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História Wronged - Aliada


Escrita por: Dassa_C0

Notas do Autor


Boa leitura, amores!!! ❤️

Capítulo 8 - Aliada


Fanfic / Fanfiction Wronged - Aliada

P.O.V Spencer Roberts

Penitenciária de Seattle – 6h00 P.M.

Continuo parada próxima a porta encarando a Michele surpresa. Não esperava ver ela agora, nesse momento complicado da minha vida. Ela permanece sentada, me observando com atenção. Suas mãos estão apoiadas na mesa.

Minha relação com a Michele sempre foi algo raso, ela é tipo uma colega do trabalho. Nós nunca tivemos a chance de nos aproximar por estar sempre em lados opostos, é difícil manter uma amizade assim.

- Você não devia estar aqui. – digo baixo e me aproximo da mesa em passos lentos.

De certa forma a sua presença me causa um certo pânico, o que traria a Michele aqui? O que ela tem para me dizer? Tenho medo que ela esteja aqui para debochar da minha situação, ou qualquer coisa nesse sentido. Eu sinceramente não sei se conseguiria lidar com mais uma pessoa agindo dessa forma, para mim o Johnson atua bem nesse papel sozinho, não precisa de apoio.

- Como eu disse, nós precisamos conversar! – ela me observa e batuca uma melodia estranha na mesa. Michele claramente está ansiosa e inquieta, o que me preocupa ainda mais.

- Sobre o quê, Michele? Os nossos assuntos em comum envolviam o Josh Miller e seu julgamento. Como pode ver eu não vou mais defendê-lo. – digo rapidamente.

Ela permanece imparcial ao que eu digo, o que me leva a crer que o assunto está longe de ser o que eu imagino.

- Spencer, nós não temos muito tempo. Você sabe, o tempo de visita é curto. – ela diz com calma.

Suspiro e me sento bem em sua frente, apoiando as minhas mãos na mesa e a olhando nos olhos.

- Estou ouvindo.

Ela ajeita o cabelo e me fita.

- Eu estava fora da cidade esses dias, fui até a cidade onde a juíza que ficou responsável pelo caso do Josh mora. – ela respira fundo. – Ele conseguiu reverter a situação novamente, não haverá mais um julgamento.

Nada disso me surpreendia, Josh já havia me dito que isso aconteceria. Só restava saber quando e agora eu sei.

- Eu tentei rebater isso com a ajuda dela, mas não tive êxito. – ela parece frustrada. – Por conta dessa viagem eu demorei a me informar sobre a sua prisão.

- Não tem o que saber sobre isso, Lili morreu, eu sou considerada a assassina. Ponto.

- Só que você não cometeu esse crime, Spencer.

A olho seriamente e franzo o meu cenho.

- Como tem tanta certeza disso?

- Lili, ela segue o padrão. Todas as vítimas são loiras de olhos azuis. Pelo o que eu me lembre, Lili era exatamente assim. E ela é filha do Albuquerque, que é dono do escritório onde você trabalhava. Não me surpreenderia muito se ele tivesse alguma ligação com ela.

- Sim, ela era! – digo sentindo o gosto amargo.

- Como aconteceu, Spencer? Como ele conseguiu fazer isso recair sobre você? Como ele conseguiu se aproximar da Lili?

- Eles se conheceram no meu escritório. Lili me ligou enquanto estava com ele, eles tinham acabado de jantar e ela estava um pouco alterada. Me pediu desculpas por não ter me ligado mais cedo e disse que havia encontrado o Josh no shopping mais cedo e que eles tinham almoçado. Ela amou ele! – soltei uma risada pelo nariz. – Eu entrei em desespero quando soube disso, perguntei se ela estava em casa, que ela precisava ficar longe dele. Ele ouviu, Michele. – mordo o lábio e desvio meus olhos dela, tentando controlar o choro que quer vir. – Pegou o celular dela e deu a entender que estava decepcionado comigo, tentei dizer algo mas ele me interrompeu dizendo que ela estaria ocupada pelos próximos minutos. Eu sabia que ele estava prestes a matá-la. Lili se encaixava perfeitamente no maldito padrão! – passei as mãos pelo o meu rosto e suspirei.

- Você foi até a casa dela, não é?

