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História You Found Me - Enjoo


Escrita por: ktaecori

Notas do Autor


Se eu conseguisse escrever um capítulo por dia sempre como tô fazendo agora, já teria umas cinquenta histórias finalizadas. Vamos aproveitar enquanto essa onda de inspiração não passa, né?

Estava louca para escrever esse capítulo. Ele fluiu bem rápido para mim e acabei em poucas horinhas. O resultado final também ficou do meu agrado, apesar de, novamente, eu não ter revisado, então podem ter erros de digitação e tals.

Boa leitura!

Capítulo 13 - Enjoo


Sakura descobriu no dia seguinte que devido um empurrãozinho do querido Itachi, que elogiara muito seu trabalho de limpeza e dissera que os serviços de Sakura eram indispensáveis para os cuidados dos animais, Kakashi acabou oficializando-a como a mais nova contratada do circo. E justo para a coisa que ela menos gostara de fazer. Com certeza já podia acrescentar outro Uchiha na lista de pessoas que preferia não ter conhecido.

A noite anterior fora simplesmente horrenda. Sakura passara boa parte dela limpando merda dos mais diversos tipos de animais, que com certeza eram muito bem alimentados, porque quando mais ela limpava mais eles iam lá fazer suas necessidades, como se estivessem gostando de torturá-la. Definitivamente uma tortura, porque seu estômago não estava nada bom e Sakura vomitou quatro vezes, não conseguindo segurar na barriga nem o copo de água que bebera. Talvez Sasuke conseguisse se comunicar com os animais e estivesse usando seus poderes para incitá-los a enterrá-la em uma montanha de merda até que ela saísse correndo e chorando dali. Ele teria que ser um pouco mais convincente se fosse o caso. Sakura se orgulhava de dizer que sobrevivera. Fora nojento, fora chato e, principalmente, fora fedorento, mas ao final da noite não havia uma caca sequer no chão e Sakura até pôde aproveitar os últimos quinze minutos de expediente para ficar acariciando um urso imenso que parecia ter gostado de sua companhia.

No início ela ficara assustada, vendo a aproximação daquele animal que facilmente a engoliria de uma vez só, mas podia dizer que ele conquistara sua confiança aos poucos ao longo da noite e já estavam íntimos depois de uma conversa unilateral por parte de Sakura. Sasuke era como uma sombra ali na tenda, se movimentando por todos os lados e sempre fazendo alguma coisa, mas Sakura raramente o via ou ouvia. Parecia até que estava sozinha às vezes, então se deu a liberdade de falar sozinha com um urso branco simpático. Óbvio que sua relação ainda estava muito recente para que contasse à ele todos os seus segredos, mas foi bom se distrair um pouco conversando amenidades.

Naquela manhã aproveitou para resolver algumas pendências. A primeira coisa que fez, logo no café da manhã, aproveitando que Neji tinha se atrasado no banho, foi conversar com ela sobre os olhos incomuns que compartilhava com o primo. Por mais que tivesse procurado, Sakura não vira até então outras pessoas no circo com aqueles olhos. E estava curiosa sobre eles desde que conhecera os dois, até chegara a achar inicialmente que eles pudessem ser cegos, mas Hinata já havia dito de cara que não. Na época Sakura não sabia ainda da magia, então não pensara que a explicação pudesse ser algo além de lentes de contato exóticas.

— Eu e Neji temos nosso poder concentrado nos olhos, nascemos assim. Isso não quer dizer muita coisa, só que nós temos mais facilidade para usar qualquer magia que envolva a visão, além de uma sensibilidade visual maior — ela respondeu, prontamente, parecendo não achar aquilo de grande importância.

— Hinata está sendo modesta — Ino interrompeu a garota. — Os olhos são uma herança da família dela, uma das famílias fundadoras.

— Como assim?

— Tudo tem um início, certo? O nosso início é esse, pelo menos do que temos conhecimento. Se você lesse um dos livros chatos que Orochimaru com certeza passou nas aulas — Ino riu com a careta de Sakura — encontraria vários capítulos sobre as famílias fundadoras. Não que tenham sido as primeiras pessoas no mundo a nascer com magia, mas eles tiveram a ideia de procurar outras pessoas assim e formar uma grande comunidade.

