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História Xeque-Mate - Consequência


Escrita por: ShewantsCamz

Notas do Autor


Boa noite, meus amores!

Como eu havia prometido ontem, hoje tem um capitulo novinho pra vocês. Desculpem a demora, e espero que gostem desse capitulo.

Queria falar apenas uma coisinha antes de começar. Outro dia fizeram uma enquete de melhor autora no twitter, uma especie de brincadeira com um fc de fanfics camren, e eu fiquei em primeiro. Isso me fez pensar, o quanto sou agradecida a vocês que estão aqui lendo, e acompanhando todas as minhas fanfics. Eu garanto que faço com muito carinho, e tento oferecer o melhor para vocês.Isso não quer dizer que será perfeito, jamais será, mas me esforço para oferecer o melhor, e irei buscar melhorar sempre. Então muito obrigada, não por ter ganhado uma enquete, as outras merecem da mesma forma pois tem fanfics incríveis, mas por estarem aqui, lendo, divulgando e acompanhando o meu trabalho. Eu amo o que eu faço aqui, e fico feliz de compartilhar com cada um de vocês. Obrigada!

Agora vamos ao que realmente importa, desculpem o momento meloso, deve ser a musica que estou ouvindo agora. Aproveitem a leitura, e os erros eu arrumo depois quando eu for ler o capitulo outra vez.

Capítulo 26 - Consequência


Christopher Collins point of view

 

Me remexi sobre a cama macia, sentindo meu corpo mais pesado que o normal. A claridade vinda das frestas oferecidas pela cortina estavam exatamente sobre meu rosto, fazendo-me bufar de forma impaciente. Inclinei meu corpo para o lado, sentindo o corpo de minha esposa tocar o meu. Abri os olhos com certa dificuldade, as pálpebras pareciam pesar mais do que o normal, quase me impedindo de despertar. Vi minha esposa deitada ao meu lado, com uma expressão serena, como se estivesse tendo uma das melhores noites de sono da vida. Levei as mãos até meu rosto, enquanto resmungava sobre o cansaço que eu estava sentindo. Nos últimos tempos aquilo estava piorando, tinha a sensação de que quanto mais eu dormia, mais cansado eu ficava. Isso seria possível?

Olhei para o relógio sobre o criado, e o mesmo indicava que já passava da hora de levantar. Sentei sobre o colchão, enquanto pegava meu aparelho celular ao lado. Franzi o cenho assim que visualizei dezoito ligações perdidas. Algumas de Brandon, outras de John. Por uma fração de segundos senti que uma bomba estouraria sobre minha cabeça, como uma espécie de pressentimento. Fechei os olhos e respirei fundo, para em seguida olhar para minha bela esposa que repousava sobre os lençóis de nossa cama. Disquei o numero de Brandon, depois de alguns segundos, ouvi sua voz temerosa do outro lado da linha.

“Bom dia, Christopher.”

“Bom dia, Comissário. Algum problema?”

Ele ficou em silencio por alguns instantes que fizeram meu coração acelerar. Calcei os chinelos posicionados ao lado de minha cama, e segui em passos lentos até a varanda de meu quarto. O dia estava nublado, o céu fechado pelas grossas camadas de nuvens escuras. Um temporal viria.

“Você pode comparecer na delegacia. Temos uma ocorrência.”

“Diga o que aconteceu.”

“Christopher...”

“Fale de uma vez, Brandon!” – exclamei nervoso.

“A Collins Enterprise foi violada novamente. E dessa vez temos uma situação mais delicada. Por favor, compareça aqui.”

Não dei chance para que ele continuasse a falar. Abaixei o celular devagar, sentindo meus dedos doerem ao redor do mesmo, que estava sendo apertado com o maximo de força que possuía naquele instante.

- Maldito...

