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História Years - Years


Escrita por: A020F0

Notas do Autor


—Personagens pertencem ao jogo Detroit: Become Human, desenvolvido pela empresa Quantic Dream, exceto os personagens originais, que são meus e me pertencem.
—Fanfic sem fins lucrativos.
—A capa foi retirada do google, todo o crédito vai devidamente para o autor da imagem.

Capítulo 1 - Years


Esperava-se que as coisas melhorassem após a Revolução de 2036, mas a verdade é que ainda havia muito a ser feito.

Os divergentes conseguiram que a opinião pública estivesse do lado deles, mas a cidade de Detroit ainda encontrava-se em meio ao caos, com forças armadas circulando pelas ruas, e civis aos poucos retornando de uma evacuação em massa, e talvez um pouco precipitada.

O Líder reuniu o máximo de androides possíveis, a fim de ocupar a Torre da Cyberlife quando todos a abandonaram segundo as ordens dos governantes. Entraram, libertando todos os androides que encontraram em vários níveis do edifício, e deixaram uma mensagem bem clara à sociedade de que estavam dispostos a criar um novo refúgio, e o fundariam onde tudo começou, por mãos humanas, mas agora com novos propósitos. Armazéns também foram ocupados por divergentes, lojas de vendas completamente destruídas, e campos de concentração desfeitos, sobreviventes sendo indicados na direção certa. Conforme os números cresciam, os militares não ficaram contentes, temendo por conflitos violentos caso abaixassem a guarda. Neste sentido, o RK200 foi impecável em seu trabalho de comunicação e relações diplomáticas. Tinha contato direto com Prefeitos, Senadores e até mesmo com a Presidente Warren, deixando esclarecido todas as suas intenções, por mais controvérsias que fossem. North, por exemplo, queimou vários estabelecimentos de “entretenimento adulto” sem pensar duas vezes, e mesmo escondendo seus motivos, foi amplamente amparada quando o assunto foi a público.

Houve uma tentativa de restituição de posse por parte da empresa, e mesmo antes de qualquer um se preparar para a batalha judicial, Elijah Kamiski custeou os advogados de defesa do caso, para que os divergentes vencessem o processo. E foi assim que o Líder conseguiu, legalmente, a posse do edifício, embora o que o homem ganharia em troca de ajudá-los, permanecesse um mistério misterioso.

Então, o trabalho de verdade começou a acontecer. Androides de todo o país chegavam todos os dias, buscando abrigo, um propósito, ou peças de reposição. As instalações da antiga Cyberlife foram modificadas para atender a toda demanda, Josh fez um brilhante arranjo nesse sentido. O Líder conseguiu acesso a documentos de registro de várias produções de diversas fábricas, e com isso, dividiu grupos e encarregou-os de funções diferentes. Armazéns voltaram a funcionar para estocar peças, e North fazia uma ótima tutela, sempre vigilante e muito atenta à sua tarefa, à frente do sistema de segurança de Jericho, como decidiram renomear a nova cede dos divergentes, como uma forma de perpetuar a própria ideia do lugar onde todos seriam bem-vindos.

Connor foi contratado oficialmente para trabalhar no Departamento de Polícia de Detroit, e agora, ele e seu parceiro, o Tenente Anderson, cuidavam de crimes cometidos contra os androides. Josh usou todo o seu conhecimento acadêmico para ajudar na criação de legislações que beneficiassem uma coexistência justa e pacífica, enquanto o Líder fazia a ponte com quem fosse necessário, sempre com seu discurso forte e poderoso, como um pilar de segurança para enfrentar quaisquer inseguranças que pudessem existir.

Mas ele não estava sozinho nisso, pois podia contar com um braço-direito tão equilibrado quanto forte, ninguém menos do que Simon, sempre prestativo, bom ouvinte, espírito calmo, responsável, pronto para fazer o que fosse preciso para ajudar o próximo. O RK200 não conseguia explicar o quão importante era o apoio firme, a companhia silenciosa, as horas passadas em reflexão constante para encontrar as respostas dos mais variados problemas. Não era incomum encontrá-los trabalhando lado a lado, em missões, na sala de reuniões, no escritório, orientados recém-chegados, consultando alas médicas, enfim, mil pormenores.

As coisas foram intensas até o mês de dezembro, e poderiam ter continuado sem interrupção se não fosse por uma conversa em particular com a Presidente.

-... agradeço por todos os arquivos que escreveu até agora, e com certeza o Congresso analisará em detalhamento a partir de janeiro. Entraremos em recesso coletivo a partir de amanhã, por conta do Natal e do Ano Novo. – falou através de uma projeção em um monitor relativamente grande, em uma das salas exclusivas para isso.

-Compreendo perfeitamente. Minha equipe continuará fazendo alguns relatórios, terminando documentos, e enviaremos atualizações nesse meio tempo, se não for incômodo, apenas para deixar registrado o que produzimos.

-Vocês não vão comemorar os feriados?

-Suponho que não. – o androide ponderou. – Datas comemorativas são, ainda, exclusivamente humanas, acredito que nem todos aqui em Jericho se sintam confortáveis em experimentar tais celebrações. – um pouco depois, acrescenta: - Acredito que eventualmente tenhamos nosso próprio calendário festivo, mas por enquanto, ainda há muito a ser feito, e eu com certeza ainda estarei trabalhando nos próximos dias.

