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História Winterfalls - 15:51


Escrita por: __arisu

Notas do Autor



Capítulo 6 - 15:51


Quinta-feira. Eu achei que nunca poderia ter dormido tão mal em toda a minha vida, e quando parei para pensar, fitando o teto assim que acordei, devo admitir que o grande problema fora a minha ansiedade exacerbada que não me deixara dormir. Sentia-me patético. Rolei na cama a noite toda, pensando bobagens que me constrangeriam se eu tivesse de confessá-las. Até Choco desistiu de ficar me fazendo companhia.

Respirei fundo, soltando um suspiro. Mexi os pés frios, notando que estavam sem as meias que costumavam envolvê-los, devo ter chutado elas no meio da noite, pensei. Ergui o cobertor pesado, dando uma rápida olhada no relógio, naquele dia decidi não adiar minha corrida. Saltei da cama para o banheiro, notando que o sol já despontara no horizonte, envolvendo tudo em sua luz amarela e morna.

Enquanto tirava as peças do pijama, observando além da parede de vidro do banheiro as árvores que sorriam para o sol, pensei em Aiden e, automaticamente, me condenei por isso. Mas, ah, ele era como ímã, e eu me via envolto em seu campo magnético sem ter chances de sair. Pensei em seus olhos, o modo como o cabelo roçava sua testa, as luvas negras, o queixo pronunciado e os lábios vermelhos. Por um instante, achei até que pudesse sentir seu cheiro de cereja.

Desci o olhar para a banheira vazia do lado oposto do banheiro, sentindo minha visão ser atraída devagar, serpenteando como fitas finas de papel ao vento. Imaginei o corpo dele ali, orvalhado de gotas de água quente, as pálpebras cerradas e o peito nu reluzindo sob a luz do sol. Pensei em como seria distribuir beijos por seus ombros molhados, passar os lábios pelo pescoço dele lá onde aquela pinta graciosa era impressa com perfeição, sentir em meu tato cada poro de sua pele lisa e em meu olfato seu cheiro inebriante e encantador. Era tão incorreto e tão atraente que eu não podia me conter. Meu membro já era um volume aparente sob a calça cinza de moletom, e quando minha mão acariciou-o por cima do tecido quase gritei de prazer. Entreabri os lábios, num gemido mudo, cerrei os olhos... Eu não queria ver nada, estava louco e a coerência agora me incomodava, eu não queria parar para pensar.

Andei até a banheira vazia, passando as pernas para enfiar-me dentro dela. Sentado na porcelana branca, com a cabeça lançada para trás e o rosto sustentando uma expressão quase obscena de prazer, puxei o elástico para baixo e fitei meu membro ereto e orvalhado de uma excitação proibida. Passei a língua pelos lábios, mordiscando meu lábio inferior em seguida. E então, não pensei mais.

Mão firme, segura, envolvendo completamente meu membro rijo e quente. Invólucro de carne e movimento sedutor, vaivém, que vai desgastando a epiderme morna e desejosa, invalidando as células e besuntando os dedos num falso suor que tem cheiro de sexo e loucura. Incitava meu limite com o pouco que tinha, minhas mãos escorregavam macias sobre a pele, desenhando sem capricho cada veia saltada. Sentia uma dor intensa e entorpecente, como se meu corpo fosse atingido repetidamente por uma corrente elétrica que vinha sem dó, e ia me deixando ansioso por mais.

Em minha cabeça, dopamina dominante, uma vontade imensa de nunca ter fim, de ser eterno e sem limites como meus pensamentos que ainda escorregavam pelo corpo de Aiden, beijando-o, acariciando-o, tendo-o para mim e somente para mim. Egoísta louco.

Com a ponta dos dedos acariciei brevemente a glande, arrastando um gemido pelo cômodo como quem arrasta um garfo em alumínio. A vontade de gozar era tão inevitável que já me pertencia, impregnava em meu corpo, em meu suor frio correndo das têmporas, em meus gemidos depravados que ainda eram tímidos em gemer o nome dele com clareza. Eu sabia que me deixaria louco se eu me ouvisse dizer o nome dele, mas ainda havia tempo para censuras.

Em mais algumas investidas, derramei-me em desejo nas minhas próprias mãos, sentindo-o tomar forma no fluido viscoso com aquele cheiro forte que me efervescia as células do corpo inteiro. Respirei ofegante, tentando esclarecer alguma coisa em minha cabeça. Girei os olhos para as árvores balançadas pelo vento lá fora, as frágeis testemunhas de meu pecado. Sorri para elas, cansado, desculpando-me num silêncio envergonhado.