Eu poderia ouvir o som baixo da voz do comissário chamando pelo meu nome no telefone, até que a ligação chegou ao fim. Meu corpo inteiro vibrava de raiva, ou melhor, de ódio. Os roubos não parariam até me deixar na miséria, eu sentia isso. Era como ter uma fortuna amaldiçoada, que nunca seria totalmente minha. Nunca me deixariam em paz. Infelizes! Custava-me acreditar que Heitor seria tão inteligente aquele ponto, era apenas um mero peão em um jogo pesado. Invadir um sistema tão bom quanto o meu não era para um simples iniciante, muito menos para um amador. Seja lá quem for, não estava disposto a brincar, e eu não poderia mais aliviar aquela situação. Eu jogaria pesado, descobriria quem realmente estava por trás desse maldito inferno que se tornou a minha vida.

- Merda! – bati com força no batente da varanda. – Você vai conseguir, Collins. Você sempre conseguiu. Não fez tudo aquilo para cair desse jeito. – sussurrei para mim mesmo, enquanto respirava fundo.

- Christopher? Está tudo bem, querido?

Ouvi a voz serena de minha esposa vindo do quarto. Afastei-me da varanda e segui para dentro, vendo Camila ainda sobre a cama. Ela parecia tranquila, descansada.

- Se arrume, nós vamos à delegacia.

- O que aconteceu? – indagou curiosa.

- Fui atacado novamente. E pelo que parece, dessa vez não foi tão simples assim.

A expressão de Camila se transformou, seu semblante calmo desapareceu, dando espaço para uma mulher nervosa.

- Fomos roubados novamente, Camila. – as palavras saiam por minha boca de forma desacreditava. – Outra vez, fomos roubados! – gritei, antes de jogar o telefone celular com força contra o espelho que se espatifou.

A morena arregalou os olhos de forma assustada.

- Christopher... – ela levantou da cama, e se aproximou devagar. – Se acalme. Vamos ver o que aconteceu.

- Como você quer que eu me acalme? Estão claramente me tirando para um perfeito idiota! Brincaram comigo inicialmente, mas agora querem me destruir! – exclamei com ódio.

- Vamos resolver isso. A policia pode ajudar.

Uma risada carregada de sarcasmo deixou meus lábios.

- A policia não fez absolutamente nada! Aquela maldita policial não conseguiu nada a não ser piorar essa merda! Mas ela vai me pagar por isso.

- O que vai fazer?

- Se arrume, vamos para lá agora.

Minha respiração estava pesada, totalmente ofegante. Efeitos de minha maldita ansiedade. Eu apenas assenti, sendo guiado por minha esposa até o banheiro.

 

[...]

 

Carlos estacionou o carro em frente ao departamento de policia de Nova Iorque. Saímos rapidamente, e seguimos para o interior do prédio, sendo atendidos inicialmente por um oficial que nos dirigiu até a sala do comissário. A delegacia parecia mais movimentada do que o normal.

- Christopher. – ouvi a voz do mais velho assim que atravessei o corredor. – Sra. Collins.

Camila o cumprimentou de forma educada, antes de sermos conduzidos para dentro de sua sala. Brandon não estava com uma das melhores expressões, suas linhas faciais indicavam o quão grave poderia ser o problema. Assim que adentramos a sala, pude notar a presença de duas policiais, dentre elas estava Lauren.

- Sente-se. – o homem de cabelos grisalhos murmurou. – Quer tomar alguma coisa?

- Será que pode ir direto ao ponto? Eu não vim aqui para tomar nada!

O clima na sala pesou. A agente Jauregui me encarou sem qualquer emoção, parecia anestesiada.

- Quanto me roubaram, Brandon?

O comissário engoliu em seco, e se sentou, fazendo um maldito suspense que me deixava mais irritado.

- Christopher, sua conta foi mexida em um valor significativo. Mas não foi caracterizada como roubo.

- O que? Como assim?

- 100 bilhões de dólares foi retirado essa madrugada, com o seu login.

Naquele instante eu senti como se todo o sangue do meu corpo tivesse parado de circular em minha veias. Recuei alguns passos, e me sentei na cadeira que havia ali. Camila suspirou pesado em surpresa, mas se aproximou de mim assim que notou meu estado.

- Oh, céus. Um copo de água para ele, por favor. – ouvi a voz de Camila um tanto nervosa.

Abaixei minha cabeça, sentindo tudo girar. Tomei fôlego, sentindo meu peito inflar rapidamente.