- Eu fui! E quando cheguei lá encontrei a Lili morta. – Podia ver a cena nitidamente na minha cabeça do corpo da Lili todo ensanguentado. – No momento de desespero eu entrei no quarto e deixei as minhas digitais em todo o lugar. Não estava raciocinando direito. E era isso mesmo que ele queria, que eu fosse até lá e modificasse toda a cena do crime, assim eu sairia como a culpada. Não ele.

- Eu não posso nem te culpar por isso. – ela bufou. – Mas ter suas digitais na cena do crime não prova absolutamente nada.

- É uma prova, e eu fui a única que foi vista no local do crime na hora da morte. Ele armou para mim, Michele e eu cai.

- Nós temos que fazer algo, Spencer.

- E eu quero fazer, você está disposta a me ajudar?

- Claro que estou! Eu quero ver Josh Miller apodrecer na cadeia.

- Não vai ser fácil, com todo o poder que ele tem e com o Albuquerque ao seu favor.

- Ainda não acredito que ele está defendendo o assassino da própria filha, não acredito que ele acha que foi você que cometeu o crime.

- Ele não acha, mas quer acreditar nisso. O Johnson não é idiota, Michele. Ele sabe que comigo livre ele teria um empecilho para defender o Josh, eu deixei claro que não acreditava na inocência dele. Johnson quer ter o Josh como cliente e qualquer um que atrapalhe isso será carta fora do baralho.

- Foi exatamente o que eu pensei que fosse. – ela entrelaça os seus dedos e mantém as mãos apoiadas na mesa. – Eu sinceramente esperava que as coisas fossem diferentes, mas o Josh é bem pior do que eu imaginava.

- Você não faz ideia! Ele sequer pode saber que estou tramando contra ele, ele pode me matar. – engulo seco.

- Como vamos fazer isso?

- Não faço a minima ideia! – mordi o lábio. – Acusar o Josh é uma missão quase impossível, ele sempre se safa. Para ele não escapar temos que ter uma prova que não pode ser contestada de forma alguma. Estando aqui eu fico bem limitada, não tem como procurar por algo.

- Mas eu posso! – ela faz um movimento com a cabeça. - Nós faremos isso juntas, faremos ele pagar por cada crime que cometeu.

- Obrigada por me ajudar nisso!

- Você já tem um advogado? Posso arrumar um.

- Sim, já tenho! Apesar das tentativas do Albuquerque de eu não conseguir um, meus pais conseguiram.

- Ele é bom?

- Acredito que sim, o conheci hoje. – ela assente.

A porta se abre e nós duas desviamos os olhos para a pessoa que aparece ali.

- A visita acabou! – a policial diz.

Volto os meus olhos para a Michele, que se levanta prontamente e pega a sua bolsa, a colocando no ombro. Me levanto também e a fito.

- Tem umas informações sobre o caso que estão na minha casa, pode ajudar em algo.

- Toda informação é bem vinda!

- Quando pretender ir buscar? Vou deixar meus pais avisados para que eles possam te entregar.

- Amanhã, talvez. – concordo com a cabeça.

- Nos vemos em breve?

- Nos vemos em breve! – ela estica a mão em minha direção, pego prontamente.

- Só mais uma coisa – olho para ela com cautela e engulo seco. Estou prestes a fazer uma pergunta para ela mas não sei ao certo se quero mesmo saber a resposta. – O enterro já aconteceu?

Michele passa as mãos pelo o cabelo e me olha com compaixão.

- Já sim. Assim que o corpo foi liberado. – concordo.

Aceno com a cabeça assim que me afasto e vou até a policial, esticando os meus braços para que ela possa me algemar, sou retirada da sala de uma forma brusca. Dá para imaginar que a minha melhor amiga foi morta e que nem pude ir ao seu enterro para me despedir? A última imagem que eu terei da Lili é dela ensanguentada em cima de sua cama, essa definitivamente não é a lembrança que eu gostaria de ter dela. Lili sempre foi uma garota de luz, feliz e animada. Não tinha tempo ruim para ela, ela conseguia melhorar o humor de qualquer pessoa que estivesse ao seu redor.

Ninguém merece morrer da forma cruel como ela morreu, e se existe uma pessoa no mundo que não merecia nada disso esse alguém é a Lili. Tudo é caótico!

(...)

Entrei no refeitório me deparando com o mesmo tumulto do dia anterior, conversas altas, risadas. Olhando assim até parece que estamos em um lugar normal. Dou passos até a fila e espero a minha vez, novamente sou presenteada por aquela comida bem atraente, me sento na mesa mais distante e começo a comer. Não demora para que alguém se sente em minha frente, não ergo a minha cabeça para saber quem é, mas torço mentalmente para que não seja a Yong, não sei se posso lidar com ela agora.

