História Wonderwall - I

Aquele era o terceiro dia de aula do novo ano letivo.
A maioria dos alunos se dividia entre a preguiça em voltar a rotina escolar e o entusiasmo do início de ciclo. Havia também aqueles que estavam utilizando a semana para descobrir todos os acontecimentos das férias dos colegas e para fazer novas amizades.
Em meio a tantos alunos, um se destacava: John Watson.

Ele era novo no colégio, ou pelo menos, em parte. Ele estudara lá anos atrás, até o quarto ano do ensino básico. Mudou-se para o interior por conta do emprego do pai, sendo obrigado a deixar seus vários amigos para trás.
Apesar da pouca idade, os anos em Londres ficaram marcados em sua memória e ele não via a hora de voltar a viver na cidade. Conseguiu cumprir o desejo, indo cursar o último ano do ensino médio e morar com um primo de segundo grau, Gregory Lestrade.
Greg era alguns anos mais velho e acabara de ingressar na academia da Scotland Yard. Os dois, apesar da distância familiar, sempre foram muito próximos. Passavam todas as férias juntos e o mais velho não hesitou em aceitar a companhia do mais novo.

De volta ao colégio de anos anteriores, John se englobava no grupo dos alunos ansiosos pelo início do ano letivo e querendo fazer amizades. A princípio, ele focou em retomar as antigas, reencontrando Molly Hooper, Philip Anderson e Sally Donovan.
Os quatro eram praticamente inseparáveis durante a infância e esse foi uma das razões para Watson reclamar tanto da saída de Londres.
Felizmente, John nunca teve problemas em fazer amizades e mesmo recém-chegado, já conversava com quase todos os colegas de classe. Quase todos.

Havia um garoto chamado Sherlock Holmes que não conversava com ninguém e que todos consideravam não valer a pena conversar. O loiro percebeu que Molly não compartilhava totalmente da ideia, mas também não se manifestava ou o instigava a quebrar o padrão pré-existente.
Entretanto, tudo estava prestes a mudar.

A última aula do dia seria a preferida do novato, biologia. Ele pretendia se tornar um médico, então aquela preferência era um tanto óbvia.

- Bom dia, turma. – o professor depositava seus materiais sobre a mesa.
A sala respondeu com um “bom dia” uníssono e silêncio em seguida.

- Bem, essa é nossa primeira aula do ano, então eu gostaria de dar as boas-vindas aos que já estão conosco e aos novos integrantes. – O professor caminhava a frente da classe, tentando reconhecer todos os alunos e sorrindo ao ver Watson. Fez um aceno, como se enviasse aquela recepção especialmente para o garoto. – Indo direto ao assunto, teremos uma dinâmica diferente para esse último ano de ensino médio.
Todos começaram a se entre olhar. O professor era conhecido por ser extremamente exigente, então não sabia se a mudança seria boa ou ruim.

- Por favor... – o silêncio foi restaurado e ele prosseguiu. - Eu quero que vocês formem duplas, sendo que essas duplas permanecerão até o fim das nossas atividades letivas. Vocês farão todos os trabalhos em conjunto e, mensalmente, apresentarão um seminário para a classe.

Os burburinhos demonstravam a clara alegria de todos em poder trabalhar com seus colegas em uma das matérias mais difíceis que tinham. Sally e Philip logo deram as mãos, deixando mais que afirmado que seriam uma dupla.
John observou o resto da sala, procurando quem seria sua. Seu primeiro pensamento foi Molly, porém a garota já tinha sido capturada por uma outra, Irene Adler.
A doce jovem se sentiu mal em não ser a companhia do “novato”, mas foi logo acalmada pelo mesmo. Ele com certeza encontraria alguém, visto que já tinha tido contato com quase todos os alunos da classe. Porém, quase todos, também já tinham formado suas parcerias.
Só uma pessoa restava: Sherlock Holmes.
 

- Acho que Sherlock também não tem dupla! – ele disse sorridente, animado por encontrar uma oportunidade para se aproximar do garoto.

- Sherlock? Sério? – Sally não acreditou, mas logo recebeu um olhar de repreensão de Molly.

