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História Winterfalls - Luzes


Escrita por: __arisu

Notas do Autor


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Capítulo 15 - Luzes


Havia certamente uma coisa que eu estava sentindo da ponta dos pés até o último fio de cabelo. Antes mesmo de sentir a pressão suave em meus lábios, antes mesmo de abrir os olhos e tomar consciência de que o dia seguinte chegara, eu estava sentindo.

- Hey... – sua voz baixinha fez um carinho bom em meus ouvidos ao mesmo tempo em que seus lábios roçaram o lóbulo de minha orelha – Hyuk... Você tem trabalho hoje, não é?

Afundei o nariz em seu pescoço, envolvendo o corpo dele com meus braços e aspirando seu cheiro. Aiden ainda estava completamente nu embaixo dos lençóis, eu podia sentir seu corpo quente contra o meu enquanto acariciava e colocava meus pés entre os seus. Tinha certeza de que estavam gelados, mas ele apenas riu pelo contato.

- Mais cinco minutos – implorei, deslizando a palma por seu abdômen livremente – Passei três noites sem você, eu mereço cinco minutos.

- Hyukjae! – respondeu, manhoso – Olha só pra essa sua carinha inchada de sono, não tem autorização nenhuma pra ser lindo desse jeito logo de manhã.

- E você?! – revirei os olhos, um sorriso de falso escárnio em meus lábios enquanto eles os fitava longamente, sem qualquer constrangimento – Você parece acordar em um comercial de iogurte.

Seu riso findou em meus lábios assim que ele me beijou, roçando a ponta da língua sobre os meus lábios, causando um arrepio desconhecido e as costumeiras borboletas em meu estômago. Agora que éramos, oficialmente, algo muito parecido com namorados, tive por um instante a leve esperança de que Aiden finalmente parasse de me deixar à beira de uma crise de sentimentos físicos e psicológicos, mas percebi ser inútil quando ainda sentia o modo como nada em mim parecia se sustentar completamente quando nos beijávamos.

- Vai tomar banho, vamos tomar café no Null’s.

Nós dois merecíamos um pouco de descanso, então garantimos para que não acabássemos debaixo do mesmo chuveiro e não alongássemos demais os beijos, apesar do desejo que tínhamos, ignorando todo o cansaço, de fazer tudo outra vez. Estávamos descendo as escadas, já devidamente vestidos, quando Aiden transpassou os braços por minha cintura, a boca próxima o suficiente do meu rosto para que eu ouvisse cada palavra sussurrada.

- Você é maravilhoso, eu só queria que soubesse disso – apertou-me em seus braços, e ficamos ali parados naquele degrau da escada de madeira, meus olhos fechando por sentir sua respiração compassada em meu pescoço – Eu gostei do que aconteceu ontem, mas se você não quiser novamente, eu...

- Aiden – suspirei – Desde o momento em que pus os olhos em você pela primeira vez, eu reneguei cada insegurança minha, uma a uma, e ainda que tenha sido devagar demais, eu te digo que não tenho medo do que podem dizer de mim, não me importo com estereótipos ou conclusões preconceituosas de quem quer que seja. O modo como eu e você fazemos sexo não é da conta de ninguém além de nós dois – virei-me em sua direção, tomando seu rosto entre minhas mãos frias – E se o que quer saber é se me sinto estranho ou menos homem do que eu sou depois do que aconteceu, a resposta é não, ok? Eu não me sinto estranho por ter tido uma noite maravilhosa com o homem que eu amo.

- Hyuk... – seus olhos castanhos se desviaram para a parede de vidro que revelava um pouco do verde sem fim do lado de fora. O brilho existente naqueles olhos era o princípio das lágrimas que começavam a marejar seus dois orbes cor de amêndoa – Você é tão... Lindo! Seu idiota, idiota...

Seus punhos deixaram pequenos socos em meu peito, e Aiden repousou como uma criança em meu peitoral, quando lhe dei o abraço mais longo e apertado do nosso recente relacionamento. Beijei seus fios castanhos que exalavam o cheiro do meu shampoo e entrelacei meus dedos frios aos seus, tão quentinhos e macios que apreciei o toque antes que pudéssemos finalmente descer dali.

Choco estava à nossa espera, sendo mimada por Aiden em todo o caminho até o mustang. Entramos no carro e ele começou a cantarolar, sua voz levemente anasalada acalmando a nós dois. O mustang lentamente ganhou vida e nós partíamos ao som de sua voz, e fosse qual fosse a canção que Aiden cantava, naquele momento eu sabia que era a minha favorita.

I was a quick, wet boy, diving to deep for coins. All of your street light eyes wide on my plastic toys.

