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História Xeque-Mate - Katherine Cooper


Escrita por: ShewantsCamz

Notas do Autor


Vamos a continuação!

Queria agradecer a cada um de voces que acompanharam Xeque-Mate, que fizeram dessa estória gigante e ser uma das mais conhecida do fandom. Apreciem o capitulo, venerem os personagens que sao construidos com tanto amor e carinho. Cada detalhe foi justamente pensando em vocês e no contexto da fic.

Obrigada pela paciência e pelas ameaças tambem kkk confesso que eu me divirto lendo o que voces comentam. Xeque-mate foi uma fic incrivel de montar, de ver os pequenos detalhes pra fazer de cada personagem unico. Enfim, obrigada por acompanhar espero que voces gostem do final, com muito carinho, Sindy R. 💕

Espero que gostem do meu novo amor: Katherine Cooper.

Para ele indico: Sacrifices - Tinashe

The Gunner - MGK.

Capítulo 41 - Katherine Cooper


Katherine Cooper’s point of view.

 

Fênix.

A Fênix é uma ave mítica, símbolo universal da morte e do renascimento. Também simboliza o fogo, o sol, a vida, renovação, ressurreição, imortalidade, longevidade e invencibilidade. De origem Etíope, a Fênix, cuja cauda tem bonitas penas vermelhas e douradas, é retratada por uma ave sagrada que se ergue das chamas. Isso porque ela possui a capacidade de renascer de suas próprias cinzas depois de ser consumida pelo fogo.

Fechei o livro repousado sobre minha mesa, após ler aquelas palavras impressas em um papel amarelado. Um suspiro deixou meus lábios, após assimilar cada mínimo detalhe daquele parágrafo que representava tanto de mim. Retirei meus óculos de grau, deixando-os sobre a pilha de papéis no canto da mesa presidencial. Tamborilei com os dedos sutilmente, antes de erguer meu corpo da cadeira e caminhar lentamente até a estante de mogno em um tom de castanho-avermelhado no canto da sala extensa. Despejei relativa quantidade de um whisky escocês dentro do copo, para em seguida depositar duas pedras de gelo.

Aquela manhã carregava um peso considerável diante dos planos que tracei após todo o desastre de um ano atrás. Hoje seria o dia em que todos poderiam ver o renascer de quem eu sou e ainda posso ser. O trajeto de vida que foi destinado a mim, não permitiu a criação de espaços para fracassos ou derrotas. Eu havia sido criada, e restritamente treinada para combater o que se opusesse em meu caminho. Era seguindo aqueles ensinamentos que eu estava agora, mais viva do que muitos poderiam achar.

“Com licença, senhora.”

Ergui o copo com whisky até minha boca, deixando que o líquido de tom levemente acobreado molhasse meus lábios agora pintados em um de vermelho escuro, opaco. Após sentir o interior de meu corpo aquecer com a bebida, respondi:

- Sim, Amber?

- A senhora Jauregui está aqui e deseja entrar. – Foram as palavras de minha secretária particular, que me arrancaram um sorriso satisfeito.

Dei um passo à frente, aproximando-me da parede de vidro maciço que me presenteava os olhos com uma visão ampla do horizonte da bela e estruturada cidade de Zurique. Meus olhos foram de encontro ao fluxo de carros que adentravam o estacionamento frontal de minha empresa.

As indústrias Cooper.

- Deixe ela entrar, estou à sua espera.

- Sim senhora, com licença.

A medida em que me aproximei da vidraça, pude enxergar parcialmente meu reflexo. Meus cabelos ainda eram longos, desciam como uma bonita cascata em minhas costas, embora agora estivessem um tom de loiro, trazendo uma mudança radical a minha aparência. As madeixas claras se contrastavam perfeitamente ao vestido tubinho preto, com mangas ¾ e um decote frontal retangular. A peça de tecido leve, muito elegante, se mantinha justa em meu corpo, trazendo um ar social e ao mesmo tempo atraente.  Eu poderia dizer com modéstia, o quão exuberante eu estava aquela manhã? Afinal, não era ruim uma mulher se achar incrivelmente bela, certo? Principalmente, quando em poucos minutos se tornaria o centro da atenção de centenas de pessoas que se encontravam ansiosas em um auditório gigantesco daquele prédio.

Naquela manhã de um outono, em terras Suíças, dentro do monumental prédio da Cooper Enterprise, empresa nascida pelas mãos do falecido Charlie Cooper, será iniciado o novo ciclo comandado por mim.

- Katherine Cooper?

Ouvi a voz rouca e feminina inundar o ambiente, arrancando de mim um sorriso amoroso. Deixei que o ar que preenchia meus pulmões, escapassem por minha boca em um suspiro pesado. Os barulhos dos sapatos de Lauren sobre o piso de carvalho indicavam sua proximidade, fazendo-me ansiar por seu contato, até enfim receber suas mãos em minha cintura.

- Está pronta, rainha?

Aquela pergunta veio de encontro ao meu ouvido, como um sussurro. Senti um sutil arrepio por minha coluna, embora tentasse não transparecer o estremecer de meu corpo. Tomei mais um gole da bebida em meu copo, antes de virar em sua direção e encarar seus olhos verdes hipnotizantes. Lauren estava incrivelmente bela aquela manhã, como de costume. A delegada trajava um terninho feminino em um tom de azul escuro, com linhas de giz na vertical. O tecido de aparência sofisticada mantinha um contraste com o tom perolado de sua camiseta de seda no interior do blazer aberto. Eu deslizei a ponta dos dedos sobre o distintivo pendurado por uma fina e delicada corrente em seu pescoço.

- Sempre estou pronta, Jauregui. – Respondi em um tom convencido.

Lauren sorriu de canto, tomando o copo de minha mão para bebericar um pouco do líquido de teor alcoólico.

- Claro que está, ainda mais para ser a peça principal, não?

Contorci os lábios em um sorriso malicioso, antes de caminhar até minha mesa, onde me sentei parcialmente. Cruzei as pernas, deixando que uma parte de minhas coxas ficassem visíveis pela fenda sutil do vestido.

- Não pode me culpar por ter nascido para ser a protagonista desse jogo, Lauren. Está no meu sangue o destino de ser uma rainha.

- Pensei que Camila Collins tivesse ficado para trás. – A policial murmurou ao se aproximar, deixando o copo de lado.

Encarei seu olhar intenso, que me fez devolver de uma maneira desafiadora e imponente. Com um sorrisinho no canto dos lábios, deslizei minhas mãos pelo busto de Lauren, percebendo que ela acompanhava cada movimento com os olhos. Com a ponta dos dedos desenhei sobre sua pele, até alcançar a barra de seu blazer, onde puxei para trazê-la para mais perto.

- E ficou. Camila Collins está morta em algum cemitério de Nova Iorque agora. – Sussurrei, enquanto minhas mãos subiam pelas laterais de seu pescoço. – No entanto...

Senti a respiração de Lauren falhar por breves instantes, em um sinal perfeito do que eu poderia lhe causar. Mesmo com o tempo, a delegada não havia se tornado imune ao meu poder, muito menos aos meus toques. Eu sorri de canto e inclinei meu corpo sutilmente para frente, aproximando meus lábios da curvatura de seu pescoço. Ela engoliu em seco, suspirando com a proximidade, mas nada falou. Depositei um beijo lento, permitindo minha língua percorrer por sua pele.

- Katherine Cooper está aqui agora, como o renascer de Camila Collins que foi consumida pelo fogo. -  murmurei, para em seguida voltar a encarar seus olhos.

- Como uma fênix?

- Como uma fênix. – Afirmei.

Os olhos verdes de Lauren exibiam um brilho de luxúria, quase excitação. Ela inspirou o ar com força, como se buscasse manter sua sanidade.

- O que devo esperar de você, Katherine?

- O que esperava de Camila Collins? – Rebati com uma pergunta que a fez sorrir. – Ainda somos uma só, Lauren. Agora você terá as duas.

Ergui meu corpo da mesa e caminhei para o outro lado, enquanto tentava me recompor.

- Sinal que devo me preocupar. – Afirmou ela ao virar todo o whisky em sua boca. - Duas de você é sempre um sinal de confusão, é como se tivesse vivido isso em uma outra vida. – Completou, fazendo-me rir baixinho.

- Deveria se sentir honrada por ter dois lados de mim. – Murmurei ao parar diante da porta. – Não é qualquer uma que nasce com essa sorte.

- Precisarei ter muito controle. – Alegou assim que suas mãos vieram de encontro a minha cintura.

- Não pode controlar a dona do jogo, Jauregui. Eu te ensinei isso desde o primeiro capítulo dessa história, lembra? O reinado aqui é meu.

“Sra. Cooper, estão todos à sua espera.”

Lauren e eu nos entreolhamos por alguns instantes, em uma troca de olhar cúmplice.

- Avise que estou descendo, Wiliam. – Ordenei.

O funcionário intimidado assentiu e tão logo se retirou. Nós caminhamos juntas, lado a lado, em direção ao elevador principal. Lauren me encarou por alguns segundos, certificando-se de meu estado, aparentemente mais do que perfeito. Eu sabia de seu receio por minha exposição exagerada, era contra como Dinah e Normani haviam sido. No entanto, minha decisão havia sido tomada. Katherine Cooper não havia nascido de uma fatalidade para viver nas sombras de um passado obscuro. Eu havia ganhado aquele jogo, merecia desfrutar de minha vitória.

- Quando quiser, senhora. – Murmurou o segurança assim que paramos diante da porta dupla do auditório.

Lauren se pôs de lado, deixando-me no centro de ambas as portas. Seu olhar em minha direção transmitia confiança, como se no fundo daqueles olhos verdes, pudesse me passar sua segurança.

- Controle seu novo exército, rainha. – Foram as palavras de Lauren assim que as portas do auditório de abriram, dando espaço para minha entrada.

“Apresento a vocês, nossa mais nova sócia majoritária e presidente da maior indústria petrolífera da atualidade. Katherine Cooper.” – Exclamou o mestre de cerimônias quando meu corpo foi banhado por flashes.

Naquela fração de segundos, minha ascensão ao cargo de presidente das Indústrias, inicialmente fundada por meu pai, Charlie Cooper, foi o ápice de minha vitória contra Christopher Collins. Depois de longos anos de sofrimento, planejando estratégias perfeitas para um jogo perigoso movido por interesses e vingança, era aqui que eu me encontrava.  Camila Collins poderia ter morrido queimada ao lado de seu marido corrupto e assassino, responsável pelo incêndio criminoso de seu lar há cerca de oito meses atrás. No entanto, no mesmo dia em que a Sra. Collins deixou seu posto de rainha, designou a coroa para um outro lado seu. Um lado tão inteligente, eficaz e poderoso como o anterior. Afinal, ninguém seria capaz de segurar o fardo pesado daquele reinado, seria? Nenhuma daquelas pessoas, poderiam suportar com tanta frieza o que Camila havia vivido. Apenas eu, Katherine. E se estiverem curiosos com isso aconteceu; Eu posso explicar em como a mais nova presidente das Indústrias Cooper havia nascido, ou melhor, ressurgido.

