História Xilogravuras - Notícias

                Luffy estava na ponta dos pés. Estava apertando Law contra seu corpo em um abraço forte e também estava ansioso. O coração batia acelerado, quase lhe tirando a concentração, enquanto seus lábios se moviam com os de Law, muito mais lentamente do que imaginou que seria. Law usava a língua e retribuía o abraço calorosamente, inclinando-se de leve para aumentar o contato e deixando Luffy cada vez mais surpreso, embora bastante satisfeito.

                — Eu devo estar enlouquecendo. — Law murmurou quando romperam o beijo por fim.

                — É, deve mesmo. Nem sabe mais o que quer. — Luffy zombou com um sorriso.

                Os olhares se encontraram e, durante alguns segundos muito longos, o único som audível naquele lugar foi o crepitar da madeira no fogo e o coro de insetos sempre muito barulhento naquela parte da floresta. Luffy podia sentir a respiração quente de Law em seu rosto, de tão próximos que estavam, e mordeu o lábio em antecipação.

                — Não é como se eu fosse ficar decepcionado quando você for embora se a gente dormir junto hoje. — Luffy disse sério e Law engoliu seco. — Você nunca mentiu para mim quanto a querer voltar para o reino.

                Certo, Luffy não via problemas. Law poderia levar aquilo até o fim e matar a parte insistente dentro de si que desejava tanto tal oportunidade a ponto de fazê-lo contestar sua decisão em voltar ao reino. Só que Law via problemas. Via muitos problemas. Porque tinha certeza absoluta agora de que, de fato, não se tratava de algo físico apenas. Estava apaixonado por Luffy e não saberia como proceder se cruzassem aquela linha.

                — Mugiwara-ya, nós...

                — Eu tenho uma proposta para te fazer. — Luffy o cortou, ansioso, notando a hesitação de Law. Dias atrás, tal hesitação não existia e Luffy viu ali uma chance. Vinha pensando naquilo fazia certo tempo e, cada vez que a ideia retornava, sentia uma pontada de ânimo, porque talvez Law considerasse a ideia. Respirou fundo.

                Ia começar a falar quando ouviram vozes se aproximando. Law franziu o cenho e eles se afastaram. Luffy retornando à fogueira e Law caminhou na direção de onde vinha o som. Fez um gesto para Luffy pedindo que esperasse, sabendo que não haveria muito que fazer senão lutar. Ali, com a fogueira acesa e a barraca armada, não teriam como simplesmente fugir e deixar tudo para trás. Embrenhou-se na floresta, escorando-se nos troncos de árvore em silêncio, até estar o mais próximo que poderia ficar sem ser notado.

                — A Corte não está aceitando as decisões do novo Rei.

                Novo rei?

                Um dos três homens que se aproximavam falava abertamente. Eles eram altos, carregavam espadas nas costas e tochas nas mãos. Foi o que Law conseguiu ver à distância, ao passo em que eles se aproximavam cada vez mais.

                Novo Rei?

                — Ace não quer ser Rei. — O outro resmungou. — É óbvio que só vai fazer merda.

                — Ele só está lá porque o irmão dele e o médico fugiram. E mesmo assim fica tentando livrar a barra deles.

                — Não vai conseguir. Aumentaram uns cinco zeros na recompensa do Mugiwara e do médico depois que Ace foi coroado.

                Law queria ouvir mais, mas seria muito arriscado. Virou-se, voltando para a clareira com uma expressão alarmada, e Luffy, que entendeu imediatamente que não teriam escapatória, franziu o cenho e se preparou para lutar.

                 Pelo que Law pode presumir, Ace foi coroado contra a própria vontade e estava tentando livrar Luffy da acusação de deserção. Só que a Corte não aceitou, e isso queria dizer que a recompensa pela cabeça de ambos não estava mais tão baixa, porque não se tratava somente de deserção. A Corte queria mantê-los como procurados, e estava fazendo isso passando por cima da decisão do Rei. Bastou uma fração de segundos para que Law pudesse formular essa hipótese, e outra fração para confirmá-la.

                Porque, quando foram vistos, os homens imediatamente atacaram.

                Eles eram fortes e as espadas tinham um corte surreal. O primeiro homem avançou em Luffy com a arma em riste. Luffy conseguiu desviar e a espada se chocou contra a enorme pedra atrás deles. A pedra se partiu em duas partes e Luffy arregalou os olhos. Estavam, de fato, correndo perigo.

                Law estava usando a própria espada e conseguiu perfurar o coração do homem mais alto. Ele procurou o terceiro que faltava com o olhar, tendo dificuldade para enxergar a movimentação do outro lado da fogueira. Correu, e sentiu o sangue ferver quando percebeu que seu alvo se aproximava de Luffy, que estava distraído enquanto lutava com o primeiro oponente, pelas costas. O inimigo estava com as mãos erguidas, portando a espada acima da própria cabeça. Mataria Luffy com um único golpe. Law sentiu um suor frio se acumular em seu rosto e correu.

