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História Will you be there? - Eu te odeio


Escrita por: thilover

Capítulo 14 - Eu te odeio


~~Thiago~~

 Não me deixavam entrar. Camilla ficou com David, meio a contra gosto. Paguei uma fortuna pra esse hospital, achei o melhor médico desse país e não posso sequer passar desse corredor. Ninguém sabe dizer nada, ninguém explica nada, ninguém fala comigo. E eu já disse, se me deixarem mais outras três horas sentado nessa sala branca eu vou acabar quebrando a cara do primeiro que aparecer. Tá, não foram três horas, foram alguns minutos. Mas eu não acho que Raquel, Márcio e Giovana tenham que passar na minha frente.

 Eu sei que as meninas são amigas da Mia e tudo mais, mas eu a visitei quase todo dia; eu trouxe flores; eu achei um médico; eu estou cuidando da coisinha. Mereço tratamento melhor, vai... Pelo menos o motivo era bom, eu podia aguentar a espera já que valeria a pena. Sim, a Mariana acordou de vez, e está bem, mesmo depois do susto que deu na gente da última vez. Quando Mia piorou e os médicos fizeram todo aquele alarde dizendo que a coisa podia ser mais grave do que esperávamos, eu cacei no continente todo até encontrar o melhor especialista no assunto. Encontrei, claro. Não foi tão difícil, ele só cobrava ‘um rim’ por cada hora e ficava dificultando com horários e datas disponíveis – mas não demorei tanto pra convencê-lo; ofereci um pouquinho a mais, uns autógrafos, uns ingressos de jogos importantes...

 Eu não sei que tipo de milagre esse médico fez, só sei que ele conseguiu tirar a Mia da UTI, fez uma cirurgia de emergência hiper delicada (e que me deixou com ainda mais medo porque era realmente delicada) e fez tudo dar certo; todos os procedimentos. Menos de uma semana depois de ela ter acabado na unidade intensiva já estava voltando pro quarto, bem melhor. Não sei o que teria acontecido se eu não tivesse encontrado esse médico, não sei se teria dado tão certo. Só que agora não importa mais; o que importa é que Mariana está bem e está acordada. Vai poder rever a sua pretinha logo – aposto que ela deve estar louca querendo reencontrar a Milla – e, quem sabe, falar comigo e me perdoar.

“Finalmente...” – pensei alto, assim que Giovana e Raquel saíram do quarto, sorridentes até demais.

 As duas ficaram com Mia por quase uma hora e foram as primeiras a entrarem pra vê-la. Márcio entrou em seguida, mas saiu rapidamente por conta dos seus ‘compromissos de empresário’. Elas mal tinham passado e eu já estava de pé quase na porta do quarto, não estava afim de ficar esperando – muito pelo contrário, eu queria entrar logo, queria ver logo Mariana.

“Thiago” – Raquel me chamou, antes que eu entrasse. A cara dela não parecia de muito animo – “Ela não quer falar com você”

 Fingi não ter escutado. Eu preferia não ter escutado. Sei que Mariana não vai querer falar comigo agora, é claro, ela deve estar morrendo de raiva. Eu estaria com raiva de mim se fosse ela. Mas eu tenho que me justificar, tenho que falar sobre todo esse tempo em que estive cuidando a Camilla, sobre todas as minhas visitas. Fingi não ter escutado e entrei no quarto; fechei a porta ouvindo que as duas amigas bufaram do lado de fora.

“Mia” – a cumprimentei, totalmente sem graça e sem jeito. Eu não sabia sequer como começar a conversa, como encará-la depois de tanto tempo. Estava com tanto medo daquela situação que não sai de onde parei, do lado da porta mesmo

“Cadê a Milla?” – foi a primeira pergunta que ela me fez, como já era de se esperar. Mari parecia um pouco cansada, talvez ainda sob o efeito de alguns medicamentos

“Em casa, ela não podia entrar” – respondi, me aproximando mais

“Foi Giovana quem contou tudo né?” – questionou, obviamente se referindo a história com a pequena. Apenas assenti, sem muita coragem pra elaborar uma resposta melhor – “Não tinha que ter ficado com ela por obrigação”

“Eu tinha sim” – respirei fundo tentando achar alguma resposta que prestasse – “Mas não foi só pela obrigação, Mari. Foi pela responsabilidade”

“Você não tem, nem nunca teve responsabilidade, Thiago” – disse, finalmente me encarando. Até então ela não tinha olhado pra minha cara. E eu sei, eu sei que isso é só uma verdade

“Ok, eu não tinha mesmo” – retruquei – “Mas as coisas mudaram, Mia. Nesses últimos tempos, quando eu cuidei da nossa filha...”