Reprimi um sorriso bobo, fitando-o com interesse e encantamento nos olhos. Talvez isso possa parecer um pouco de exagero, mas eu me sentia como um pequeno globo terrestre na mesa de um escritório. Aiden era um garoto distraído me girava com as pontas dos dedos, para um lado e para outro, incansavelmente, e de repente eu tinha uma razão para estar ali. Meu destino estava impresso em suas digitais, e eu era como um alguém seguindo sua voz no escuro.

Encobri sua mão pousada sobre a marcha com a minha, acariciando brevemente a pele macia. Aiden sorriu de canto, sem desviar os olhos da estrada, ele não cantava mais e o silêncio se fez entre uma carícia e outra. A quietude me instigou e uma pergunta simples coçou em minha língua, talvez o momento fosse perfeito para que tudo parecesse apenas curiosidade.

- Aiden, como foi a viagem? Resolveu... Hm, as suas coisas? – perguntei sem, no entanto, olhá-lo diretamente.

- Foi tudo como deveria ser, e eu espero não ter que voltar sempre – respondeu, e vi pelo canto dos olhos que seus lábios se apertaram um pouco – Não que eu não goste de ver Erina, mas, é um pouco complicado...

- Ficar longe de mim? – dei-lhe uma piscadela, e ele sorriu.

- Isso também é complicado.

- O que mais é complicado? – dessa vez, olhei fixamente para seu perfil travado.

- Ficar desacordado – o mustang freou bruscamente, me fazendo levantar os olhos e ver que já estávamos estacionados no meio-fio do Null’s Cafe – Vem, nós chegamos.

Aiden abriu a porta do carro e saltou para fora mais rápido do que meus olhos puderam acompanhar. Eu fiquei ali, encarando o rádio desligado e as marcas dos dedos de Aiden no estofado duro da marcha. Ele estava segurando com tanta força assim? Batidas no vidro me despertaram, ele estava do outro lado, os lábios vermelhos me perguntavam “Você não vem?”.

Abri a porta e peguei Choco no colo, passando a ponta do meu cachecol pelo pequeno pescoço dela. Sua resposta ainda martelava em minha cabeça enquanto eu tentava inutilmente diluir a informação, andando mais devagar do que queria. Era como se meus pés pesassem, demorando a responder um estímulo que eu nem sabia como estava conseguindo transmitir. O Null’s estava um pouco lotado, as vozes misturadas me aturdiram ainda mais, então eu pedi para que ficássemos Aiden e eu em uma mesa ao fundo, encostada a uma das grandes aberturas de vidro que davam vista para a rua.

No curto momento em que Aiden se afastou para fazer nossos pedidos no balcão, Choco saltou do meu colo e foi para perto dele, talvez com vontade de cumprimentar Null. Olhei para cada bloco cinzento na rua, assustado e instigado. Aquela coisa que ocorria dentro de mim naquele momento não tinha nome, um turbilhão de coisas que borbulhavam num lugar muito distinto de mim mesmo. Pense, pense, pense.

Pílulas vermelhas.

Desacordado.

“Espero não ter que voltar sempre”

“Quando tudo terminar”

Erina Fletcher.

Médica Neurologista em Dongducheon.

A voz sonolenta de Aiden na única vez que nos falamos por telefone, ele estava com sono às seis e meia da tarde?

– Hyuk! – sua voz aumentara uma oitava, sua mão firmava-se em meu ombro – Está me ouvindo?

– Desculpe... Eu... Estava um pouco longe. Desculpe.

– Tudo bem – fez um bico insatisfeito e se sentou, encarando o bolo de cerejas com o um sorriso discreto – Pode verificar se acertei o seu café da manhã, por favor?

Antes que eu desviasse os olhos para a xícara em minha frente, o cheiro de cappuccino invadiu meus sentidos, fazendo meu estômago reviver. Num prato à esquerda estava um sanduíche envolvido em um guardanapo de papel. Sorri para Aiden, um pouco desconcertado por ele ainda saber o que eu gostava de comer, mesmo depois de certo tempo que não visitávamos o Café juntos.

O sorriso fraco em meus lábios ainda tinha o peso da enxurrada de coisas que se passavam pela minha cabeça. Aiden parecia tão tranquilo e pleno naquela manhã que me pareceu um absurdo interrogá-lo ali, onde não estávamos nem mesmo sozinhos. Um pouco desequilibrado, peguei a xícara entre meus dedos e levei aos lábios, sentindo minha garganta aquecer.

Da porta do Café, o som das sinetas no batente desviaram meus olhos. Uma garota estava entrando, usava botas felpudas e uma fita no cabelo, e eu tinha certeza de que já havia a visto ali em algum momento. Seus olhos castanhos opacos fitaram os meus e ela automaticamente sorriu e acenou em minha direção. Ela parecia se lembrar mais de mim do que eu mesmo me lembrava dela, porém não hesitei em acenar de volta discretamente.