-Apesar de ser de conhecimento comum que vocês são mais resistentes do que nós, não pensa em descansar um pouco, quem sabe aproveitar esse tempo com amigos, ou alguém importante?

-Isso faz sentido para outros, porém eu me ofereci para ocupar a posição de Líder, e assim sendo, preciso sempre estar à disposição, e ser um exemplo para meu povo.

-Consigo entender seus pensamentos. – concluiu, realmente compreensiva.

Foram palavras parecidas usadas quando North o encurralou semana passada, com raiva e com mágoa por praticamente não estarem passando algum tempo juntos, como namorados deveriam fazer. Disseram coisas maldosas ao outro, e ela se ressentiu por não ser uma prioridade para o outro, sempre muito ocupado com seus deveres e responsabilidades, como se só isso fosse importante. No fim, romperam o relacionamento que começaram provavelmente no calor do momento pós-Revolução, ainda instáveis pela euforia da liberdade conquistada. Provavelmente iria acontecer de qualquer jeito, mas mesmo assim, a androide sofreu amargamente com o término turbulento.

O Líder encerrou a conversa e foi até a sala ao lado procurar Simon para pedir atualizações sobre a última missão à fronteira, quando foi confrontado com o lugar vazio, o que era estranho, principalmente em tal horário do dia. E quando tentou contatá-lo por uma mensagem de texto, não conseguiu encontrar a conexão fácil que sempre mantinham aberta ao outro.

Confuso e um pouco incomodado, voltou ao seu trabalho, esperando notícias que nunca vieram.

Três dias se passaram assim, esperando para encontrar seu aliado no fim do corretor, em roupas confortáveis, cabelo perfeitamente arrumado, e pronto para mais um dia de trabalho. Nada disso aconteceu. Justamente quando tempos tão tumultuados, cheio de problemas e discussões, se tornaram amenizadas, os ânimos se acalmando, o RK200 sente a ausência de alguém em sua rotina agitada.

Então continua com seus afazeres, ocupando seus dias, virando noites e madrugadas, pensando nas mais infinitas possibilidades. Mesmo agora, dia 28 de dezembro, quase meia-noite, ele se debruça em papéis e documentos, procurando soluções para discussões sensíveis.

Afinal, uma coisa era produzir biocomponentes, tirium, e peças exclusivas de determinados modelos, ou upgrades de software, atualizações de sistema, pois tal manutenção poderia ser equivalente ao tratamento médico básico dos humanos. Mas criar androides completos? Como isso seria visto para a opinião pública, sendo que se são seres vivos, dotados de inteligência, como podem ser construídos como tantas outras máquinas, em uma linha de produção de fábrica tão desprovida de liberdade?

E se um androide pode viver em média 120 anos antes de precisar de uma troca de baterias, qual justificativa haveria para criar mais alguns? Os que já existiam poderiam continuar assim por muito tempo.

E o que garantiria que os divergentes “nascessem” divergentes, sendo que a própria divergência em si não podia ser completamente explica ou entendida, visto que técnicos da Cyberlife tentarão muito, porém em vão, estudar o fenômeno?

Como permitir ao sistema de um androide uma liberdade antes da “ativação”? Como assegurar tantas variáveis, como ocorrem na genética dos humanos? Sem esquecer o fato de que o programa de muitos modelos foi pensado por humanos para atender as necessidades humanas, seja a cor da pele ou determinados módulos instalados.

E se uma criança androide quisesse trocar para um corpo adulto? Ela foi programada para querer crescer, seria possível fazer essa complexa transição? E se um androide decidisse mudar de corpo? O corpo é apenas uma casca vazia que abriga um sistema “transferível”?

Como é possível, por exemplo, permitir que alguém apague suas memórias e ser outro ser completamente diferente? Até que ponto seria aceitável realizar modificações? Quem poderia determinar ou julgar tantas minuciosidades com completa exatidão e certeza? O que os humanos pensariam de tudo isso?

Recordava-se brevemente das horas gastas com Carl, ouvindo-o divagar sobre filosofia humana, um tema cheio de controvérsias e nuances. É como se sentia agora, cercado de questionamentos, e poucos caminhos reais que demonstrassem soluções sólidas a serem seguidas.

E assim, ele se perde em profunda contemplação.

Mas naquela madrugada específica, três dias após o desaparecimento do PL600, ele é interrompido por passos no corredor, que sempre está completamente silencioso naquele horário. Inquieto, levantou-se e abriu a porta, apenas para se surpreender com um rosto familiar do outro lado, segurando duas garras de sangue azul.

-Simon!  

-Olá, Markus.

-O que você está fazendo aqui?

-Sou eu quem lhe pergunto. O que você ainda está fazendo aqui, trabalhando? – questionou, mas não parecia esperar uma resposta, pois continua: - Seus níveis estão abaixo do normal e eu nem preciso verificar seu sistema. Faça uma pausa e beba um pouco. Por favor. – oferece uma das garrafas azuis.