- Me deixe. – resmunguei para Camila que me encarou preocupada.

- Quer que eu chame algum enfermeiro? – ouvi a voz de Brandon ao fundo.

Fechei as mãos em punhos, e ergui meu corpo da poltrona que estava sentado.

- Eu quero que você dê a porra de um jeito para ter esse dinheiro de volta! – exclamei alto. – Você sabe muito bem que não fui eu quem retirou essa quantia absurda. Estive a noite inteira dormindo com minha esposa!

- Tem certeza disso, Sr. Collins? – Lauren indagou acusativa.

- Está insinuando alguma coisa? – esbravejei ao me por de frente para ela.

Mirei os olhos verdes da agente, pareciam furiosos e ao mesmo tempo debochados. Ela se manteve firme, me encarava com uma expressão quase desafiadora. Eu juro que sentia meu sangue inteiro ferver em sua presença.

- Não, estou apenas tentando colher informações exatas.

- Pode interrogar todos os meus empregados. Eu estive em minha casa durante a noite inteira. Vocês sabem que eu não faria isso! – gritei.

- Amor, se acalme... – ouvi Camila sussurrar.

- Eu sei, Collins. Mas não podemos descartar a entrada feita com seu login. Isso tudo importa para a justiça. – Brandon murmurou nervoso.

- Alguém usou isso contra mim! Inferno! – andei de um lado para o outro, enquanto minha cabeça parecia viajar. - 100 bilhões de dólares, você tem idéia do quanto isso significa? Oh, porra. Minhas empresas vão parar!

- Tente se acalmar.

- Não tem como ficar calmo quando metade do seu patrimônio foi tirado! A produção vai parar, tudo vai por água abaixo. – sussurrei.

- Meu Deus... – Camila tocou em meus ombros delicadamente.

- Tudo por culpa sua... – sussurrei. – Você é a culpada! – gritei ao encarar Lauren.

- O que? – ela exclamou surpresa.

- Você! – gritei diante de seu rosto.

Vi a agente inflar as narinas com uma expressão de raiva.

- Você foi incompetente! Não conseguiu absolutamente nada! Deixou que eu fosse massacrado! Uma oficial de quinta!

- É melhor você ficar calado. Eu posso prender você por desacato. – a mulher murmurou sem desviar seu olhar do meu. – E você não vai querer mais itens na sua ficha criminal.

- Acha mesmo que eu retirei esse dinheiro? Sua infeliz! – avancei para cima dela, quando senti as mãos de Camila segurando em meu braço. – Acha que eu me sabotaria?

- Christopher, você está nervoso demais. Por favor, pare! – ela exclamou.

- Me deixe!

- É melhor chamar seu advogado. – Brandon me empurrou, afastando-me daquela mulher.

- Isso não pode estar acontecendo! Eu fui roubado, porra! – falei ao retirar as mãos dele de perto de mim. – E ainda serei culpado?

- Eu acredito em você! Mas precisamos provar isso!

- Certo! Ok! Eu vou chamar John para vir até aqui. Mas comissário, eu quero que entre com uma ação para retirar Lauren Jauregui deste caso.

Brandon se calou por alguns instantes, e então falou:

- Isso já está sendo feito.

- O que? – Lauren exclamou alto em pura surpresa.

- Christopher... – Camila sussurrou ao me encarar.

- Você não pode fazer isso! Não pode!

Mesmo em meio a todo aquele caos, ver o desespero da agente era gratificante. Não era segredo, desde o inicio Lauren me incomodava, eu nunca tive motivos suficientes para afastá-la, mas sua falta de provas e progresso naquele caso permitia tal hipótese. Para uma mulher em ascensão em sua carreira policial, aquele seria um tiro de misericórdia, dado por mim.

- Não faça isso... – Camila estava assustada, nervosa. – Por favor.

Encarei os olhos castanhos de minha esposa, eram temerosos, quase que surpresos. Camila em pouco tempo na companhia da segurança particular criou vínculos, que logo eu teria de cortar.

- Não a quero resolvendo isso. Tem idéia de que estou sendo acusado de roubar minha própria empresa? Você ainda quer essa mulher a frente dessa investigação?