– Quem é? – Aiden perguntou, a voz afiada como uma faca para bolos de cereja.

– Na verdade, eu não sei. Nos falamos há uns dias aqui no Café, mas não perguntei o nome dela – dei de ombros, concentrando-me na xícara de cappuccino quente.

– Pretende perguntar?

– Aiden... Está com ciúme? – questionei, sorrindo de canto.

– Não posso? – desviou os olhos para baixo, como uma criança contrariada.

– Olha pra mim – ele ergueu os olhos irritados, que se abrandaram assim que minha mão alcançou a sua, inerte do outro lado da mesa – Se eu pudesse descrever a beleza de teus olhos e enumerar infinitamente todos os teus dons, o futuro diria ‘este poeta mente, tanta graça divina jamais existiu em um ser’. Em nome de Shakespeare, Aiden, você não tem nenhuma razão vivente nesse mundo pra ter ciúme.

Pela primeira vez, observei as maçãs de seu rosto ganharem um tom deliciosamente vermelho, um riso baixo e bobo escapando de sua boca. Aiden era bonito de um jeito tão perturbador que eu me perguntava como eu não enlouquecia de ciúme dele. Ele era capaz de despertar desejos tão intensos e distintos em mim de um modo tão avassalador e inexplicável que gostaria de algum dia descobrir se ele fazia isso com o mundo inteiro.

Para enlouquecer de ciúme logo depois.

Aiden me deixou na biblioteca, avisando que iria ao apartamento guardar suas coisas. Foi inevitável o arrepio gelado que senti quando ele citou o apartamento numa rua distante dali. Perguntava-me se havia deixado algum sinal meu naquele lugar, algo que pudesse fazer com que ele desconfiasse de onde eu estivera uma noite antes de sua chegada. Disfarcei o nervosismo e peguei Choco no colo, protegendo-a do frio com a ponta do cachecol mais uma vez. Aiden roçou docemente nossos lábios antes que me deixasse ouvindo apenas o ronco do mustang partindo.

O clima na biblioteca parecia um pouco mais leve, ou talvez fosse eu quem estivesse sentindo que as coisas estavam finalmente ajeitadas. SeungAh estava usando sapatilhas verde-água, uma meia-calça branca protegendo suas pernas e um vestido fofo cheio de pequenas flores roxas. Parecia uma boneca, a minha boneca SeungAh.

– Você está tão linda, mini petit.

– Com quem transou? – ri tão alto que ela me acompanhou, segundos depois de me encarar com as sobrancelhas erguidas – Eu vi o mustang, ele voltou, não é?

– Voltou, mas não é por isso que você está linda – declarei, abaixando para deixar Choco no chão, sorrindo quando ela começou a correr para os grandes corredores de livros – Você é a única garota no mundo pra quem tenho coragem de dizer isso, dá pra ser um pouco mais receptiva?

– Olha, cala a boca, não quero sua opinião, porque você transou ontem.

– Qual seu preconceito com as pessoas que transaram ontem?

– Elas ficam felizes e cegas. O mundo fica bonito, nunca reparou nisso? – falou como se fosse óbvio.

Nossa especialidade era aquele tipo de conversa totalmente contra os meus princípios de privacidade, porém não havia nada que eu poderia fazer para mudá-la, e eu não queria mesmo mudá-la, de nenhum modo. SeungAh era o tipo de rosa que nascia no concreto e seria capaz de viver ali para sempre, até que o concreto mais duro pudesse se adaptar à ela. Há muito eu havia deixado de ser o concreto onde SeungAh nascera.

Eu estava sentado no chão, pateticamente cercado de livros e com os óculos no rosto, catalogando os novos exemplares que haviam acabado de chegar. Choco gostaria de ajudar, mas um livro com marcas de dentes caninos não era bem o que uma pessoa desejava comprar, então eu a impedia e pedia para que ficasse sentadinha – o que ela obviamente não obedecia, porque ficava correndo em volta de tudo.

O final dos grandes corredores era quase completamente mergulhado no silêncio, apenas Choco e os livros desempacotando faziam algum barulho. Suspirei, me espreguiçando, fazendo minhas costas estalarem ruidosamente. O silêncio me engolia, dando-me um tempo indesejado para pensar. Não importava para quantos assuntos eu tentasse desviar a atenção, Aiden sempre voltava à minha mente, respondendo a minha pergunta no carro, horas antes. O que ele quis dizer com desacordado? Por que ele nunca deixava as coisas claras?! Tinha a leve impressão de que Aiden sequer desconfiava do meu empenho em descobrir tudo o que o rondava, e talvez não existissem mesmo segredos entre nós. Eu só precisava descobrir do jeito certo.

Ouvi o breve som de passos no piso, achei ser SeungAh, a julgar pelo modo entregue como Choco caminhou em direção ao barulho.

