História You will never gonna get that girl - Você não vai querer fazer isso

É o primeiro dia na faculdade. O dia está bonito, o campus é enorme, e Henry está fascinado. Henry tem essa facilidade em se impressionar com as pequenas coisas, seus olhos brilham como os de uma criança que acaba de ver os presentes sob a árvore na manhã de natal, totalmente alheia ao fato de que nenhum deles havia vindo de uma criatura mágica que navegava em um trenó puxado por renas. Eu apenas o acompanho, num tour meio improvisado, porque como seu melhor amigo e veterano, era o mínimo que eu podia fazer. Eu o conhecia muito bem para saber que, sozinho, ele se perderia mais do que qualquer calouro. Mas também sabia que provavelmente faria alguma amizade instantânea que o ajudaria sem pensar duas vezes. Henry é assim mesmo, talvez essa semelhança com uma criança e o dom de falar qualquer coisa que venha a cabeça como se não tivesse aquele filtro mental que os adultos desenvolvem ao longo da vida façam com que as pessoas também se encantem com ele.

— Kyu hyung, ela é totalmente meu tipo.

Eu procuro com os olhos do que ele está falando mas já estou rindo antes de saber, porque afinal não era a primeira e, com certeza, não seria a última vez que ouviria aquilo.

— Quem, afinal, não é o seu tipo, Henry?

Eu não preciso de muito tempo para encontrá-la. Os cabelos ondulados naquele lilás obviamente não natural estava preso com uma caneta, pendendo para a lateral da cabeça, e esvoaçava um pouco com o vento. Ela sorria de alguma coisa que a única outra garota do grupo que a acompanhava dizia enquanto procurava distraidamente alguma coisa nas páginas do caderno rosa. Mas poderia não haver qualquer outra garota, porque ela realmente se destacaria com facilidade dentre todas elas. Sua mochila pendia dos ombros e um dos caras que pareciam interessados demais no que ela respondia eventualmente a pegou quando quase caiu no chão, e ela lhe lançou um daqueles sorrisos que faziam os caras derreterem automaticamente enquanto agradecia, provavelmente. Eu a conhecia bem. Quem ali não a conhecia? Ryeona, último ano de Artes Cênicas. Provavelmente, a garota mais encantadora do campus. Certamente, a mais perigosa.

— Você não vai querer fazer isso, Henry.

— Por quê?

Ele parece decepcionado ao finalmente desviar o olhar dela pra mim. Mas seus olhos ainda parecem perdidos, tencionando voltar-se a ela e me ignorar por completo. E ele volta mesmo. Ele tem aquele olhar fixo que eu bem conheço. Ele não vai desistir, não importa o que eu diga, então eu nem ao menos me dou o trabalho. Se eu o conheço bem, e eu sei que o conheço, ele está nesse momento a imaginar todo um futuro surreal ao lado de Ryeona. Eu não posso culpá-lo. Ele não seria o primeiro nem o último a se perder por ela. Eu mesmo já havia me perdido por ela no semestre passado. E se eu a conhecia pelo menos um pouco, eu sabia que Henry já estaria perdido de qualquer forma. Porque Ryeona sabia quando alguém a desejava. E ela gostava disso.

E, quando aquela moto estaciona bem em frente ao grupo em que ela estava e aquele cara de cabelos pretos desce, trocando a feição séria demais que sempre tinha ao esperá-la por ali por um sorriso meio embasbacado, como só ela conseguia tirar de qualquer um ao abraçá-lo entusiasticamente, eu olho para Henry novamente. Ele está tão desapontado que eu nem me importo em dizer qualquer coisa como eu te avisei. Porque eu não precisaria, ele mesmo descobriria que Ryeona tinha esse namorado mais velho há tanto tempo e que ela jamais o deixaria. Ele mesmo descobriria que não tinha chances com ela, porque ninguém tinha.

Mas ela sobe na moto e antes de pôr o capacete, ela percebe seu olhar. E ela sorri pra ele daquele jeito e pisca uma vez. E eu vejo a esperança se reacender em Henry daquele jeito que já vi acontecendo com tantos caras ali. Como aconteceu comigo.

Ninguém teria chances com Ryeona, ela jamais deixaria aquele namorado.

Mas ela não tinha problema algum em se divertir um pouco.

Henry estava mesmo perdido.