- O que eu estou fazendo, afinal? – questionei ao vento, passando a mão limpa pelo rosto, tirando o cabelo que se grudava em minha testa suada. Eu estava, na verdade, completamente suado. Saí rápido daquela banheira, retirando as roupas e correndo para o chuveiro, deixando que a água levasse todos aqueles nós de tensão e tesão que marcavam meu corpo.

Eu estava morrendo de vergonha, agora. Como eu iria olhar para ele de novo? O que Aiden pensaria de mim se soubesse que eu andava fazendo aquele tipo de coisa pensando nele? Sem dúvidas, seria algo sobre eu querendo bem mais que sua amizade, o que eu efetivamente queria, mas nem em meus maiores devaneios ousaria em deixar que ele descobrisse. Acabei concluindo que estava mesmo louco, finalizando o banho depois de me lavar minuciosamente.

E do que eu mais me arrependia, era de não ter me arrependido de nada.

Quando saí, vestido no roupão negro de banho, vesti meu moletom azul e meus tênis de corrida. Saquei o pequeno mp3, acionei o play e o coloquei dentro do bolso ainda na porta de casa. A música começou a tocar dando ritmo aos passos que eu dava sem olhar muito além, estava concentrado, tentando tirar os pensamentos incertos da cabeça.

O cheiro de clorofila fria me embalava com a brisa que agitava meu cabelo, eu acelerava o passo à medida que a música se chocava contra meus tímpanos, e demorei a reparar que estava ganhando velocidade demais. Demorei a perceber, também, que corria como se fugisse de mim mesmo. Arrastando os sapatos brancos na terra escura com os braços vergados grudados ao corpo, a respiração ofegante que escapava ritmada por minha boca, e os pensamentos vagando no frio da manhã. Duas, três, quatro voltas.

Fechei os olhos, deixando que meus pés abrissem o caminho. Eu adorava a sensação. Sentia-me puro novamente, misturando-me à neve que, gotejante, resistia ao brilho do sol. Se houvesse mesmo algum elemento da natureza nos regendo em algum lugar, eu diria que o meu seria água, água gelada. Gelo, para ser mais preciso. Gelo... Tão forte e tão fraco, quanto mais ele resistiria ao calor do sol? De todo modo, eu tinha algo a meu favor.

Ali, até mesmo o calor do sol estava coberto de neve.

A biblioteca já estava cheia quando cheguei, mas nada parecia fora do controle apesar do meu pequeno atraso. Todos os funcionários estavam tranquilos, ainda que ocupados. SeungAh não estava no balcão perto da entrada, estranhei sua ausência, mas logo a vi jogando conversa fora com uma das garotas do Café. Assim que me viram, sorriram para mim e SeungAh logo se despediu, vindo em minha direção com seu andar de fada, as pontas eriçadas do cabelo balançando graciosas ao redor de seu rosto.

- Atrasado! – disse, com o dedo em riste. Logo depois sorrindo e me dando um beijo estalado na bochecha – Onde você estava, senhor Hyukjae?

- Correndo. Desculpe, me atrasei mesmo. – respondi, coçando a nuca – Então, você vai comigo amanhã?

- Aonde? – ela questionou, me fazendo torcer os lábios para ela, desgostoso – Ah, o ParaKiss? Claro, já estou lá praticamente pagando a entrada, seu bobinho. Já pensou sobre o que vai vestir?

- Pensei em jeans e casaco, você não?

- Ai, você sempre vai insistir em ser básico desse jeito? Você é tão bonito com esse cabelo loiro e tudo mais, devia vestir algo mais... Sabe, boom!

- Boom? – arqueei as sobrancelhas para ela.

- É, Hyukjae, boom! Explosão, sedução, esse tipo de coisa. Paradise Kiss não é um lugar de ser simples, as pessoas lá são descoladas e inteligentes, gostam de boa música, de assuntos interessantes...

- Jogam xadrez e cruzadas no meio da festa?

- Não exagera, vai. Você pode ser absurdamente nerd, mas você tem que ser bonitão. E, vamos combinar, Hyukie, você é um gato, vai ficar bem em qualquer roupa de festa. E não, eu não estou dando em cima de você. – ela sorriu, novamente com o dedo em riste apontado para mim – Antes de beijar você, leio toda a sessão de autoajuda dessa biblioteca.