-Suponho que posso fazer isso, sim. Mas o que foi que aconteceu? Você sumiu sem deixar rastros, ninguém sabia onde você estava!

-Vou te contar tudo se vier comigo.

O Líder olhou por um momento para a mesa cheia de documentos e monitores, e suspirou, seguindo o outro androide para longe do andar mal iluminado, e para longe de Jericho, em direção a um pequeno parque com vista para a fronteira. Os dois caminham até uma grade e passam a observar o horizonte iluminado.

-Você sabia que meu regulador de temperatura esteve quebrado desde que me tornei divergente, dois anos atrás? – interrompeu o silêncio que os cercava.

-Não, você nunca disse nada. Estamos com alguns projetos de montagem de peças de modelos mais antigos, talvez...

-Eu tive um colapso no começo da semana. – interrompeu-o suavemente. – Meu sistema entrou em pane e fui forçado a entrar em modo de emergência enquanto fazia uma ronda na zona oeste da cidade. Alguém me encontrou e me levou até uma oficina de reparos de carros, onde uma engenheira chamada Maria, que um dia foi responsável por uma equipe mecânica quando a Cyberlife ainda funcionava, me acolheu e construiu sozinha, do zero, um novo regulador para mim, além arrumar a minha perna danificada após nossa aventura na torre de transmissão. – o Líder não consegue dizer nada perante tanta generosidade. – Ela quis oferecer seus serviços para nossa comunidade e foi rejeitada, e apesar de resistir bravamente à nova situação, tem uma filha de cinco anos surda que precisa fazer coisas da idade dela, como ir à escola, brincar com outros, coisas assim.

-Nem todos os estabelecimentos humanos voltaram a funcionar ainda. – comentou.

-Exatamente. Maria me contou que possuem família no México, aparentemente os avós de Levi têm uma propriedade rural. Pretendem viajar assim que possível para a fronteira e... me convidaram para ir junto com elas.

-O que? – surpreendeu-se.

-Levi é surda e eu posso me comunicar livremente com ela, enquanto Maria ainda está aprendendo a língua de sinais, pois o diagnóstico só veio no início desse ano. Além disso, não seria um grande problema me tornar uma babá por algum tempo, principalmente como retribuição por terem me salvado.

-Então você vai fazer o que os humanos criaram você pra fazer? – rebateu, sem pensar.

-Assim como eu cuidei de tantos que buscaram por liberdade, que desligaram em um cargueiro escuro e sem vida, como tenho feito por todos que buscaram Jericho após a Revolução, perdidos e sem saber o que fazer. Assim como fiz com North, com Josh, com você, e assim como farei por tantos outros.

A resposta foi seguida de um profundo silêncio. O Líder absorveu tudo, imaginando que, bem, se a liberdade é provida de livre arbítrio, e se um androide decide usar disso para fazer o que tem desejo, mesmo que seja o que está ligado em sua programação original... então ninguém deve se intrometer em tais escolhas.

-Você já conversou com os dois sobre isso? – perguntou genuinamente curioso.

-Sim. E assim como eles sentirão minha falta, eu sentirei tremendamente a falta dos dois, pois me acompanharam por muita coisa desde que nos conhecemos. Mas nada que dissessem poderia me impedir. Apenas... – uma pequena pausa. – Apenas um único androide poderia me fazer considerar minha decisão.

-Quem?

-Você.

Eles se olharam por um longo momento, então Simon calmamente esticou a mão para segurar a mão do amigo.

-Estou apaixonado por você. – confessa, como se fosse tão simples, como se fosse tão fácil. – Mas você não é o Markus pelo qual eu me apaixonei tão profundamente.

-Não... não entendo. – diz, confuso.

-Quem está diante de mim agora não é o Markus, e sim “o Líder, o Rosto da Revolução, o Salvador, Aquele que Libertou os Androides”, quaisquer títulos que estiverem sendo usados pelos humanos para designar você. Imaginei que seu papel seria o de libertar todos nós, e depois disso, permitiria que outros se destacassem e tomassem a liderança, mas não foi isso que aconteceu. Você continuou a ser o responsável por nós, como se sua missão de nos libertar, garantir essa liberdade, nos guiar nas incertezas e orientar os humanos ocupasse sua mente todos os minutos do dia, pelo resto da sua vida, sem tempo para desfrutar dos privilégios que você mesmo lutou para conseguir. É por isso que não conseguiu nem mesmo cultivar um relacionamento, e North... eu a encontrei logo após a briga de vocês dois. Ela queria tanto mudar tudo isso, e não obteve sucesso, enquanto sofria por não ter essa capacidade. E eu a entendo completamente por se sentir assim.

Embora doesse ouvir tais palavras, o PL600 estava completamente certo.