“Me contorci lentamente, arrastando-me sobre o assoalho escuro, sentindo aquela pontada aguda na parte superior de minha costela, acompanhada do ardor em minha coxa esquerda. Um gemido de dor escapou de meus lábios, enquanto me esforçava para manter meus olhos abertos. Naquele momento, sentia meu corpo pesado, quase imóvel, como se ele não estivesse recebendo totalmente os comandos necessários para me tirar dali. Talvez fosse efeito do medo e do desespero que me dominava naquele instante, ou até mesmo, a pancada violenta que levei após a explosão do cômodo ao lado. Outro gemido de dor, seguido pela tentativa falha de me por sentada. Deitei novamente no chão, enquanto tentava focalizar minha visão que se encontrava turva, embaçada. O clarão das chamas intensas tomava conta do quarto, consumindo todos os materiais ali existentes. O fogo se aproximava cada vez mais, fazendo-me observar atentamente como eu iria morrer. Era desesperadora a sensação de ver a morte tão de perto, e não poder fazer nada para impedir.

- Não posso morrer... – Sussurrei com dificuldade, quando o ar contaminado me preenchia os pulmões. – Não posso...

Meu corpo se sacudiu a medida que a tosse violenta me pegou. Eu estava sufocando naquele lugar. Fechei os olhos por breves segundos, ouvindo vagamente o estalar do fogo, sendo ofuscado por aquele zumbido que me deixava quase surda. No fundo de todos aqueles sons, eu ouvi os gritos de pavor.

Virei meu corpo lentamente para o lado, sentindo aquela dor insuportável. Minha mão escorregou sobre a pele de minha coxa, sendo umedecida por um líquido escuro. Ergui a mão trêmula lentamente, dando-me conta da vermelhidão que escorria entre meus dedos até a palma.

Sangue.

    Isso é culpa sua, Camila. – O homem grunhiu desesperado.

Minha respiração ofegante, fazia com que eu inalasse com mais vontade o ar contaminado daquele quarto. Por mais que minha cabeça trabalhava freneticamente, meu corpo não parecia corresponder na mesma intensidade. As forças de meu corpo se foram, quando eu mais precisava delas. Me encontrei em desespero. A morte estava ali, vibrante, intensa, aproximando-se de mim de maneira torturante. Eu estava mesmo morrendo? Era assim que tudo ia terminar?

- Não... – Murmurei, umedecendo meus lábios com a ponta da língua.

Um lado meu dizia que não me restavam alternativas, eu estava resignada em deixar que o fogo me consumisse por completo. Era para o inferno que eu iria, não? Depois de uma vida regida por sentimentos tão inferiores nada e nem ninguém poderia me salvar agora. Durante todo aquele tempo, imaginei que em algum momento algo poderia dar errado, só não pensava que pudesse ser daquela forma. O jogo da vida havia me conduzido pelo sentimento de ódio e revolta, o meu fim não poderia ser diferente, poderia?

“Você vai morrer comigo! Vai morrer comigo, vagabunda.” – O homem exclamou, fazendo com que meus olhos se enchessem de lágrimas.

Não eram lágrimas de tristeza, eu não poderia me ver triste naquele momento. Minhas lágrimas se resumiam a revolta. Eu iria cair, mas levaria o causador de tudo comigo.

- Você vai para o inferno comigo... – Sussurrei baixinho, mesmo sabendo que ele não poderia ouvir.

- Não pode lutar contra mim. – Murmurou mesmo em meio a um gemido de dor.

Eu fixei os olhos no teto, vendo o fogo se espalhar cada vez mais. Ele se expandia em uma rapidez que me deixava completamente apavorada. As labaredas cresciam até o teto de gesso que ameaçava desabar por completo sobre nossas cabeças a qualquer momento. Os ruídos se intensificavam, dando sinais claros que, a qualquer momento tudo aquilo poderia desabar. Minha respiração se tornava lenta e cada vez mais pesada, como se meu corpo estivesse perdendo as forças. Aquela dor era insuportável, deixava-me fraca e sem esperanças para lutar. Christopher Collins havia me derrubado.

- Como se sente, rainha? Como se sente morrendo por minhas mãos? – Sua voz soou grossa, e sarcástica.  Ele iria morrer, mas pisaria em mim o quanto fosse necessário antes de partir.

Um único suspiro deixou meus lábios enquanto minhas mãos se fecharam em punhos cerrados. Eu o vi se aproximando. Christopher carregava uma expressão doentia, enquanto se esforçava para atravessar a Suíte com todos seus machucados. Minha respiração voltou bruscamente, fazendo-me fechar os olhos em puro impulso. Eu iria morrer.

- Você é fraca! Como Charlie foi! – Gritou.

Aquela pequena frase soou violenta e intensa, sobrepondo-se a meus pensamentos. Como um tiro certeiro, provocando aquela dor imensurável por sua perfuração, mas diferente de todas as outras dores, aquela não me atingiria de uma maneira ruim. Pelo contrário, as palavras proferidas por Collins vieram como um surto de adrenalina, e era somente isso que me faltava. Meus olhos se abriram em um único ato, fixando-se sobre as chamas vibrantes que consumiam tudo que restava. Ele não iria manchar Charlie com a minha derrota. Virei meu corpo de bruços, apoiando-me com as mãos no piso trêmulo. O fogo estava cada vez mais próximo, as chamas queimavam sobre os tecidos, cortinas e carpetes. Rangi os dentes, sentindo aquela pontada de dor em minha coxa. Eu suportei assim que meus olhos foram de encontro ao objeto prateado e reluzente a poucos metros de mim.

- Você não devia me subestimar, Collins. – Murmurei, arrastando-me pelo chão.

- Você está acabada, Camila. – Ele riu ironicamente. - Dessa vez o seu jogo acabou.

Dizem que momentos antes da morte sua vida passa como um filme diante de seus olhos. Desde o primeiro instante até o último. Eu não sabia se aquele seria finalmente o meu momento de partir. Mas no interior de meus pensamentos toda minha trajetória passou como um flash. Minha chegada no orfanato, minha união com Dinah, meu primeiro encontro com Charlie. Seu sorriso largo, acompanhado de seus olhos claros se materializaram em minha mente de maneira tão nítida, que eu poderia jurar tê-lo visto. Você consegue, Camila, disse ele. No entanto, sua expressão tão alegre e viva, se transformou em um rosto melancólico, opaco, morto. Trazendo consigo os olhos malignos do homem a poucos metros de mim. Aquela sensação de revolta inflou meu peito, arrancando-me o fio de felicidade que se instalou em meio àquela desgraça. Eu abri os olhos, voltando aquela realidade violenta que nos cercava. Minha respiração pesada bombardeava meus pulmões, assim como meu coração emitia fluxos intensos de sangue pelo meu corpo. Por alguns segundos, as imagens de Lauren se fixaram em minha cabeça, lembrando-me de tudo que ainda poderíamos viver.

- Lauren... – Sussurrei, arrastando o dorso da mão para limpar o sangue que escorria próximo a minha boca.

Inicie The Gunner - MGK

Eu fechei uma das mãos firmemente ao redor do revólver trazido por Collins e ergui meu corpo, sendo rodeada pelas chamas vibrantes que ele mesmo havia provocado.

- O jogo só acaba quando o rei é derrubado. – Foram minhas palavras quando ergui a arma reluzente em sua direção.

Christopher estagnou os passos, fitando-me com os olhos malignos e perversos. Eu poderia notar facilmente sua respiração ofegante, enquanto ele apertava os próprios punhos. Nós nos encaramos por segundos valiosos, que me fizeram recordar todo sentimento de repulsa que ele me provocou durante todos esses anos.

- Você não tem coragem... – Ele murmurou ao dar um passo à frente, fazendo-me franzir o cenho.

- Não se aproxime! – Gritei, firmando a arma em sua direção.

Collins expandiu os lábios em um sorriso diabólico, que me fez tremer. Por alguns instantes, considerei mentalmente que foi aquela imagem que Charlie teve antes de morrer, eu não poderia ter o mesmo fim. Engoli em seco, sentindo o calor daquele quarto provocar as gotas de suor que escorriam por minha pele, que, misturadas com o sangue, distribuíam-se por algumas partes de meu corpo.

- Você não é tão corajosa, Camila. É tão covarde como seu falecido pai.

- Nunca mais fale dele! – Exclamei ao puxar o gatilho de uma só vez.

O estalar sutil emanado pelo revólver indicou a falha inacreditável daquele momento. Meus olhos se arregalaram em um ato desacreditado. Christopher gargalhou diabolicamente, fazendo-me tremer por completo. Eu recuei um passo, apertando o gatilho que novamente falhou. O homem fixou os olhos demoníacos sobre mim, carregando em sua íris clara o brilho da morte.

- Não, não...

- Acabou, rainha!

Quando Christopher avançou sobre mim em um ato impulsivo, o fogo violento ocasionou uma explosão próximo ao telhado, fazendo com que uma parte dele desabasse entre nós. Meu corpo foi bruscamente arremessado para o chão, arrancando-me um grito de dor que rasgou minha garganta. Gemi dolorosamente, enquanto me afastava do fogo que resvalou por meu braço esquerdo. Virei de bruços e ergui meu corpo do chão novamente, com os resquícios de forças que me restava. A fumaça, misturada à poeira, se alastrou pelo ambiente em meio às chamas vibrantes, dificultando minha visão daquele cômodo destruído. Dei um passo à frente, mesmo sentindo o fisgar intenso em minha coxa direita, quando por fim meus olhos encontraram o que eu realmente precisava.

Afastei as peças grossas de gesso que desabaram do detalhado, para enfim capturar minha pistola dourada, que reluzia de maneira brilhante em meio a destruição. Assim que tomei posse do objeto, ouvi os gemidos enfurecidos de dor. Apressei os passos, com dificuldade, arrastando minha perna direita para então vê-lo reclinado sobre o piso entre os destroços.

- Me tire daqui! Me tire daqui agora! – Exclamou de forma sufocada, enquanto tentava afastar a enorme viga de madeira que esmagava suas pernas. – Sua vagabunda, me tire daqui!

Mesmo sabendo que aquele lugar estava prestes a sucumbir em meio ao fogo, me permiti observar aquela cena com certo prazer. Naquele momento, não restava em mim qualquer sinal de compaixão, muito menos de solidariedade. Christopher não merecia que eu me compadecesse por seu estado, ele não moveria um dedo para me salvar.

 

- Vai me deixar queimar aqui? – Exclamou em meio aos gemidos de dor. Eram pavorosos. – Se o fizer, estará afirmando que é tão perversa como eu.

