O relógio peculiar, com a forma de uma caveira mal desenhada, marcava nove horas da manhã e os segundos continuavam passando rápido demais para Ana que ainda estava decidindo se continuaria naquela maldita sala de espera ou iria pra casa, desacreditada.
- Isso é ridículo.. _ Ela se levantou, fazendo menção de sair.
- Senhorita Anastasia Hamish?
Ana encolheu os ombros e respirou fundo, seguindo a secretária até uma sala onde havia uma mesa redonda e 8 pessoas sentadas comportadamente.
- "Qual o problema dessa cidade com lendas..?" _ Ela ouviu a secretária fechar a porta.
- Senhorita Hamish, nós somos-
- Os cavaleiros da távola redonda? _ Ela enfiou as mãos nos bolsos, revirando os olhos.
- O esquadrão sobrenatural _ O rapaz, que parecia ser o líder, ajeitou os óculos e arqueou a sobrancelha _ Mas foi um bom chute; Sente-se.
Ana assentiu e puxou a única cadeira vazia que estava entre dois integrantes do esquadrão, sentando-se.
- Conte-nos o que está acontecendo _ A garota de cabelos tingidos de loiro se manifestou, segurando um bloquinho.
- .... _ Ana pegou seu celular e o deslizou pela mesa até o líder.
- Uma pintura sua? O que tem de sobrenatural nisso?
- A propósito.. Quanto o pintor cobrou? Eu adoraria ter uma.. _ A loira encarou Anastasia.
- Eu estou na cidade há três dias, essa pintura demorou no mínimo um mês pra ser feita _ Ana juntou as mãos e recebeu olhares fixos dos demais integrantes.
- Por favor, seja direta! _ Um rapaz de cabelos negros azulados a olhou, irritado.
Ela arqueou a sobrancelha, analisando as expressões confusas.
- Eu não a trouxe de Smithsburg, a encontrei no sotão da casa que comprei; a 1918.
- Você disse.. 1918? _ O líder ajeitou os óculos, interessado.
- Ah sim, eu li sobre você no jornal _ Um rapaz de expressão amigável se pronunciou, brincando com uma caneta entre os dedos _ Onde você esteve nas ultimas duas semanas, Bob?
- Duas semanas? _ Ana o olhou.
- É.. A 1918 é uma casa especial, por conta dos acontecimentos ao longo da história da cidade os moradores novos são anunciados duas semanas antes de se mudarem _ A loira ao lado de Bob lhe sorriu.
- Seu cabelo é natural? _ Uma voz aguda e mais distante se pronunciou.
Todos os olhares se voltaram para a garota de cabelos chanel no tom canela, ela lichava as unhas.
- Isso faz parte do trabalho de vocês?
- Essa é a Jenn, ignore.. _ Bob revirou os olhos _ Então, continue.
- Certo, eu cheguei na cidade há 3 dias e tudo parecia bem normal no primeiro dia, conheci a Starbucks e o-
- Apollo! e ai cara? _ O rapaz de antes cumprimentou o moreno que entrava na sala.
- E ai Vic, beleza? _ Apollo fez um toque com o rapaz agora apelidado de 'Vic' _ Ana? Que surpresa te encontrar aqui.
- é Anastasia, e eu disse mais cedo que estaria aqui _ Ela arqueou a sobrancelha.
- Disse? Eu não devo ter ouvido.
- Bom, continue _ Bob a olhou.
Ela encarou Apollo que colocou os fones e sentou-se no sofá, servindo-se das bolachas no pote enfeitado com joaninhas de Biscuit.
- Como eu estava dizendo, no primeiro dia tudo estava normal, ainda não haviam chegado os móveis. No dia seguinte o caminhão trouxe todos os móveis e não demoraram muito pra montar, quando eles foram embora eu comecei a analisar melhor a casa e notei um quadro na parede da sala-
- Que quadro? _ Vic a interrompeu.
- ... _ Ela cerrou brevemente os punhos, aquilo era perda de tempo _ Era um quadro estranho, não tinha uma forma muito certa, de longe parecia retratar sombras.
- Certo, vá direto ao ponto.
- eu me aproximei do quadro e toquei a moldura, foi ai que ele pendeu um pouco para o lado e eu ouvi um clique, olhei pra cima e vi uma espécie de porta, eu puxei a porta e tinha uma escada de madeira que eu subi e cheguei a um sotão, aquele lugar estava simplesmente imundo
Eu encontrei alguns retratos de familias das pessoas que já moraram lá e segui até um cantinho a parte, foi lá que encontrei o a pintura.. Eu me assustei muito na hora e acabei pisando em um dos retratos.. Mas quando eu fui ver qual era..
Apollo tirou um dos lados do fone, prestando atenção nas palavras de Ana.
- Era uma foto que eu queimei há 14 anos.. Era simplesmente impossível que ela estivesse lá, e ainda tem as risadinhas que eu ouvi antes de sair.. Eu não sei o que está acontecendo.
- É uma entidade _ Bob ajeitou os óculos _ Uma das grandes.
- Entidade?
- É quando.. Uma espécie de Poltergaist sai do plano espiritual e começa a habitar em uma casa, quando a casa está vazia ele é inofensivo mas.. Você está nela, eu não apostaria na bondade dele _ A loira anotava tudo em seu bloquinho.
- Entidade? Poltergaist? Isso é uma piada? _ Ana franziu o cenho.
- Nós não fazemos piada _ Bob levantou-se _ Vic, Max e Lucas, vocês preparam a van.
- Não _ a ruiva se levantou e pegou o celular, enfiando-o no bolso _ Não precisam se preocupar, eu me viro.
- Está lidando com uma entidade, precisa da nossa ajuda _ Vic a olhou.
- Não, eu estou lidando com algum pirralho e não vou deixar que baguncem a minha casa, passar bem _ Ela virou-se e saiu da sala.
>>>
- Entendo.. _ O homem de vestes negras ouviu atentamente a história que Anastasia contou e calou-se, pensativo _ Bom, eu não diria entidade.. Mas um demônio brincalhão que pode estar tentando crescer com as brigas do ambiente familiar.
- Padre, eu disse mais de 5 vezes que moro sozinha _ Ela massageou as têmporas.
- Bom, sua família talvez venha mais tarde, ou-
- Não, minha família vai continuar em Smithsburg. Eu acho, não sou uma especialista, mas não tem motivos pra um demônio ficar na minha casa, não há contendas por lá _ Ela se levantou e ajeitou os cabelos _ Bom, tenha um bom dia.
Ana virou-se e saiu da igreja, voltando pra casa.
>>>
- .... _ Anastasia bebericou o chocolate quente em sua amada caneca, sentando-se na poltrona e encarou a pintura, analisando-a atentamente _ Eu não sei o que está errado..
- Mas eu sei _ Apollo estalou os lábios e apoiou-se no encosto da poltrona, encarando a pintura _ A semelhança é espantosa, não é?
- Invasão não é crime?
- A porta estava aberta _ Ele deu de ombros e a olhou.
- Você disse que sabe. O que está errado?
- Você está _ Apollo voltou a olhar a tela _ Está procurando nos lugares errados.
Continua..
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