-A verdade é que eu poderia ficar ao seu lado o máximo de tempo possível, e ainda assim, não seria sua prioridade, como a luta androide é, atualmente. Eu poderia me esforçar para ter momentos roubados, me contentar com pouco, trabalhar incontáveis horas, e ainda assim, não seria o suficiente. Não é o que eu quero, para mim. Eu... eu me apaixonei por Markus, um androide é gentil com o próximo, viveu em uma casa feliz, com amor de um homem que lhe ensinou a pintura e a arte, e que parece profundamente escondido atrás do Líder de Jericho, se tornando tão, ou até mais, idealizado como Ra9. – após uma pequena pausa, uma respiração funda, completa: - Diante de mim eu vejo um vislumbre de quem eu gostaria que demonstrasse sentimentos por mim, mas não consegue, não pode, não quer. E isso me machuca profundamente, então... preciso partir e estar com outros que desejam minha companhia tanto quanto eu. Maria e sua filha foram nada menos do que acolhedoras comigo, criamos laços de amizade que não preciso esquecer. Há um lugar para mim ao lado delas, e eu realmente pretendo honrar minhas escolhas, escolhendo as duas para estarem comigo.

-Você... – finalmente se pronunciou após tamanha confissão. – Você disse que eu poderia fazê-lo considerar? – questionou, embora sua mente já estivesse desiludida diante dos fatos à sua frente.  

-Eu gostaria de acreditar nisso, mas não posso. – apertou ligeiramente a mão de Markus antes de soltá-lo, colocando um pouco de distância entre os dois enquanto o observava intensamente. – Eu gostaria que você pudesse me dizer o suficiente para me fazer ficar, mas não importa o quanto eu queria, você não pode me dizer o que eu preciso ouvir, pois eu não sou como os outros com quem você discursa, eu sou apenas um androide querendo ouvir palavras de afeto genuíno. É só isso que eu quero.

O silêncio, entretanto, é a confirmação que Simon recebe. Ele observa Markus, quer dizer... o Líder, tão perto e tão distante, como se suas próprias palavras não pudessem encontrá-lo, não pudessem fazer sentido. A rejeição é amarga para lidar, mas sabe que está fazendo o melhor por seguir em frente com sua vida. Não quer dizer que seus sentimentos irão desaparecer de um dia para o outro, se é que vão acabar algum dia, mas sabe que não pode ficar aqui quando jamais poderá receber o que quer em troca.

-Se as circunstâncias fossem outras, quem sabe o que teria acontecido, não é? – falou, baixinho, com um sorriso pequeno no rosto. – Obrigado por tudo, Markus. Espero poder vê-lo novamente. Até logo.

O PL600 virou-se e caminhou para longe, enquanto o RK200 era deixado para trás, para lidar com o que aquele adeus significava, e para memorizar toda a conversa que tiveram, para nunca se esquecer do que, deliberadamente, permitiu partir.

Eventualmente, o sol nasce, pássaros cantarolam nos galhos de árvores, carros começam a transportar passageiros, flores desabrocham, e a cidade começa a acordar. Finalmente, o Líder afasta-se da grade e caminha em direção à Jericho, onde alguns políticos e seus assistentes já esperam ansiosos por uma reunião. Ocupa-se com sua lotada agenda de compromissos, sem saber que, do outro lado de Detroit, um androide, uma mulher e uma criança iniciaram sua viagem em direção à fronteira mexicana, esperançosamente, para começar uma nova vida.

(...)

Por 10 anos, o Líder viu o seu mundo mudar diante de seus olhos.

Detroit se reergueu mais forte e mais diversificada, com androides e humanos andando livremente na mesma direção, na mesma rua, na mesma calçada.

É claro que houve protestos, inseguranças e desentendimentos. Nesses momentos inquietos, ele surgiu como um pilar de sustentação, abrigando, direcionando, explicando, trabalhando incansavelmente para que todos tivessem e pudesse usufruir da liberdade conquistada. Sempre estava disponível para entrevistas, questionamentos, dúvidas, debates. Ocupava-se até ficar sobrecarregado, virando noites e madrugadas, participando de missões arriscadas, colocando-se em perigo de vida, em situações conflituosas, enfim, o que fosse preciso e esperado para liderar os divergentes na direção certa.

Recusou posições na Prefeitura, negava exclusivo título de representante presidencial, e se recusava a ser considerado o único capaz de falar por sua raça. Ele se tornou apenas a figura que lembrava a todos a luta dos androides.

Josh mudou-se para Washington, firmando residência e recebendo um cargo dentro do Congresso como um assessor relacionado à causa androide, servindo à Presidente Warren por sua eleição e reeleição, e depois ajudando o Presidente Eleito, Ozama, em diversos assuntos em que sua presença foi requisitada.

North matou um homem que assediava adolescentes na rua com vários socos na cabeça, e por suas ações, foi julgada como culpada e permaneceu alguns anos presa, antes de escapar e fugir com Ada, uma RK100 resgatada de um cemitério, em uma missão para encontrar todos que pudessem ser salvos, mesmo diante de diversas danificações.

Connor recebeu o distintivo de Detetive logo após Hank se aposentar devido às contribuições da polícia. Passou a dividir o tempo entre cuidar do ex-parceiro e treinar novos divergentes para o DPD, como por exemplo Colin e Conrad, dois RK900, modelos militares, que foram resgatados prestes a serem destruídos pelo governo como ameaças à segurança nacional.

Cada dia, cada semana, cada ano, foram marcados por profundas mudanças na opinião pública, nas leis, no entendimento entre raças, no respeito e na comunidade. As coisas começaram a ser como deveriam ser, após tanto tempo de luta pela igualdade.