Meu peito subiu e desceu em uma respiração pesada enquanto meu coração palpitava freneticamente. Olhei ao meu redor, notando que não havia muitas opções. Sabia que meu lugar no inferno estaria reservado, não seria uma boa ação que me tiraria de lá. No entanto, permitir que Christopher sentisse as chamas o consumindo em uma tortura lenta e dolorosa faria de mim alguém muito pior do que ele. Collins não tinha escapatória, e eu não poderia morrer naquele incêndio.

- Eu não sou como você, Christopher.

Ergui uma das pernas e pressionei com a ponta do pé sobre sua barriga, recebendo um grunhido doloroso. Ergui a cabeça e o encarei com uma expressão desafiadora para então apontar a pistola dourada em sua direção.

- Eu deveria deixá-lo queimar no fogo, mas não vou me igualar a você. Me agradeça por acabar com seu sofrimento quando nos encontrarmos no inferno. – Engoli em seco, repousando o dedo sobre o gatilho de minha arma.

- Ca-Camila.. – Murmurou, fazendo-me notar o sangue expelido por sua boca.

- Xeque-mate, Collins. – Foram minhas palavras antes de disparar duas vezes em seu peito.

O corpo do homem recebeu o impacto forte dos tiros emanados por minha pistola, dando fim ao seu sofrimento, consequentemente, ao meu.

- Acabou. – Suspirei, largando a pistola no chão.

Em um espaço mínimo de tempo analisei todas as prováveis saídas do lugar, constatando que não me restavam muitas. O fogo tomava conta de tudo que havia pela frente. Me afastei do corpo, seguindo em direção à parede parcialmente arrebentada que daria passagem ao quarto do lado, visto que na região oposta, tudo havia desabado. O espaço ainda não era suficiente para que eu me deslocasse para o aposento a frente, havia algumas vigas finas de madeira que não foram totalmente arrebentadas.

- Inferno! – Exclamei nervosa, antes de capturar uma das cadeiras de madeira presentes no quarto.

Movida a adrenalina, arremessei o objeto com força contra as vigas; e só após três tentativas o material se partiu. Com as mãos, afastei os retalhos da madeira fina, e me inclinei para frente, sentindo minha coxa sangrar cada vez mais. Gemi de dor assim que meu corpo foi de encontro ao chão, próximo às labaredas de fogo vivo, que por pouco tomaram conta do robe que me cobria.

- Preciso sair... – Gemi, tentando me levantar.

Quando tomei impulso para suspender meu corpo do chão, a porta do banheiro foi arremessada com o impacto de outra explosão. Me abaixei novamente, completamente apavorada quando meus olhos foram de encontro ao que havia no interior do pequeno cômodo.

Um corpo.

Meus olhos se arregalaram, fazendo-me levantar de uma só vez. O grito sumiu em minha garganta assim que vi o rosto parcialmente queimado.

- Eliza! – Exclamei com uma voz trêmula. – Por Deus...

 Levei uma das mãos à boca, sentindo meu corpo inteiro tremer diante da visão assustadora do corpo sendo consumido pelo fogo intenso. Eliza tinha a pele sendo devorada pelas labaredas, sem esperanças de salvação. Fechei os olhos por alguns instantes, sentindo aquele maldito aperto no coração. Eu não poderia deixar que a culpa me derrubasse agora, Eliza não morreu por minha culpa, certo?

- Me perdoe por isso, Eliza...

Levei uma das mãos ao colar preso ao meu pescoço, arrancando-o de uma só vez. O objeto valioso se partiu, deixando que algumas de suas pedrarias tão caras caíssem no chão. Apertei-o com as mãos antes de jogá-lo próximo ao corpo que em pouco tempo se tornaria irreconhecível. Recuei alguns passos, vendo o fogo toma-la por completo, antes de ir em direção à varanda. Com certa dificuldade, abri a porta dupla, deixando que o vento daquela noite pavorosa viesse de encontro ao meu rosto. Repousei minhas mãos no batente da varanda, debruçando-me para frente. Meu coração ainda batia descontrolado no interior de meu peito.

- Pula... – Disse a mim mesma.

Meus olhos se fixaram sobre a piscina extensa há alguns metros abaixo. Havia uma grande possibilidade de tudo dar errado, visto que a mesma ficava um pouco mais a frente, e não totalmente abaixo da pequena varanda em que me encontrava naquele momento. Me debrucei novamente sobre o corrimão, completamente ofegante.

- Você consegue, Camila... – Repeti aquela frase seguidas vezes, enquanto me colocava do lado oposto da varanda, agora pisando com a ponta dos pés no espaço mínimo do outro lado.

Me encontrava pendurada ao lado de fora da varanda, encarando a grande extensão de água um pouco mais a frente. Senti aquela maldita fisgada na perna direita, fazendo-me duvidar ainda mais de meu plano de fuga. Meu salto para o fundo da piscina teria enormes chances de falhar, visto que uma de minhas pernas se encontrava ferida. Fechei os olhos e respirei fundo seguidas vezes, em uma tentativa falha de tomar coragem para pular. Meu corpo tremia descontroladamente. Naquele espaço mínimo de tempo, as imagens de Eliza sendo queimada tomaram minha mente, fazendo-me presumir que Christopher logo estaria da mesma forma. Eu não poderia ter aquele fim, não por medo ou fraqueza. Camila Collins havia enfrentado coisas piores, não seria um salto de uma mansão em chamas que faria seu fim, seria?

- Esse não é o fim. – Foram minhas palavras antes de tomar impulso e saltar para a frente.

A sensação assustadora trazida pela queda livre foi apagada quando meu corpo afundou na água. Por mínimos segundos, o silêncio no fundo da piscina me trouxe uma calmaria que me fez tomar impulso para emergir até a borda. Tossi violentamente enquanto me segurava na beira da piscina. Me debrucei sobre a borda, esforçando-me para enfim sair da piscina. Mesmo com dificuldade, ergui meu corpo completamente encharcado, sendo coberto apenas pela minha lingerie e o robe rasgado. Girei sobre meus calcanhares, sentindo a água escorrer por meu corpo, até me pôr de frente para a visão assustadora da mansão Collins, que agora estava sendo completamente tomada pelas chamas vivas em seu interior.

- Acabou...”

Aquela imagem de cores tão vibrantes exibida diante de meus olhos, carregava uma representatividade maior do que poderiam imaginar. Observar a mansão Collins sendo inteiramente destruída, dava a mim aquele gostinho de fim, como um fechamento de um ciclo tão arduamente planejado e executado. Dentro daquele lugar agora tomado pelas chamas, estava morrendo uma parte de mim. Em um sentido figurado, Camila Collins não havia escapado. Ela estava ali, sendo integralmente consumida pelo fogo da vingança; a rainha estava se decompondo em cinzas que agora dariam vida para um novo eu.

Que Camila eu poderia ser?

 

[...]

 

Encarei meu reflexo no espelho do banheiro, notando as marcas violentas daquela noite. Ao abaixar o zíper do macacão industrial preto, recolhido de uma das salas de manutenção dos fundos da mansão Collins, notei as escoriações e queimaduras espalhadas por meu corpo. Com certa dificuldade, abaixei o restante da peça de roupa que agora descia por minhas pernas até o chão. Um gemido escapou por minha boca, assim que o tecido grosso escorreu pelo corte em minha coxa. Quase sem forças, me sentei no chão do banheiro, enquanto me apoiava na parede fria.

- Me atende, por favor. – Sussurrei ao clicar mais uma vez sobre o nome da policial no telefone celular. – Preciso que saiba...

Naquele instante, o incêndio da mansão Collins não era mais um segredo. Equipes do corpo de bombeiro e carros da polícia circulavam atentamente pelas ruas de Nova Iorque a caminho do lugar destruído. Lauren sendo peça importante do departamento de polícia, com toda certeza, já devia ter sido informada. Sentia meu peito apertar somente com a ideia de tê-la sofrendo por minha morte, eu sabia o quanto aquilo poderia deixá-la transtornada. A delegada carregava uma intensidade disfarçada por seu jeito descompromissado, que havia ido por água abaixo a partir do momento que se uniu a mim em um objetivo único.

- Vamos, por favor... – Cliquei mais uma vez sobre o seu nome na tela do celular.

“Oi, aqui quem fala é Lauren Jauregui. Eu não posso atender no momento, mas deixe seu recado.”

Eu não poderia deixar um recado, pessoas mortas não deixam recados, pensei. Tentei por mais vezes, todos os celulares, contando com Normani e Dinah, mas nenhuma delas atendeu.

- Inferno! – Exclamei ao afastá-lo com força.

Suspendi meu corpo do chão, segurando em todos os móveis que me serviam de apoio, para seguir em direção ao interior do boxe pequeno. Arfei baixinho quando a água fria entrou em contato com minha pele, escorrendo pela mesma de maneira constante, e relaxante. Era bom sentir algo de temperatura mais baixa depois de tudo naquela noite. Perdi alguns bons minutos debaixo do chuveiro, enquanto meus pensamentos trabalhavam em tudo que eu precisava fazer daqui para frente. Após o banho, procurei por minhas roupas guardadas em algum cômodo daquela casa alugada. Tratava-se do mesmo lugar que usávamos para armar nossos planos durante a madrugada em que Christopher dormia.

“Oi, aqui quem fala é Lauren Jauregui. Eu não posso atender no momento, mas deixe seu recado.” – soou o telefone celular mais uma vez, arrancando-me um suspiro irritado.

Terminei os curativos em minha perna, seguido por alguns em meus braços e outros pela costela. Não era um dos meus melhores momentos, constatei enquanto encarava minha imagem no espelho. Com certo cuidado, passei os braços pelas mangas do casaco preto, para em seguida repousar o boné sobre minha cabeça. Após estar totalmente pronta, segui até a pequena dispensa no porão da casa, onde reuni todos os materiais que precisava no interior de uma mochila. Havia roupas, sapatos, dinheiro e cartões.

- Onde está isso?! – Exclamei um tanto apressada, enquanto vasculhava as maletas repousadas na estante de ferro enferrujado. – Aqui!

Meus olhos foram de encontro aos nomes desconhecidos, acompanhado de nossos rostos familiares. Havia inúmeras alternativas para uma nova identidade, e dentre todas elas me familiarizei com uma.

- Katherine Camila Cooper... – Sussurrei ao tocar suavemente sobre meu rosto impresso na pequena foto.

Todos os documentos foram previamente falsificados em minha última viagem a Suíça. Enquanto Lauren perdia longas horas no caso Collins, eu me encontrava em um almoço de negócios com um dos melhores falsificadores do país. Naquele momento, era uma alternativa segura, visto que estava sobre os olhos atentos da delegada, que buscava ansiosamente por seu culpado. Após guardar tudo que precisava, me vi saindo daquele lugar no interior de uma caminhonete simples estacionada na garagem da casa. Durante o caminho, ouvi as notícias anunciadas pelos locutores de rádio, que atualizavam os possíveis interessados na grande tragédia da mansão Collins.