– Muito ocupado pra mim? – a voz rouca e masculina perguntou, e respirando um pouco fundo pude sentir, junto do aroma de livros novos, o cheiro que só uma pessoa no mundo poderia ter. Num instante, foi como se toda a atmosfera mudasse – Trouxe nosso almoço. SeungAh disse que você estava muito ocupado aqui no fundo, então não quis te arrancar daqui pra almoçar comigo.

– Já é tão tarde assim? – perguntei, dando batidinhas no chão ao meu lado, indicando para que ele se sentasse ali.

– Meio dia e quinze. Não está com fome? – ele sentou ao meu lado, as pernas cruzadas entre si, os olhos castanhos e brilhantes me encarando – Trouxe tudo aqui. Já que não pode sair, eu fico com você.

Aiden afastou os livros de perto de nós e colocou cada um dos recipientes de comida dispostos cuidadosamente no chão. Ele era tão delicado e detalhista que fora como se tivessem passados longos minutos enquanto eu o assistia calmamente. Ele era tão lindo e inacreditável que compreender como alguém poderia ser daquela maneira ainda me custariam muitas horas dos meus dias.

- Obrigado, Aiden – nossos olhos se encontraram, e eu sorri sem jeito. Ele virou em minha direção, seu indicador indo em direção aos meus lábios e contornando-os com calma, me causando uma cócega gostosa e desconcertante.

- Sabe de uma coisa? Eu sou completamente e irrevogavelmente louco por você.

- Eu não tenho advérbios de intensidade o suficiente pra dimensionar nada por aqui, então eu fico com aquela frase do sorvete – sorri, mostrando sem querer a dimensão do meu sorriso cheio de dentes.

Ele envolveu meu dorso com seus braços firmes e perfeitos, afundou o rosto em meu pescoço e começou a rir, sua respiração quente resvalando em minha pele descoberta.

- Eu nunca imaginei que fosse tão bom... – sussurrou.

- O quê?

- Ter alguém. É como se você fosse feito sob medida pra mim, ou algo bem cafona como isso – comprovando sua teoria, ele entrelaçou nossos dedos, apreciando o modo como nossas mãos encaixavam – Como se eu te conhecesse de outra vida, de outro século, de outra dimensão e que tudo estivesse fazendo sentido agora que te encontrei de novo.

- Não existiram outros namorados, namoradas ou casos rápidos antes de mim? Seja sincero – abracei-o, beijando o topo de sua cabeça.

- Bem... Só um, mas eu não cheguei a me apaixonar. Foi nos Estados Unidos, onde eu passei boa parte da minha vida com Erina. As coisas são tão diferentes lá... Mas então nós voltamos, e eu não tive muitas chances de continuar nada.

- Vocês não estavam bem lá? – acariciava seus fios lisos de cabelo castanho, meu coração batendo forte contra o peito como se eu estivesse finalmente desvendando um grande mistério, ou obtendo uma peça do recente quebra-cabeça que Aiden se tornara.

- Estávamos ótimos lá, eu não queria ir embora, mas Erina deu um ataque de nacionalidade no meu lugar e me trouxe de volta. Fomos para Seul, depois Dongducheon...

Aiden pegou uma das tigelas e remexeu um pouco a comida, as sobrancelhas levemente franzidas.

- E como veio parar em Yangju?

- Foi o primeiro lugar onde finalmente consegui parar. Eu tive um briga séria com Erina, juntei minhas coisas, peguei o mustang e sumi de casa. Fiquei na estrada com o carro por uma noite inteira, então eu cheguei aqui. Estava tudo muito quieto e frio, eu estacionei o mustang no parque e fui dar uma volta a pé – Aiden continuou encarando as paredes de livros ao nosso redor, parecendo absorto em si mesmo – E depois de um tempo, eu resolvi que queria ficar. Decidi que o melhor é morar um pouco longe dela.

- Erina? – perguntei, minhas sobrancelhas se unindo.

- Ela me superprotege, e de algum modo eu não me sinto bem com isso apesar de amá-la muito. Eu sei que ela é minha mãe, mas Erina não vê que eu já tenho vinte e um anos, não sou mais o garotinho que ela acolheu. Se não fosse tão irritantemente necessário ir a Dongducheon, eu não teria ido – Aiden falava com uma ponta de ressentimento na voz, talvez tão notável quando o modo como tudo parecia um desabafo, um sinal de confiança do qual eu não me sentia digno depois de tudo – Ela me pediu para não voltar, um milhão de vezes.

- Ela sabe sobre... Bom, sobre nós?

- Não se importa muito com o fato de eu estar apaixonado, ter um emprego e uma vida. Ela precisa olhar pra minha cara todos os dias e garantir que estou bem, e isso eu não posso garantir a ela, por mais que me doa.

