História You are in love - You are in love

Dan não imaginava há alguns anos atrás, quando conheceu Phil, que a relação deles iria ser tão complicada. Existia entre eles uma complexidade que não devia estar presente na maioria das amizades.

Não que eles brigassem demais ou que houvesse algo em Phil que irritasse Dan, pelo contrario. Phil era perfeito – e talvez Dan também achasse que Phil fosse perfeito pra ele, mas isso não vinha ao caso.

Existe uma linha invisível entre todas as amizades comuns, que estabelecia que uma relação deveria ser totalmente platônica, sem nenhum tipo de sentimento romântico envolvido muito menos nenhum tipo de contato físico que seria estranho ao olhos de duas pessoas que fossem apenas amigas. Dan e Phil nunca tiveram essa linha. Ao menos é isso que Dan pensa ás uma da manhã, quando o seu corpo está entrelaçado com o de Philapós uma maratona de netflix (Phil sempre faz Dan rever episódios de Buffy com ele, mesmo que ele soubesse todas as falas de cor – e Dan estava começando a pensar que ele mesmo também já estava decorando todo o roteiro).

Não era a primeira e nem a ultima vez que isso acontecia. Os dois sempre arrumavam desculpas para fazerem o que queriam só que sem o peso que suas ações carregariam. Então, se ao acordar Phil envolvia seus braços ao redor de Dan enquanto colocava seu rosto no pescoço dele, seria só porque, como era de manhã – ele estava com frio. E se Dan colocava suas mãos no quadril de Phil, devolvendo o abraço era só porque ele era um excelente amigo e adorava abraços.

E se os dois se sentavam com os corpos praticamente colados num sofá que caberia, tranquilamente, ambos os homens há uma grande distancia, bem, era só porque era mais confortável ter alguém assim tão perto. Se em seguida algum deles passasse os braços por trás do ombro do outro e o trouxesse pra mais perto seria apenas porque era o melhor jeito de se sentar num sofá, e também a melhor maneira de se manter aquecido (a desculpa do frio era bem comum na casa dos dois).

Então, teve aquela vez em que eles foram convidados para um evento de gala, que demandava traje a rigor eDan pediu para Phil dar o nó na gravata dele, e Phil sabia perfeitamente bem que Dan sabia como fazer aquilo (primos judeus, sabe como é), mas ele de aproximou mesmo assim, dando não apenas o nó na gravata de Dan, como ajustando seu colarinho. E se Dan tivesse encarado o rosto, os olhos e principalmente os lábios de Phil era apenas porque Phil tinha feições muito bonitas e olhar para elas trazia a Dan um tipo de paz.

(Se não formos contar aquela vez em que os dois estavam tomando café e Dan tomou a mão de Phil para si e começou a fazer alguns desenhos nela com o contorno se seu próprio dedo, enquanto Phil entrelaçava as mãos dos dois que ainda estavam livres. Mas esse momento teve fim e foi, obviamente, esquecido pelos dois quando eles pularam ao som do celular de Phil tocando)

Sendo assim, após algumas horas assistindo Buffy matar vários vampiros (e uma mulher louva-deus, esse programa é estranho), a desculpa da vez era que Dan estava muito cansado para voltar ao seu quarto e ele já estava muito confortável deitado na cama de Phil. Quando Dan expressa esses pensamentos em voz alta pra Phil, ele só assente e entra deixo do seu cobertor enquanto dá um bocejo. Dan copia as suas ações e em um instante os dois estão de frente um pro outro, cruzando olhares como se não houvesse amanhã.

“Oi” Dan diz, e Phil solta uma risada, não aquelas grandes e altas que você dá numa roda de amigos, mas daquelas baixas, feitas para o ouvido de apenas uma pessoa.

“Oi” Phil responde, ele se inclina pra frente e o coração de Dan para. Os dois já estavam bem próximos de maneira que seu gesto fez o cérebro de Dan congelar instantaneamente. Phil então, bem lentamente, tira alguns fios da franja de Dan que estavam grudadas em sua testa em frente aos seus olhos. Não foi o ato romântico queDan estava esperando, mas foi o bastante.

Os dois se olham por alguns minutos, trocando sorrisos bobos e tudo o que Dan pode pensar é que amigos não trocam olhares assim. De repente, Phil se vira de costas e Dan percebe que essa é a sua deixa. Ele envolve o abdômen de Phil com seu braços e traz seus corpos juntos, o rosto de Dan descansa na curva do pescoço de Philenquanto ele aproveita para sentir seu cheiro, as suas pernas se entrelaçam numa bagunça, enquanto seus tornozelos se esfregam procurando atrito e calor. Phil coloca a sua mão sobre a de Dan, as respirações dos dois se sincronizam e eles estão em casa novamente.