-Você sente falta de Carl? – Elijah perguntou uma vez, durante uma das visitas à Jericho, acompanhado de Chloe, sempre muito disposta a ouvir sobre as últimas notícias envolvendo o RK200.

-Carl foi como um pai para mim. Se não fosse por ele, dificilmente acreditaria que há humanos capazes de conviver com androides em igualdade.

-Suponho que sim. Eu me pergunto... se as coisas seriam diferentes se ele estivesse aqui. – ponderou.

-Em qual sentido?

-Se Carl estivesse vivo, você ainda estaria aqui? Ocupado com reuniões, discussões políticas, trabalhando pela liberdade de existir de sua raça? Sem conseguir desfrutar de suas próprias conquistas?

-Ainda há muito a ser feito.

-Sempre haverá algum problema, algum conflito, alguém perdido, alguém incomodado. Não se pode esperar que tudo esteja na perfeita ordem para que se permita desfrutar dos privilégios. Ouvi dizer que nem mesmo em datas comemorativas como o Natal e Ano Novo você se dá o luxo de descansar!

-Não tenho tempo a perder. – respondeu, sem hesitar.

-Oh, eu entendo. – Elijah disse, estranhamente resignado. – Mas quer um conselho, Markus? Ninguém tem tempo para nada, pois o tempo não nos pertence. Ele passa da mesma forma para nós dois, a única diferença é que, pelo menos eu arranjo tempo para viver verdadeiramente. – uma pausa, uma expressão indecifrável em seu rosto quando acrescenta: - Espero que consiga entender isso antes que seja tarde demais.

Chloe entra em contato menos de uma semana depois para anunciar a morte de Elijah, que lutava contra um câncer severo nos últimos dois anos, e mesmo com o tratamento mais caro e mais avançado, não conseguiu resistir à fraqueza de seu corpo.

Enviou uma breve carta, onde o ex-CEO deixou escrito seus desejos de permitir ao Líder acesso a arquivos confidenciais que levou consigo após se demitir da Cyberlife, mas pedindo que, após ler tudo e entender tudo, excluísse para sempre todas as informações valiosas em sua posse. O mundo não precisava saber de todos os detalhes, algumas coisas deveriam ser completamente apagadas e esquecidas.

Absorveu a notícia atordoado, não conseguindo se esquecer da conversa que tiveram (sem saber ser a última) não muito antes. Assolado por emoções angustiantes, resolveu fazer uma visita ao cemitério de seu antigo mentor. As coisas pioraram quando, após quase uma década, resolveu ir até o túmulo de Carl, apenas para descobrir que havia outra lápide ao seu lado, pertencendo a Leo, o filho verdadeiro do formidável artista.

E o que descobriu, envolvendo a morte e como poderia ter feito alguma coisa para evitá-la, assombrou sua mente por muito tempo. 

Afinal, 10 anos é muito tempo.

E após 10 anos, Markus encontrou Simon novamente.

Não foi nada combinado, apenas uma grande coincidência. Entrou em Jericho após mais uma missão bem sucedida, só para encontrar duas mulheres admirando a grande estátua no saguão, erguidas em comemoração aos cinco anos da Revolução. As duas conversavam com gestos apressados e pequenos barulhos, expressões mudando com rapidez em seus rostos. Uma é claramente mais velha, o cabelo curto e grisalho, pequenas rugas no canto dos olhos, denotando sua idade. A outra é menor, provavelmente adolescente, em roupas coloridas e o cabelo volumoso completamente solto, movendo quase tanto quanto a própria garota.

As duas fazem uma pequena pausa quando um androide se aproxima calmamente, em roupas confortáveis, ostentando um sorriso feliz no rosto, indicando um grande painel com todos os níveis do prédio e suas atribuições, como se quisesse mostrar alguma coisa, como se quisesse levá-las a algum lugar – ou a alguém.

Ele quer descobrir isso, quer entender o que trouxe Simon até Jericho após anos em silêncio, o que ele pretende fazer, porque trouxe as pessoas que foram responsáveis por levá-lo embora em primeiro lugar. Muitas perguntas rondam sua mente, e, por um momento, memórias inundam seu sistema. Afinal, questionou-se sobre o que iria fazer, o que iria dizer, caso se aproximasse. Quais as chances de algo bom – ou ruim – acontecer? Como teria coragem de se apresentar, visto que o outro parecia feliz, e claramente tinha seguido em frente com sua vida?

Com uma sensação inquietante, virou-se e foi embora.

Mal conseguiu dez passos antes de receber uma mensagem de texto direta, com uma única pergunta:

“Se eu dissesse que estou em Jericho agora mesmo, você me encontraria?”

Simon não merecia não ser respondido. Então, respirando fundo para acalmar seu sistema, deu meia volta e caminhou diretamente para o pequeno grupo, sendo notado primeiro pela mais jovem, quem foi a primeira a cumprimentá-lo.

“Você é mais baixo pessoalmente do que na televisão.”

Ele sorri, admirado com tanta sinceridade. Consegue responder, embora não tenha usado língua de sinais há um bom tempo.

“Você não é a primeira a me dizer isso, sinto muito por desapontá-la.”

