisado. – Explicou, e Todoroki inclinou a cabeça. Parecia perceber toda a ironia daquela situação.

Quando o meio a meio apenas continuou em silêncio e confirmou com a cabeça, para então voltar a sua atividade, Midoriya sentiu uma nova bola de nervosismo se formar no fundo de seu estômago.

Deixando o celular de lado, o Omega puxou a toalha da cabeça, deixando-a cair em seus ombros, ao redor de seu pescoço. Com alguns passos incertos, ele caminhou um pouco na direção do Alpha, que agora tinha as costas voltadas para ele. Todoroki não estava com raiva, estava? Provavelmente não. Afinal, ele era extremamente compreensivo. Além disso, ele mesmo falara mais de uma vez que aceitaria qualquer que fosse a forma que Midoriya escolhesse para tratar de todo aquele “evento”.

- O-O que está fazendo? – Perguntou, apesar do receio. Se forçar a conversar ainda era infinitamente mais fácil do que se deixar corroer pelas dúvidas que o silêncio nutria.

Esticando o corpo um pouco para o lado, ele tentou ter um vislumbre da atividade do mais alto, e pôde observar Todoroki trocar o peso do corpo de uma perna para a outra, inclinando a cabeça. O movimento estranho fez o menor franzir as sobrancelhas, despertando sua curiosidade.

- Mm, - Soou Todoroki, depois do que pareceu um segundo de pensamento. – eu não tenho certeza.

Com a resposta incomum, o Omega se permitiu se aproximar um pouco mais, acabando por parar ao lado do meio a meio, que o fitou de lado. A frente de Todoroki, na bancada, havia algumas coisas cortadas, pacotes abertos e recipientes. O celular do mais alto também estava ali, com a tela ligada em algo. Todoroki estava tentando cozinhar?

Com a boca entreaberta em sua surpresa, Midoriya fitou o outro.

- Pedi a Fuyumi algumas dicas, deve estar tudo certo. – Contou Todoroki. E Midoriya pensou que aquilo explicava o celular. Ainda assim, estava surpreso. Por algum motivo, toda aquela imagem lhe parecia fora de lugar. – Eu não costumo cozinhar com frequência.

E então eles se encararam por mais alguns segundos, simplesmente por que Midoriya não foi capaz de falar alguma coisa. Depois de esperar alguns instantes, Todoroki trocou o peso do corpo de lado mais uma vez e voltou a olhar para frente, com as sobrancelhas levemente franzidas. Estava fatiando alguma coisa.

Ele estava com vergonha? Não, não parecia isso, mas... algo mais como... desconcertado? Sem jeito? De qualquer forma, era surpreendente. Além disso, por algum motivo era chocante para Midoriya ver algo que Todoroki não era capaz de fazer excepcionalmente bem. Outro detalhe que lhe chamou atenção foi que o maior continuava sem óculos. O Omega se perguntou se já tinha visto o outro passar tanto tempo assim sem eles, antes. Ele podia ver o rosto do meio a meio mais claramente, assim. Era uma mudança agradável, e Midoriya se pegou encarando as feições do outro por algum tempo, tentando ler sua expressão.

Só então percebendo que seu silêncio talvez estivesse fazendo o outro desconfortável, o menor pigarreou, colocando as mãos para trás ao falar e também olhando para frente.

- A-Ah, mm, precisa de ajuda com alguma coisa? – Ofereceu, e logo em seguida desviou o olhar. – Quer dizer, eu também não sou ótimo cozinhando nem nada assim, mas, eu e Uraraka dividimos as tarefas, então...

Todoroki balançou a cabeça.

- Não precisa. – Falou, e então ele parou por um segundo e franziu as sobrancelhas, mas não disse mais dada.

Encolhendo os ombros, Midoriya puxou o ar.

- Mesmo assim... Eu me sinto um pouco culpado por você estar fazendo tudo isso. Deve estar sendo um baita incômodo. – Admitiu, e o Alpha negou com a cabeça mais uma vez, mas o fitou de canto.