“De acordo com informações policiais, a mansão Collins foi incendiada pelo próprio magnata do petróleo. O empresário foi condenado por uma lista de crimes, e depois de um surto psíquico, fugiu a caminho da penitenciária de Downstate. Sua esposa, Camila Collins, teve o corpo totalmente carbonizado. Há boatos que a polícia não conseguiu identificar o DNA, visto que nenhum de seus parentes próximos foram encontrados. Mas de acordo com o depoimento de alguns informantes, ela era a única pessoa presente no interior da mansão.” – Informou a voz emanada pelo alto falante.

Mantive os olhos atentos na avenida, enquanto meu cérebro cuidava de processar todas aquelas informações. Para o mundo inteiro, naquele momento, Karla Camila Collins foi morta em um incêndio criminoso provocado por seu marido. Um fim trágico, não? Suspirei pesado, e diminui a velocidade ao parar do outro lado do prédio do departamento de polícia. Meus olhos foram de encontro a entrada, avistando o fluxo frenético de policiais que entravam e saiam daquele lugar. Bufei um tanto impaciente, e sai do veículo a procura de um telefone público. Disquei o número da recepção do lugar, e tão logo fui atendida.

“Departamento de polícia de Nova Iorque, em que posso ajudar? ”- Murmurou uma voz feminina.

Em um tom de voz diferenciado, me pus a falar tranquilamente.

“Gostaria de falar com a delegada Jauregui.”

“Ela não se encontra no momento.”

“Poderia me dizer onde ela está? Sou irmã dela, estou tentando falar há horas em seu telefone, mas não consigo.”

“Me desculpe, senhorita. Mas não posso dar informações sobre a agente.”

“Por favor, eu estou realmente preocupada com minha irmã. Me chamo Taylor Jauregui.”

A mulher perdeu alguns segundos em silêncio, parecia pensar em minhas súplicas tão convincentes.

“A agente Jauregui está internada no hospital central, mas não se preocupe, não foi nada grave...”

Fiquei em silêncio por alguns instantes, absorvendo aquela informação repentina que caiu sobre minhas costas. A mulher do outro lado da linha chamou pelo nome da irmã de Lauren seguida vezes, mas eu não respondi, apenas devolvi o telefone para o gancho e parti. Minutos depois, me vi adentrando o saguão do hospital central, mesmo com a enorme possibilidade de ser descoberta por debaixo daquele casaco, boné e óculos escuro. Vania, a recepcionista de aparência tão cansada, informou o número do quarto no qual a delegada se encontrava, mas após perceber sua falha, afirmou que eu não poderia ir ao seu encontro. Com certo descontentamento, fingi acatar suas ordens, à espera do minuto em que ela iria se descuidar. E aquele momento enfim aconteceu. Quando a mulher se distraiu com a chegada de uma nova ambulância, me vi escapando pelos corredores a procura do quarto em que se encontra minha mulher. Confesso que senti meu coração se comprimir dentro do peito ao presenciar a imagem de Lauren completamente desacordada na cama daquele hospital. Seu semblante não expressava seu estado emocional, mas eu sabia o quão devastada ela poderia estar. Respirei fundo, sentindo meus olhos marejados, enquanto tocava seu rosto em um carinho sutil.

- Me desculpe, amor... – Sussurrei entre um suspiro e outro. – Eu não queria te fazer passar por isso.

Com o polegar contornei a maçã de seu rosto, subindo até o pequeno curativo em seu supercílio. O quarto silencioso, era preenchido somente pelo barulho de sua respiração, acompanhada pelo bipe insistente da máquina ao lado.

- Estou feliz em ver você... – Murmurei ainda acariciando seu rosto.

Era bom estar na companhia de Lauren depois de ter visto minha morte tão de perto. Mesmo em tais situações, poderia me sentir incrivelmente aliviada em sua presença tão doce. A delegada, talvez percebendo minha presença, movimentou suas pálpebras como se quisesse me fitar.

- Não se esforce, está tudo bem.

De maneira lenta, ela abriu os olhos, focalizando em minha direção com uma dificuldade aparente.

- Ca-Camila...

Sua voz embargada, acompanhada de seu esforço para me ver, fez com que algumas lágrimas escapassem por meus olhos.

- Shh, não se canse. Eu estou aqui com você.

Confesso que vê-la tão frágil fazia eu me sentir ainda mais culpada. Em nenhum de meus planos Lauren seria atingida de maneira tão cruel. Para ser sincera, Lauren nunca esteve em meus planos, até me encarar naquele bar em Mount Vernon. De uma maneira surpreendente, o destino me fez enxergar que nenhum plano é completamente calculado. Em nenhuma das hipóteses estudadas anteriormente, estava a chegada de uma delegada americana que viraria meus sentimentos do avesso. Lauren, de maneira sorrateira e não intencionada, se apoderou de minhas fraquezas, dando-me algo que me faltava: amor.

- Não me deixou... – Ela tinha um fio de voz.

Eu sorri de canto, sentindo outras lágrimas descerem por minha face. Com o dorso da mão, limpei o líquido salgado e encarei seu rosto.

- Eu nunca vou deixar você.

- Nunca.

 

[...]

 

Depois de sair daquele hospital, segui para uma cafeteria na esquina da rua onde Lauren morava. De alguma maneira, precisava me infiltrar em seu apartamento, sem ser descoberta pelos demais. Meu novo plano se construía gradativamente, enquanto buscava as peças adequadas para dar início a essa nova era. Com a “morte” de Camila Collins, minha estadia em Nova Iorque havia chegado ao fim, mas antes de partir eu precisava me despedir. Me permiti observar a movimentação no prédio de Lauren, que por sinal era fraquíssima. Tommy, o porteiro, se descuidava em seus serviços a todo instante, facilitando minha entrada no lugar sem qualquer tipo de impedimento. Caminhei pelos corredores com um semblante natural, apesar de toda minha roupagem diferenciada; casaco, boné e óculos escuros foram o suficiente para esconderem minha identidade. Para todos os efeitos, eu nada mais era que uma visitante, ou até mesmo moradora. Cumprimentei alguns moradores no elevador, e saí do mesmo rumo ao apartamento de Lauren. Durante as diversas vezes que visitei aquele lugar, Lauren fez questão de informar onde deixava as chaves de reserva, agora facilitando minha entrada.

O apartamento se encontrava vazio e silencioso, bem como eu esperava. Era estranho estar aqui sem a presença de Lauren, mas eu sabia que ela não demoraria a chegar. Não ousei mexer em nada, não queria dar indícios de minha presença para sua melhor amiga, que a qualquer momento poderia aparecer. Me mantive no quarto da delegada, aproveitando do aconchego familiar de sua cama, por longas e intermináveis horas. Por mais cansada que eu estivesse, não poderia me dar o luxo de dormir e ser descoberta. Hoje, estar em qualquer lugar poderia ser perigoso demais para alguém considerada morta. Ergui meu corpo da cama, de maneira preguiçosa e um tanto hesitante, e me permiti caminhar pela extensão da casa, vendo a tarde cair ao lado de fora.

Cadê você, Lauren? Pensei.

Um suspiro deixou meus lábios, enquanto observava atentamente o fluxo tranquilo de carros na avenida mais à frente. Em poucas horas minha vida tomaria um rumo diferente, e eu não poderia fazê-lo sem antes me despedir. Eu sabia o quão relutante a delegada seria, mas também sabia que naquele momento, eu não poderia me dar ao luxo de escolher. No início de tudo, a ideia de deixar aquele lugar, e aquelas pessoas, trazia uma sensação de alivio; como uma espécie de libertação de todo aquele mal. Mas agora, tudo era diferente. Lauren transformou meus planos tão minuciosamente traçados, em estratégias fracas, diante de todo sentimento que nutri por ela. Depois da morte de Charlie, prometi a mim mesma que ninguém poderia me parar, ou até mesmo me fazer desistir. Transformei todo aquele sentimento de dor e desespero, em ódio. E por mais estranho que fosse, não era aquele sentimento que me fez chegar até aqui. Por um determinado tempo, ele me guiou naquele tabuleiro de jogo tão perigoso, fazendo-me avançar sem temer o final de tudo, mas no meio do caminho, de maneira totalmente inesperada, foi amor de Lauren que me fez sobreviver. Era com a força daquele sentimento, que me vi esperançosa por algo melhor no meio de tanta tragédia. Lauren havia me transformado. Havia mostrado que nada estava totalmente acabado. O mundo poderia ser cruelmente doloroso, mas ainda assim era capaz de mostrar um monto de paz.

Lauren Jauregui era o meu.

Recuei alguns passos, encarando cada mínimo detalhe daquele lugar, sentindo-me estranhamente nostálgica. Todas as minhas visitas aquele apartamento, foram conduzidas por impulsos desmedidos, um tremendo descontrole emocional. Era como sair dos trilhos, e me ver perdida em meio aos meus sentimentos e desejos mais profundos. Eu não me arrependia de nenhum deles, faria tudo de novo, pelo simples fato de ter Lauren em todas as vezes.

- Jauregui... – Sussurrei baixinho, enquanto capturava um retrato em mãos.

Encarei o semblante animado, bem explicito por aquele sorriso largo e olhos tão brilhantes. Lauren estava devidamente uniformizada como policial, ao lado de sua melhor amiga, Veronica Iglesias. Devo dizer, que aquela roupa lhe caía muito bem? Toquei sutilmente sobre seu rosto, deixando que um suspiro escapasse por minha boca. Era vergonhosa a maneira como me sentia com relação aquela mulher. Como pude me render tanto?

- Você é a única que conseguiu me derrubar...

Antes que eu pudesse deixar o retrato sobre o criado mudo, ouvi o barulho sutil do molho de chaves do outro lado da porta. Meus olhos se arregalaram em puro susto, fazendo-me correr para longe dali. Em passos rápidos, me tranquei no banheiro de visitas, no final do corredor. O silencio do apartamento, dava-me a oportunidade de ouvir os passos delicados sobre o piso de madeira, indicando que se tratava apenas de uma única pessoa. Respirei fundo, em uma tentativa de controlar o nervosismo que ameaça me atacar. As últimas horas foram traumáticas.

- Calma...Calma.. – Murmurei baixinho ao abrir a porta do banheiro lentamente.

O barulho de copos indicou claramente a presença de alguém na cozinha. Eu suspirei lentamente, e me pus a caminhar em passos cuidadosos pelo corredor parcialmente iluminado. Estagnei os passos, quando a pessoa se moveu, agora mexendo em outros objetos que não pude identificar.

“Por que você tinha que ir?”