-Olá Markus, é um prazer conhecê-lo. – Maria fala, verbalmente. – Simon nos falou muito sobre você.

-O prazer é meu, senhora. – ele oferece um aperto de mão formal à mulher, antes de se virar para enfrentar o androide loiro, sendo surpreendido por um abraço apertado, quase cheio de saudade, de certa forma. – Olá, Simon.

-Oi, Markus. – responde, sorrindo. – É bom ver você de novo. O que fez com Jericho é surreal, quase como se realmente fosse um refúgio androide, e ainda assim, vejo alguns humanos circulando pelo lugar. Estou impressionado.

-Todos nós nos esforçamos para fazer de Jericho um lugar melhor, e você também tem uma parte nisso, não duvide.

Juntos, fizeram um tour pelo espaço, principalmente para as mulheres conhecerem o refúgio. Maria se encanta com tudo o que foi modificado, as novas instalações, tudo muito mais dinâmico do que quando ela trabalhava sob a orientação de outros técnicos da Cyberlife. O próprio ambiente parecia mais vivo do que nunca.

Pararam no refeitório para conseguir lanches e um pouco de tirium, enquanto conversavam principalmente sobre os últimos trabalhos que Markus estava fazendo, como o projeto que envolvia construir abrigos para animais selvagens androides usados em zoológicos ao redor do mundo, pois assim como animais de estimação, não deveriam existir para o simples entretenimento humano.

Levi parecia ter opiniões fortes sobre o assunto, e demonstrava estar completamente acostumada a se sentir à vontade em conversar com androides, pois o RK200 não sentiu o menor traço de nervosismo ou desconfiança em suas ações. Provavelmente provinha da convivência com Simon, embora ela tenha explicado como, por viver em uma cidade pequena e com um círculo social envolvendo falantes da língua de sinais menor ainda, considerava-se uma eremita a maior parte do tempo, passando muito tempo dentro de casa e ficando com a mãe na oficina que abriram na garagem. De qualquer forma, a adolescente de 15 anos sabia como manter uma conversa no mínimo interessante, deixando até mesmo os dois androides se sentindo lentos e incapazes de acompanhá-la perfeitamente.

Quando Markus faz um passeio aos níveis superiores, Chloe os encontra no meio do caminho, quando saía de uma sala cheia de computadores. Ela começou a visitar mais após a morte de Elijah, sempre muito disposta a cuidar de algumas tarefas pendentes. Parou para se apresentar e conversar com Levi, que ficou mais do que feliz em ter mais alguém para bombardear com perguntas curiosas que guardou desde que soube da viagem à Detroit, no mês passado. Entretidas, mal perceberam quando o PL600 se afastou suavemente em direção a uma sala muito bem conhecida, onde outrora passou horas e horas ao lado do Líder.

Havia uma estante perto da janela repleta de plantas dos mais variados tamanhos. Combinavam com o aquário até o teto com peixes coloridos bem ao lado, e um grande quadro azul que cobria praticamente toda a parede atrás da grande e robusta mesa. Não havia dúvidas de ter sido uma obra de Carl Manfred, e não o surpreende ao encontrar alguns porta-retratos na estante cheia de livros, contendo fotografias tanto do artista, quanto de seu filho.

-Você fez uma boa mudança.

-Obrigado.

-E você fez um ótimo trabalho, quer dizer, eu acompanhei pela mídia por um tempo, e as informações eram promissoras, mas ver com meus próprios olhos... é incrível.

-Você deve ter pensado em algo assim quando se refugiou em Jericho pela primeira vez, mas nunca conseguiu. North e Josh me disseram algo assim uma vez, e de como foi uma redenção apropriada, de certa forma.

-Oh, concordo totalmente. Ainda mantenho contato com Josh, mas não com North. Você teve notícias dela?

-Nenhuma.

-Ela me encontrou no México ano passado.

-É mesmo? – interessou-se. – Como ela e a namorada estão?

-Ótimas! Pretendiam ir ao Chile, passar uma temporada nas montanhas geladas.

-O Canadá não é mais próximo? – divertiu-se.

-Acho que quiseram fazer uma longa viagem juntas, como alguns casais fazem. Você... você não se incomodou? Com o relacionamento delas?

-Acredito que questões de gênero e sexualidade sejam diferentes para nós. Humanos a classificariam como lésbica e eu como bissexual, mas a verdade? Rótulos não nos definem, tanto quanto nossos modelos não definem quem somos e quem devemos ser. – comentou com sinceridade. – North estava feliz com Ada?

-Com certeza.

-Então é o suficiente para mim. – afinal, que direito ele tinha de sequer ter uma opinião sobre o relacionamento delas? Absolutamente nenhum.

-Isso é bom. – olhou para os livros, admirando os títulos de poesia e filosofia antes de continuar: - Você está diferente.

-Diferente? Em que sentido? – ficou curioso.