- Bom dia! – a pessoa diz, me obrigando a erguer a cabeça para ver de quem se tratava.

- Rose. – digo sem emoção nenhuma. A história dela ter matado toda a família ainda estava muito fresca na minha cabeça.

Sei que pode ser só uma fofoca das detentas, mas e se for verdade? Eu presenciei o que ela fez com a garota só por ela furar a fila, ela poderia ser capaz de tirar a vida de pessoas, não podia? Algo fez ela estar nesse lugar, não importa o quê. No fim todas são criminosas, todas fizeram algo de ruim para estar nesse maldito lugar. Obviamente que existem exceções, mas a maioria aqui fez algo.

- Não perdi o meu café da manhã dessa vez. – ela tentou soar divertida, mas seu semblante ainda era bem sério.

- Ontem não perdeu nada, esse negócio é terrível! – faço uma careta e mexo na gororoba com a colher.

- Uma hora você acostuma. – Espero não acostumar nunca. – Acredite é melhor do que passar fome.

Tentei me concentrar apenas no que comia, não queria puxar assunto com a Rose. Não sei se quero ter ela por perto. Sinto um olhar queimar em mim, olho em volta a procura de algo mas nada. Vasculho todo o refeitório com os olhos, e bem distante de mim posso ver o par de olhos que me observam com atenção, é minha colega de cela. Cujo nome eu descobri na noite passada que é Margareth. Mantenho meus olhos nela por um tempo, sei que ela está me julgando por estar sentada com a Rose, mas não há nada que eu pudesse fazer a respeito disso. Rose se sentou comigo, não o contrário.

Termino de comer rapidamente ganhando a atenção da Rose para mim.

- Alguém estava com fome. – ela olha para o meu prato, que agora se encontra vazio.

- Tenho algo para resolver. – me levanto e pego a minha bandeja.

Ela apenas concorda com a cabeça e me observa se afastar em silêncio. Coloco a bandeja no lugar e caminho em direção a saída do refeitório, onde uma policial me encara com atenção.

- Ninguém sai do refeitório antes de acabar o horário do café. – ela diz assim que eu estou próxima.

- Eu preciso fazer uma ligação, é urgente!

- Não é hora disso. – tudo tem hora nesse lugar, isso é extremamente irritante!

- É urgente!

- Isso não é problema meu, detenta. – ela me olha com desdém.

Bufo alto e me viro para voltar a me sentar, vejo que a Rose ainda me encara. Ela solta uma piscadela para mim e se levanta, pegando a sua bandeja. Ela está armando algo, mas o quê? Ela começa a caminhar e do nada cai, como se estivesse desmaiada. Em questão de segundos a atenção de todos está na detenta caída no chão, penso em ir até ela mas sinto alguém passar ao meu lado em passos rápidos. É a policial que estava na porta.

- Uma detenta desmaiou no refeitório. Preciso de gente aqui, agora! – ela diz no rádio que está preso em sua roupa.

Rose tinha feito de propósito, ela estava fingindo um desmaio para distrair todos para que eu possa sair daqui. Olho para a porta e não tem nenhum policial, dou passos rápidos até ela e saio dali. Olho para os dois lados vendo que o corredor está vazio. Começo a andar por ele, viro para a esquerda, não fazia ideia de onde estava indo, esse lugar é gigante. O que é mais estranho é que não tem nenhum policial ou qualquer ser humano por perto, viro novamente a esquerda e me deparo com um local um pouco diferente do que estou acostumada. Acredito que essa área é proibida para detentas.

Começo a ouvir passos apressados e vejo algumas portas na minha frente. Tenho duas opções, ficar aqui e deixar que me vejam ou entrar em uma dessas salas. Escolho a segunda opção, entro rapidamente em uma das salas e fecho a porta, encostando a minha testa nela. Minha respiração estava acelerada e meu corpo estava todo em alerta por conta da adrenalina. Fecho os olhos com força.

- O que você está fazendo aqui? – ouço uma voz perguntar.

Merda! Merda! Agora eu estou encrencada. Abro os olhos e me viro lentamente, percebendo que estou em uma espécie de escritório. Meus olhos rapidamente batem na pessoa sentada em uma cadeira, em frente a uma mesa me olhando com cara de poucos amigos. Ele não está nada contente com a minha presença aqui, e não é para menos.