A voz de Lauren soou de maneira angustiante, trazendo aquela pontada de dor por seu sofrimento. Me aproximei devagar, agora tendo a visão nítida da mulher completamente infeliz. Lauren se sentou no chão da cozinha, encostada a bancada atrás de si, enquanto ingeria grandes goles da bebida alcoólica em seu copo. Ela chorava de maneira tão dolorosa, que me senti incrivelmente tocada por sua dor. Por mais deprimente que aquilo fosse; vê-la tão sentida por minha ausência me fez perceber a grandiosidade do seu amor. Não que eu duvidasse dele. Lauren havia me dado provas suficientes de seus sentimentos tão verdadeiros, quando se uniu em prol de minha justiça. Quando tomei impulso para pronunciar seu nome, ela ergueu seu corpo do chão em um solavanco, fazendo-me recuar. A mulher de maneira transtornada, rasgou um amontoado de papeis, fazendo com que os pedaços que pareciam de jornal se espalhassem pelo chão. Os soluços, acompanhados do choro descontrolado, rasgou-me o peito sem piedade alguma. A delegada pôs as mãos sobre a bancada, inclinando seu corpo para frente, como se buscasse forças.

Por que você me deixou, Camila?! Eu não posso viver sem você! -  Ela gritou ao bater com força sobre a bancada.  – Eu...eu te amo, porra. – Vociferou em meio aos soluços.

- Eu não deixei.

Ela ergueu seu corpo de uma vez, voltando-se para mim em um movimento rápido. Seus olhos verdes se arregalaram, fazendo com que o copo presente em suas mãos se espatifasse ao cair no chão.

- Oh, meu Deus... – Ela ofegou, completamente desacreditada. – Ca-Camila...

Seu rosto se contorcia em uma expressão assustada, incrédula. A delegada ergueu uma das mãos até sua boca, fazendo-me perceber o quão tremulas estavam.

- Lauren... - Dei um passo à frente, um tanto vacilante, fazendo ela suspirar. – Estou aqui, amor. - Foram minhas palavras antes de correr ao seu encontro, fazendo com que meu corpo colidisse contra o dela firmemente.

A policial demorou alguns segundos para reagir, como se ainda não tivesse processado aquele momento. Voltei meu rosto na direção do seu, e beijei seus lábios com urgência. 

- Eu nunca te deixei. – Sussurrei, deixando que as lagrimas escapassem por meus olhos.

 Ela me apertou contra si em puro reflexo. Sua respiração descompassada, e os movimentos completamente desnorteado indicavam a surpresa por me ver. Não era para menos, até poucos minutos a mulher acreditava fielmente em minha morte.

- Camila, meu Deus! Eu... – suas mãos vieram de encontro ao meu rosto, tocando em cada detalhe como se quisesse acreditar. – Não pode ser.. eu vi, o corpo. Mas...Por, Deus.

Fechei meus olhos, permitindo que suas mãos tremulas deslizassem por todo meu rosto em um ato totalmente desesperado. Suspirei pesado, sentindo aquele nó se formar em minha garganta. Eu tinha vontade de chorar mais, mas não por tristeza. Naquele momento, tudo se resumia em alivio.

- Eu fugi! Eu consegui! Estou aqui. Eu nunca te deixei. – Exclamei ao toca-la.

- Viva... – Ela sorriu desacreditada, enquanto lagrimas deixavam seus olhos. – Me diga que não estou sonhando, por favor. Me diga que está mesmo aqui! – Ela me abraçou com força, fazendo gemer baixinho em dor.

 Segurei em seu rosto, obrigando-a a me encarar. Os olhos verdes de Lauren me fitavam com tamanha surpresa, e nervosismo. Suas pupilas dilatadas se moviam freneticamente, como se buscasse gravar cada mínimo detalhe meu.

- Eu estou aqui com você. – Segurei em uma de suas mãos, e a ergui até meu rosto. – Sente.

Uma lagrima abandonou os olhos de Lauren, deslizando melancolicamente por sua face.

- Pensei que tinha perdido você. – Sua voz soou triste. – Foi horrível!

- Isso acabou. Estou viva, aqui com você.

Eu a puxei para mim, encaixando-me em seu corpo caloroso, em um abraço que se estendeu por longos minutos. Durante aquele tempo, me senti verdadeiramente aliviada, como se todo aquele mal enfim tivesse terminado. Era como chegar ao final de uma batalha violenta, com a faísca de esperança por algo melhor. Nós havíamos ganhado? Aquele era mesmo o fim?

Libertei o corpo da mulher, permitindo que ela me encarasse. Seus olhos ainda estavam marejados, mas agora carregavam um brilho de felicidade e alivio.  Levei ambas as mãos até sua face, deixando que meus polegares deslizassem por sua pele lentamente, afastando as lagrimas que ainda desciam.

- Não chore...

- Foi horrível. – Murmurou ao afastar seu olhar, fixando-o em um ponto qualquer. - Ver aquele lugar em chamas, e pensar que você tinha morrido, e que eu não fiz nada para impedir.

- Não se sinta assim, você não teve culpa. – Segurei em seu rosto, obrigando-a a me fitar. - Foram as consequências desse jogo perverso. 

- Esse jogo acabou, Camila. Vamos fazer as coisas do meu jeito agora.

Seus olhos brilhantes se fizeram firmes, e confiantes. Eu os encarei por alguns instantes, antes de me afastar devagar. Lauren engoliu em seco, agora com um semblante confuso.

- Não posso... – Murmurei ao recuar.

- Do que está falando? – Ela deu um passo à frente.

Deslizei uma das mãos por meu braço, sentindo-me estranhamente nervosa. Traçar um plano agora, não era tão simples como antigamente. Hoje, minhas ações rendiam consequências maiores, e não só para mim, como para Lauren também.

- Eu não posso deixar que as coisas sejam do seu jeito, não ainda. – Afirmei com certo receio.  – Não é seguro.

- Camila, por favor... – Ela se aproximou, e segurou em meus braços devagar. – Ele está morto, ok? Acredite em mim. Ele morreu, e você não tem mais com o que se preocupar! Eu prometo que...

- Eu sei que está, Lauren! – Exclamei. - Eu o matei. – Falei ao abaixar a cabeça.

Ela ficou em silêncio, deixando que um suspiro pesado escapasse por sua boca enquanto suas mãos deixavam meu corpo devagar. A expressão de seu rosto era um verdadeiro enigma, impossibilitando qualquer certeza sobre seus pensamentos. Talvez sua cabeça tentasse processar o erro que havia cometido ao se apaixonar por mim. A policial carregava uma reputação digna de um ser de bem, com virtudes invejáveis, que agora seriam manchadas por mim, uma assassina. O quão injusto aquilo poderia ser?

- Antes que pense o pior, eu queria dizer que... – Eu não a encarava. – Eu não matei por vingança.

- Camila... – Ela interrompeu.

- Escute...

Lauren assentiu, e se sentou no sofá, puxando-me para o seu lado, para me encarar com aquele par de olhos verdes indecifráveis.

- Eu estava morrendo, Lauren. O fogo estava consumindo tudo naquele lugar, e eu queimaria até o último suspiro de vida. Ele se aproximou, com aquele olhar doentio, dizendo o quanto eu era fraca. Falando que eu morreria nas mãos dele, como Charlie havia morrido. Tem ideia? A única coisa que pensei, era que aquela imagem havia sido a última vista por meu pai antes de morrer, e não poderia ser a minha. – Tomei folego, sentindo aquele nó se formar em minha garganta. – Eu pensei em você, e em tudo que ainda iriamos viver, pensei em Dinah...

Lauren sutilmente levou uma das mãos até os olhos, retirando os resquícios de lagrimas.

- Eu me levantei com a arma nas mãos, e ela falhou. Quando Christopher avançou contra mim, uma parte do telhado desabou sobre nós. A casa estava ruindo.

As imagens se formavam em minha mente com uma nitidez perfeita, como se pudesse estar novamente naquele lugar infernal.

- Christopher tinha as pernas esmagadas por uma viga de madeira. Ele gritava de dor, enquanto pedia por socorro. Por alguns instantes eu pensei em salva-lo, mas não conseguiria...

Um sorriso melancólico deixou meus lábios.

- Ele não faria o mesmo por mim, eu sei. Mas ver alguém queimar até a morte, é cruel demais até para um ser como ele. Então eu... – As palavras sumiram de meus lábios, quando voltei meus olhos para o dela. – Eu atirei, eu acabei com tudo, como ele fez como Charlie.

Lauren meneou com cabeça, e me puxou para um abraço.

- Não, não foi do mesmo jeito. – Senti as mãos da delegada segurarem meu rosto, obrigando-me a fita-la. – Você fez a coisa certa, ok? Foi melhor assim. Não havia estratégias naquele momento, Camila. Você tinha apenas duas escolhas, e eu garanto, essa foi a melhor.

- Eu nunca quis ser uma assassina, Lauren.

- Você não é! Você o salvou de uma morte dolorosa, que ele mesmo provocou. Olhe para mim... – Ela sorriu fraco. – Acabou.

Ela se inclinou para frente, unindo sua testa com a minha. Eu conseguia ouvir sua respiração forte, enquanto ela mantinha os olhos fechados.

- Eu estou aqui, Camila.

- Eu não posso mais ficar.  – Sussurrei de uma só vez.

Senti as mãos da policial soltarem meu rosto lentamente.

- O que?

- Eu não posso mais viver aqui, Lauren. Todos acham que estou morta.

- Nós podemos esclarecer isso, podemos ir à delegacia! Agora mesmo! – Exclamou nervosa.

- Não, Camila Collins está morta. – Retruquei, fazendo ela franzir o cenho.

- Não, não está! – Lauren rebateu confusa.

- Havia dois corpos naquela casa, lembra? Para todos, um deles é meu. Camila Collins está morta, Lauren. Eu não posso mais ficar nesse lugar, com essas pessoas. Não é seguro.

- De quem é aquele corpo, Camila? Quem morreu com Collins?

Ergui meu corpo do sofá, afastando-me dela assim que as imagens de Eliza vieram em meus pensamentos. Fechei os olhos rapidamente, meneando com a cabeça em um sinal negativo.

- Eliza. – Respondi. – Eu não sei como aquilo aconteceu, eu ordenei que ela fosse embora pela manhã, mas quando fugi daquele quarto, eu a vi. Foi horrível vê-la sendo devorada por aquelas chamas. Lauren, ela morreu por minha causa.

- Não, não...você não sabia!

Eliza assim como eu, não tinha mais ninguém. Se mudou para o EUA em busca de trabalho há alguns anos, quando conseguiu uma vaga para trabalhar na mansão Collins. Naquele momento, seu desaparecimento não seria notado, e seu corpo não poderia ser identificado. Não havia familiares para o recolhimento de DNA, que pudesse comparar com o corpo completamente desfigurado. Eliza, era o corpo de Camila Collins.