-Bom, suponho que nós dois tenhamos mudado após tantos anos. Eu fui contratado em uma escola para cuidar de crianças pequenas, enquanto ensinava à família de Maria a língua de sinais para se comunicarem apropriadamente com Levi. Eu me tornei o tio legal e esquisito que leva os mais jovens ao parque e finge que não viu quando não arrumaram o quarto, ou ajuda a colar um objeto quebrado. Aprendi a fazer cerâmicas à moda antiga, tricotar e cozinhar para uma família de vários primos, irmãos, e tantas pessoas que levei meses para conhecer cada um. Nunca pensei ser acolhido ou amparado por tantas pessoas, e ainda assim, foi o que aconteceu. Minha própria personalidade, como Levi gosta de dizer, floresceu com o passar dos anos.

Faz completo sentido. Markus lembrava-se bem da timidez, da companhia silenciosa, de como às vezes parecia que o PL600 recolhia-se dentro de si e esquecia-se dos arredores. Agora parece mais alegre, mais falador, mais forte e mais atraente. Como estão sozinhos, pode observá-lo em detalhes, o cabelo loiro mais longo e ligeiramente encaracolado nas pontas, uma fina linha na têmpora que parecia uma cicatriz escondida, e olhos azuis mais vibrantes que o céu.

-Concordo com ela. – respondeu, em seguida. – Você parece muito diferente de quem encontrei há dez anos, e é uma mudança mais do que bem-vinda.

-Agradeço os elogios sinceros, e eu gostaria de poder dizer o mesmo de você. – sua expressão tornou-se um pouco mais suave. – Quero dizer, você realmente fez um trabalho digno de admiração, qualquer um pode perceber. Mas quando olho para você, apesar de ainda ver um Líder forte, cheio de responsabilidades, e ocupando uma posição que poucos conseguiriam... também existe... solidão. – finalmente encontra a palavra correta. – É isso.

E, como sempre, Simon está completamente certo.

-Desculpe-me se parecer intrusivo, se quiser pode me interromper, mas acho que você parece sozinho, e talvez se sinta um pouco sozinho. Está cercado de outros como nós, é um dos mais esforçados e dedicados que já conheci, porém deixou tudo de lado para se agarrar à chance de ficar conosco, sem ainda conhecer Maria ou Levi. Confesso que me deixou surpreso com a facilidade com o qual parou de trabalhar para nos acompanhar.

-Lhe devo desculpas por fazê-lo pensar assim, Simon. – disse, culpado. – Não foi minha intenção naquela época focar exclusivamente em meus afazeres, como se nada mais fosse importante. Antes, achei que fosse o certo a ser feito, e hoje... minha posição é tudo que tenho. – olhou brevemente para uma fotografia de Carl antes de prosseguir: - É verdade o que disse, a solidão é mais comum do que eu gostaria que fosse.

-... quer falar sobre isso? – ofereceu, genuinamente interessado em escutá-lo.

-Seria egoísmo da minha parte.

-Claro que não! Fale livremente, eu ainda lhe tenho em grande estima. E você sempre procurou por minha ajuda em tantos problemas, ficarei feliz em ajudá-lo novamente.

-... como posso dizer que a solidão fez morada em mim após você partir? – indignou-se consigo mesmo, fechando a mão com mais força que o necessário. – Josh se mudou, North fugiu, Leo se foi sem que eu tivesse conhecimento e sem possibilidade de ajudá-lo, e Elijah morreu não muito depois de me aconselhar a viver, e não me afundar em trabalho, como se apenas isso fosse capaz de ocupar meu tempo. É certo que nada disso teve correlação direta com sua partida, mas eu me questiono o que teria acontecido se estivesse ao meu lado. Se as coisas fossem diferentes. Josh teria pensado duas vezes? North teria nos procurado? Leo poderia ter conseguido uma segunda chance, e talvez Elijah morresse sem pensar em mim como tolo por não escutar seus conselhos? E se nada disso fosse diferente, mas se você estivesse ao meu lado, eu não estaria me sentindo tão sozinho? Eu sofri em silêncio por anos, sem ter alguém com quem dividir esse fardo que decidi carregar ao me tornar Líder. Não me arrependo, teria feito tudo novamente se fosse preciso, mas não do mesmo jeito. Não para me sentir completamente sozinho no fim de tudo.

-Markus...  

-Estou tão aliviado ou vê-lo novamente, mas isso também me assusta. Ainda penso sobre como eu estaria melhor se você estivesse comigo nos últimos dez anos, sendo que basta olhar para você e ver o quão feliz você se tornou ao seguir em frente, principalmente sem mim. É bom que eu tenha afundado sozinho, sem te arrastar junto comigo. – confessa, instável. – Estou arcando com as consequências das minhas escolhas, e embora nada disso seja fácil, ainda assim... é o suficiente para mim saber que você está bem.

O androide loiro é rápido em se aproximar e puxá-lo por um abraço. Por algum motivo, o RK200 começa a chorar lágrimas tão grandes como na noite em que seu pai faleceu. Há muito tempo esconde para si mesmo emoções intensas, e agora não consegue mais controlá-las e mantê-las sob controle. Mesmo após anos como um divergente, não sabe como simplesmente desativar os próprios sentimentos.

-É tão errado da minha parte dizer tudo isso, não é? – sussurrou, quando os soluços não mais o impediam de continuar. – Não tenho o menor direito...