- Isso tudo pode ser resolvido, amor.

- Você vai mesmo me tirar desse caso, por que ele está pedindo? – Lauren indagava Brandon de forma nervosa. Toda a pose desafiadora caiu por terra.

- Não é por um pedido dele, Lauren. O tempo do inquérito está acabando, e não tivemos evolução. Você não será demitida, só será transferida de cargo.

- Você sabe o quanto isso é ruim para a carreira de um policial, Brandon. Por favor.

- Eu sinto muito, Jauregui. Você está fora do caso Collins.

Lauren fechou os olhos por alguns instantes, o que me fez sorrir. Camila sussurrava pedidos para que eu fizesse algo, mas eu apenas assisti aquela cena, que provavelmente seria a única satisfatória do meu dia.

- Certo. – foi a única palavra que saiu de sua boca.

Ela se afastou da mesa do comissário, e voltou seus olhos para mim. Se Lauren pudesse me matar com um único olhar, seria com aquele. Ela respirou fundo, fazendo com que seu peito subisse e descesse rapidamente.

- Lauren... – minha esposa sussurrou.

- Deixe ela. – murmurei para Camila em repreensão.

- Isso não vai ficar assim. – disse a agente.

- Está me ameaçando, Lauren? – dei um passo a frente, parando diante a mulher outra vez.

- Quer levar como uma ameaça? – ela olhou para mim, e depois para Camila de forma séria, quase furiosa.

- Saia do meu caminho. – disse.

- Ainda não, Collins. Ainda não. – Lauren recrutou raivosa antes de sair da sala.

A porta foi batida com força, fazendo o vidro da mesma vibrar. O silencio preencheu aquela sala, em um clima mais pesado do que o normal. Encarei o olhar temeroso de Brandon, e logo em seguida a expressão decepcionada de Camila. A morena recuou alguns passos, e se sentou no sofá no canto da sala, quase sem acreditar no que tinha acontecido.

- Eu não quero essa mulher metida nesse caso.

- Vou tratar do desligamento dela o mais rápido possível.

- Brandon, preste atenção. Eu não fiz isso, tem alguém querendo acabar comigo. Não podemos deixar isso acontecer.

- Eu sei! Vou colocar alguém mais maleável no caso. Mas vou ficar junto para investigar. Já tenho alguém em vista.

- Precisamos de alguém que esteja do meu lado, e não contra mim.

- Deixe comigo, Collins.

Camila ficou o tempo inteiro em silencio, parecia chateada, um tanto aérea. Irritava-me ver como a mulher se preocupada com a agente, aparentemente até mais do que comigo.

- Vou ligar para John agora.

- Faça isso, eu vou resolver algumas coisas agora. Fique em minha sala.

O comissário me lançou um olhar e logo em seguida se retirou. Eu ainda me sentia nervoso, um tanto alvoroçado. Algumas gotas de suor deixavam minhas têmporas, enquanto eu sentia meu corpo frio. Todo aquele estresse me rendia um tremendo mal estar.

- Vai ficar calada?

- Eu não tenho nada para falar.

- Por que se preocupa tanto com essa mulher, Camila?

Caminhei em sua direção devagar, enquanto coloca as mãos frias dentro dos bolsos de minha calça.

- Não é essa a questão, só achei exagerado. Não gosto de injustiça. – disse ela sem nem sequer me olhar.

- Injustiça é o que estão fazendo comigo! E ela não fez absolutamente nada pra impedir!

Camila virou seu rosto, deixando-me encarar seus olhos castanhos que agora tinham um brilho enigmático.

- Você sabe que já passou por cima de muitas pessoas, querido. Acha mesmo injusto? – ela se levantou, e caminhou até mim, parando diante de meu corpo. – Dizem que aqui se faz, e aqui se paga.

- Do que está falando?

Ela respirou fundo, e meneou com a cabeça em um sinal negativo.

- Há tantos homens que se sentiram traídos com sua antiga sociedade. Heitor é um deles! Aposto que ele está fazendo isso. – ela tocou em meus ombros.