Hinata concordou com a cabeça, talvez por ser professora, ela parecia empolgada com aquele assunto.

— Se você fala para um sinestatem que você tem magia, a reação natural é não acreditar. Se você prova que tem magia, eles ficam com medo. É um instinto humano, temer o que é mais forte que você. Depois de muito tempo nessa relação conturbada, nossos ancestrais perceberam que era inútil. Então eles decidiram criar uma imensa casa móvel, onde todo mundo que tivesse uma faísca de magia sequer no corpo seria acolhido e bem-vindo. Assim nós apagamos nossa presença do resto do mundo e não precisamos ficar sozinhos, vivendo em um lugar que não nos reconhece e nos teme.

— Mas por que as famílias fundadoras tem olhos diferentes? — Sakura ainda não tinha entendido muito bem, na verdade parecia que elas estavam lhe contando uma versão simplificada, o que era bom, porque eram muitas informações para sua mente de uma vez só.

— Apesar de todos nós termos poderes, existem níveis diferentes. A magia necessária para criar algo como um circo e uma cidade que coexistem no mesmo espaço ao mesmo tempo é algo que eu nem consigo imaginar. — Ino sacudiu a cabeça. — Apenas pessoas extremamente fortes e poderosas conseguiriam fazer algo assim.

— Uma dessas pessoas era meu tataravô — Hinata completou, ao perceber que Ino não sabia bem qual o grau de parentesco entre ela e seu ancestral super famoso. — Ele e outras quatro pessoas, que eram consideradas as mais fortes de sua época, criaram este lugar.

— E o que aconteceu depois? — Sakura estava com um mal pressentimento e as expressões da amiga acentuaram isso.

— Eles morreram. Toda magia cobra um preço, se ele é alto demais, mesmo um corpo mais resistente acaba sofrendo as consequências.

— Sinto muito. — Não conseguia pensar em nada para dizer além disso.

Hinata sorriu levemente.

— Faz tempo, eu nem cheguei a conhecê-lo. Mas, respondendo a sua pergunta — ela continuou —, alguns de nós nascem com heranças sanguíneas, que são passadas de geração em geração nas famílias. Uma das mais famosas é o byakugan, basicamente esses olhos brancos na minha cara. Antigamente pessoas das famílias fundadoras eram consideradas líderes, tanto pelo fator histórico quanto porque essas pessoas costumam ter reservas de magia e poder maiores que o normal, mas, felizmente, com o tempo isso foi diminuindo. Eu e Neji até poderíamos camuflar nossos olhos com magia, mas a gente não vê necessidade, a menos que estejamos fora do circo.

Sakura suspirou. Era uma história interessante, cheia de informações que uma hora ou outra descobriria, mas ainda não era útil para o seu problema. Tinha sido uma tentativa um pouco absurda, porém tivera esperança de que algo que Hinata e Ino lhe dissessem ajudaria a achar um jeito de vencer Neji no treinamento. Ou ao mesmo ficar em pé durante dois minutos. Precisava de uma solução caso ainda quisesse ter ossos no corpo na semana seguinte.

Já havia até tentado perguntar diretamente às duas qual o ponto fraco de Neji, se ele tinha cosquinhas ou algo assim, mas elas apenas disseram que não poderiam ajudá-la diretamente, caso contrário Asuma arranjaria um oponente ainda pior para Sakura. Não conseguia nem imaginar o que poderia ser pior do que isso, mas também não estava com vontade de descobrir.

— Então Neji é mais forte do que o normal, é isso? — Sakura bufou. — Se antes eu achava que não tinha chances de derrotá-lo, agora eu só estou mais conformada.

— Asuma deve tê-lo escolhido por isso. Sabia que seria quase impossível para você. Mas, olha, se você pensar um pouco talvez haja uma solução. Neji não está usando magia e se estivesse usando toda a força você com certeza não estaria andando, então você só precisar procurar algo em que seja superior à ele.

