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História Will you be there? - Prometo


Escrita por: thilover

Capítulo 12 - Prometo


~~David~~

 Já nos acostumamos com a presença da Camilla em nossos compromissos de quase todo dia. Ela é até que uma boa companhia, nos diverte quando o trabalho está meio cansativo. Thiago não admite, mas já está bem mais apegado à menininha; está mais atencioso, aprendeu a tomar conta dela 24 horas por dia, e é claramente mais carinhoso do que era antes. A presença dele, entretanto, não faz a garotinha esquecer que a mamãe não aparece faz quase um mês – pelo que Thiago e Giovana dizem, Camilla sente muita falta dela. Creio que o papai dela também está sentindo, mesmo sem falar pra ninguém.

 Aliás, ele não me contou, mas fiquei sabendo que foi visitar Mariana no hospital essa semana e levou a pequena com ele. Mia continua no mesmo estado, sem melhorar pra sair do hospital, sem dar muitas pistas pros médicos, sem dar algum sinal de recuperação. Acho que é algo como um coma, mas nos fazem acreditar que é menos grave. Pelo menos sei que ela saiu da UTI, isso quer dizer que o quadro passou a ser mais estável – já é alguma coisa. Thiago anda bem desligado nos últimos dias, especialmente depois de ter ido ver a Mariana.

 Estamos aproveitando o hiato de jogos e viagens pra passarmos um tempo com a família e os amigos, pra desenterrar outros hobbies. Eu mesmo fiz umas campanhas publicitárias, dei algumas entrevistas, esse tipo de coisa. Pra falar a verdade, estamos até que aproveitando a folga da correria do trabalho, está sendo um bom descanso, dá pra esclarecer todas as ideias, e... Dá pra passar um tempo com Rachel.

 Sim, saímos algumas vezes (e espero que possamos sair mais). Eu adorei a companhia dela; é uma garota incrível – e faz os dias de reunião no escritório serem um pouco mais interessantes, já que ela é a secretária de lá agora. Márcio ainda não sabe que estou de olho na contratada dele, mas os meninos já sabem, claro. Thiago está se preocupando apenas com Camilla e, por mais estranho que pareça, não se enrolou com nenhuma garota desde que se separou da última ‘namorada’ e Mariana reapareceu.

“Não vai dar por hoje, David, esquece” – Thiago saiu do mundo da lua e finalmente abriu a boca.

 Estávamos na minha casa fazia horas pra tentar discutir sobre os próximos planos e jogos, mas o senhor Silva não estava contribuindo em nada. Milla veio com ele, mas estava tirando a soneca da tarde numa caminha improvisada no meio da sala. Fiquei até surpreso com a capacidade que ele está adquirindo de arrumar a fofinha – hoje ela até veio de cabelo preso (meio torto, mas estava preso) enfeitado com florzinhas; com um vestidinho azul que não estava sujo nem amassado.

“Qual o problema da vez, Thiago?” – perguntei, vendo que ele realmente não estava inspirado pro papo técnico

“Acho que ainda gosto da Mariana” – desabafou, encarando o teto. Ok, ele nem costuma falar sobre esse tipo de coisa, muito menos de forma tão direta

“Bom, eu também acho” – completei, e ele me encarou – “Falando sério, cara... Tá estampado na sua cara que gosta dela”

“Não sei, não tenho tanta certeza” –respondeu – “Isso só me confunde. Fazia tanto tempo que a gente não se via que eu já tinha me obrigado a esquecer”

“Ela parecia gostar de você também” – retruquei, sem saber bem o que dizer. Thiago mexia com uma almofada que estava no sofá, enquanto deixava o silêncio pairar por um bom tempo – “Por que não contou que foi fazer uma visita no hospital?”

“Como sabe disso?” – me encarou, surpreso

“Tenho minhas fontes” – respondi – “Mas isso não faz diferença”

“Eu nem tinha planejado ir até lá, só deu vontade” –contou, encarando Camilla – “A coisinha começou a chamar por ela e acabei levando ela comigo”

“E foi uma boa ideia?” – perguntei, mesmo sabendo que dificilmente ele responderia. Não sei como Mariana faz isso, mas toda essa conversa sentimental com Thiago sempre foi bem improvável (aliás, eu disse que ele estava mais carinhoso com a bebê, e sei que chama-la de ‘Coisinha’ pode parecer estranho, mas é um jeito carinhoso pra ele)

“Dava pra ver a conexão das duas; Milla gosta muito da mãe dela” – Thiago respondeu e depois deixou mais alguns segundos de silêncio antes de voltar a falar – “Mia faz muita falta pra ela, eu não... Eu não sirvo pra ser pai, David”

“Não é fácil virar pai de uma hora pra outra, mas você está indo muito bem, cara” – tentei animá-lo, mas o desanimo estava grande demais – “A bebê gosta muito de você também, dá pra ver... E você gosta dela”

 Thiago certamente está atordoado com algo a mais. Há tempos não o vejo tão confuso e desligado – é nesses momentos em que ele mais finge estar bem e ser o durão que todo mundo conhece; o que só piora a situação (não sou nenhum tipo de psicólogo, mas qualquer um sabe que ficar guardando os sentimentos não ajuda ninguém, pelo contrário). Pra mim, como amigo, era até estranho ver tudo que estava acontecendo em volta e com ele, eu jamais imaginaria que fosse virar ‘tio’ de uma criança tão rápido, mas vai além disso. É estranho ver Thiago inseguro, é estranho vê-lo encarando a menina de cachinhos morenos de uma maneira tão diferente; falando sobre Mia; confessando sentimentos; tentando melhorar pra outra pessoa. Não que ele fosse alguém ruim, frio e calculista; mas, como eu disse, ele sempre se escondeu, nunca se rendeu a nada nem ninguém, nunca mudou um foi de cabelo pra agradar alguém... Até agora.