- Não é incômodo, e nem precisa se sentir culpado. – E então ele parou um segundo, falando em seguida sem mudança no tom. – Provavelmente vai estar comestível.

Midoriya piscou uma vez.

“Provavelmente”?

Além disso, que tipo de garantia era aquela? Todoroki achava que ele só estava preocupado com a qualidade do que estava sendo preparado?

Foi a vez do Omega balançar a cabeça em negativa, abrindo um pequeno sorriso. Por algum motivo, sentiu seu peito esquentar.

- Tenho certeza que sim, mas, gostaria de ajudar. – Falou, e, ao se inclinar um pouco para frente e chamar a atenção do outro para si. – Eu posso?

Todoroki o observou por um segundo antes de confirmar com a cabeça, dando um passo para o lado e assim dando espaço para Midoriya se juntar a ele.

- Não tem muito o que fazer, então não deve demorar.

Enquanto o maior colocava o próprio celular em uma posição que pudesse estar visível para o outro, Midoriya o observou, prendendo a respiração por um instante antes de começar a fazer a parte que faltava, seguindo as instruções. Se sentia nervoso, e pensar em tentar conversar sobre o elefante na sala o fazia se sentir ansioso. Mas, ao mesmo tempo, se sentia tranquilo. Ele tinha chegado àquela conclusão, antes, mas agora tinha ainda mais certeza.

Quando Todoroki abriu uma gaveta e pescou algo, o entregando uma faca logo em seguida, para então fazer algum comentário sobre o que Fuyumi tinha mandado, Midoriya pensou o quão impossível aquela situação lhe pareceria a apenas alguns meses atrás.

Ele não ia conseguir chegar a uma resolução sozinho, mas sabia que podia contar com Todoroki para ajudá-lo. E não havia problema nisso. Ele podia não entender os próprios sentimentos ainda, mas sabia que não queria se afastar. Em hipótese nenhuma.

Talvez fosse idiotice de sua parte se deixar sentir assim.

~.~.~

Todoroki estava sentindo muitas coisas naquele momento. Ele não sabia nomear todas, mas acreditava que a maioria era boa, provavelmente.

Midoriya não havia fugido, o que já era um ótimo sinal, apesar de não ter dado ainda uma resposta definitiva sobre toda a situação. O que também não era um problema. Se ele continuasse assim, Todoroki pretendia continuar agindo como sempre até que o outro o mandasse parar. Talvez fosse até um pouco mais agressivo em suas abordagens, a partir de agora. Bom, não agressivo. Não queria assustar o outro. Não agora.

Mas queria tocá-lo. Como queria. A tanto tempo. Queria abraça-lo e segurá-lo, tê-lo perto de si o tempo inteiro. Talvez estivesse sendo egoísta, mas a mera lembrança da expressão do outro quando o meio a meio lhe fizera uma carícia mais cedo, não dando qualquer sinal de receio nem recuando ante ao toque, fazia seu peito doer. Queria explorar mais daquilo.

Fitando o outro pelo canto do olho, podia ver que o Omega tinha as pontas das orelhas vermelhas. O meio a meio se perguntava o que ele podia estar pensando, agora. Quando respirava, podia sentir o cheiro de Midoriya no ambiente, ainda que não fosse tão forte. Além disso, também podia sentir o próprio cheiro, ou pelo menos dos produtos que ele usava, agora que o menor tinha saído do banho. Mas esse elemento exterior deixava aquilo muito melhor do que o que ele estava acostumado. Ele gostava do cheiro do Omega.

Tudo naquele momento lhe parecia um pouco estranho, e ele não sabia como agir. Se sentia deslocado, até um pouco nervoso, talvez. Aquilo não lhe era comum. De qualquer forma, era bom ver Midoriya aparentando estar tão confortável, dadas as circunstâncias.

Tinha sido difícil desviar da chuva de perguntas com as quais sua irmã lhe bombardeara depois que ele mandara mensagens, entretanto.