- Eu posso explicar, Bieber. – digo séria.

- Estou esperando. – ele arqueia a sobrancelha e inclina seu corpo para a frente me olhando com atenção. – Pelo o que eu saiba uma detenta não deveria estar próxima da minha sala, muito menos dentro dela. A não ser que eu tivesse pedido para alguém te trazer, algo que eu definitivamente não fiz.

Respiro fundo e passo as mãos pelo o meu macacão, tentando conter o suor das minhas mãos. Como explicar isso de uma forma que não pareça tão ruim? Existe uma forma?

- Eu estava no refeitório, pedi para que uma policial me deixasse fazer uma ligação, ela disse que tinha horário para isso e que agora não era a hora. Aconteceu um incidente e ela se distraiu, eu sai de lá e acabei vindo parar aqui, entrei na sua sala para não ser pega por alguém. – falei rapidamente.

Ele me olhava com atenção, sem esboçar nada. Não parecia bravo com a minha atitude, o que de fato é preocupante.

- Qual é a sua dificuldade em respeitar as regras? – ele cruza os braços e se encosta totalmente em sua cadeira. – Respeite os horários! – seu tom não é nada amigável.

- Se as regras não fossem tão idiotas eu respeitaria! – digo com raiva. – Eu só queria fazer uma ligação, não estava pedindo nada de muito absurdo.

- Entenda uma coisa, isso é uma prisão. Não é um spa de férias! – ele levanta e vem até mim.

- Jura? Obrigada por me avisar, eu estava confundindo. – meu tom é bem sarcástico.

- Spencer, você está presa. Está na hora de se dar conta que a sua vida de antes acabou, agora você vive aqui e precisa respeitar as regras que lhe impõem! Você não está aqui como uma advogada, está aqui como uma criminosa.

- Estou aqui por um crime que não cometi! – digo alto, o olhando ferozmente.

- De acordo com as provas, foi você.

- Para um policial você investiga bem mal. – acuso e vejo ele travar o maxilar.

- Eu preciso te lembrar que sou uma autoridade e que qualquer desrespeito da sua parte pode te causar consequências?

- Não. Não precisa. Você gosta de abusar do seu poder, já sei disso!

- Eu não preciso entrar nesse teu joguinho problemático. – ele se virou de costas para mim e começou a andar em direção a sua mesa. – Pedirei para virem te buscar aqui!

- Bieber, espera! – digo de uma forma desesperada. Fazendo ele parar imediatamente.

Justin já estava com o telefone na orelha, prestes a chamar alguém para vir me buscar.

- O que é agora, Roberts? – ele juntou as sobrancelhas.

- Me deixa fazer uma ligação? Por favor, eu imploro. – me aproximei e juntei as minhas mãos. – É urgente! Eu não estaria aqui se não fosse.

Ele bufou e me encarou entediado.

- Não é o horário, tenho certeza que você pode esperar.

- Não, eu não posso! Por favor, eu realmente preciso fazer essa ligação.

- Tudo bem. – ele se deu por vencido. – Você tem um minuto, nada a mais. Seja breve! – ele esticou o aparelho em minha direção.

- Agradeço por isso! – peguei o aparelho e disquei o número da minha mãe.

Chamou algumas vezes e nada, o medo dela não atender me apossou.

- Alô? – ouço a voz doce da minha mãe. 

- Mãe! – digo aliviada e olho para o Justin que me encara, com os braços cruzados. – Não tenho muito tempo então serei bem rápida, uma colega minha irá ai em casa pegar uns documentos sobre o último caso pelo qual eu estive responsável, preciso que entregue para ela.  

- Tudo bem, filha. E onde estão esses documentos?

- Eu devo ter deixado em cima da mesa de centro da sala. Estava estudando esses papéis antes de ser...- engulo seco. – presa. – completo. Ainda era difícil entender esse processo.

- Tudo bem, vou ver aqui. – ouvi os passos dela pelo apartamento e logo ela começar a mexer em algumas coisas. – Filha, tem certeza que eles estavam aqui?

- Sim, mãe. Eu não tive tempo de tirá-los dai.

- Eles não estão aqui!

- Quê? Como assim? Eles tem que estar ai! – digo e começo a roer as unhas.