Ela declarou, dando uma piscadela e me fazendo rir. Acabamos combinando que ela iria comigo para casa na sexta-feira, “me vestir de acordo”, como ela mesma disse. Eu sabia que possuía roupas verdadeiramente de festa, até por que Sora sempre me comprava algumas peças de Seul que não eram exatamente a figura exata de baratas e simples.

O dia correu tranquilo, tranquilo demais, até. Talvez eu ainda estivesse com aquela ansiosidade patética e insuportável que tomava meus sentidos. Era difícil me concentrar em certas horas em que tudo o que eu queria fazer era olhar para a calçada através da porta de vidro de cinco em cinco minutos só para ter certeza de que nenhum mustang azul escuro estava estacionado lá. O que ele estaria fazendo? Eu ainda não tinha o celular dele, nem nada parecido. E mesmo se tivesse, talvez eu mesmo nunca tivesse a coragem de ligar.

Quando o movimento na biblioteca acalmou um pouco, eu e SeungAh saímos para comer juntos, papeando até chegar ao restaurante onde costumávamos ir. Estava menos frio naquela quinta, mas todos ainda usavam cachecóis e casacos pesados. Sentamos-nos à mesa perto da janela e enquanto ela digitava um incansável SMS, eu fazia um cisne de origami com o guardanapo.

- Que horas são aí? – ela perguntou, casual, pouco depois de fechar o celular.

- 15:51. Horas iguais. – falei, rindo para a tela de meu celular.

- Veja o que significa! Anda, Hyuk, para de rir! – ela parecia levar a sério aquela supertição boba, acabei aceitando, checando um pequeno arquivo no celular que ela me estendeu.

- “Reencontrará um velho amigo” – li, estreitando os olhos para as palavras.

- Velho amigo?

- Não faço ideia. – eu disse, desviando o rosto para a janela. Eu fazia, sim, mas a ideia era ridícula demais para que eu declarasse. Não havia velho amigo, ele estava morto, não restara nada dele. Por um instante minha velha cicatriz começou a arder como uma ferida aberta. Sacudi a cabeça, me livrando dos pensamentos.

Voltamos para o final do expediente, e eu já estava entediado o suficiente para dormir sobre o balcão, nada parecia suficiente para me entreter por mais de dez minutos. Peguei incontáveis livros para começar uma leitura, mas logo cansava. Acabei tomando, ao total, dez copos de café, eu definitivamente não sabia como fazer o tempo passar mais rápido, e cada vez que verificava os ponteiros do relógio me decepcionava profundamente. Quando finalmente acabou, caminhei com SeungAh por um tempo até que nos separássemos, mas, daquela vez, não fui para casa.

Simplesmente achava que iria enlouquecer se ficasse esperando que o tempo passasse. Caminhei até a praça principal, vi as crianças num passeio noturno, algumas ainda brincavam iluminadas pela luz de postes altos que acendiam com a noite. O vento batia em meu cabelo e me levava um pouco daquela pressa injustificável, relaxando-me lentamente.

O pequeno passeio me fizera bem, quando voltei para casa abracei Choco e fiz uma ligação breve para Sora, dizendo que estava tudo bem, e omitindo algumas novidades, obviamente. Sora não precisava saber do que nem eu tinha certeza. Tomei um banho rápido e me escondi debaixo dos lençóis, virando para fitar o teto logo depois.

Choco se aninhou em meus braços, lembro-me de ter falado algo com ela antes de apagar completamente.

Acordei com o sol no rosto, ofuscando-me a visão e banhando todo o quarto. Ainda estava frio, eu podia sentir por minhas mãos geladas pendidas para fora do cobertor. Levantei e tomei um banho rápido, era finalmente sexta-feira, mas agora, a minha ansiosidade insana se covertia num temor de encarar o que viria.

Passei as mãos molhadas pelo rosto, despertando-me de vez. Era melhor que eu tivesse toda a coragem do mundo naquele dia, ou me odiaria para sempre. Vesti algo um pouco menos pesado, uma camisa de mangas sobreposta por outra de estampa xadrez e jeans surrados para combinar. Choco me observava quieta enquanto eu me arrumava, sorri-lhe e a peguei no colo, passando os dedos por seus pelos macios.