No geral, o resto do processo de produção do café da manhã foi silencioso, tirando algumas poucas vezes em que Todoroki teve que instruir o outro quanto a onde estavam alguns utensílios. Quando estavam terminando de colocar o que tinham feito à mesa, foi Midoriya o primeiro a falar.

- Mm, você disse que não costuma cozinhar, mas você mora sozinho, certo? – Perguntou o Omega, parecendo inseguro enquanto se sentava.

Confirmando com a cabeça, Todoroki terminou de depositar o último recipiente na superfície plana, para então se sentar também, de frente para o outro.

- Então, o que você costuma comer? – Questionou Midoriya, desviando o olhar.

Olhando para um canto qualquer, Todoroki pensou um pouco para formular sua resposta, apanhando os próprios hashis no processo.

- Eu como muita coisa pronta, dessas que você consegue comprar, eu acho. Fuyumi também acaba se preocupando, e as vezes vem do nada e entulha minha geladeira com coisas que ela preparou. Eu sei fazer o básico, entretanto. Acabei aprendendo depois que vim morar sozinho.

Midoriya concordou com a cabeça, mostrando que tinha entendido.

- Parece que você tem uma ótima irmã. – Comentou o mais baixo, abrindo um pequeno sorriso.

Todoroki confirmou mais uma vez.

- As vezes me sinto culpado, sei que não me esforcei pra tornar as coisas mais fáceis quando ainda morávamos todos juntos.

Ele não tinha certeza se Midoriya compreendera o que ele queria dizer, sem um contexto específico. Ele também não sabia porque tinha dito aquilo, também. Talvez ele só tivesse sentido que tinha permissão para contar aquilo a alguém com quem ele se importava o suficiente.

Midoriya inclinou a cabeça para um lado, parecendo pensar no assunto.

- Você ainda pode agradecer a ela. – Foi o que ele disse, por fim, e o meio a meio piscou uma vez, fitando o rosto do Omega.

Com a falta de resposta do mais alto, Midoriya pigarreou, ficando vermelho e desviando o olhar, agitando as mãos de uma forma que a essa altura não era mais estranha a Todoroki.

- Q-Quer dizer, não quero que pense que estou te dizendo o que fazer nem nada assim, afinal...!

- Você está certo. – Cortou Todoroki, e Midoriya cessou suas desculpas, abaixando as mãos e encolhendo os ombros.

Depois daquilo, o Omega o fitou de soslaio por um instante, parecendo indeciso quanto a algo. Ele parecia receoso.

Todoroki não gostava daquilo. O Alpha não sabia dizer o porquê, mas Midoriya tendia a fazer aquela expressão quando estavam conversando, por vezes. Era como se ele tivesse algo a dizer, mas não o fizesse. Todoroki não queria que aquilo continuasse. Aquela parede invisível que fazia o outro se retrair, qualquer que fosse o motivo. Se Midoriya tinha perguntas, ele iria responde-las. Se tivesse reclamações, ou elogios, ou comentários. Ele queria ouvir tudo.

Franzindo as sobrancelhas de leve sem perceber, ele encarou o outro.

- Você pode me dizer, se tiver algo que quiser saber. – Falou, e ele esperava que sua sinceridade não passasse despercebida.

Entretanto, quando  Midoriya voltou o olhar para ele com uma expressão que ele não soube definir, seguida de um pequeno sorriso, Todoroki sentiu uma pontada cruzar seu peito. Dizer aquilo fazia dele um hipócrita, não? Como ele podia esperar que Midoriya se sentisse seguro para falar o que quisesse, quando ele mesmo não tinha coragem para tal? No geral, o Alpha não tinha segundos pensamentos quanto a o que queria dizer. Ainda assim, ele não fora capaz de perguntar ao outro.

“O que estava te incomodando, ontem?”

Queria saber. Queria saber o que estava por trás daquela expressão.

Entretanto, simplesmente não conseguia perguntar. De alguma forma, sentia medo do que poderia ser a resposta, apesar de ele não saber o motivo disso. Talvez ele só achasse que a pergunta não ia ser aceita por Midoriya.