- Filha, desculpe. Mas eles não estão aqui.

Passo as mãos pelo o meu rosto. Não é possível que eles tenham sumido assim, a não ser que alguém tenha entrado em meu apartamento e pego eles. Mas quem faria isso? Josh. Josh faria isso! Sinceramente, eu não duvido de mais nada.

- Vou procurar em outros lugares e te...- ela não termina de dizer. A linha fica muda.

- Mãe? – chamo e nada.

Olho para o Justin e entendo o porquê da linha estar muda, ele estava apertando o botão de encerrar a ligação.

- Eu disse que era um minuto e nada mais. – ele deu um sorriso de lado. Desgraçado!

Eu não posso surtar com ele, mas o Justin consegue ser incrivelmente insuportável. Me pergunto se ele é assim na vida ou se age assim comigo por eu ser uma detenta, de qualquer forma ele consegue ser um completo babaca. Sinto vontade de gritar isso na cara dele, mas não sou idiota. Sei bem o que isso me custaria. Minha cabeça voa para a conversa que eu acabo de ter com a minha mãe, os documentos não podem ter sumido sozinhos. Eu não me lembro de ter guardado eles, não tinha porque guardar já que eu estava estudando eles. Josh pode ter entrado no meu apartamento ou mandado alguém entrar, de qualquer maneira, isso é assustador! Os meus pais estão no meu apartamento, e se Josh mandar alguém até lá para matá-los? Ele pode fazer isso, é claro que pode. E seria bem pior do que simplesmente me matar.

- Ei, está tudo bem? – saio do transe vendo uma mão passar em frente ao meu rosto.

Olho para o loiro que me fita como se eu tivesse algum problema mental.

- Está. – engulo seco e abraço meu próprio corpo. – Eu sei que não estou em situação para pedir favores, mas preciso te pedir um. – o encaro com a angústia estampada em meu rosto.

- Mais um, né? Te deixar fazer uma ligação já foi um favor. – ele bufou.

Resolvo ignorar o que ele disse e ir direto ao assunto em que quero chegar.

- Sumiram alguns documentos da minha casa, documentos importantes que poderiam incriminar alguém de um crime. – engulo seco. – Alguém pode ter entrado no meu apartamento para pegar, e meus pais estão lá. Você não poderia pedir para algum policial ficar de guarda lá? Pelo menos por uns dias.

Justin me olha como se o que eu tivesse dito fosse uma grande piada, percebo que ele se controla para não rir.

- Roberts, eu acho que você tá querendo demais.

Bufo, já esperava isso vindo dele. Mas ainda assim eu tinha que tentar. Era a vida dos meus pais em risco, cacete! Será que ele não consegue ter um pingo de preocupação com isso? Não estou pedindo para que ele me proteja, estou pedindo para que proteja os meus pais. Que não foram acusados de crime algum.

Poderia até expor os meus pensamentos em voz alta mas percebo que isso não vai me levar a lugar algum, Bieber não vai me ajudar. E tudo bem, tenho que lidar com isso.

- Vai chamar alguém para me buscar? – pergunto baixo e abraço ainda mais o meu corpo.

Ele me analisa por uns segundos e caminha até o telefone apertando um botão e colocando o aparelho na orelha.

- Preciso que alguém busque a Roberts no meu escritório! – dito isso ele colocou o aparelho no gancho e se sentou em sua cadeira. – Por que acha que alguém entraria em seu apartamento? – ele realmente parece mais interessado no assunto.

- Tenho os meus motivos. – mantenho meu olhar fixo em qualquer direção em que ele não esteja.

- Como espera que eu te ajude com isso se você não me contar tudo, Roberts? – ele parece um pouco estressado.

- Por que eu contaria? – fito o seu rosto com uma frieza fora do normal. – Não vou abrir algo com uma pessoa que eu sei que não vai acreditar em uma misera palavra que sair da minha boca. Vamos poupar tempo.

- Ainda bem que sabe disso, eu realmente não acredito em nada do que você diz. Não acredito em criminosos!

O que ele diz me atinge em cheio mas tento não transparecer isso para ele. Um dia ele vai se arrepender de ter duvidado da minha inocência, um dia ele me pedirá desculpas por isso. Não posso me deixar abater. Ele é só a droga do policial responsável pelo o caso, e para ele, eu sou a culpada e nada mais importa!

Solto uma risada seca e nego com a cabeça.