Como de costume, Dan tenta aproveitar ao máximo o momento, enquanto sua mente viaja para sua relação comPhil. Na realidade, Phil sempre estava em seus pensamentos, Phil e seu cabelo escuro perfeito, Phil e seus lindos olhos azuis/verdes/amarelos que diziam tanta coisa e ao mesmo tão pouco, Phil e sua pele pálida que permitiaDan saber quando ele estava envergonhado – uma vez que o vermelho das suas bochechas ia surgir e ficar altamente destacável, Phil e suas pintas ao redor do seu corpo que se cruzadas poderiam formar uma constelação e que Dan só poderia ver quando ele fosse tomar banho e aparecesse sem camisa no loft, Phil e sua criatividade que Dan teria que nascer de novo para conseguir apenas um pouco. Phil, Phil, Phil. Dan se perguntou se Phil pensava nele tanto quanto Dan pensava em Phil.

(Ele pensava)

Dan lembra então, de quando se deu conta que estava apaixonado por Phil. O quão completo ele se sentiu e depois o quão perdido. Qualquer um que passasse dois minutos com Phil (que mais parecia um raio de sol), iria se apaixonar pela personalidade do homem. Ele poderia iluminar qualquer ambiente que entrasse apenas com seu sorriso.

Como chegamos a esse ponto? Dan se pergunta. Bem, pra ser justo os dois nunca foram apenas amigos. Desde o inicio, com aquelas chamadas de Skype intermináveis, ambos os garotos sempre gastavam seus melhores e mais vergonhosos flertes um com o outro. Era de se esperar que um deles tomasse o primeiro passo mas o medo os segurou. Dan pensava que não era bom o suficiente, e Phil havia dito há alguns anos para Dan que no começo da relação ele tinha sido extremamente cuidadoso com suas ações, devido á diferença de idade que existia. Danquase solta uma risada pensando que os quatro anos que de diferença que haviam naquele momento, não se comparavam a nada ao tempo que perderam sendo apenas amigos. Talvez fosse o momento errado, ou talvez os dois sejam apenas covardes.

Muitas vezes Dan havia pensado em se declarar, e em alguns momentos ele chegava tão perto que tinha que sair de casa para dar uma volta e clarear os pensamentos. Ele sabe que há algo entre ele e Phil. E se Phil o quisesse, ele o teria. No entanto, se Phil o recusasse, as coisas nunca voltariam a ser do jeito que eram, e Dan teria de continuar com apenas uma amizade. Porque uma vida com Phil sendo só seu amigo era melhor que uma vida sem Phil.

Dan não percebeu no momento, mas a respiração de Phil não havia ficado mais tranquila e ele não tinha dormido rápido como sempre fazia. Pelo contrario, Phil aperta Dan mais perto do seu corpo, fazendo o Dan perceber quePhil estava bem longe da terra dos sonhos agora. Phil se vira de frente, os braços de Dan ainda o envolvem e suas pernas ainda estão entrelaçadas, o silencio entre eles é palpável. Dan pensa, alegremente, em como apesar de todos esses anos, apesar de exporem a vida deles inteira na internet, ainda havia momentos como esse, guardados no fundo do baú de seus corações.

“Não consegue dormir?” Phil pergunta num sussurro, quase como se ao falar mais alto ele pudesse acordar a eles mesmos.

“Não, muitos pensamentos na cabeça, você sabe como é”, Phil assente com essa resposta e os dois não ousam olhar pra nenhum lugar além de seus próprios rostos.

Phil se inclina pra frente e encosta sua testa na de Dan, ele fecha os olhos e sabe que Dan vai fazer o mesmo. O tempo aqui é relativo e tudo o que Dan pode pensar é em como Phil se tornou o universo de seu universo. Os dois se aproximam mais e seus narizes se encostam.

“Dan”, o tom que Phil usa é quase como o de um pedido, sendo assim Dan abre seus olhos para achar os de Philo encarando. Algumas pessoas dizem que o escuro tira o brilho dos olhos azuis. Dan discorda, não há nenhuma luz no quarto mas os olhos de Phil nunca estiveram tão vibrantes como nesse momento. Dan levanta uma sobrancelha, esperando o que Phil tem a dizer.

“Você é o meu melhor amigo”, Dan enrijece. Em todos esses anos, eles nunca haviam falado isso diretamente pro outro. Tinha acontecido em rodas de amigos ou em alguns vídeos mas, nunca, nunca dessa maneira.

Os dois fecham os olhos e Dan sabe que para alguns aquilo poderia ser um balde de água fria. Mas Dan conhecePhil como ninguém, e eles sabem que aquilo, na realidade, foi um deles finalmente cruzando a linha, assumindo os riscos e pegando uma chance. Dan respira firmemente uma vez, antes de finalmente cruzar a linha junto dePhil e dizer:

“Eu também te amo”.

Dan poderia falar horas e horas sobre o quão incrível e magico o resto da noite foi, e como os beijos de Philardiam como fogo e como eles ficaram repetindo “eu te amo” um pro outro como se fosse um segredo que os dois estavam felizes de guardar e como depois de algum tempo Phil fez Dan só dele. Mas vocês provavelmente ficariam entediados, e francamente, Dan tem um namorado pra amar e muito tempo perdido pra recuperar.