- Eu vou pra noitada hoje, você pode acreditar nisso? – dei uma risada.

Antes de sair para o trabalho, passei na cozinha para um café da manhã desajeitado. Preparei um sanduíche e um pouco de chocolate quente – que ficou meio ralo, porque sou um péssimo cozinheiro –, comi tudo rápido e saí pela porta enfiando os fones nos ouvidos. Havia algo de especial no sol daquela sexta-feira, estava mais quente e mais brilhante, e corava minha pele desacostumada e sensível. Na rua, as pessoas estavam eufóricas, nunca vira as avenidas cinzentas de Yangju tão cheias.

Todos usavam roupas mais leves e ostentavam sorrisos, erguendo o rosto para o sol e sentindo o calor atravessar a pele com calma. Crianças passeavam com seus cães seguros pela coleira, e cheguei a me arrepender de não ter trazido Choco para sentir o sol mais de perto, já que as árvores ao redor de casa atrapalhavam um pouco. Quando cheguei à biblioteca, lá estava agitado também.

- Bom dia, Hyuk! Dá pra acreditar nesse sol? – era SeungAh, animadíssima. O cabelo dela estava preso em um rabo de cavalo curto e repicado demais, usava uma blusa azul de alças finas.

- Tudo isso por cinco graus a mais? Não estávamos na Califórnia, SeungAh.

- Ai, seu insensível! – me deu um leve tapa no braço – Estão todos muito felizes com o sol, se quer saber, eu queria que ele ficasse mais um pouco... Mas e aí, nosso plano ainda está de pé pra hoje à noite?

- Claro, você trouxe suas roupas pra trocar lá em casa?

- Está tudo na bolsa. – ela esticou o polegar, dando uma piscadela e sorrindo.

A cidade continuou agitada até o fim da tarde, quando o sol começou a se pôr. E enquanto a animação das pessoas ia gradualmente sumindo com o dia de sol, a minha se aflorava e nascia junto com a noite que despontava levemente no horizonte, preenchendo o céu com seu azulado intenso. Eram mais de oito da noite quando SeungAh e eu fomos liberados, porque nos encarregaram de arrumar a bagunça feita durante todo o dia na biblioteca. Nós ficamos, afinal, naquele dia precisaríamos de um favor do chefe.

Ninguém queria ir ao Paradise Kiss a pé. Ao menos SeungAh negou com todas as forças, insistindo para que eu pedisse o carro, e foi o que fiz, aceitando também a pequena “hora extra”. Pegamos o pequeno automóvel e seguimos para minha casa, o caminho era um pouco escuro, e ela reclamou o tempo inteiro sobre como eu era estranho por morar dentro do mato. Ela sempre fazia isso.

Estacionei o carro, contornando-o para facilitar quando saíssemos, e SeungAh logo saiu carregando a pesada bolsa rosa com motivos de caveirinhas sorridentes. Subimos a escada, eu acendi as luzes e ela entrou animada, chamando por Choco. Eram nove horas da noite, eu planejava chegar às dez, não queria deixar parecer que eu ia somente para vê-lo. Era verdade, mas não era conveniente.

- Você não tem vergonha de tirar a roupa na frente de tanto vidro transparente? – SeungAh colocou o rosto através da porta do banheiro, onde ela acabara de tomar banho e se trocar.

- Não. Se alguém me visse sem roupas, duvido que bateria na porta pra reclamar. – declarei, com um sorriso.

Ouvi sua risada soar alta enquanto vasculhava meu armário, separando algumas peças. Assim que SeungAh saiu do banheiro, usava sapatos altos e negros que se fundiam com a meia-calça escura, os shorts de um jeans propositalmente desgastado combinavam com o casaco listrado que escondia parcialmente uma blusa preta com detalhes brilhantes. Usava um pouco de maquiagem, delineando seus olhos que pareciam um pouco mais verdes.

- Uau.

- Fica quieto! – declarou, tímida – Agora vem, vou fazer todo mundo no Paradise Kiss dizer Uau pra você.


Notas Finais


Sobre o capítulo, bom, eu deixei vocês praticamente na entrada do Paradise Kiss porque achei que o capítulo ia ficar extremamente grande e eu acabaria cortando coisas demais. Então, acabei esse por aqui para me dedicar ao próximo de corpo e alma. Espero que tenham gostado e que continuem comigo.
-
Kissu, Arisu ~


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