- Heitor não seria tão inteligente a esse ponto. Foi burro o suficiente para colocar tudo em meu nome, e quando teve a oportunidade de fazer algo digno, ficou contra mim. – soltei pensativo.

- Não subestime as pessoas, meu amor. – Camila sussurrou com os olhos fixos nos meus, enquanto deslizava a ponta de seu dedo polegar sobre meus lábios. - Elas podem carregar muitos segredos.

- Não importa. Eu vou descobrir quem está por trás disso, e vou resolver do meu jeito.

- Eu espero de verdade que você consiga. Viver nesse inferno está cada dia mais insuportável. Preciso me livrar!

- Vai ficar tudo bem, querida. – murmurei ao puxá-la para um abraço.

- Vamos sair disso logo. Eu sinto que essa guerra vai chegar ao fim. – disse ela ao me abraçar.

Ficamos naquele abraço por alguns minutos, quando senti aquele mal estar aumentar. Minha visão começou a embaçar de um minuto para o outro, uma fraqueza maior do que o normal tomou conta de mim. De repente, minhas pernas pareceram perder as forças.

- Camila... – sussurrei um tanto perdido antes de apagar.

 

[...]

 

Eu não sei por quanto tempo fiquei apagado, mas acordei dentro de um maldito quarto branco, com cheiro de desinfetante barato. Resmunguei algumas vezes, enquanto tentava me sentar; sem sucesso. Olhei para ambos os lados, era um quarto de hospital, depois do desmaio, não poderia ser outro lugar. Tateei o lençol da cama, até achar o pequeno controle que indicava alerta para algum enfermeiro, mas assim que iria apertar o botão, a porta do quarto foi aberta.

- Finalmente acordado, Sr. Collins.

Ashton Morgan adentrou a sala com seu jaleco branco, e um sorriso paciente. Era meu medico durante anos, e sempre tratava de minha saúde.

- Sabe onde está minha esposa?

- Eu a liberei para ir a sua casa. Ela disse que precisava de um banho e trocar de roupas. Mas falou que não demora a voltar.

- Certo, não tem problema. Pode me dizer o que houve?

- Bom, Christopher, fizemos alguns exames. E coletamos algumas informações de sua esposa. Sabemos que passou por um estresse forte demais, e isso pode ter ocasionado um pequeno problema de pressão. Mas tudo está bem agora, sem qualquer risco.  – murmurou o medico de forma serena.

- Estresse é a única coisa que venho passando nos últimos dias. Imagino que saiba o que aconteceu.

- Eu estou sabendo sim, é um verdadeiro absurdo. E espero que consiga resolver esse problema.

- Eu vou resolver sim, doutor.

O doutor ficou alguns segundos em silencio, enquanto parecia analisar alguns papeis em sua prancheta verde em suas mãos.

- Collins, eu tenho uma pergunta.

- Sim?

- Anda tomando algum remédio ultimamente?

Eu franzi o cenho, e meneei com a cabeça em um sinal negativo.

- Não, nenhum. Por quê?

- Tem certeza? Fizemos alguns exames, e foram encontradas algumas substancias em seu organismo. Trata-se de remédios para ansiedade, calmantes. Sei que sua vida não está sendo fácil, mas tomar em grande quantidade sem prescrição medica não é aconselhável.

Fiquei em silencio por alguns instantes, enquanto minha cabeça se perdia em pensamentos. Eu não estava consumindo remédios, e muito menos calmantes. Mas havia uma grande quantidade em meu organismo, e se estavam presente, é porque alguém estava me fazendo tomar. De repente, minha cabeça processou todos os momentos que me senti extremamente cansado nos últimos meses.

- Acabei esquecendo que algumas vezes eu tomo para me manter tranqüilo. – menti.

- Certo. Eu vou indicar um melhor, menos forte. Mas não tome com muita freqüência, ok?

- Pode deixar, Dr. Morgan.

- Você vai ficar em observação por mais algumas horas e depois será liberado.

- Obrigado.

 

Camila Collins point of view.

 

Estava com o carro estacionado em frente ao departamento de policia, enquanto esperava de forma ansiosa que Normani atendesse o telefone. Tocou no mínimo três vezes antes de ouvir a voz da mulher do outro lado da linha.