“Minha filha” – ela me interrompeu, séria. Um nó se formou em minha garganta, eu o sentia entalado – “A única coisa que te aproxima da minha filha são os genes. E por mim não teria nem isso”

“Eu sei que eu deixei vocês duas no passado, isso foi idiotice, eu sei” – ia ser difícil convencê-la depois de todas as cagadas que eu aprontei, mas tinha que tentar – “Mas eu posso consertar agora”

“Não tem conserto, Thiago!” – Mariana me cortou, antes mesmo que eu pudesse continuar.

 Eu nunca a tinha visto tão fria, com tanta raiva. O brilho típico do seu olhar sempre doce parecia não estar mais lá – na verdade era como se ela quisesse me fritar com os olhos. Gostaria de naquele momento ter um buraco no chão em que eu pudesse me enfiar pra sempre. Tive medo da Mia, da reação dela. Tive medo que não me perdoasse nunca, que não entendesse a mudança dos últimos meses. Meu corpo congelou de uma maneira que só vi acontecer quando eu estava prestes a descobrir sobre o contrato do meu primeiro time de futebol. Uma mistura de vergonha, insegurança, nervosismo. Estou confessando, ok... Eu talvez seja mesmo a pessoa mais insegura desse universo.

“Desculpa, Mia, eu achei que...” – o pedido de desculpas saiu, mas as palavras entalavam e se embrulhavam – “Eu não queria que...”

“Você ainda tem essa mania né? De fazer tudo errado e depois achar que um simples agrado vai mudar as coisas; que um pedido de desculpas vai consertar tudo” – Mariana retrucou, cuspindo as palavras na minha cara – “Dava certo quando eu era a idiota que ia atrás de você. Agora não dá mais”

“Mas agora está tudo diferente, Mari. Eu te juro!” – finalmente consegui chegar mais perto, ficar do seu lado, olhar olho no olho – “Ficar com a Camilla mudou tudo pra mim. Tudo que eu pensava, tudo que eu fazia... Cuidar dessa menina mudou a minha vida, Mari, você tem que acreditar em mim!”

“Que bom pra você, mas isso não muda nada” – Mia retrucou, com os olhos mareados – “Por sua culpa eu fiquei nesse hospital por meses! Por sua culpa a minha filha quase passou fome porque eu não tinha dinheiro pra colocar comida na mesa! Me pedir desculpas não vai apagar nada disso, não vai me devolver os meses que eu fiquei longe da Mi e de todo mundo, não vai me fazer esquecer tudo o que eu sofri pelas suas decisões imbecis!”

“Eu sei” – respondi, quase num sussurro. Não tive resposta melhor e nem conseguia mais encará-la, ainda menos vendo as lágrimas escorrerem por seu rosto. A culpa era minha mesmo e Mari está certa quando diz que essas coisas não se apagam assim. Nem mesmo eu sou um exemplo de pessoa quando o assunto é perdão e superação

“Dessa vez quem vai sair por cima na história sou eu” – Mia me encarou, secando as lágrimas e usando um certo tom de ameaça. Ela não estava brincando, estava com raiva – “Nunca vou te perdoar por ter feito tudo que fez! E pode ficar tranquilo, Camilla não vai mais ficar no teu caminho”

“Ela não está no meu caminho” – respondi, voltando a olhar pra ela – “Eu gosto de ficar com a Camilla, de cuidar dela”

“Mas eu não gosto que você cuide dela” – retrucou, seca e direta – “E no que depender de mim, a minha filha sequer vai lembrar da sua existência”

“Não pode fazer isso!” – a interrompi, de novo congelando. Mia apenas riu

“Eu vou fazer isso” – disse, ainda com um sorriso sarcástico que eu não me lembro de ter visto em nenhuma outra ocasião – “Você não merece ter a Milla por perto. E ela não merece ter que conviver com uma pessoa como você, Thiago”

“Eu tenho os meus direitos, Mariana” – ah não, ela nem pense em tirar a coisinha de perto de mim – “Eu sou o pai dela!”

“Não é, nem nunca foi pai dela” – Mari completou, quase explodindo – “Pode tentar ganhar de mim se quiser, Thiago, mas sabe que não vai conseguir. Pode começar procurando algum advogado que te ajude... Porque eu vou destruir tudo que puder na sua vida; vou tirar tudo que você mais gosta exatamente como fez comigo. E se eu quiser ainda posso destruir essa sua carreira medíocre, ok? Aquilo que eu já senti por você um dia ficou no passado, pode esquecer todo aquele amor, carinho, saudades...”

“Eu ainda te amo, Mariana”

“Eu te odeio, Thiago”



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