- Claro, Bieber. Eu sou uma criminosa.

A porta se abre e a policial Smith passa por ela, seus olhos me fitam com uma certa raiva, ela ainda não superou o fato de eu tê-la entregado para o chefe. Não me arrependo, faria de novo.

- O que está fazendo aqui, Roberts? – ela cruza os braços.

Umedeço os meus lábios e penso na melhor forma de dizer isso sem que as coisas fiquem complicadas para o meu lado, mas não há uma forma. De um jeito ou de outro eu sofrerei as consequências do meu ato, o meu medo é que isso signifique a solitária. Se eu for para lá não terei mais visitas, e nesse momento eu preciso muito ver o meu advogado e a Michele. Se eu perder isso agora serão mais dias dentro desse inferno.

- Eu trouxe ela. Tinha alguns assuntos para tratar sobre o caso dela. – ouço Justin dizer e fecho os meus olhos, respirando com um certo alivio. – Não deveria nem estar te dizendo isso, não é da sua conta. – ele diz calmo. Claramente não era a intenção dele que isso soasse de uma forma grossa, e realmente não saiu.

Smith dá um pequeno sorriso para o Justin e concorda com a cabeça vindo até mim, estico os meus braços para ela e sinto ela me algemar. Olho disfarçadamente para trás. E sibilo um “Obrigada!” para o Bieber. Ele nega com a cabeça e não demora para que eu seja puxada dali. Ele me livrou de uma agora, não sei qual é a do Justin, mas não acredito que ele faria isso por alguém que ele realmente acredita que é culpado. Talvez isso seja só uma suposição maluca, mas algo me diz que ele acredita mais na minha inocência do que demonstra.

- Eu estou de olho em você, Roberts. Qualquer vacilo seu e eu te pego! – Smith diz e aperta mais o meu braço.

A olho por um momento e suspiro.

- Não sei do que está falando.

- Ah, não sabe? – ela solta uma risada seca. – Acha mesmo que acreditei nessa historinha de que o Justin foi te buscar para conversar?

- Sinceramente não me interessa no que você acredita ou deixa de acreditar, crie a teoria que quiser sobre o assunto.

- Não é uma teoria e você sabe bem disso.

Ela abre a grade que dá acesso ao corredor que leva as celas.

- Você pediu para fazer uma ligação para uma das policiais, ela não permitiu porque não era o horário. Curiosamente a Rose, que foi vista conversando com você ontem, passa mal e desmaia. Chamando a atenção de todos os presentes no refeitório e você magicamente some e aparece minutos depois na sala do Justin, que em nenhum momento foi visto próximo ao refeitório para ter te chamado para uma conversa, e nenhum policial te levou até ele. Eu chequei. – ela me analisa com um olhar petulante. - Estranho, não acha?

- O que eu realmente acho estranho é essa sua obsessão comigo e com o que eu faço. Acho que existem muitas detentas nesse lugar para você dedicar toda a sua atenção para mim.

Ela solta uma risada e nega com a cabeça. Parando em frente a minha cela, a cela é destrancada e Smith retira a algema de mim, me empurrando para dentro.

- Eu ainda não sei qual é a sua com o Justin, mas irei descobrir, Roberts. Pode anotar isso! – a cela começa a se fechar e eu cruzo os meus braços a olhando com tédio.

- Isso é uma tremenda perca de tempo, não tem o que descobrir. – dou de ombros.

Nem estava mentindo sobre isso, realmente não havia nada para ela descobrir entre mim e o Bieber. A maior conversa que tivemos foi hoje e ela não deve ter durado nem 5 minutos, sem que a gente começasse a se bicar. Não há uma forma de ter uma relação amigável, ele é o policial que me colocou nesse inferno. Estamos em lados opostos.

- É isso que eu vou decidir depois que souber cada detalhe que você esconde. – ela diz com confiança e me dá um sorriso bem falso, saindo de frente da minha cela em poucos segundos.

Passo as mãos pelo o rosto e bufo alto.

- Mal chegou e já está arrumando confusão com uma policial. – ouço Margareth dizer e me viro para ela.

Ela estava deitada em sua cama de barriga para cima, com os dois braços apoiados sobre a barriga. Seus olhos estavam fixos na parte de baixo da minha cama, que ficava acima da dela já que era uma beliche.

- Não arrumei confusão com ela, ela cismou comigo. – digo seriamente.