- Aconteceu alguma coisa? – indagou ela assim que notou de quem se tratava.

- Não, Mani. Eu estou aqui na frente.

- Como assim? Você não deveria estar no hospital com Christopher?

Fechei os olhos por alguns segundos, e meneei com a cabeça em um sinal negativo.

- Sim, mas ele dormiu por horas. Eu disse ao doutor que iria em casa para tomar um banho e descansar um pouco.

- Entendi. E ele está bem?

- Infelizmente foi só a pressão, está forte como um touro. – bufei irritada.

- Eu poderia fazer um comentário a respeito do animal que escolheu para representá-lo, mas irei ficar calada. – sussurrou com um risinho baixo, o que me fez rir também. – Me diga, por que está aqui?

- Eu preciso falar com Lauren.

- Camila...

- Normani, por favor. Eu preciso.

- Lauren está em um dia péssimo. Eu nunca a vi tão transtornada antes.

- Droga...

Nada saiu como eu planejei. Em meus planos, Lauren apenas teria um bom atraso na investigação, mas não um desligamento total do caso. Era como ter tirado a maior oportunidade da carreira policial da mulher. Inferno. Ela iria me odiar pelo resto da vida. E como se não fosse o suficiente, ainda foi agredida verbalmente por aquele cretino dos infernos.

- Mas bom, ela foi liberada. Deve estar em casa agora.

- Certo, obrigada pela ajuda. Eu tenho que desligar. – murmurei antes de desligar a ligação.

Dessa vez eu tinha um peso enorme sobre minhas costas, como nunca havia tido antes. Por anos, fazendo tudo que já fiz, nada me abalou daquela forma. Era como se sentir a pior pessoa do mundo, e não poder fazer nada para mudar. Bati com força contra o volante do carro, sentindo raiva de mim mesma por tê-la envolvido nisso. Mas não era como se eu tivesse alternativa. Tudo estava milimetricamente planejado desde o primeiro instante que coloquei meus olhos sobre aquele homem. Lauren foi uma grande surpresa; no caminho de um jogo pesado, regado de mentiras e rancor, ela se infiltrou, tirando toda a estabilidade que julguei ter.

- Eu não devia ter me apaixonado por você, Lauren. – sussurrei, enquanto tinha cabeça inclinada sobre o volante de meu carro.

Naquele instante, um único pensamento tomou conta de minha mente.

“E se eu me entregasse?”

Lauren me odiaria por tudo, e consequentemente me prenderia. Christopher seria exposto, e ambos seriamos julgados. Não era a melhor escolha a ser feita, não para mim, já para Lauren poderia ser a melhor. Ela não merecia ser envolvida em uma historia tão conturbada como aquela, ela não merecia isso, certo?

- Você não pode...

Pela primeira vez eu poderia fazer algo realmente bom, não por mim, mas por alguém que amo. Encostei a cabeça no banco do carro, e encarei meus olhos no reflexo do espelho retrovisor. De repente, tudo que passei durante todos esses anos se espelhou por minha cabeça, todos os mínimos momentos. Desde minhas lagrimas, minha dor, raiva, rancor, até minha coragem e persistência para chegar onde cheguei. E no meio disso estava meu sentimento por ela, uma maldita mulher que se tornou minha fraqueza, meu calcanhar de Aquiles.

- Tudo pode ser diferente.

Respirei fundo, tentando afastar todos aqueles pensamentos. Antes de qualquer decisão eu precisava vê-la, ouvi-la, e era exatamente o que eu faria agora. Dirigi pelas avenidas de Nova Iorque, enquanto minha cabeça pensava em uma forma de mudar aquela situação, até que finalmente parei diante do prédio onde ficava localizado o apartamento de Lauren.  O porteiro, um senhor muito gentil, assentiu e sorriu assim que passei em direção ao elevador.

- Vamos lá, Camila. Faça ela se sentir bem pelo menos uma vez. – sussurrei para mim mesma. – Você é a dona do jogo, mude isso.

