Ainda era sábado, mas eu queria que fosse quinta-feira, só pra poder ver David de novo e quem sabe, assim, diminuir a dor da saudade que eu sentia por Jareth.
Iman me convidou pra sair pra algum lugar (agora que ela tem um carro, era impossível faze-la parar), mas recusei, mesmo Irene dizendo que chamaria uma babá para ficar com Toby enquanto ela e meu pai saiam para jantar.
- Tem certeza, filha? – meu pai perguntou. – Chamamos uma babá e você pode sair com a Iman.
- Certeza, pai. Essa primeira semana de aula foi agitada, já temos bastante matéria pra estudar. – mentira, eu só queria ficar sozinha na tentativa de chamar o Jareth de volta.
Irene ainda insistiu mais uma vez, o que me surpreendeu, pois ela nunca se importou comigo.
Depois de finalmente dizer que estava tudo bem, os dois saíram e eu fiquei com Toby na sala, assistindo uma maratona de desenhos infantis.
Depois de quase uma hora em frente à TV, Toby se entregou ao sono e logo adormeceu no sofá. Levei-o pra cama e me tranquei no quarto.
Sentei em frente à minha penteadeira, segurando o cristal e olhando fixamente nele.
- Vamos lá. Pense bem, Sarah! Você só precisa escolher as palavras certas.
Nada de interessante surgiu. Peguei o livro de contos para tentar me inspirar, mas nada. Tentei o roteiro da peça de teatro, mas na peça a mocinha volta pra casa por causa do irmão, e larga o Rei dos Goblins sozinho. Como eu fiz.
- Ai, que droga! Seria mais fácil se Toby voltasse a chorar e eu chamasse por ele de novo!
Olhei pra janela e não havia a mesma chuva daquele dia ou indícios de uma coruja branca na minha janela.
- Ai, Sir Didymus, Hoggle, Ludo, como será que vocês estão? Sinto tanta saudade de vocês.
- Estamos com saudades também, my lady!
O espelho refletia a imagem de Sir Didymus sentado na minha cama, mas quando virei, não havia ninguém lá.
- Sarah amiga! – dessa vez era a imagem de Ludo no espelho, mas novamente não havia ninguém na cama.
- Amigos, onde vocês estão? Eu preciso de vocês, por favor, apareçam!
- Estamos aqui, my lady! – me virei e dessa vez estavam todos na minha cama e pulei em cada um deles, abraçando tanto que achei que eles iriam morrer sufocados.
- Você chamou pela gente e nós viemos! – Hoggle disse, quase chorando.
- Que saudades que eu estava de vocês! Me digam, como está o Reino?
- Você quer dizer como está o Jareth, não é? – Hoggle perguntou, mas não tive tempo de responder. – Ele está deprimido. Não sai do castelo desde que você foi embora.
- Ain, não acredito! Como eu fui burra! – taquei a cabeça do travesseiro, abafando meus gritos de ódio. – Ele deve estar com tanta raiva de mim!
- O Rei dos Goblins não entende até agora o que aconteceu, my lady!
- Eu fui burra, Sir Didymus! Lembrei da minha fala na peça de teatro e disse na hora errada! Eu ainda queria estar lá com ele.
- É só dizer as palavras certas, Sarah!- Hoggle incentivou. – Jareth deixou o cristal pra você, ele ainda tem esperanças de que você volte pra ele.
Olhei pro cristal e não parecia ser tão simples escolher as palavras certas.
- Jareth poderia ser menos orgulhoso e vir quando eu chamasse. – resmunguei. – Será que ele me perdoa?
- Se ele te ama, é claro que ele vai te perdoar, my lady!
- Se vocês o virem, diga que eu nunca esquecerei dele. – suspirei. – Tenho medo de não achar as palavras certas e nunca mais o vê-lo. – deitei minha cabeça no colo de Ludo, que desajeitado, tentava fazer algum carinho nos meus cabelos.
- Você vai conseguir, Sarah! – Hoggle encorajou. – Apesar de que você merecia coisa melhor.
- Hoggle! – Sir Didymus ralhou com ele. – Admita que o amor de Sarah fez o Rei dos Goblins melhorar bastante!
- Mas ainda assim ele continua a me chamar de Príncipe do Pântano Fedorento. – ele resmungou.
Os dois começaram a discutir e eu já não prestava mais atenção. Quanto mais Ludo acariciava o meu cabelo, mais o sono começava a surgir, até que finalmente fechei os olhos e só me lembro de Hoggle dizendo baixinho que se precisasse, era só chamar.
Acordei com o meu pai gritando pelo meu nome, me fazendo pular da cama.
- Sarah! Sarah! Está tudo bem? – ele já estava no meu quarto. – Já passa das dez da manhã, logo Mark e Iman vão estar aqui e você nem se arrumou.
- Mark e Iman?
- Filha, esqueceu do ensaio da peça?
- Ah, tá! – respondi ainda sonolenta. – Vou me arrumar.
Levantei da cama e tentei imaginar que peça estávamos ensaiando, mas eu não fazia idéia.
Procurei pelas gavetas e encontrei um roteiro de “Cinderela” entre os muitos rabiscados.
- Por favor, me digam que não serei par romântico com o Mark!
Fomos para o parque encontrar o restante do pessoal do grupo de teatro e só então fiquei sabendo que a reunião era para escolher a próxima peça, e não para ensaiar algum roteiro.
Estávamos todos sentados na grama, discutindo diversos livros para adaptarmos, quando percebo alguém sentado no banco a alguns metros de distância, o livro apoiado no colo, os olhos fixos em mim.
Professor David estava incrivelmente lindo, usando uma calça social preta, camisa branca e suspensórios. Roupas pouco apropriadas para um passeio no parque, mas eu acho que no caso dele, até roupas femininas ficariam bem nele.
- O que você acha, Sarah?
- Ah, o que? – Mark era quase o líder do grupo, mas ele sempre pedia minha opinião.
- Shakespeare ou alguma peça infantil?
- Ahh. – David sorriu pra mim, me fazendo perder totalmente o rumo. – Não sei, o que vocês decidirem, está bom pra mim.
Mark se incomodou, mas voltou a falar.
- Sarah, você está bem? – Iman perguntou.
- Olha pra frente, Iman. Olha quem está sentando no banco na nossa frente.
Iman olhou e assim como eu, perdeu a fala e o rumo.
- Decidido então! – Mark fechou a agenda dele com força, assustando todo mundo. – Vamos fazer um musical e “Rock of Ages” é o escolhido. Nos reunimos na próxima semana pra decidir os detalhes finais.
Nos levantamos e quando olhei de volta pro banco, David não estava mais lá.
Mais uma chance desperdiçada.
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