- Acho que tudo chegou longe demais, e isso ainda não acabou. Keana está por aí, Heitor e Brandon. Todos perderam algo graças a mim, Lauren. Eu não sou de fugir, mas agora tudo é indefinido, e eu estou cansada de viver assim.

- Você não pode ir embora, eu não posso permitir. – A mulher exclamou confusa. – E nós, Camila? Como ficamos?

- Nós vamos ficar bem.

- Eu vou com você! – A mulher exclamou.

- Não, você não vai. Não pode ir comigo.

- Por que?

- Não vou arriscar sua carreira assim, não mais do que já fiz. Eu vou sozinha.

Lauren balançou a cabeça em um sinal negativo.

- Não pode decidir por mim!

Ela ergueu seu corpo do sofá, virando as costas para mim. Lauren respirava fundo, como se tentasse se manter firme diante de tantos acontecimentos. Sentia-me ainda mais culpada, por faze-la passar por situações como aquela, mas agora, não havia como ser diferente. Nós ficamos em silencio por instantes que pareceram intermináveis, quando eu resolvi me aproximar. Lentamente me aconcheguei as costas de Lauren, permitindo-me sentir o calor de seu corpo. Ao envolve-la com os braços, senti ela soltar todo ar de seus pulmões.

- Por favor, procure me entender. – Disse ao repousar a cabeça em seu corpo. – Eu preciso ser alguém diferente, e eu queria muito fazer isso com você, mas ainda não posso.

- Eu não quero que seja assim... – Ela respondeu.

- E o que você quer, Lauren?

A mulher se soltou de meus braços, virando-se em minha direção. Um arrepio percorreu por minha coluna, quando ela se aproximou mais, ficando a poucos centímetros de mim.

- Eu quero você. – Afirmou, fixando seus olhos contra os meus.

- Eu sou sua, Jauregui.

Lauren puxou o ar para seus pulmões, sem tirar os olhos dos meus. Havia uma conexão única entre nós. Eu encarei aquele par de olhos tão intensos, até o momento que uma de suas mãos repousaram delicadamente na lateral de meu rosto. Com o polegar, senti o carinho sutil em minha pele, fazendo com meus olhos se fechassem, em uma busca gananciosa por mais. Engoli em seco, enquanto meu coração dava sinais frenéticos, acompanhado de minha respiração que agora se tornava irregular, como meus batimentos cardíacos. Mesmo com os olhos fechados, percebi a aproximação da mulher, que agora deslizava seus lábios macios sobre os meus.

- Então não me deixe, por favor. – Sua voz soou como uma suplica, contrastando-se ao ato impulsivo de suas mãos que me cercavam a cintura. – Eu preciso de você, entende?

Eu também precisava de Lauren, até mais do que ela precisava de mim. No entanto, eu sabia que naquele momento, ceder aos meus sentimentos, não era uma opção, por mais tentadora que fosse a ideia de ficar. Eu precisava partir, por Lauren e por mim. 

- Eu te amo, ouviu bem? Você foi a melhor coisa que me aconteceu, Lauren.

- Não fala assim... – Seu tom de voz soou triste.

- Falo! Me sinto idiota por pedir isso, mas... – Eu suspirei, tentando conter o riso envergonhado. - Prometa que vai me amar, para sempre?

Lauren sabia que aquela era nossa despedida, eu conseguia ver a decepção em seus olhos marejados. Ela relutou por alguns minutos, parecia pensativa.

- Prometa. – Pedi.

- Eu prometo, Camila.

Os ponteiros do relógio pareceram correr aquela noite, quando minha vontade gritava para que eles se movessem o mais lentamente possível. Infelizmente, eu não poderia controlar o tempo; tudo que me restava, era aproveitar cada segundo daqueles últimos momentos ao lado de Lauren. E era exatamente o que eu faria. Me aconcheguei em seus braços, repousando a cabeça sobre seu ombro, enquanto seus braços me envolviam de maneira calorosa. Estar em seus braços, fazia-me sentir incrivelmente segura, como se a policial pudesse resolver todo caos que minha vida conturbada apresentava, mas eu sabia que não era assim. Lauren poderia ter toda força de vontade, e desejo para resolver, mas nem tudo estava em suas mãos. Eu precisava tomar um rumo diferente, para que as coisas voltassem ao seu devido lugar.

- Me perdoa por isso. – Murmurei baixinho, enquanto alisava a pele de seu braço carinhosamente.

Encarei o rosto sereno da mulher, notando o pequeno machucado coberto pelo curativo em sua sobrancelha; deslizei o polegar sutilmente pelo mesmo, antes de escorregar o polegar até seus lábios macios. Um sorriso deixou minha boca, no exato momento em que as lembranças de nossos primeiros meses juntas se fizeram presente. Era um tanto nostálgico recordar como tudo havia começado. Nossas provocações, brigas e noites inteiras de sexo. Tudo se resumia a um desejo carnal desmedido, que nos aproximava de maneira única. Era incrível a maneira como meu corpo reagia a presença dela, como ansiava por seus toques e por seus beijos. Foi apenas o início de tudo que estava por acontecer, e aconteceu. Não era à toa que agora eu estava aqui, relutando em partir. Lauren havia se tornado mais do que imaginei que poderia.

- Eu te amo, então, por favor, me espere. – Sussurrei, antes de unir seus lábios aos meus em um beijo simples. – Eu vou voltar.

Com todo cuidado, me afastei de seus braços, evitando fazer qualquer tipo de movimento que viesse a acorda-la. Lauren apenas se moveu, respirando fundo, agora virando seu corpo de lado. Me permiti observa-la por alguns instantes, antes de arrumar minhas coisas espalhadas pelo quarto. Não faltaria muito para amanhecer, e ao clarear do dia, eu precisava estar longe de Nova Iorque.

- Certo, acho que tenho tudo. – Disse a mim mesma, enquanto avaliava a mochila com todos meus pertences.

Voltei meus olhos para delegada outra vez, antes de me aproximar da mesa canto de seu quarto. Demorei cerca de alguns minutos ali, enquanto escrevia minha carta de despedida.

“Querida, delegada.

Me perdoe por sair assim, sem me despedir. Acredito que dessa maneira seja mais fácil para você, e, principalmente, para mim. Você pode me odiar agora, mas espero que com o tempo consiga compreender essa decisão. Decisão que estranhamente está sendo uma das mais difíceis de se tomar. É engraçado como você mudou tudo. Há meses atrás, deixar esse lugar era um de meus maiores desejos, mas hoje, me vejo completamente relutante em partir.

O que você fez comigo, Lauren?

Foi o peão mais perigoso que tive que enfrentar, ou melhor dizendo, me aliar. Me apaixonar por você foi como avançar uma casa desse tabuleiro, com os olhos vendados, sem ter certeza se havia sido um perigo ou uma vitória. Por sorte, ou destino, foi uma vitória. Você foi a melhor coisa que aconteceu desde que cheguei aqui. Posso dizer com sinceridade, você me salvou, e espero de verdade que acredite em minhas palavras. Eu amo você, agente Jauregui, mas preciso partir..

Não será para sempre, eu prometo.

E se possível, me espere.

Eu irei voltar.

K.C.C”

Encarei aquele pedaço de papel por alguns instantes, pensando na possibilidade de desistir, mas sabia que se eu quisesse ter uma vida comum ao lado de Lauren, alguns sacrifícios precisavam ser feitos. E o primeiro deles, seria o mais difícil: Deixa-la. Eu não sei por quantos minutos encarei o corpo da mulher que descansava tão serenamente sobre a cama, com a ilusão de minha presença ao seu lado. Lauren poderia me odiar ao amanhecer, era uma grande possibilidade que eu teria que enfrentar.

- Apenas um ano, Lauren. – Foram minhas últimas palavras antes de deixar aquele lugar.

[...]

Meu encontro com Dinah e Normani aquela madrugada rendeu boas explicações, e inúmeras lagrimas. Ambas as mulheres, agora totalmente alivias ao me ver, aceitaram minha decisão, e se comprometeram a seguir minhas coordenadas como planejado. Dinah não gostava da ideia de me ter longe, mas ela sabia que eu precisava seguir sozinha naquela nova trajetória.

E foi exatamente o que eu fiz.

Dentro daquela aeronave, pude ver os prédios acinzentados de Nova Iorque ficando para trás, sobre os feixes de luz daquela manhã ensolarada. Os observei por alguns instantes, sentindo aquele familiar aperto no peito ao recordar o que eu estava deixando por lá. Foram horas de uma exaustiva viagem que me levaram ao sono. Ao acordar, me atentei a paisagem completamente distinta exibida pela pequena janela do jatinho particular. Um suspiro deixou meus lábios, enquanto eu voltava meus olhos para o pequeno diário que repousava sobre minhas pernas; o mesmo possuía páginas em tom de caramelo, perfeitamente combinado com a capa de couro marrom. Toquei sutilmente sobre as letras bem feitas de Charlie, que foram interrompidas pelo vazio das linhas abaixo. Onde prontamente escrevi com cuidado. Era estranho pensar que, a partir daquele momento, minha vida tomaria um rumo completamente diferente, mais uma vez. Deixar Nova Iorque agora representava o nascimento de uma nova face de mim. O fechamento, e o início de um novo ciclo. Na história de minha vidam agora eu iniciaria o capitulo de número cinco.

- Quantas fases, Camila. – Sussurrei para mim mesma, ao desenhar o número cinco, abaixo de seus antecessores. Ao lado do número, havia uma nova descrição.

O primeiro, era marcado pela criança nascida em Cuba, que arriscava um futuro melhor ao seguir para a cidade do México ao lado de seus pais. O segundo, contava a história de uma pequena garota órfã, moradora de uma casa de caridade, onde havia conhecido outra interna, que tão logo se tornaria sua melhor amiga, ou melhor dizendo, sua irmã, Dinah Jane.  Já no terceiro, aquela garota, encontrava o refúgio que mudaria o rumo de sua vida completamente, seu tutor e pai, Charlie Cooper. E no quarto, uma revira volta. O fim da doce Camila Cabello, para o surgimento da forte e impiedosa rainha, Karla Camila Collins. O lado obscuro de uma mulher destinada a se vingar, daquele que destruiu sua vida, Christopher Richard Collins. O rei.

Encarei a pequena descrição feita por mim, e em um espaço em branco comecei minha nova história.

Capitulo 5

Fim de Camila Collins, para o renascer de Katherine Camila Cooper.

 O que você irá me trazer, Katherine? Pensei com um sorriso nos lábios, ao ver todas as linhas que meu novo ‘eu’ precisava preencher.

- Com licença. – A aeromoça murmurou ao deixar uma pequena taça no suporte de minha poltrona. Eu apenas assenti, fazendo a mulher se retirar.