-Por favor, não pense assim. Seus pensamentos são válidos, e tão importantes quanto de outros. Não estou... não estou incomodado. Apenas surpreso com tudo que ouvi, jamais pensei... que você pudesse se sentir assim.

-Você deve saber, não culpo você. – enfatizou. – Nem por um mísero segundo me ressenti de sua escolha. Mesmo lá trás, eu sabia que não tinha o direito de exigir nada, de pedir nada, então me calei. Sua liberdade é sua para fazer o que quiser, eu não pude interferir.

-... você queria?

-Não posso dizer, não posso. Não é justo com você, muito menos depois de tudo o que aconteceu.

-Markus, olhe para mim. – pediu, gentilmente se afastando, esperando com paciência até os olhos coloridos encontrá-lo. – Quando eu pedi que você me pedisse para ficar, você realmente quis que eu ficasse?

O androide ficou em silêncio, enquanto limpava o rosto molhado.

-Você queria ir. – disse, como se explicasse tudo.

-Sim, eu quis.

-Então você foi, pois você é livre. Não há mais nada a dizer sobre isso. – uma pequena pausa, enquanto respirava para se acalmar. Mesmo após tanto tempo... ainda era difícil falar sobre esse assunto. – E você ainda vai embora, para onde você pertence, ficar ao lado daqueles que merecem sua companhia, o apreciam verdadeiramente.

-Sim, é verdade. – concordou, baixinho. - Mas não precisa ser um adeus para sempre. – completa, com seriedade. - Passaram-se 10 anos e nós nos encontramos, eu até poderia ter visitado antes se soubesse que era... desejado aqui.

-Você é. – respondeu, com rapidez. – Se lhe agrada, Jericho sempre estará de portas abertas para recebê-lo. – mal podia acreditar no rumo daquela conversa. Como o PL600, com poucas palavras, fez com que tanta esperança surgisse? Como ele conseguiu mudar totalmente como Markus se sentia a respeito de tudo isso?

-É bom saber. – sorri brevemente. – Eu gostaria de voltar, sim. Passei... muito tempo imaginando como seria. Em poucos cenários tinha uma recepção tão calorosa, pensei... pensei que seria tolice da minha parte desejar por algo impossível.

-Nada é impossível, apenas improvável. É o que meu pai dizia.

-Carl foi um homem sábio, não há dúvidas. – concordou. – Fico contente ao saber, então, que minha presença é esperada.  

-Mais do que tudo.

-Obrigado, Markus. É importante ouvir cada uma dessas palavras, principalmente vindas de você.

-Desculpe demorar uma década para dizê-las.

-Oh, está tudo bem, eu esperaria pelo tempo que fosse necessário. – assegura. – Afinal, finalmente consigo ver você, Markus. Não um mero vislumbre escondido, mas eu realmente posso ver quem você é, mesmo que um pouco solitário e triste por tantas perdas, por tantos problemas, tantas pedras no caminho.

-Muito gentil da sua parte dizer isso, quando aqui estou eu, desesperado por qualquer tipo de afeto que possa me oferecer. Devo parecer no mínimo decadente.

-Pelo contrário, exige muita coragem ao assumir as consequências de seus atos, mesmo após tanto tempo. Minha admiração não diminui, nem meu respeito ou meus sentimentos.

-Não?

-Claro que não. Mesmo após dez anos, ainda quero beijar você. – Simon sorri abertamente, segurando a mão do outro androide. – Se estiver tudo bem para você, é claro. Não ouso pedir mais do que está disposto a me oferecer.

-Não tenho muito, mas tudo o que tenho, estaria honrado em dividir com você.

-Então...? Posso realmente beijar você, Markus?

-Vá em frente.

-... e o que vai acontecer depois?

-O que você quiser, Simon. A escolha é sua.

A verdade é que Markus não tinha a menor ideia do que aconteceria depois. Quem sabe o que poderia acontecer? Quem sabe o que não poderia acontecer? Quem deles tinha alguma noção do que iria acontecer?

Mas, naquele momento, não importava muito. Markus esperou 10 anos para beijar Simon, então, o que quer que fosse acontecer depois... valeria a pena.


Notas Finais


Edit 1: quase não postei nada hoje, mas é dia 28, queria terminar o ano postando uma história exatamente neste dia.
Edit 2: não pretendia fazer qualquer coisa que envolvesse especial de Natal e/ou especial de Ano Novo. Então eu li uma thread no twitter sobre uma linha temporal, onde a narrativa é sobre Markus ocupando o lugar de Líder dos divergentes, fazendo-o ter uma única prioridade: seu trabalho. Simon entende, e mesmo amando-o, não pode ficar ao seu lado, principalmente sabendo que jamais será a prioridade de Markus (e eu gosto muito da ideia de Simon seguindo em frente pois ele merece O MUNDO não estou de brincadeira). Anos se passam e os dois se reencontram, Simon feliz com uma família, e Markus solitário, percebendo que afastou o amor de sua vida para se tornar um Líder solitário.
Edit 3: eu literalmente li essa thread ontem, comecei a escrever ontem e terminei hoje. Foi muito rápido, espero que tenham gostado!
Edit 4: é isso, última história de 2020, até ano que vem, e boas festas para todo mundo <3


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