Sakura fez uma expressão de descrença.

— Jura? Que fácil, agora eu com certeza vou ganhar — resmungou, sarcástica, arrancando risadinhas de Ino e Hinata.

 

(...)

 

Apesar de achar a ideia boba, Sakura até tentou pensar em algo em que fosse boa o suficiente para superar Neji, mas sua melhor habilidade não passava de vergonhosa comparada à dele. Não existia um quesito sequer em que ao menos se equiparassem, pelo menos um que ela tivesse descoberto nos quinze segundos que demoraram para ele derrubá-la no chão. Até começou a se compadecer da situação dele, porque, afinal, ele estava passando suas tardes inteiras ali, jogando-a no chão várias vezes com uma facilidade que devia transformar a suposta luta em algo extremamente entendiante.

Não que pudesse distinguir alguma coisa no rosto dele, Neji normalmente já não era muito expressivo, mas, enquanto estavam treinando, era como se o rosto dele ficasse totalmente em branco e paralizado. Ele não transparecia emoção alguma, o que Sakura considerou que devia ser outro ponto em que ele era infinitamente superior, porque, em seu caso, era o completo oposto. Com certeza era fácil ler todas as suas intenções de movimento durante a luta inteira. Sakura tentou se policiar para não fazer caretas ou expressões que denunciassem o que se passava em sua mente, mas, enquanto se distraía tentando controlar isso, Neji já havia finalizado e ela já estava caída.

Sakura sabia que provavelmente seus esforços eram inúteis, mas continuou tentando manter-se inexpressiva mesmo depois de terminar o treino. Durante o dia, percebeu que várias pessoas por quem passava olhavam-na com uma expressão estranha, como se estivesse andando com um pênis desenhado na testa. Mas, depois de conferir que não era o caso, Sakura decidiu que já tinha problemas demais para se preocupar com uma besteira dessas, e continuou seu treino mental para ser uma pessoa menos expressiva. Psicologicamente era algo exaustivo, porque não podia se distrair um segundo sequer, que já voltava a fazer caras e bocas, mas era bom ter algum objetivo em mente depois de tantos dias só servindo de saco de batatas sem fazer ideia alguma de como poderia reagir.

Uma das coisas que lhe fizeram perder o foco e desmanchar seu “rosto congelado” como estava internamente chamando, foi passar na sala de Kakashi antes de ir ao trabalho, para pegar sua grade de horários. Sakura não conseguiu esconder o desagrado ao ver as novas divisões de turno, que tinham sido feitas depois de seu ingresso na equipe. De manhã Neji e Kiba era responsáveis por levar os animais para passear, exercitar os músculos e treinar. Durante a tarde, Sasuke, Itachi e Kiba se dividiam em turnos de pelo menos duas pessoas. E pela noite Neji, Sasuke, Itachi e, é claro, ela, também tinham os turnos divididos em equipes de dois. Todos tinham um dia de folga na semana. Sakura preferiria dividir todos os seus turnos com Neji e Itachi, mas infelizmente às quartas e aos sábados precisaria aturar a companhia de Sasuke.

Não reclamou verbalmente, entretanto. Kakashi sem dúvida não tinha tempo para se importar se ela estava satisfeita ou não com a grade de horários. Então se limitou a uma despedida rápida e saiu da sala dele para enfrentar mais uma noite que provavelmente seria péssima. Apenas quando já estava na entrada da tenda, Sakura se lembrou da blusa que Sasuke lhe emprestara dias antes e que tinha colocado na mochila para levar até a lavanderia. Todos os dias pensava em fazer isso, mas sempre acabava esquecendo e só percebendo que a blusa continuava suja e em sua posse quando chegava em seu quarto e a via em cima da mesinha. Por isso, daquela vez Sakura decidira colocar na bolsa, porque com certeza em algum momento abriria o zíper, veria o tecido e lembraria de que precisava lavá-la para devolver logo.