 Ergui a pequena taça de cristal, preenchida pelo champanhe caro fornecido no interior de meu jatinho particular. E a levei até os lábios, degustando daquele sabor.

- Espero que muitas vitorias.

Depois de mais alguns longos minutos de viagem, a aeronave pousou suavemente sobre o solo Suíço, trazendo minha nova realidade. 

- Sra. Cooper.

- Sim?

- O desembarque está liberado, e o carro está a sua espera na pista de pouso.

- Obrigada. – Respondi ao repousar os óculos escuros em meu rosto, e erguer meu corpo da poltrona confortável, para caminhar até a saída.

- Seja bem-vinda a Zurique, sra. Cooper. 

- É como se estivesse em casa outra vez, Patrick. – Respondi com um sorriso para o piloto.

- E está? – Indagou o homem com o cenho franzido.

- Claro, meu lugar é aqui. – Retruquei com um sorriso de canto antes de descer a pequena escada do jatinho.

 

Minha chegada na Suíça foi o ponta pé inicial para dar vida ao meu novo eu. Após aquele momento, me estabilizei na cidade de Zurique, e com uma pequena quantia de toda fortuna retirada da Collins Enterprise, adquiri a mesma casa em que vivi ao lado de Charlie e Dinah na infância. Era bom ter a sensação de lar, agora que eu precisava levar minha vida sozinha outra vez.

- Tem certeza que quer mudar tanto? – Indagou a cabeleireira.

- Absoluta, Marie. – Respondi com um sorriso ao fitar minhas madeixas escuras pela última vez no reflexo daquele espelho.

- Então vamos lá, querida.

Foram minutos para que a aparência de Camila Collins fosse deixada para trás, trazendo à tona aquela que tomaria seu lugar. Marie me encarou com um sorriso satisfeito, exibindo aqueles dentes brancos que entravam em contraste com seus cabelos escuros na altura do ombro, ela tinha uma expressão alegre, como se tivesse feito um trabalho excepcional. A mulher delicadamente virou a poltrona no qual eu estava sentada, fazendo-me fitar o meu reflexo no espelho.

- Katherine, você está maravilhosa. – Afirmou a cabeleireira.

Não pude evitar o sorriso que se formou em meus lábios, ao ver aquela mudança. Meus cabelos agora tinham um tom de loiro claro, com alguns fios mais escuros. A peruca que usei nos primeiros dias, agora seria deixada de lado após minha decisão. Senti algo diferente, euforia, animação, visto que aquele era mais um ponto para meu disfarce, na verdade, meu novo eu. Após sair daquele lugar, voltei para minha casa, enquanto pensava na expressão surpresa se Lauren ao me ver. Será que ela gostava de loiras?

- Espero que sim. – Disse a mim mesma, enquanto escrevia uma carta.

Aquele seria nosso único meio de comunicação. Eu não poderia deixar que a delegada tomasse conhecimento de onde eu estava, e muito menos do que eu andava fazendo. Eu conhecia Lauren, e sabia que ela era teimosa o bastante para vir a meu encontro. Em minha carta, pedi que todas seguissem o plano, que fizessem tudo para que o mundo acreditasse que Camila Collins de fato estava morta. E entre cartas, e mais cartas, os meses foram se passando, firmando diariamente minha vida como uma nova mulher. Depois de um longo tempo, percebi algo ainda estava faltando. Quer dizer, muita coisa ainda me faltava, mas naquele momento, decidi que não poderia viver a mercê de férias sem fim. Minha vida era regida por aventuras, decisões, e, sobretudo, desafios. E durante aquele dia, tomei minha maior decisão desde que cheguei naquele lugar.

“Meus olhos foram de encontro ao homem ao meu lado, que encarava o prédio gigantesco em construção. Charlie tinha um olhar atento, e esperançoso. Notava-se facilmente todos os planos que construía no interior de seus pensamentos para aquela filial na Suíça.

- Esse lugar um dia vai ser seu. – Disse ele após um suspiro.

- Pai, eu não sei se sou boa nesse ramo. – Respondi com um sorriso sem jeito.

Charlie contorceu os lábios em um sorriso, antes de me encarar com aqueles olhos claros.

- Duvido muito! Você é incrivelmente boa em tudo que faz, aposto que tira isso de letra! – Exclamou alegremente, dando um passo à frente.

- E se eu não conseguir?

O homem se virou em minha direção, aproximando-se com um olhar carinhoso.

- Algo em mim diz que você consegue fazer tudo que você quiser. E sei que não estou enganado quanto a isso.

- Não sei se sou boa o bastante. – Murmurei em um tom mais baixo.

- Eu sei que você é! Filha, você ainda será a rainha de tudo isso. – Ele ergueu os braços, exibindo o prédio atrás de si. – Ao lado de sua irmã, é claro.

- Eu só preciso que esteja ao meu lado para tudo isso. – Disse ao abraça-lo.

- Camila... – Charlie se soltou de meus braços, para encarar meus olhos com firmeza. – Eu sempre vou estar do seu lado, em todos os momentos da sua vida. Aconteça o que acontecer, eu estarei aqui... – Seu indicador pousou sobre o lardo esquerdo de meu peito.

- Eu amo você, pai.

- Eu amo muito mais, filha. – Foram suas palavras antes de abraçar.”

 

- Por aqui, sra. Cooper. – Alertou o gerente geral do banco UBS.

- Posso levar? - Apontei para a taça com champanhe.

- Claro, se quiser servimos outra. – Respondeu atenciosamente.

O homem me tratava feito uma rainha, servindo-me do melhor atendimento para ganhar alguns pontos com uma das maiores clientes.

- Não será necessário, é o suficiente. – Respondi, antes de erguer meu corpo da cadeira.

- Vou leva-la até seu cofre.

- Obrigada, Aaron.

Caminhei pelos corredores do banco central de Zurique, seguindo para área mais privada daquele prédio. Algumas senhas, seguranças, câmeras até enfim chegar de frente para a enorme porta oval de aço maciço. Ele se afastou, permitindo que eu me aproximasse para digitar minha senha. Após alguns cliques, e uma leitura biométrica de meus dedos, o cofre se destravou automaticamente.

- Se me permite.

Com as duas mãos Aaron girou o suporte circular preso a porta, e logo em seguida a puxou com certa força. Quando o portal se abriu, pude enxergar o amontoado perfeitamente organizado de toda minha fortuna. Os bilhões de dólares roubados da Collins Enterprise.

- Uau... – Ouvi o homem sussurrar, arrancando um sorriso de meus lábios.

Caminhei lentamente para o interior do cofre, avistando as cédulas verdes tão novas perfeitamente organizadas em pequenos “bolos”. Ingeri uma pequena quantidade do champanhe em minha taça, antes de virar e me sentar sobre o aglomerado de dinheiro. Aaron me fitou um tanto deslumbrado.

- É um bom trono, não acha? – Indaguei.

- É o mais poderoso deles. – Respondeu.

- Gosto disso.

- Pretende investir em algo?

- Eu quero que compre uma boa parte das ações da Cooper Enterprise.

- Tem certeza, sra Cooper?

- Absoluta, aquele será o meu reino. – Afirmei ao erguer a taça de champanhe.

 

Flashback off

 

- Sem mais perguntas! – Exclamou meu secretário particular aos jornalistas eufóricos.

“Katherine! Por favor!”

“Sra. Cooper! Só mais uma pergunta!”

Os homens exclamavam com seus aparelhos celulares apontados em minha direção. Eu apenas sorri, e me afastei do púlpito localizado no centro do auditório da Cooper Enterprise. A apresentação da nova presidência durou longos minutos, com direito a inúmeros discursos, novos planos e metas. Tudo muito bem organizado pelos funcionários de minha empresa.

- Inspirador. – Lauren murmurou assim que me aproximei. – Mas agora posso ter minha mulher de volta?

- Sempre a tem, Jauregui. – Murmurei ao lhe beijar os lábios.

- Não no momento! – Dinah exclamou se aproximando. – Preparei uma festa maravilhosa para o dia de hoje, e a nossa presidente é a estrela.

- Dinah...

- O que?

- Você agora é a rainha disso aqui, e precisamos comemorar.

- Dinah tem toda razão. – Normani afirmou. – Está tudo pronto!

- Você sabia disso? – Encarei os olhos verdes de Lauren.

Ela deu de ombros, assumindo a culpa ao lado de suas cumplices.

- Você merece. – Lauren sussurrou próximo aos meus lábios.

Diferente do que imaginei, a festa organizada por Dinah, Lauren e Normani não foi para muitas pessoas. Nos privamos a uma festa animada em uma das melhores boates de Saint Moritz, a mesma que Lauren e eu havíamos frequentado a mais de um ano atrás. Foram horas de música, bebida, e comemoração para mais nova fase de nossas vidas. Pela primeira vez, nos sentíamos realmente livres de todo aquele mal que um dia vivemos.

- Cadê Lauren? – Dinah indagou no meio da pista de dança.

- Foi pegar bebida, e até agora não voltou. – Respondeu Normani.

- Ela está com dor nos pés. – Murmurei com um risinho baixo. – Vou vê-la, minha mulher precisa de cuidados.

Atravessei o salão parcialmente iluminado, desviando de todos aqueles corpos que se me moviam de acordo com as batidas da música. De longe, pude ver os cabelos castanhos agora um tanto mais curtos de minha mulher. Eles não caíam até próximo a sua bunda como antigamente, hoje batiam um pouco abaixo de seus ombros, lhe dando uma leveza encantadora. Lauren se encontrava quase totalmente distraída, enquanto degustava de uma pequena garrafa de cerveja. Por alguns instantes, aquela cena me levou de volta a Mount Vernon, no começo de tudo.

- Um uísque, por favor. – Solicitei ao barman assim que ocupei o lugar ao lado de Lauren.

Retirei meu casaco, e o coloquei sobre o balcão atraindo o olhar curioso da mulher ao meu lado. Lauren nada falou, mas eu poderia notar facilmente o sorriso que se formou em seus lábios, quando o barman me serviu de uma dose de uísque.

- Eu poderia me oferecer para acender seu cigarro, mas acredito que não fuma mais, certo?

Lauren riu baixinho, virando-se para mim.

- Realmente, eu deixei isso para trás.

- Eu imaginei. – Respondi, tentando me controlar.

- É a primeira vez que vem aqui? – Indagou ela, como na primeira vez que nos vimos.

- Sim, estou nessa cidade há alguns dias, mas hoje é minha última noite aqui. Como sabe? – Me fiz de cínica.

- Digamos que já tenho gravado na mente boa parte das pessoas que frequentam esse lugar. E literalmente você nunca veio aqui antes.

- Sou tão diferente das outras mulheres daqui para não esquecer de minha aparência?

- Você tem um diferencial gritante. – Afirmou ela, diminuindo nossa distancia drasticamente.

