História Will you survive me? - Mentirosa

Eu nunca tinha reparado como aquela pizzaria parecia um labirinto até ter que andar por ela inteira. Descemos até o porão, e aquilo realmente parecia não ter fim. Vários corredores vazios e escuros, eu mal consego enxergar.

- Ei, ei, vamos parar quando? - Reclamei, recebendo do urso um olhar ameaçador. Não me importo o quanto as crianças amam ele, essa coisa não parece nem um pouco simpática. - Aonde estamos indo?

- Humpf. - Ele grunhiu, parecia estar me xingando internamente. Estou fazendo o mesmo com ele.

Senti como se minhas pernas estivessem se despedaçando, então caí de joelhos no corredor escuro do porão. Freddy ficou me encarando, como se estivesse decidindo entre me matar primeiro ou me torturar para depois me matar. Fiz um sinal para que ele esperasse enquanto eu descansava e pegava uma lanterna e comida. Comi um pacote inteiro de biscoitos e bebi meia caixinha de suco de laranja. O grande urso me esperava com um ar impaciente. Talvez ele, sendo um robô, não se canse nunca.

- Ei, eu sou um ser humano, preciso comer, está bem? Não fique me olhando como se nunca tivesse visto alguém comendo. - E lhe mostrei uma língua alaranjada pelo corante. Guardei o resto das coisas na mochila e liguei a lanterna.

Deveria ter me guiado apenas pela luz dos olhos de Freddy Fazbear. O porão da pizzaria quase me fez manchar as calças. E tinha aquele cheiro horrível de coisas mortas e se decompondo lentamente. O urso me levou até uma enorme sala, e entendi o por quê de ter um cheiro de defuntos.

Realmente haviam cadáveres. Quatro deles. Muito, muito velhos, com larvas e moscas os rodeando. Parecendo aqueles mortos de filme de terror. Pensei em gritar, mas ninguém iria me ouvir. Pensei em sair correndo, mas o urso poderia me alcançar. O que o levou a fazer isso? Senti uma lágrima escorrendo e uma forte dor de cabeça; tudo parecia estar girando. Mas parei um tempo para raciocinar, talvez ele tenha me mostrado isso tudo por algum motivo (um motivo bem deprimente, diga-se de passagem). Podia ouvir o barulho da chuva lá fora, estava até trovejando. Tudo para que o clima macabro daquela cena se tornasse ainda mais aterrador. Acho que é apenas instinto, sou um ser humano e é isso que penso quando vejo coisas assim.

- Hm, tch. - Freddy me cutucou, fazendo-me caminhar até os cadáveres. Senti o sangue já um tanto quanto seco grudar em meus tênis. Penso que, se conseguir sair daqui viva, vou jogá-los fora na primeira oportunidade.

Me ajoelho na frente de uma das crianças mortas. Percebo que estão usando máscaras com as faces dos robôs da pizzaria. Não sei o por quê de eu não estar desviando o olhar de uma visão tão angustiante. É estranho. Olho para trás. O resto dos robôs estão me encarando na porta da sala. Lembro do cartaz que li perto da entrada. Chica mantém um punho erguido à sua frente e balança a cabeça, provocando um ruído de metal enferrujado. Volto a olhar para os corpos inanimados. Quando encaro novamente os robôs, eles estão mais perto. Certo. Entendi. Eu vou... Eu vou mesmo acabar assim?

- Desculpa, Sarah... Eu não vou poder voltar pra casa a tempo do jantar. Não guarde comida pra mim.

Sabe... Eu fico imaginando como é a morte.
              Deve ser mais ou menos isso que eu estou sentindo. As pessoas normalmente pensam que haverá uma luz.Toda a dor e sofrimento arrastados para fora de seu corpo, e será bom, não é?

Não é.

Não é assim que acontece.