Seria uma boa oportunidade aproveitar que Sasuke e ela trabalhariam juntos naquele dia para devolver, caso contrário só teria chance novamente no sábado ou, na pior das hipóteses, teria que procurá-lo em seu tempo livre entre as aulas para isso. Se pelo menos a blusa já estivesse limpa. Não sabia se tinha coragem de entregá-la à ele tantos dias depois sem ao menos ter lavado. Sakura suspirou, indecisa entre entrar logo na tenda e deixar a blusa para depois ou levá-la até a lavanderia naquele momento e acabar se atrasando um pouco para o trabalho. Talvez Sasuke até ficasse de bom humor — o que parecia algo impossível — caso ela demorasse mais para chegar e, consequentemente, diminuísse o tempo que passariam juntos.

— O que está fazendo? Entra logo.

— Boa noite para você também — Sakura disse irônica, olhando-o por cima do ombro. Era só pensar nele que o dito cujo aparecia do além. — Você usa alguma magia de passos silenciosos? Ou de chegar de fininho para infartar suas vítimas?

— Queria uma magia de tirar pessoas da frente — ele retrucou, sendo bem sugestivo quanto ao fato de que Sakura estava no meio da porta.

— Sorte a sua que eu comecei nesse lance de poderes mágicos há pouco tempo, caso contrário com certeza já teria me livrado de você — murmurou, sabendo que era um comentário infantil e infundado. Se as pessoas pudessem se livrar tão facilmente umas das outras, tinha certeza que Sasuke já teria feito isso por ela.

— Sakura — ele aproximou o rosto do seu, olhando para baixo graças à diferença de altura, e fazendo-a involuntariamente prender a respiração — saia da frente.

Pelo visto a mísera paciência que ele tinha havia acabado. Empurrando-a levemente para o lado, ele entrou na tenda sem esperar o xingamento que Sakura estava bolando para ofendê-lo. Ainda passou algum tempo parada, procurando algo legal e arrasador para dizer e sair por cima, mas demorou tanto tempo que se soltasse algo apenas soaria ridículo. Então, desistiu e marchou para dentro, decidida a fazer logo seu trabalho e ficar o resto da noite sentada, lendo o livro que trouxera da biblioteca da cidade.

Sakura se surpreendeu em ver que a pilha de cocô estava muito menor que no dia anterior, e suspeitou de que eles tivessem deixado acumular o dia inteiro apenas para testar se ela realmente conseguiria dar conta — assim como Temari e Yahiko tinham tentado sobrecarregá-la em seus respectivos dias —, se soubesse o que lhe aguardava, não teria sido tão produtiva. Na verdade, não teria feito nada, quem sabe aí pudesse ter sido escolhida para trabalhar no carrinho de comidas ou na bilheteria. Agora, entretanto, era tarde para lamentar sua falta de perspicácia, só lhe restava lidar com as consequências e ir vivendo um dia após o outro, cultivando toda a paciência e serenidade…

Sakura sentiu o enjoo embrulhar seu estômago e tendo tempo apenas para correr até o balde mais próximo, colocou todo seu lanche da tarde para fora. Aparentemente a diminuição da quantidade de merda não havia afetado sua ânsia de vômito ao sentir o cheiro. Talvez fosse melhor que parasse de comer a refeição da tarde e deixasse para jantar alguma coisa só depois de sair do trabalho, porque seria o próprio inferno se aquilo continuasse se repetindo.

Limpou a boca com as costas da mão, sentindo seu estômago se contrair. No dia anterior, após vomitar quatro vezes, se sentira tão fraca que quase não conseguira se arrastar até o alojamento e subir todos aqueles andares, mesmo que de elevador, até seu quarto. Aquele dia não seria muito diferente pelo visto. Devia ter pensado em passar na enfermaria para pedir à Tsunade algum remédio para enjoo, mas, preocupada em descobrir uma forma de derrotar Neji, nem lhe passara pela cabeça essa ideia.

Aquilo também era um treino mental de certa forma, resistência a odores horríveis. É, Sakura acabaria se acostumando e, em breve, seria uma especialista em suportar fedores mortais. Isso seria ótimo para seu currículo de bruxa novata.