Enquanto ele pensava nisso, o Omega deu um breve suspiro, mais uma vez abrindo um pequeno sorriso e fitando a comida.

- Isso... é um pouco estranho, não é?

Confuso quanto ao que o outro queria dizer, Todoroki se resignou a inclinar a cabeça. Entretanto, uma coisa não lhe passou despercebida, e ele comprimiu os lábios em resposta. Midoriya estava mudando de assunto.

Seu gesto deu o espaço que o outro precisava, e ele continuou, dando de ombros de maneira vaga.

- Tudo isso. Continuo me perguntando como cheguei nessa situação.

Também abaixando o olhar, Todoroki prendeu a respiração por um instante. Ele entendia o sentimento. Pelo menos achava que entendia. Entretanto, ele não conseguia dizer se o Omega estava falando aquilo de maneira positiva ou negativa. Fora quase surreal toda a experiência desde que acordara, até ali.

- Mm... – Sem saber o que dizer, o meio a meio apenas concordou, mas não precisou elaborar um pensamento, pois o mais baixo interferiu antes que ele precisasse, se encolhendo no lugar e falando de uma maneira acanhada.

- Eu não odeio isso, mas não consigo deixar de me sentir estranho. – Surpreso com a declaração, Todoroki arqueou as sobrancelhas minimamente, voltando a fitar o rosto da pessoa a sua frente, que mais uma vez estava vermelha enquanto falava. – Continuo pensando que não deveria me sentir tão confortável, mas é difícil.

Enquanto ouvia isso, Todoroki sentiu algo repuxar em seu peito. E, olhando para o rosto do outro, uma súbita realização lhe ocorreu. Não o tinha beijado. Nenhuma vez, até agora. Tivera tantas oportunidades, e se forçara a deixá-las passar. Se sentiu frustrado, por um instante, um sentimento extremamente semelhante ao que sentira na noite anterior. Mais uma oportunidade perdida. “Oportunidade perdida”? Não, não podia pensar daquela forma. Ainda assim, era desagradável pensar nisso.

Não precisava ter pressa.

- Bom. – Respondeu. – Fique tão confortável que não consiga pensar em se afastar de mim.

Se Midoriya já estava vermelho antes, agora tinha atingido outro nível. Erguendo as mãos, o Omega escondeu o rosto. Aquela ação não era estranha a Todoroki, mas algo que o menor fez depois o fez ficar curioso. Depois de esconder o rosto e respirar fundo, o menor o espiou por entre os dedos antes de suspirar longamente, mas não disse nada.

Foi apenas depois de alguns instantes que ele abaixou as mãos, limpando a garganta e pegando os próprios hashis.

- Sinto como se estivéssemos trocando a ordem das coisas. – Comentou o menor, e Todoroki estava prestes a responder quando Midoriya puxou o ar, continuando de uma forma que parecia lhe exigir bastante esforço para dizer em voz alta. – Então... Eu estou realmente ansioso pra o nosso encontro.

A surpresa do Alpha devia ser visível em sua expressão. Midoriya estava sentado a sua frente, usando suas roupas e aparentando estar confortável apesar de não estar sob efeito de supressivos. Nada tinha mudado em seu apartamento, tinha? No geral, tudo estava onde sempre costumava estar. A luz estava entrando no mesmo ângulo que sempre entrava àquela hora. E, mesmo assim, ele não se lembrava de já ter se sentido daquela forma nesse ambiente.

Não precisava ter pressa.

Talvez estivesse ficando ganancioso.


Notas Finais


Primeiramente eu vou dizer logo que sim, encontro confirmado pro próximo capítulo. Espero que aguardem ansiosamente! E por algo que vou chamar de "ponto de virada" também, hehe
Além disso, sobre o desenho de agradecimento, vou dar algumas opções e se quiserem me digam qual vocês preferem ver (talvez eu só acabe fazendo algo completamente diferente):
1) lewd Midoriya agradecendo (uma visão geralmente particular do Todoroki)
2) Fun fact (?) sobre o ABO desse universo específico
3) Desenho comemorativo normal


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...