O sorriso ainda teria continuado em meu rosto. Teria... se eu não tivesse parado para pensar no que ele acabara de dizer.
— Qualé, cara, não preciso de babá! Não preciso dos seus cuidados! — gritei. Andei em direção ao seu quarto, tentando, de alguma forma, me afastar.
Virei para encará-lo e não me surpreendi quando avistei o sorriso debochado plantado em seus lábios. De novo.
— O banheiro é ali, rosinha — apontou para uma porta perto dos fundos do estabelecimento — Deve ter uma toalha por lá.
Apenas assenti, encarando a porta que ele havia apontado.
Precisava de um banho. De um tempo sozinha. De um tempo para pensar. De um tempo para chorar... De novo.
Senti meus olhos marejarem. E quando Sai me lançou um olhar preocupado, segui em direção ao banheiro antes que as perguntas começassem. Sei que elas chegariam, mas não sabia se estava pronta para respondê-las sem parecer fraca e vulnerável.
Adentrei ao banheiro. Era um lugar pequeno, mas aconchegante. Continha o básico e necessário. E como ele havia dito, a toalha estava lá, presa por um tipo de gancho.
Me despi, soltando minhas roupas em um lugar qualquer.
Liguei o chuveiro e me sentei.
As gotas fracas caíam sobre mim. Me dei conta do exato momento em que elas encontraram minhas lágrimas. Foi como um choque, um encontro entre opostos... As gotas frias que deixavam o chuveiro e caíam sobre mim, encontraram as lágrimas quentes que rolavam em minha face.
O que, afinal, tinha de errado comigo? Era o meu jeito de ser, a forma como eu me vestia, como eu falava ou, sei lá, qualquer outra coisa que me fizesse mais “machinho”, como diria a Tenten
A dor que eu senti ao descobrir do acordo entre o Sasuke e a Ino foi rasgante, era como se alguém tivesse me quebrado por inteira. Não era como uma luta em Muay Thai ou boxe onde eu era a perdedora... Na luta, eu saía machucada, mas dias depois eu estava bem de novo. A dor era física e logo passava. Mas nada se comparava ao que sentia agora... e eu sabia, que a dor não iria passar tão cedo.
Inicialmente, achei que tudo aquilo fosse mentira. Tentei me convencer de que o Sasuke-kun realmente gostava de mim e que não foram os dois mil reais que o fizeram se aproximar. Tentei me convencer de que a minha melhor amiga/irmã jamais faria aquilo, ela nunca pagaria ninguém para ficar comigo, muito menos para eu me afastar do namorado dela.
Mas... depois de um tempo, as coisas fizeram sentido. E eu tive que aceitar.
Meu namoro era uma farsa. Sasuke só estava comigo porque Ino havia o comprado.
E aquilo doía.
Doía pensar em tudo aquilo. Doía lembrar. Doía ser enganada. Doía sofrer assim... Por ele.
— Sakura... — ouvi batidas leves na porta — Você tá aí a quase uma hora. Não acha que está na hora de sair?
— Eu... — tentei. Minha voz era quase inaudível — Eu tô terminando. — disse um pouco mais alto.
— Ok.
Sabia que ele não tinha se convencido, nem mesmo eu acreditaria em mim, mas Sai não insistiu.
Terminei de tomar banho, me sequei e quando fui pegar as minhas roupas, tive a infeliz surpresa de encontrá-las molhadas. Talvez durante o banho, de alguma forma, a água chegou até elas.
— SAI!
— Oi! — respondeu de imediato.
— Você pode me arranjar alguma coisa pra vestir? — perguntei a conta gosto. Não gostava disso... Precisar das pessoas. Mas dadas às circunstâncias, deixei meu orgulho de lado. Ele era o único ali e parecia disposto a cuidar de mim, como disse mais cedo.
Ele demorou um pouco a responder, talvez procurando algo. Aproveitei e vesti minha roupa íntima que, por sorte, não havia molhado tanto.
— Saky... — abri a porta, o suficiente para que a mão de Sai preenchesse o local — Isso serve?
— Sim, obrigada! — peguei a blusa, fechando a porta.
A vesti lentamente, abotoando aqueles intermináveis botões. Pude constatar que a blusa havia tornado-se um vestido. Ela era larga, preta e com mangas que ultrapassaram minhas mãos. Agradeci por elas. Estava com frio e elas haviam chegado em uma boa hora.
Estendi minhas roupas de um modo qualquer por ali. Peguei meu celular que estava na pia e quase que de imediato meus olhos encontraram meu reflexo no espelho do banheiro.
O rosto vermelho, a boca pálida e a dor refletida nos meus olhos fizeram, de novo, os mesmos marejarem e a imensidão de pensamentos conflituosos voltarem.
Antes que as lágrimas começassem a rolar, lavei meu rosto e o sequei.
Abri a porta lentamente, e fiquei lá. Parada, sem saber o que fazer.
— Pode deitar, se quiser — Sai se pronunciou após, provavelmente, ver a confusão em meu rosto.
Sentado em uma poltrona em frente à cama, ele mantinha o ar calmo.