 

(...)

 

Sua prova de resistência durou menos tempo do que pensava. Duas horas depois e sem absolutamente nada no estômago após três ondas de enjoo, Sakura se sentia um cadáver ambulante. Não tinha um espelho para olhar, mas poderia apostar que estava pálida, murcha e abatida. Seu corpo estava gelado e de vez em quando seu estômago ainda se contraía como se estivesse procurando algum vestígio de comida para colocar para fora. Mas Sakura estava tranquila quanto à isso, tinha certeza que não sobrara nada, a menos que seus órgãos fossem os próximos a ser expulsos pela boca. O balde que usara em todas as emergências, estava fielmente ao seu lado, preparado para qualquer incidente, mas estava tão nojento e fedido que Sakura desejava ter forças suficientes para levantar do chão, despejar aquele conteúdo asqueroso fora e passar uma água com sabão ali. Também seria ótimo escovar os dentes.

Mas era algo impossível para sua condição física no momento. Nem sabia se conseguiria se levantar para limpar os outros dejetos animais que sobraram no cercadinho que lhes servia de banheiro.

— Que situação lamentável — resmungou para si mesma, encostando a cabeça na parede atrás de si. — Derrotada por montanhas de merda, se eu morresse agora entraria para o guiness book como morte mais fedida. — Riu do próprio comentário.

Quando abriu os olhos, percebeu um lobo de pelagem preta e olhos vermelhos, deitado alguns metros distante, encarando-a. Sakura não o tinha visto antes. Provavelmente não tinha visto nem metade dos animais ali, mas aquele chamava particularmente atenção. Mesmo deitado, dava para perceber que era grande e bonito, o pelo também parecia macio e ele parecia profundamente concentrado em observá-la. Sakura suspirou, decidindo se esforçar um pouco, pelo menos. Já fazia alguns minutos desde o último enjoo, então estava se sentindo confiante para tentar levantar. Com um pouco de dificuldade, se apoio na parede e ergueu as pernas. Parecia que cada membro do corpo pesava uma tonelada, mas ao menos não quebrou o nariz caindo de cara no chão. Deixaria sua situação ainda mais patética.

Sakura aproximou-se cautelosamente do lobo, com medo de fazer algum movimento que o incitasse à atacá-la ou até mesmo espantá-lo. Mas ele parecia bem tranquilo e despreocupado, acompanhando-a com os olhos vermelhos, como se entendesse o que ela queria fazer. Ao chegar próximo o suficiente, Sakura se apoiou no espaço entre ele e a parede, e escorregou até o chão, sentando-se como imaginava que uma idosa com osteoporose faria. Mais uma vez riu de si mesma, vendo as orelhas do lobo tremerem com o barulho e ele ajeitar o rosto sobre as patas para continuar olhando em sua direção. Era um olhar bonito e hipnótico, quase humano, e Sakura se sentiu compelida a falar com ele, assim como tinha feito com o urso branco simpático na noite anterior. Talvez a cada dia de trabalho conseguisse fazer um amigo novo, mesmo que esse amigo não pudesse conversar de volta.

— Por quê será que eles tem tantos animais aqui? São muitos e de muitas espécies — refletiu — e nenhum faz parte das apresentações. Será que a intenção era ter um zoológico aqui dentro? Por causa da cidade, você sabe. Mas seria cruel, não? Manter tantos animais aqui apenas como uma atração turística.

Sem nem perceber, Sakura enfiou a mão na pelagem macia, fazendo carinho nas costas do lobo, que soltou o ar pelo nariz, como se suspirasse.

— Eu estava pensando, será que os animais daqui também vivem mais tempo que o normal como eles? Isso talvez explicasse a quantidade de vocês, além do acasalamento, né, seu safadinho — comentou, bem humorada, por estar puxando aquele assunto com um lobo. — Você deve saber de tudo, já que está aqui há mais tempo do que eu, pena que não consigo me comunicar mentalmente com vocês igual ao troglodita do Sasuke.

Sakura jurou que o lobo tinha erguido as sobrancelhas. E considerou aquilo um incentivo para continuar.