- Ele não é tão ruim assim. – sussurrou Hooper.

- Só você pensa assim, Molly. – Anderson disparou, em cumplicidade à Donovan.

- Eu concordo com Molly. Sherlock é intrigante. – Irene Adler adentrou na conversa, sorrindo para a companheira. Um sorriso um tanto galanteador.

- Eu vou lá! – John não queria mais perder tempo, tinha medo do garoto também achar outra dupla. – Vejo vocês depois.
Caminhou rapidamente até o fundo da sala, onde o garoto se encontrava. Havia uma cadeira vazia ao lado esquerdo, mostrando-se bastante oportuna.

- Sherlock, não é? – o loiro sorria abertamente, esperando algum sinal do outro. Sem ter respostas, prosseguiu. – Vi que você não tem dupla e eu também não. O que acha de trabalharmos juntos?
Mais silêncio. As bochechas de Watson começavam a se avermelhar e os comentários negativos de Sally e Philip invadiram sua mente.

- Se você pedir ao professor, talvez ele deixe você ficar no grupo de seus amigos. Não será o fim do mundo um trio. – a voz do moreno era rouca e diferente do que John imaginara. Se é que ele havia imaginado algo.
Demorou um pouco para ele entender as palavras ditas e quando o fez, incomodou-se por estar sendo expulso daquela forma.

- Não quer minha companhia? – o tom desapontado do loiro chamou atenção do moreno. Normalmente, os outros que não gostavam de sua companhia.

- Bem... – Sherlock finalmente olhou nos olhos do outro e, por alguns segundos, não soube bem o que dizer.

- Já tinham me avisado sobre seu jeito. – Watson sussurrou e ameaçou girar o corpo, para voltar aos amigos.

- Espere. – Holmes respirou fundo e aguardou que o garoto interrompesse o movimento. – Podemos sim ser uma dupla.
Parte de John, orgulhosa por natureza, pensou em negar. Entretanto, a outra, bondosa, sabia que era provável que o moreno precisasse mais daquela companhia do que ele. Watson não achava certo que alguém fosse excluído daquela maneira.
Demonstrou a aceitação ao se sentar na cadeira vazia, próxima ao Holmes.

O professor iniciou a aula e os dois novos parceiros mostravam-se extremamente concentrados nesta. Ao final, o sinal tocado permitiu que a maior parte dos adolescentes saísse correndo pela porta.

- Eu posso fazer tudo e colocar seu nome. – O moreno disse, guardando seu material.

- Nada disso! Eu não sou esse tipo de pessoa. – John irritou-se levemente. Sherlock ainda parecia querer se livrar dele a todo custo.

- Eu não quis ofendê-lo. – disse sem dar muita atenção. – Estarei em um café próximo daqui, a partir das 15 horas. Se quiser, apareça por lá e fazemos a tarefa.
Holmes estendeu um cartão do estabelecimento e saiu do ambiente. O loiro ficou parado por alguns segundos, tentando assimilar a falta de tato da dupla que escolheu. Por mais otimista que fosse, sentia que iria concordar com os comentários ditos sobre o garoto.

Como fora a última aula, todos apressaram-se em ir para suas respectivas casas.
No portão do colégio, Watson encontrou Molly o esperando, já que moravam próximos um do outro, compartilhariam a companhia.

- Como foi com Sherlock? – Ela perguntou tímida, enquanto caminhavam.

- Bem... Ele é diferente.

- Sim, ele é. – Ela se mostrou decepcionada, tinha esperanças de que o entusiasmo de John alterasse o rumo das coisas. – Mas não desistiu de fazer dupla com ele, né?

- Não, claro que não! Ainda vou tentar me dar bem com ele. – o garoto sorriu e inspirou Hooper a fazer o mesmo.

- Eu espero. – Ela colocou os cabelos para trás da orelha. – Nós fomos amigos por alguns anos, mas muitas coisas aconteceram e nos afastamos. Mas sei o quanto ele é uma boa pessoa e... – Ela sentiu que estava indo além do necessário e decidiu parar. – Bem, vocês vão se dar bem!
Watson concordou e prosseguiram conversando sobre outros assuntos, até que se separassem para suas respectivas residências.