- Espero que isso seja algo bom. – Falei ao tomar um pequeno gole de sua cerveja. – Como você se chama? – Continuei a brincar.

Lauren riu, mas tomou postura para continuar.

- Lauren, Lauren Jauregui.

Eu deslizei a ponta da língua por meus lábios, sem tirar meus olhos do dela.

- Bom, Lauren...eu me chamo Katherine Cooper, muito prazer.

- O prazer é todo meu, Katherine. – Disse ela ao depositar um beijo sutil em meu pescoço.

- Acho que não estávamos tão próximas assim da primeira vez. – Exclamei em meio a uma risada, deixando que a mulher me roubasse um beijo.

- Não estávamos mesmo, mas eu queria muito. – Lauren respondeu, beijando-me novamente.

- Não seja boba.

- Quer ir embora daqui? - Indagou próximo ao meu ouvido, arrancando-me um arrepio.

- O que está tramando, Jauregui?  

- Uma surpresa.

- Que surpresa?

- Não posso contar, deixa de ser surpresa. – Ela deu de ombros.

- Ah, não. Não me deixe curiosa!

- Se vier comigo, logo irá saber.

Olhei para seus olhos verdes misteriosos, e logo em seguida para o sorriso largo presente em sua boca. Lauren parecia animada, nervosa, mas completamente misteriosa. Aspirei o ar com força, e voltei meus olhos para o salão, tentando encontrar Dinah ou Normani, mas nenhum sinal delas.

- Eu vou.

- Mesmo?

Eu assenti com um sorriso, fazendo Lauren suspirar. A mulher ergueu seu corpo do banco, deixando algumas cédulas de dinheiro por nossas bebidas, antes de me puxar para fora daquele lugar. Cruzamos o salão de mãos dadas, até alcançar a saída da boate lotada. Ao lado de fora, uma bela noite de outono se fazia presente, trazendo aquele clima frio e aconchegante entre nós.

- Não vamos de carro?

- Não, quero andar um pouco. – Disse ela ao colocar as mãos no bolso de seu casaco.

- Está tudo bem? – Perguntei com o cenho franzido ao agarrar seu braço.

- Está, eu só estou um pouco nervosa.

- Aconteceu alguma coisa?

- Podemos só andar um pouco? – Ela perguntou um tanto nervosa.

Eu assenti para ela, e me pus a caminhar ao seu lado. Eu adorava o clima em Saint Moritz, toda aquela paisagem de vilarejo, cercado por alpes gigantescos que embelezavam a cidade de maneira sem igual. Havia muita história ali, e umas delas era minha. Nós caminhos pela calçada, bem em frente ao parque central, fazendo o mesmo caminho que traçamos na primeira vez. Diferente de um tempo atrás, hoje não havia neve e muito menos uma pista de patinação, mas as folhas amareladas, e o lago tranquilo trazia uma paisagem tão encantadora como a da primeira vez. Lauren caminhava silenciosamente, enquanto parecia apreciar o parque tão conhecido por nós.

- Está com algum problema? Me parece nervosa.

A mulher que antes encarava o balançar sutil da agua no lago, voltou seus olhos para mim, estagnando nossos passos automaticamente.

- Pareço? – Desviou os olhos.

- Sim. – Dei de ombros. – Me tirou da festa, e veio em silencio até aqui. Se está com algum problema, me deixe ajudar você.

Ela negou com a cabeça, e me encarou novamente.

- Não tenho um problema, Camila.

Sua respiração agora parcialmente descompassada, indicava mais nitidamente o nervosismo vivido pela mulher. Lauren umedeceu os lábios, e deu um passo à frente. Eu nada falei, apenas continuei a observa-la.

- Eu só não sei como fazer isso... – Confessou baixinho.

- O que? – Indaguei com o cenho franzido.

Por alguns instantes senti medo, não medo de Lauren, mas do que ela poderia dizer. E se estivesse cansada de tudo aquilo? E se tivesse se arrependido?

- Olha, se vai me prender agora, devo lembrar que não vão acreditar. – Brinquei, tentando descontrair.

Lauren riu baixinho, e negou com a cabeça outra vez.

- Não vou prender você. Eu só preciso dizer uma coisa...na verdade, pedir.

- Por Deus, fale de uma vez!

- Eu queria ter feito isso há meses atrás, mas sei que tudo acontece na hora certa.

A delegada inspirou o ar com força, inflando seu peito como se tomasse coragem para o que estava prestes a fazer. Lauren ergueu a cabeça, e conectou seu olhar ao meu. Seus olhos verdes estavam clarinhos, evidenciando a pupila dilatada em minha direção. O vento frio me fez arrepiar, levando um pouco dos cabelos de Lauren para o lado. Eu ergui uma das mãos, e os ajeitei suavemente, quando ela começou a falar.

- Nós estamos aqui mais uma vez. – Ela deu de ombros. - No mesmo lugar que me trouxe há mais de um ano. É louco pensar em tudo que aconteceu nesse período, e de como você me mudou. Talvez, vir até aqui tenha sido um dos marcos mais importantes entre nós durante todo esse tempo.

Minha respiração se tornou um tanto mais pesada, talvez estivesse acompanhando as batidas de meu coração.

- Talvez não, eu tenho certeza!  Aqui, nesse lugar, foi a primeira vez que eu vi você de verdade... – Ela sorriu de maneira tão meiga, que me fez sorrir também. – E eu amei, Camila. Eu amei o que vi durante aqueles dias. Você pode ter me atraído sexualmente, me deixado completamente louca no início de tudo, mas foi quando eu conheci você de verdade que eu me apaixonei. Não foi uma tarefa fácil, adentrar no seu mundo real requer esforço, força de vontade e muito amor. Mas eu me dispus aquilo, eu queria mais de você, e consegui. Eu enxerguei você no meio daquela escuridão, e percebi que ainda havia luz.

Eu respirei fundo, tentando controlar aquela vontade iminente de chorar.

- Eu percebi que não era Camila Collins, era apenas Camila, com toda sua fraqueza e sensibilidade, mas com sua força também. E por mais que naquele tempo eu não soubesse da sua história de vida, eu sentia a mulher maravilhosa que você era. Eu sabia que guardava algo de muito especial, além do seu dom de sedução e sua inteligência inigualável. – Ela riu sem jeito. - Eu resisti por muito tempo, confesso, mas em certo momento, cansei de ir contra o que eu estava sentindo. Eu me apaixonei por você, não tinha mais saída. Então fui me aproximando mais e mais, deixando-me levar por todo esse encanto que você provoca tão facilmente. Foi inevitável não me ver perdida de amores por você, Camila. Acredite em mim, você sempre causa esse efeito nas pessoas, mesmo quando te odeiam, ficam loucas por você. Talvez seja seu jeito convencido, sua autoconfiança, sua persistência ou até mesmo sua inteligência. É atrativo e instigante para todos. Pelo menos foi para mim, e ainda é.  

Lauren ergueu uma das mãos até meu rosto, onde acariciou suavemente com o polegar. Eu fechei os olhos por alguns segundos, permitindo-me aproveitar aquele momento.

- Mas eu garanto, que não foram suas qualidades físicas que me fizeram ter certeza do que eu vou fazer agora. – Afirmou, deixando-me completamente nervosa. – Ter o melhor de você foi o que me fez perdidamente apaixonada. E com o “melhor”, eu não digo o perfeito. Não. Com o melhor, eu digo, você. Com todos os detalhes, sendo qualidades e defeitos. A Camila real! E não aquela inventada aqui e mostrada para o mundo. Eu amo você, Camila. Amo todas suas fases. – Afirmou firmemente. - Do início ao fim, sem tirar ou por. Eu amo tudo que você representa, tudo que você é aqui dentro. Eu te amo mais do que eu imaginei que poderia amar alguém. E estou disposta a estar contigo, durante todos os dias da minha vida se assim você quiser. Eu quero mostrar que você nunca, nunca, vai estar sozinha. E por isso, eu preciso perguntar...

Lauren suspirou pesado, enquanto retirava algo do bolso de seu casaco grosso. Confesso que naquele pequeno espaço de tempo, senti como seu meu coração fosse sair pela boca. O mesmo batia freneticamente, fazendo meu corpo inteiro tremer. Com os olhos marejados, enxerguei a pequena caixa de veludo em suas mãos. Ergui minhas mãos até a boca, enquanto aquelas lagrimas teimosas deixavam meus olhos, e escorregavam delicadamente sobre minha face. Encarei o anel solitário no centro da caixinha, exibindo aquela única e brilhante pedra. Era lindo.

- Quer casar comigo, Camila?

Talvez eu tenha perdido alguns instantes ali. Tudo porque naquela fração de segundos, me permiti observar e ter ainda mais certeza da mulher incrível que havia entrado em minha vida. De uma maneira totalmente inesperada, Lauren me fez mudar e acreditar que eu ainda poderia viver em paz. No meio daquela escuridão, foi ela que me fez ver a luz que habitava em mim. Com o seu amor, e o seu cuidado, eu me curei. Eu me salvei.

Ressurgi.

- Por favor, diga alguma coisa... – Murmurou nervosa.

Eu abri um sorriso largo, deixando que mais lagrimas caíssem.

- Eu quero. Eu quero muito! – Exclamei ao beija-la com todo aquele sentimento que me preenchia.

Os lábios macios de Lauren se moveram em uma sintonia perfeita com os meus. Ela me apertou contra si, como se quisesse prolongar aquele momento por uma eternidade. Foi um beijo lento, e incrivelmente intenso, nossas línguas se moviam com uma sutileza apaixonante. Como se fosse o primeiro dos muitos que ainda estavam por vir em nossa nova vida. Após uma sequência de selinhos, Lauren expandiu os lábios em um sorriso largo que me derreteu por inteiro.

- Oh, céus. Sinto que meu coração vai sair pela boca. – Disse ela ao pegar o anel no interior da caixinha.

Lauren tinha as mãos tremulas, assim como as minhas. Nós rimos juntas assim que notamos nosso nervosismo compartilhado.

- Ok, me deixe fazer isso. – Disse ela ao segurar em minha mão.

Eu encarei seus olhos por alguns instantes, e o brilho das lagrimas alegres me preenchiam o peito com uma sensação maravilhosa e inexplicável. Eu abandonei seu olhar, para ver o exato instante em que Lauren depositou o anel de brilhante em meu dedo. Ela o fitou em minha mão por alguns segundos, antes de erguer até seus lábios.

Um único beijo.

- Vou fazer de você a mulher mais feliz desse mundo.

Eu sabia que ela era a única que poderia fazer isso. Não havia dúvidas. Eu sentia em suas palavras, em seu olhar intenso, e em seus toques por meu corpo. Lauren tinha uma maneira especial de me tomar para si. Como se fizesse de mim o ser mais precioso que teve o prazer de encontrar.

- Ganhei o jogo. – Murmurei, recebendo um sorriso em resposta.  



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