Seus olhos abaixaram-se para as próprias mãos, um pouco sem forças para continuar falando. Era a primeira vez que via Aiden daquela maneira, quase com a mesma melancolia que eu mesmo costumava ostentar antes que ele aparecesse.

- Ei, vem cá... – beijei suas têmporas com carinho, acariciando lentamente sua cintura – Não vou te deixar a não ser que você me diga que não me quer mais. Até lá, eu estou aqui.

- Então estará por muito tempo – fitou-me, o sorriso que despontava em seus lábios era tão tentador e perfeito... Colei nossas testas, roçando a ponta de nossos narizes numa carícia cálida, como se antes de beijá-lo eu pudesse prová-lo aos poucos, tomando seu ar. Às vezes, tudo o que precisamos são vinte segundos de coragem insana, e foram exatos vinte que passaram rapidamente por nós, até o momento em que tomei seus lábios para mim.

Minhas mãos encontraram seu rosto, acariciando sua bochecha e desenhando carinhosamente a linha de seu maxilar. Nossas línguas dançavam a um ritmo nunca antes tocado, era curiosamente invasor e calmo, selvagem e desprovido de qualquer pressa. Afinal, eu estava ali. As mãos de Aiden alcançaram meus ombros, me conduzindo até que minhas costas se chocassem contra os livros atrás de mim, havia seus dedos quentes invadindo meus fios loiros e segurando-os sem firmeza, a mão pousada possessivamente em minha nuca e o modo como seu corpo avançava sobre o meu, me obrigando a me apoiar para que não acabássemos deitados. Relutante, cortei o contato de nossos lábios, sorrindo para que ele compreendesse.

- Aiden, aqui não.

- Eu sei, desculpe, é que você...! – ele sorriu de um jeito quase infantil – É tudo culpa sua, você que me beijou.

- Eu sei, é tudo culpa minha – nossos olhos se procuraram, e quase tão logo se acharam, trocamos um sorriso cúmplice que guardava todos os nossos beijos somente para nós dois – Aiden, canta pra mim.

- Hm? – perguntou, sem compreender.

- Canta pra mim. Qualquer música.

Em pouco tempo, tudo que pairava sobre mim era o som de sua voz. E para além de qualquer coisa, aquilo era tudo que eu queria ouvir.

The fire fades away, most of everyday is full of tired excuses but it’s too hard to say. I wish it were simple, but we give up easily. You’re close enough to see that you’re the other side of the world to me.

Estávamos cada vez mais perto do Natal, as coisas estavam cada vez mais agitadas na cidade e o inverno começava a cair com força. As pessoas adoravam a neve no Natal. Por mais que ela estivesse por ali o ano inteiro, em dezembro era quase como se ela representasse algo muito especial. SeungAh e eu fomos responsabilizados pela decoração da biblioteca – o que não era bem uma justiça, porque SeungAh sempre tomava as rédeas e as ideias de tudo, e eu era apenas o que se equilibrava nas escadas, verificava cada uma das cem luzes pisca-pisca e obedecia calmamente cada uma de suas ordens.

Naquele ano ela resolveu que queria meias penduradas no balcão e uma grande árvore de natal com bolas gigantescas bem no meio da biblioteca. Quando lhe dava vontade, ela se inclinava a ajudar antes de me mandar fazer outras três mil coisas. Não podia negar que SeungAh tinha um senso de decoração maravilhoso, tudo estava tão bonito que quase podia sentir o cheiro de Natal pairando sobre o ar. Penduramos miniaturas de livros na árvore repleta de bolas gigantes vermelho e prata, penduramos também as meias decoradas que SeungAh tanto insistiu para que estivessem ali. E no final do dia, estávamos esgotados.

- Vai passar seu Natal com Aiden? – perguntou enquanto guardava as caixas de enfeites na prateleira do depósito.

- Prentendia, mas eu não queria tirá-lo de Erina, ela já parece não gostar muito de mim antes de me conhecer. Eu vou esperar que Aiden me conte os planos.

- Erina tem algum tipo de obcessão pelo próprio filho? Isso parece um filme de terror, se quer saber. Ninguém na Coréia passa o natal com a família se tem um namorado e alguns amigos. Meus pais vão fazer uma viagem e eu vou ficar aqui, passar o Natal no Paradise Kiss e esperar o Ano Novo no evento da cidade, pra ver os fogos – ela contou, animadíssima com a ideia – Com certeza Aiden vai ser chamado pra festa do ParaKiss, e se ele for, você também vai, então ficaremos todos juntos.

- Numa boate no subsolo da cidade? SeungAh, é o Natal!

- Vamos todos rezar antes de começar a comer bolo e tomar drinks temáticos.