- Ah, é? E o que me diz sobre ter tomado café com a Rose? – agora seus olhos me fitam sem esboçar sentimento algum. Mas algo me diz que ela está irritada com esse assunto.

- Ela sentou comigo, o que esperava que eu fizesse? Saísse da mesa e a ignorasse?

- Sempre são os outros que fazem as coisas. A policial cismou com você, Rose que foi até você. Continue jogando a culpa para os outros e você terá problemas bem sérios aqui dentro, e não demorará muito.

- Do que está dizendo?

- Não tenho mais nada para dizer a você, Spencer.

- Quer saber? Dane-se! – gesticulo com as mãos. – Eu não devo satisfações a você, não tenho que agir conforme você quer. Você nem me conhece! – solto com raiva.

Ela me olha e nega com a cabeça, desviando o olhar.

- Tudo bem. – se limita a dizer apenas isso.  

Sua atitude me irrita mas resolvo ignorar não sei porque acreditei que poderíamos ser amigas, isso é bizarro. Eu nunca conseguiria ser amiga de alguma mulher aqui dentro, nunca conseguiria lidar com elas normalmente. Esse mundo é totalmente fora da minha realidade, nada se encaixa no que eu sou e no que acredito.

A verdade é que não importa o tanto que eu queira me encaixar nesse mundo e nessa realidade, eu nunca vou conseguir. Essa não é a minha vida, não é o que eu mereço viver! Batalhei a minha vida inteira para ser a pessoa mais correta que eu pude, não posso perder isso por causa de algo que eu nem fiz. É injusto demais!

Depois de passar um longo tempo enfiada naquela maldita cela fedida e gelada, era a hora do nosso banho. Deixei que todas as detentas saíssem antes, peguei os meus produtos de higiene e fui em direção ao banheiro. Era o segundo banho que eu tomava nesse lugar e já posso dizer que odeio essa hora, nunca pensei que detestaria um banho tanto quanto eu odeio agora. É literalmente um pesadelo de tornando real.

Assim que passo pela porta do banheiro já posso sentir o vapor quente bater contra o meu rosto e o barulho de chuveiro predominar. Muitas pessoas tomando banho ao mesmo tempo. Vou até um pequeno armário que tem ali e observo as toalhas que tem disponíveis, tínhamos que dividir. Uma detenta passa por mim e joga a toalha que acabou de usar.

- Escolhe logo uma, princesa. Todas são ruins. – ela diz risonha e sai do banheiro.

Seguro uma toalha e aproximo ela do meu rosto sentindo o cheiro forte de suor, faço uma careta imediata e suspiro. Quando eu penso que não pode piorar, pode. Pego um par de chinelo e vou até o outro armário mais isolado, me despi e guardei o meu macacão rapidamente em um deles o trancando e pendurando a chave em meu pescoço. Enrolo a toalha em meu corpo e vou até a área do chuveiros procurando por um que não esteja ocupado. Assim que encontro entro nele e fecho a cortina. Ligo o chuveiro checando a temperatura da água, bem quente. Me livro da toalha e entro embaixo da água, pego o meu shampoo e lavo o meu cabelo com os olhos fechados, quase posso sentir que estou em casa, por pelo menos alguns segundos é assim que me sinto. Gostaria que isso fosse real. Termino o meu banho rapidamente e desligo o chuveiro, percebendo que nenhum chuveiro está ligado mais. Me enrolo na toalha e saio dali carregando comigo todos os meus produtos.

Percebo que o banheiro se encontra vazio, o que de fato é um alivio para mim. Tudo o que eu não quero é confusão a essa altura do campeonato. Vou até o armário e o abro, pegando a minha roupa. Me seco rapidamente e visto a regata que ficava embaixo do macacão seguido do macacão. Tiro o excesso de água do meu cabelo e tranco o armário. Assim que me viro para o lado me deparo com a Yong, coloco a mão no peito por conta do susto que levo.

- Caraca! – olho para ela vendo que a mesma tem um sorriso divertido nos lábios.

- Agora não tem como escapar de mim, meu amor. – ela dá alguns passos na minha direção.

Começo a dar uns passos para trás, sentindo um medo me dominar.

- O que pretende fazer?

- Digamos que nós vamos nos divertir um pouco.

Seja qual for a ideia dela de diversão posso dizer com certeza que é bem diferente da minha.



Notas Finais


Poxa, Spencer. As coisas estão tensas pra ti!


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