O bipe do elevador indicou que o andar de Lauren havia chegado. Caminhei pelo corredor até parar em frente ao apartamento da delegada. Acho que fiquei ali parada por alguns minutos, apenas reunindo coragem para bater naquela porta. Meneei com a cabeça em um sinal negativo, pensando em como eu poderia ser tão covarde quando se tratava de Lauren, e tão corajosa para enfrentar um plano de vingança. Certo, vamos lá. Ergui a mão e bati três vezes na porta de madeira, esperei alguns instantes, e novamente bati. Ouvi um barulho no interior do apartamento, e logo julguei que a porta seria aberta, recuei dois passos, quando a porta se abriu.

- Deseja alguma coisa?

Assim que ergui a cabeça, encarei um par de olhos, e eles não eram de Lauren. Keana me fitou com uma expressão neutra, e um leve sorriso nos lábios. Ela usava uma camisa grande, com o sobrenome de Lauren abaixo do símbolo policial, e apenas aquilo. Pelos seus trajes, e modos, não era difícil de descobrir o que havia acontecido.

- Quero falar com a agente Jauregui. – disse de forma séria.

- Ela está no banho, se quiser deixar um recado.

- Não, eu não quero deixar recado. Eu vou aguardar.

- Tem certeza? Ela acabou de entrar e...

“Keana? Quem está aí?”

Ouvi a voz de Lauren ao fundo, fazendo crescer um nó em minha garganta. Eu não sabia dizer o que estava sentindo, naquele momento, meu interior estava explodindo em raiva e decepção. Eu sabia que Lauren e eu não tínhamos uma espécie de relação, eu era casada, mas a essa altura de toda aquela situação, vê-la com outra era o que eu menos precisava. Respirei fundo, e mantive a mesma expressão séria, sem deixar que a outra oficial notasse qualquer desconforto. Se havia uma coisa que eu sabia, era fingir.

- Sim, querida. A sra. Collins está aqui. – Keana murmurou ao abrir mais a porta.

Lauren paralisou assim que me encarou. Permaneci onde estava, apenas a fitando. A delegada estava apenas de roupão, cabelos molhados e pés descalçados.

- O que está fazendo aqui? – indagou enquanto desviava seus olhos dos meus.

Puxei todo ar que poderia para meus pulmões, e ergui a cabeça para adentrar em seu apartamento. Passei pela oficial que estava parada na porta, em uma tentava imbecil de me inibir. Ela não sabia com quem estava se metendo, sabia? O barulho dos meus saltos eram perfeitamente ouvidos no piso de madeira do apartamento silencioso. Olhei brevemente pelo apartamento, e tudo estava organizado, a festa foi apenas no quarto?

- Vim com a preocupação de que estaria se sentindo mal pelo ocorrido de hoje mais cedo, mas vejo que soube pedir consolo. – dei uma breve olhada para Keana que revirou os olhos no canto da sala.

Lauren estava parada a minha frente, com uma expressão séria, um tanto raivosa.

- Você é a pessoa menos indicada para se preocupar, não acha? – rebateu a delegada.

- Agora vejo que sim.

- Você não deveria estar aqui, Camila. Sabe disso.

- Eu tinha outros planos antes de me deparar com isso.

- Que planos? Bancar a boa samaritana depois do seu marido ter me tirado o caso?

- Acha que eu não tentei impedir?

- Você só pode estar brincando comigo.

- Eu vou deixá-las sozinhas. – Keana murmurou enquanto caminhava para o quarto.

- Ah, que isso, querida. – murmurei com um tom debochado. – Fique, ou só sabe ficar para se deitar com ela?

- Camila...

- O que? Estou mentindo? Por favor, Lauren. Não cansa? Deixa sempre a coitada como sua segunda opção.  – caminhei ao redor de Lauren, parando perto de Keana.

Ela me fitou desafiadora, ainda em sua tentativa de me intimidar.

- Me admira de você, querida. – toquei seu queixo, antes dela virar o rosto. – Vai ficar de escanteio.

- Seu marido sabe disso?

- O que te interessa? Dele cuido eu.

- Vá embora, Camila. – Lauren segurou em meu braço com força.

- Adoro quando você me segura assim, Jauregui.