— Tá achando que eu não sei que ele estava forçando vocês a fazerem cocô igual uma máquina de adubo? Eu nunca seria enganada por um plano tão bobo, é óbvio que eu não vou me deixar abalar por aquele cretino. — Sakura foi interrompida por um barulhinho que o lobo fez com a garganta e interpretou isso como um protesto. Machos: sempre defendendo uns aos outros. — Vocês por acaso são íntimos? Olha, recomendo que pense melhor suas amizades, porque ele não é boa companhia. E não ouse contar isso para ele, viu? Acho que ele já me odeia o suficiente sem precisar de motivos reais.

Sakura escorregou a mão pelo pescoço do lobo, subindo até fazer carinho em suas orelhas. Viu enquanto ele fechava os olhos, imerso na sensação gostosa de ser acariciado, e sorriu levemente.

— Eu preferia felinos, mas acho que você pode me fazer mudar de ideia, fofinho. Só não conta isso para o Sr. Nabo, o gato da Karin — confidenciou em um sussurro —, ele nunca me perdoaria.

 

(...)

 

Sakura continuava esquecendo de levar a blusa de Sasuke à lavanderia e estava quase desistindo de devolvê-la. Talvez fosse melhor queimá-la na lareira de seu quarto e, caso ele perguntasse pela blusa — coisa que não tinha feito até o momento, ainda bem —, poderia jogar na cara dele que a rasgou em pedacinhos e queimou, assim como queria fazer com ele. Daria tudo para ver a reação dele à algo assim. Mal o tinha visto na quarta-feira, mas os poucos momentos em sua presença tinham sido o bastante para renovar sua antipatia. Fora que Sakura estava passando mal e de estômago vazio, então naturalmente já ficaria mais irritadiça e de mau humor. A sorte fora conhecer Jacob, como tinha passado a chamar o lobo, em homenagem aos seus anos lendo e assistindo os filmes de Crepúsculo. Ele conseguia acalmá-la e distraí-la enquanto ouvia tudo que ela tinha a dizer. Era quase como ir ao terapeuta.

Então no dia seguinte Sakura fora trabalhar um pouco mais animada. Porque 1. seguia firme em seu treino de expressões e estava esperançosa de seu avanço; 2. conseguira bater seu recorde em pé na luta contra Neji e demorara exatos 43 segundos para ir ao chão; 3. lembrara de pegar um remédio para enjoo na enfermaria mais cedo; 4. seu turno daquele dia no trabalho seria com Itachi e Sasuke não estaria presente. Parecia um sonho, em sua opinião. Entretanto, não passou disso mesmo: um sonho. O remédio para enjoo não funcionou como deveria e Sakura teve mais uma noite regada à vômitos, e, apesar de não ter encontrado Sasuke, Jacob decidira se esconder dela. Talvez sua amizade pelo lobo fosse unilateral, o que partiu seu coração fragilizado. Estava sendo dramática, sabia, mas Sakura tinha mesmo gostado de ficar na companhia dele.

Quando o sábado chegou, Sakura se sentia leve como uma pena. Vomitara tanto que, mesmo comendo durante o dia para compensar, com certeza devia ter emagrecido. O pior de tudo, entretanto, era a fraqueza que sentia. Mal durara dez segundos durante o treino com Neji naquela tarde, e, à noite, sentira a visão escurecer enquanto caminhava até a tenda para o trabalho, como se fosse desmaiar. Seu estômago embrulhando só de lembrar do cheiro horroroso. Resolveu, então, dar meia volta e ir para casa, descansar. Eles teriam que perdoá-la, mas não conseguiria nem colocar as luvas, que dirá passar a noite catando merda. Sakura aproveitou para passar no quarto de Ino e perguntar se não queria companhia, já que sabia que era o dia de folga da garota, mas bastou que contasse à ela o motivo pelo qual faltaria para que Ino vestisse o casaco e a arrastasse junto consigo.