Revirei os olhos, insatisfeito com a ideia. Sou o tipo de pessoa que fica desconfortável em datas como essas, a considerar pelos últimos anos. Em Yangju, havia a tradição de esperar o Ano Novo numa grande festa para a cidade inteira, na praça principal. Todos escreviam seus desejos para o novo ano em papéis coloridos distribuídos aos milhares e pregavam em cordinhas iluminadas. Havia música e os poucos mil habitantes pareciam de repente estar todos ali, esperando os fogos coloridos chegarem.

Quando eu tinha 16 anos, antes de partir para Seul, minha família me levou uma última vez na festa de Ano Novo, a contragosto, é claro. Negava-me a sair de casa e aproveitar datas comemorativas quando, para mim, não havia nada a se aproveitar. Não percebia o quanto era cruel com meus pais e minha irmã ao sacrificá-los ao meu sofrimento daquela maneira, na verdade, eu não era capaz de perceber nada além da minha própria tristeza. Penso que o egoísmo é um efeito colateral de toda e qualquer dor, porque nada parece maior ou mais importante do que o rasgar em seu próprio peito.

Lembro-me que estava repleto de gente, estavam tão felizes que me machucavam. Eu não conseguiria me mover para lugar nenhum se não houvesse a mão de Sora para que eu segurasse. Antes que eu caísse num choro que só acabaria quando eu finalmente adormecesse em minha cama, no andar de cima da pequena casa onde morávamos, Sora me implorou para que eu escrevesse um desejo de Ano Novo num pedacinho de papel azul.

Insisti mil vezes para não escrever nada, mas era minha noona quem estava pedindo. “Você só precisa escrever, só isso, e eu te levo pra casa”, ela dizia. Sora me deu uma caneta e desviou os olhos, dando um tempo para que eu pensasse. Bati a ponta fina no papel cerca de oito vezes antes de perceber que eu só poderia querer uma coisa em meio a tudo aquilo. Engoli as lágrimas que já alagavam meus olhos e rabisquei no papel, a caligrafia torta que jamais tiraria a beleza de um nome como aquele. Eu desejei de volta a imensidão do meu mar do leste. Eu desejei Donghae.

Desde que voltei a Yangju, nunca mais fui a nenhuma das festas – por mais que SeungAh veementemente pedisse. Passava meus natais na companhia de Choco e um bom filme na TV, e observava os fogos coloridos do Ano Novo de longe, por entre as aberturas das árvores, sentado no telhado de casa e trocando mensagens com Sora e SeungAh pelo celular.

Não era como se fosse fácil, mas também não era como se fosse difícil. Às vezes a gente só precisa escolher onde machuca menos, onde é mais fácil respirar, onde é possível firmar os pés. Existem certos sacrifícios que não precisamos fazer para simplesmente ficar bem. No final, não é difícil ser feliz, não é difícil se manter vivo e respirando. Muita gente sempre desejou que eu fosse feliz de um modo que não era mais possível para mim, e isso me tornava cada vez mais reprimido em mim mesmo. Quando eu decidi finalmente tentar continuar vivendo à minha maneira, descobri que esse era o melhor modo de enfrentar meus próprios medos.

Já era noite quando eu e SeungAh nos separamos no caminho de volta. Ela me agradeceu pela ajuda e bateu com o indicador na ponta do meu nariz, de novo.

- Por que faz isso? – perguntei.

- É o que o meu pai faz comigo, é pra me proteger, como se eu fosse pequena demais e o mundo fosse muito grande, e toda uma filosofia de banheiro... – ela sorriu.

- Eu acho isso muito bonito, se quer saber.

Ela afirmou com a cabeça, sorrindo, como se soubesse perfeitamente do que eu estava falando. Apertou-me forte num abraço e despediu-se, recebendo uma carícia no topo da cabeça. Quando SeungAh sumiu de vista, coloquei Choco mais perto do meu peito para protegê-la do frio e segui o caminho de casa, o asfalto acabando não muito longe dali, maculando minhas botas com a terra úmida da floresta. Como de costume, estava escuro e a pálida luz da lua banhava o solo por entre as árvores. No entanto, antes que eu pudesse vislumbrar minha própria casa mergulhada na penumbra, estranhas luzes coloridas refletiam no chão, num padrão de vermelho, azul e verde. Franzi as sobrancelhas, protegendo Choco em sua bolsa antes de nos aproximarmos mais.

Meu coração começava a descompassar e um tipo de sentimento estranho começou a pulsar em minhas veias. Talvez uma mistura de medo e descrença me tirasse o foco quando tudo que eu conseguia pensar era em algum perigo. Tudo desmorou com a mesma velocidade com que apareça quando meus pés se fincaram na terra e meus olhos foram invadidos por uma mistura incontável de cores brilhantes de luzes pisca-pisca. As grandes aberturas de vidro permitiam ver o brilho de várias luzes que se acendiam através da escada na sala. No balcão da minha cozinha havia meias penduradas, e meus olhos foram encantados pela discreta árvore de Natal – que minha visão defeituosa não permitia esclarecer todos os enfeites que pendiam de seus ramos.