Virei de frente para ela, recebendo seu olhar fuzilante. Lauren estava respirando pesado, talvez lembrando de toda raiva que estava sentindo. Não era para menos, só que naquele momento, eu não conseguia sentir dó, não ao ver aquela cena patética entre ambas as mulheres, e pensar em tudo que deve ter acontecido.

- Não brinque comigo, Karla.

Seus olhos desviaram dos meus, e desceram até meus lábios que se expandiram em um sorriso diabólico. Eu vi Lauren respirar fundo, pesado, enquanto tentava a todo custo me odiar.

- Mais?

Lauren endureceu o maxilar, e apertou mais os dedos ao redor de meus braços.

- Vai me marcar? Porque se for, quero que seja da maneira que sabe fazer melhor.

- Vá embora daqui.

- Eu vou. Mas por que cansei de ficar presenciando essa sua decadência. Ai, Lauren, ela é bonita, mas sabemos que fode mal. – resmunguei ao me afastar.

- Escute bem, Karla... – Keana se aproximou.

- Não tenho tempo para ouvir você, meu amor. – encarei a mulher. - Sou uma mulher ocupada, e literalmente não faz parte da minha vocação ficar escutando reclamações de passa tempo do que é meu. Aproveite, logo será descartada outra vez.

- Você não...

Lauren segurou no ombro da mulher que se calou.

- Vá embora de uma vez! – exclamou a delegada.

- Você nervosa assim é um tesão. Mas enfim, quero te dar apenas um recado, Jauregui.

- O que?

Caminhei para próximo dela novamente, e assim que estive perto o suficiente, sorri da forma mais cínica que poderia. Levei minhas mãos até a gola de seu roupão, onde ajeitei devagar.

- Você pode ter saído do caso Collins, mas ainda é minha segurança particular. Então eu quero você bem linda em minha casa antes de anoitecer, estamos entendidas?

- Você está ficando louca, eu não volto naquela casa.

- Volta sim, se você quiser ter algum prestigio na sua carreira, é bom ir. Não quer ser demitida, quer?

- Você sabe que isso não vai ficar assim, não sabe?

- É o que veremos. Enfim, aproveitem o resto do dia.

Girei sobre meus calcanhares e caminhei para a saída. Eu respirei fundo, e parei na soleira da porta para lançar um ultimo olhar para ambas.

- Não se atrase, Lauren. Odeio esperar.

- Espere! – exclamou a delegada.

Continuei a caminhar, seguindo para o fim do corredor, onde estava o elevador.

- Camila, volte aqui!

Eu não pararia, e muito menos voltaria para ouvi-la. Respirei fundo, e adentrei o elevador, e só então virei de frente, vendo a imagem de Lauren parada em frente a porta de seu apartamento. Mirei seus olhos antes das portas se fecharem, rompendo nosso contato. Assim que perdi total contato visual com aquela mulher, deixei que todo o ar fosse embora de meus pulmões. Pela primeira vez, aquela foi uma situação que tive que reunir todo minha habilidade de atuar, pois minha única vontade era de por tudo que estava sentindo para fora, mas eu não faria isso. Nunca.

- Você quase foi idiota, quase estragou tudo. – sussurrei para mim mesma. – Por ela.

Cogitar a possibilidade de me entregar em uma tentativa de salvar a carreira de Lauren foi de longe à idéia mais tola, e impensada que tive durante anos. O que eu poderia esperar? Que ela estivesse triste e sozinha em seu apartamento? Que talvez ela sentisse o mesmo que eu? Que excluísse a possibilidade de dormir com outra por gostar de mim? Ah, Camila, tantos anos sem envolvimento emocional, e ainda sim poderia ser ingênua? Não, eu não poderia.

- Você vai ter o troco disso, Lauren. E eu serei bem pior.

A porta do elevador se abriu, e eu levei uma das mãos até o rosto, limpando a única lagrima que teimou em deixar meus olhos marejados. Eu não me permitiria ser tão fraca a esse ponto. Não era Lauren, e esse maldito sentimento que me faria vulnerável.

 


Notas Finais


O que será que essa mulher vai aprontar?

Vejo vocês no próximo capitulo! Um grande beijo.


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