Sakura não entendeu muito bem o que estava acontecendo, até parar em frente à enfermaria, com a amiga ainda puxando pelo braço. Não entendia o porquê da pressa, afinal poderia se consultar no dia seguinte. E foi só quando Ino explicou sua teoria de que Sakura estava grávida que ela entendeu o desespero. Até riu um pouco e comentou que era impossível.

— Ah. — Ino fez uma expressão de entendimento. — Você é virgem?

— Não é isso. Só faz muito tempo, não tem como. E estou menstruando normalmente. — Sakura deu de ombros. Se pensasse que pudesse estar grávida com certeza estaria em pânico, mas estava totalmente tranquila quanto a isso.

— Bom, já que estamos aqui, não custa nada você se consultar logo.

Sakura suspirou.

— Já estou me sentindo um pouco melhor, estava pensando em ir trabalhar.

— Você pode ir, depois de Tsunade ver o que está acontecendo.

Não havia como discutir com Ino quando a garota colocava algo na cabeça, então Sakura não tentou insistir. Por sorte, não demorou muito e logo Tsunade estava examinando todo seu corpo, usando aparelhos médicos que Sakura não conhecia e até colhendo amostras de sangue. Por fim, a médica pediu que se sentasse e fechasse os olhos, Sakura obedeceu sem contestar e sentiu a palma da mão dela em sua testa. Era como se ela estivesse tentando medir sua temperatura, mas tinha certeza de que era algo muito mais complexo do que isso. Depois de minutos, Tsunade retirou a mão e encarou Sakura com firmeza.

— Já descobri. É sua magia, Sakura — disse, sem rodeios. — Apesar de as sessões com Ino estarem retirando o excesso que estava te sobrecarregando, sua magia ainda está sem controle. Normalmente nós fazemos isso de forma natural, nosso corpo automaticamente mantém tudo em ordem, mas você não desenvolveu essa capacidade por ter sido colocada em contato com tudo isso de forma muito repentina. Então a magia está sendo influenciada pelas suas emoções e desencadeando consequências físicas.

— Não sei se entendi muito bem. — Sakura franziu a testa. Pela forma como Tsunade falava não conseguia distinguir se era algo sério ou não.

— Segundo o que me disse, você está tendo crises de enjoo e vomitando no trabalho. Tem algo que você acha que pode ser a causa disso? Algo que te deixa com ânsia?

— O cheiro. É bem ruim, normalmente meu estômago embrulha quando estou, sabe, catando as fezes. — Fez uma careta.

— É isso. Você sente nojo do cheiro ruim, sua magia amplifica seus sentidos e você acaba vomitando. Vai acabar acontecendo em outras situações também. Existem seis emoções primárias, que vão ser intensificadas pela sua magia: raiva, medo, nojo, tristeza, felicidade e surpresa. Em menor proporção, você também vai ser afetada pelas outras emoções que existem, como ansiedade, desejo, interesse, tédio, e etc.

— Não tem como não sentir nada disso, é impossível. Só uma máquina para conseguir — respondeu, incrédula.

— Não é suprimir totalmente. Você só precisa evitar emoções muito fortes ou qualquer estímulo que as possam desencadear. Não se preocupe, vou te dar umas medicações que podem ajudar, mas ainda assim você precisa ter cuidado.

Infelizmente, Sakura sabia disso muito bem. Principalmente depois de quase entrar em combustão cinco dias antes, quando Sasuke conseguiu deixá-la tão irritada, que foi mais do que estímulo suficiente para seu corpo entrar em colapso. Provavelmente o melhor remédio que poderia tomar seria ficar bem longe dele, mas Sakura não estava a fim de compartilhar aquela experiência vergonhosa com Tsunade, muito menos com Ino. Então decidiu não mencionar esse fato, e apenas acenar com a cabeça, com a certeza de que teria um desafio e tanto pela frente.


Notas Finais


Itachi surgiu no capítulo passado e eu esqueci de comentar isso, meu deus, que pecado. Adoro acrescentar um monte de personagens, mas tô tentando me controlar, porque quando faço isso, acabo não desenvolvendo nada. Se tudo der certo, trago atualização amanhã.

Até o próximo!


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