Com um suspiro entrecortado e descrente, escondi o rosto com as mãos, sem poder controlar o riso bobo que escapou dos meus lábios e uma súbita vontade de cair no choro por nunca ter sequer pensado, em todos esses anos, em como minha casa de vidro ficaria bonita brilhando em luzes de Natal. Girei os olhos pelos arredores, e na sombra escura de uma árvore encontrei o mustang azul estacionado, como para não ser visto.

Por impulso, verifiquei o bolso traseiro do meu jeans. Tudo bem, ele havia roubado minhas chaves – e, de certo modo, agora estávamos quites. Choco também ficou parada, seus olhos refletindo as luzes coloridas tanto quanto os meus. Quando finalmente consegui que meus pés se movessem em direção à pequena escada, atravessei o batente rodeado de luzinhas verdes e vermelhas da porta deixada aberta (e eu sabia que era para mim) e procurei-o pela casa com os olhos. As luzes da sala estavam acesas, o que não conseguia deixar o espetáculo de cores menos bonito.

- Aiden-ah...? – perguntei para o vazio, não obtendo resposta. Deixei Choco no chão, tirando-a de sua bolsinha para que ela ficasse livre para tentar arrancar as bolas mais baixas da árvore de natal (o que era um pouco inútil, porque ela ainda assim não alcançava) – Aiden?

- Aqui – ele respondeu, quando seus braços já estavam ao meu redor e sua voz era um sussurro no meu ouvido. Eu não sabia dizer se era seu cheiro delicioso de banho recém-tomado ou seu corpo quente contra o meu, mas algo me fez ceder completamente em seus braços – Gostou?

- Você roubou as chaves da minha casa – falei, pausadamente, segurando suas mãos para que ele percebesse que eu não estava bravo – Pra fazer uma decoração de Natal?

- Achei que fosse gostar... Eu quero que nosso primeiro Natal juntos seja perfeito, você não? – ele disse com a voz carregada de um ressentimento infantil.

- Você quer passar comigo? – virei o corpo para que nossos olhos se encontrassem, enquanto minha boca entreabria de surpresa.

- Hyuk, qual o sentido disso tudo se eu não passasse o Natal com você? Você. Eu. Namorados. Lembra?

- Lembro – disse, curvando a cabeça para esconder o riso – É que eu fiquei pensando se sua mãe não ficaria chateada, porque ela é americana e na América se passa o Natal com a família e eu achei que ela quisesse você por perto. Então eu não tinha muitas certezas.

- Eu roubo suas chaves, você me rouba. É uma troca justa – ele deu uma piscadela, mordendo o canto dos lábios, e eu tive uma súbita vontade de arrancar suas roupas e levá-lo pra tomar outro banho – Quero passar com você. Mais ninguém.

- Aceito as condições. Mas, só para título de conhecimento, a minha casa vai ficarbrilhando a noite inteira?

- Se você quiser, eu apago tudo, e vamos ficar no escuro – o sorriso de canto surgiu de novo em seus lábios de cereja – Só nós dois.

A pausa sugestiva por entre suas palavras me fez imaginar tantas coisas que talvez me faltem palavras para tecer uma descrição correta. Fazer amor com Aiden na completa escuridão era com certeza algo que eu gostaria de experimentar, e por mais que me faltasse certa coragem diante de seu tom entregue, neguei com a cabeça. Eu tinha outros planos.

- Aiden, pode vir comigo?

Ele ergueu delicadamente as sobrancelhas, inacreditavelmente lindo. Concordou com a cabeça, unindo seus dedos quentes aos meus para que caminhássemos calmamente pela casa. Um lugar dela que Aiden jamais visitara.

A porta do meu escritório se abriu espalhando o mesmo cheiro de café que ficava aprisionado ali todas as vezes em que a porta era fechada. Estava intacto, do mesmo modo como eu o deixara da última vez que estivera ali. Os olhos de Aiden, impressionados, fitavam a estante de livros, minha luminária acima da mesa e um livro grosso disposto sobre ela. As duas janelas eram grandes para um cômodo relativamente pequeno, e revelavam a noite lá fora com certa timidez.

Ocupei a cadeira vazia atrás da mesa de mogno, que estava morna ao toque dos meus dedos excessivamente gelados. Deixei que Aiden observasse com cuidado cada fresta daquele cômodo, compreendendo sua curiosidade de desvendá-lo completamente com aqueles olhos tão escuros e brilhantes.

- Venho aqui para pensar. Essa é a parte mais minha que há nesta casa.

- É lindo – seu olhos oscilou, como se as palavras que dissesse não coubessem completamente em sua fala – Como você. É exatamente o seu lugar.