                — Mugiwara-ya, atrás de você! — Gritou ao perceber que não chegaria a tempo, mas continuou correndo. Era incapaz de se impedir de fazê-lo, porque não se lembrava da última vez que sentiu tanto medo assim. Luffy desviou do ataque que vinha de frente e correu em direção a fogueira, o mais rápido que conseguiu.

                A lâmina acertou em seu ombro.

                Vendo que Luffy estava fora do campo de visão dos inimigos, Law avançou. O primeiro matou com um golpe nas costas. O segundo acertou no pescoço. Sabia que Luffy não os mataria, de qualquer forma, ainda que vencesse. Depois foi até Luffy. De longe, a espada parecia ter cravado fundo na carne. Mas agora, olhando de perto, era visível que fora mais superficial do que aparentou, embora tivesse grande extensão e sangrasse bastante.

                — Eu tô bem. — Luffy resmungou.

                — Vamos costurar isso. — Law disse e o ajudou a se levantar.

                Dentro da barraca, Law tirou do saco o estojo onde guardava os itens mais essenciais de primeiros socorros. Limpou o ferimento e começou a suturar. Luffy resmungava, mas aguentou bem a dor e, depois de devidamente medicado com um chá muito amargo que Law lhe deu, dividiu o coelho em duas partes, entregando uma delas a Law.

                — Seu irmão foi coroado, Mugiwara-ya. — Law comentou enquanto comiam.

                Luffy franziu o cenho.

                — Do que está falando?

                — Ouvi a conversa deles.

                — Ace não colocaria nossa cabeça a prêmio!

                — Exatamente, e é esse o problema.

                — Não tô entendendo, Tral! — Luffy contestou de boca cheia.

                Estavam sentados dentro da barraca. Luffy sentia o ferimento latejar, coberto pelas tiras de pano que Law trazia consigo, mas estava satisfeito por terem passados pelo ataque quase ilesos. De todos os cenários possíveis, aquele era, sem dúvida, um dos mais favoráveis.

                — A Corte está passando por cima da decisão de um Rei! Então por que coroaram seu irmão se eles estão tomando todas as decisões?

                — A Corte faz isso desde sempre, Tral. — Luffy comentou, ainda confuso. — O dono da forja, Barba Branca, era Guarda Real. Dizem que ele se tornou ferreiro depois de uma discussão muito grande com os líderes da Corte, mas não se fala muito sobre isso porque pode dar problemas pro velho.

                Law não respondeu de imediato. Continuou comendo, ligeiramente incomodado. Não gostava daquela perspectiva de não ter acesso a informações verdadeiras. Pelo visto, estava perdendo muito mais do que imaginava se limitando a trabalhar no consultório. E, novamente, a ideia de continuar a viagem não pareceu tão ruim.

                — Vamos partir depois de amanhã. — Law disse pensativo. — Temos que esperar que seu ferimento cicatrize antes de escalarmos.

                — Certo. — Luffy concordou e se deitou sobre as peles esticadas no chão, o ombro ainda dolorido protestando contra a posição inicial.

                — O que você queria me dizer?

                Law não ia perguntar. Seria melhor deixar o assunto morrer e estabilizar o clima entre eles. Mas estava curioso. Curioso e terrivelmente disposto a ouvir a ideia de Luffy.

                — Nós podemos fazer uma viagem híbrida. Viajamos, ficamos um tempo em alguma cidade, o suficiente para você não enlouquecer. — Luffy riu, o olhar perdido no céu estrelado visível através da entrada da barraca de peles. — Depois mudamos de cidade e viajamos mais um pouco. Você pode continuar sendo médico e eu faço qualquer trabalho que aparecer. Vai ser melhor até, porque vamos precisar de dinheiro.

                Luffy sentia o coração muito disparado. Se Law se negasse, não haveria muito que fazer e definitivamente esqueceria aquela história. Sentiria falta dele, claro que sentiria. Mas queria ser livre, e jamais faria qualquer coisa que ferisse a liberdade de Law. Estava apreensivo, a palma das mãos até suava um pouco. Encarou Law e viu que ele sorria, ainda que quase imperceptivelmente.

                — É uma boa ideia. — Law disse com a respiração entrecortada. Aproximou-se um pouco, vendo a linha invisível que temia cruzar se romper quando Luffy deu espaço para que ele se deitasse ao seu lado.

                — Você vai? — Luffy perguntou incrédulo.

                — Se sobrevivermos. — Law ponderou e Luffy riu.

                Law poderia pensar sobre como aquela era a melhor perspectiva. Em como conseguiria realizar o sonho de Luffy sem abandonar o seu próprio de seguir com a profissão e em tudo que poderiam conhecer e fazer juntos. Mas, naquele momento, ele só pensou mesmo em como Luffy, mesmo fazendo aquela careta, ainda mexia tanto consigo, e no quanto estava aliviado por não precisar dizer adeus.

                — Agora você não tem mais desculpas. — Luffy considerou. — Tire a roupa.