— Tudo bem...
Andei em direção a sua cama e me sentei, o travesseiro no meio das minhas pernas. Empatando toda e qualquer visão.
O silêncio pairou no ambiente durante alguns minutos, mas não era algo constrangedor. Era bom.
Eu gostava nisso nele.
— Ok, Sakura, se você quer que eu te ajude, conta o que tá acontecendo.
— Tem algo de errado comigo?
— Bom, vamos ver... — fez uma pausa um tanto dramática — Você estava no meio da rua às 2hs da madrugada, chorando como eu nunca vi... E ainda por cima aceitou a minha ajuda. Sim, eu acho que tem algo de errado contigo.
— Não tô falando disso... — balancei a cabeça em negação, sem encará-lo.
— Não tô entenden —
— Tem que ter algo de errado comigo para que... — as lágrimas estavam chegando, eu sabia disso — Para que a Ino tenha que bancar um namorado pra mim.
Não me importei por ele me ver naquele estado. Eu só queria desabafar com alguém.
— Espera... Como é que é? — falou, levantando-se em um salto. A raiva era visível em seu olhar.
— A Ino pagou o Sasuke para que ele ficasse comigo — tornei a repetir. E cheguei a conclusão de que não importava a quantidade de vezes que eu repetisse aquilo... Sempre iria doer. E cada vez mais.
Limpei as lágrimas e dei o meu melhor para que elas cessassem, em vão, é claro.
— E o idiota aceitou?
Não disse nada.
Soube que ele havia entendido quando o vi acertar um murro na parede, sem se importar coma dor nem com estrago que causaria.
— Eu vou matar aquele moleque! — gritou, encarando a parede com fúria — E a loirinha vai junto — disse em um tom mais baixo — Vou fazer eles ressuscitaram, só pra matá-los de novo.
— Não vale a pena, Sai.
— Pode não valer, mas eu vou fazer mesmo assim — garantiu.
Baixei a cabeça. E senti quando Sai sentou ao meu lado, pela segunda vez naquela noite.
— Quanto?
— Dois mil reais.
Senti que ele respirava fundo, em uma tentativa de se controlar.
— Faz muito tempo?
— Uns meses...
— O idiota te engana por uns meses e você ainda me diz que não vale a pena matá-lo.
Um sorriso triste escapou de meus lábios.
— Sabe o que é pior? — perguntei em um sussurro — Eu ainda me importo.
Fui surpreendida quando braços fortes me cercaram. Eu poderia afastá-lo, dizer que não precisava daquilo, que eu iria superar, mas... seria mentira. Eu não queria afastá-lo e, por Deus, eu precisava daquilo.
Com a minha cabeça no vão do seu pescoço, chorei ainda mais. Ele acariciava meus cabelos, meio sem jeito, acanhado. Talvez surpreso por eu não me afastar.
Minutos se passaram e nós ainda estávamos lá, abraçados. As lágrimas iam cessando na medida em que o tempo passava.
— Sabe, se dependesse do Sasuke e da Ino eu ainda não saberia de nada.
— Como ficou sabendo?
— Naruto — respondi, lembrando da conversa de algumas horas atrás — Ino tinha um vídeo-book pra fazer, Sasuke uma demo pra bancar. Ela pediu dinheiro ao Shikamaru, disse que o Naruto havia cobrado dois mil, e ele, claro, forneceu a grana — comecei — Naruto fez o vídeo-book de graça. Sasuke e Ino haviam feito um acordo: Sasuke recebia, mas em troca teria que me namorar. E tudo isso para eu me afastar do namoradinho dela.
Sai não disse nada, apenas me abraçou um pouco mais. E ficamos assim, por um bom tempo. Até que eu, gentilmente, o afastei.
— Seu pai deve tá pirando, Saky! — gritou, assustado — Se ele te pegar aqui eu tô morto.
Ri ao ver seu desespero.
— Relaxa, cara — limpei meu rosto — Eu disse pra ele que ia passar o final de semana na casa da Temari, estudando e fazendo trabalhos. Já até liguei pra ela e pedi pra confirmar a história caso ele ligue. — informei — Foi fácil dobrar o Sensei dessa vez.
— A minha pele agradece — brincou.
Sorri.
— Eu gosto disso...
— De quê? — perguntei confusa.
— Do teu sorriso, feiosa — respondeu, levantando-se da cama.
Agradeci mentalmente por ele estar de costas, pois o rubor em minha face, que eu tinha certeza que estava ali, por mais que não pudesse ver, iria denunciar minha vergonha.
Ele pegou um cobertor e jogou em minha direção, enquanto sentava na poltrona novamente.
— Ahn... — comecei, sem ter a mínima idéia do que falar — Obrigada, Sai. Por tudo!
Ele sorriu.
— É como eu te disse uma vez... — me olhava fixamente — Eu não consigo te ver chorando.
Ele não esperou uma resposta, nem mesmo eu sabia se eu tinha uma. Fechou os olhos e procurou uma posição confortável.
Fiz o mesmo, e minutos depois embarquei em um sono profundo.
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