~~Thiago~~

 O assunto ‘paternidade’ me incomoda. Me faz lembrar do meu pai. Me faz lembrar que eu nunca tive um pai de verdade. E me lembra que eu nunca quis ser pai, talvez porque realmente não soubesse o que isso significa, porque nunca tive o exemplo, porque nunca tive o apoio de um – quando soube que Mariana estava grávida, me lembro de ter pensado que, se eu sobrevivi sem o meu pai e Mia cresceu num orfanato, não seria tão prejudicial pra criança se eu sumisse.

 Pensamento estúpido.

 E uma mentira. Eu sobrevivi longe dos meus pais, mas nunca foi bom, nunca me senti verdadeiramente feliz sabendo que eles tinham me deixado pra trás. Mas eu sempre tentei fingir que não, eu queria apagar essa parte, queria borrar a parte da minha vida que me deixava como garotinho abandonado, órfão da família (e me lembro de quantas vezes minha própria família disse isso às escondidas). Indesejado, inesperado, irresponsável, dependente. Claro, não que eu queira ser mau agradecido com tia Elena, já que ela me acolheu como filho, mas acho que todo mundo escolheria a companhia dos pais se pudesse. Quando eu era criança, costumava pensar que todo mundo devia ter xingado horrores quando minha Angela disse que estava grávida. Ela era nova, mal tinha um relacionamento concreto, queria viver a vida, conhecer o mundo, ser independente. Quem iria querer um bebê a essa altura?

 E, sabe, foi pensando assim que eu percebi por que sempre fugi tanto da Mariana depois que ficou grávida. Ou por que eu sempre achava uma saída quando o assunto ‘filho/a que eu deixei pra trás’ voltada a minha cabeça. Eu tinha medo de me tornar meu pai, mas estava sendo uma cópia exata dele. Camilla sentiria exatamente o que eu senti minha vida toda: meu pai nunca precisou de mim. E nunca quis ser meu pai. Nunca tentou ser. Ela agora estava afastada da mãe, como aconteceu comigo. Eu a teria condenado a crescer com outra pessoa, passando pelo mesmo que eu passei, sentindo a ausência que eu senti.

 E eu não quero mais ser como aquele cara.

 Foi planejado? Não, claro que não. Mas está na minha frente e precisa de mim. Como eu precisei do meu pai um dia. Posso não ser a melhor pessoa do mundo, mas juro que vou aprender a ser melhor por ela. Milla também significa tanto pra Mia, não vou decepcioná-la, eu vou cuidar do seu tesouro. E espero que assim ela aprenda a gostar e perdoar as burradas do pai dela. Espero que ela consiga entender a roupa amassada, a mamadeira um pouco mais fria do que devia, o cabelo torto, a forma meio impensada e apressada como teve que aprender a ir pro banheiro (eu disse que ela aprenderia a não precisar mais das fraldas). É o melhor que o idiota aqui pode fazer.

(...)

 Ela se parece comigo, mas também é a cara da Mariana. Quando estão assim, lado a lado, são como gêmeas. E Milla é um grude com a mamãe. Essa é a minha terceira visita da semana, mas Camilla só veio hoje, e resolveu tirar uma soneca com a mãe – acho que pra uma criança deve parecer que Mia só está dormindo mesmo. Ter seu lado ‘famosinho’ pelo menos me deu essa chance de entrar nesse hospital a qualquer dia e hora, além de poder trazer a pequena pelo menos uma vez por semana. Não me perguntem por que eu venho, eu não sei. Sinto como se Mariana me chamasse, quanto mais venho, mais preciso aparecer, mais tempo preciso pra ficar do lado dela.

 E ver Mia com Camilla, juntas, bagunçava ainda mais as coisas na minha cabeça. Meus dias não são mais os mesmos desde que essa risadinha escandalosa chegou na minha casa. Vou dormir mais cansado; levanto mais cedo; aprendi a cantar musiquinhas toscas; levo sempre a troca de roupa; como por último; comprei um monte de coisa rosa. Ficar aqui, sentado nessa poltrona e olhando pra essas duas me deixa simplesmente maluco. Elas me enchem de pensamentos e sentimentos que eu nem lembrava como eram, ou nem imaginava.

 E juro que estou fazendo o melhor que posso, Coisinha. Eu não sou sua mãe e não sou tão bom quanto ela; sou mais maluco que ela; eu erro muito mais e acho que nem sei te colocar pra dormir direito, mas vou aprender. Juro mesmo. Ainda vai gostar de ficar comigo, posso te ensinar umas defesas quando for maior – e você com certeza vai amar futebol. Eu vou aprender a ser seu pai, Milla. Prometo.

  E também juro que vou esperar todo dia, Mia. Eu pensei que tinha te esquecido, mas foi só te ver de novo pra tudo desabar. Desculpa ter te colocado nesse hospital longe da sua menininha, eu não queria. Eu só espero que acorde e fique bem logo, você precisa ver agora como sua pequena sabe fazer xixi sozinha (e não no meio da sala, nem no vestido) e como eu aprendi a fazer um rabo de cavalo torto. Eu espero que me perdoe e que se orgulhe do meu trabalho com a Coisinha. É difícil admitir, eu nunca gostei muito de fazer isso, mas... Nunca deixei de amar você. E não te esqueci. Ninguém mais sabe, então, por favor, que isso fique entre a gente. Ok, eu sei, você nem pode me responder, mas deve estar ouvindo. Espero que sim. Ah, e antes que eu me esqueça, Camilla me chamou de papai ontem, foi a primeira vez.



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