Sorri para ele, quase sem jeito. Meus pés impulsionaram a cadeira para que ela começasse a girar – essa era a minha mania.

- Sente onde quiser, Aiden – falei, a voz calma demais para todos os sentimentos que me atravessavam naquele instante – Na verdade, eu trouxe você aqui para que eu pudesse juntar um fio de coragem pra te perguntar uma coisa. É claro, pode soar bobo pra você, mas eu não gosto de me sentir invadindo coisas que você não gostaria que eu invadisse. Então, eu te trouxe aqui, no lugar mais pessoal pra mim que pode existir nesse mundo, e quero que você, por favor, responda a minha pergunta.

Aiden veio em passos calmos em minha direção, pousando as mãos uma de cada lado nos descansos da cadeira onde eu estava sentado, parando o movimento irritante das rodinhas. Encarou-me, por segundos que pareceram eternidades intransponíveis. Seus braços firmes estavam acima da minha cabeça quando ele repousou os joelhos, um depois o outro, no espaço que meus quadris não preenchiam, sentando-se em minhas pernas. Os olhos impassíveis de qualquer culpa me hipnotizavam, tirando-me todo o foco de suas ações. Eu simplesmente piscara e ele estava ali, o rosto tão próximo do meu quanto possível.

- Eu prometo que vou tentar tirar todas as suas dúvidas, Hyukjae.

Passei a língua pelos lábios, percebendo que eles estavam secos e trêmulos. Suspirei profundamente, envolvido por almíscar, cereja e inverno de todos os lados.

- O que foi fazer em Dongducheon? Eu sei que não foi só uma visita normal, não pode ter sido, foi tão... De repente.

Seus olhos se desprenderam dos meus por meros intantes, ele fitou o teto, erguendo o queixo. O pomo de adão subiu e desceu, ele de repente parecia não poder olhar para mim.

- Hyuk... Eu não quero que fique preocupado. Só me escuta, ok? – afirmei, mesmo sem afirmar – Eu sinto dores. Dores horríveis, na cabeça, desde muito novo. Erina controlava perfeitamente essas dores incômodas, e eu não as senti por bons anos da minha vida e achei que elas simplesmente sumiriam. Uma semana em Yangju, longe do controle insuportável de Erina sobre mim, eu simplesmente voltei a sentir tudo de novo. E parece que algo está arrancando o meu cérebro fora a cada crise, eu sinto que possomorrer. Voltei correndo para Dongducheon, desesperado demais pra me importar com tudo que Erina me diria sobre o quanto eu estou sendo irracional em estar correndo risco de vida longe do meu maldito tratamento – ele finalmente voltou a me olhar, seus dois lindos orbes castanhos recuados, medrosos, entregues e expostos. Seu polegar acariciou minha bochecha, num afago fraco – Eu fiquei com medo de perder você pra mim mesmo. Tive medo de simplesmente morrer sem que você soubesse que eu... Eu te amo, Hyuk. Eu deveria ter te contado, mas eu mesmo não sabia que esse mesmo fantasma voltaria pra me atormentar agora.

- Aiden... Faz alguma ideia do que isso possa ser?

- Erina sabe, e esconde de mim todos os meus resultados como se ainda fosse um moleque. Ela sabe o que eu tenho, e ela me cura, ela é uma médica e uma mãe maravilhosa pra mim, mas ela jamais me disse. E se estamos falando sobre a minha vida e a minha morte, eu mereço saber, Hyuk – seus olhos marejados me cortavam lentamente o coração. Eu nunca havia visto Aiden chorar, por mais que fosse completamente ciente de sua sensibilidade – Nós discutimos e eu fui embora de casa, e parei aqui, conheci você e achei que tudo finalmente se ajeitaria se eu tomasse os remédios direito, mas... Acho que eles não bastam. Me desculpa por não...

- Sshh... Tudo bem – repousei meu indicador suavemente em seus lábios mornos, fitando os olhos que jamais desejei ver transbordarem. Juntando força de algum lugar em mim, abracei Aiden com firmeza, sustentando-o em mim como nem eu mesmo achava que era capaz de me sustentar. Dos meus olhos não saíam lágrimas, por mais que minha vontade fosse chorar. Eu estava chocado, perplexo, sem uma palavra fazendo sentido em nenhum lugar, mas eu sabia que era Aiden, pela primeira vez, quem precisava quase patologicamente de mim.

Tive um súbito medo de perdê-lo, um medo tão grande que parecia poder me engolir, mas vê-lo tão frágil me tornou, de repente, forte o suficiente para ampará-lo. Aquela era a sensação de amar?


Notas Finais


Bom... >-< obrigada por tudo, como sempre. Eu espero que vocês não fiquem tensas apesar de este ser o momento e, enfim. Muito obrigada pelo amor, carinho e espera. Essa é a minha sensação de amar.
Kissu, Arisu ~


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