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História Youkai - Capítulo XXII


Escrita por: Psycho-sama

Notas do Autor


Heyo babies!!! Venho aqui com a maior cara de pau dizer q esse capítulo é pra divosa da ~Izakatrynne q tá de aniver hj!!!

Hey, Hey, Heeey!!! Feliz aniversário de novo! Espero que vc coma muito sem passar mal, babe!!!! kkkkkkk' E que ainda venham muitos momentos felizes pra vc ^^

Bem, boa leitura!!!

Editado: 18/06/2022

Capítulo 22 - Capítulo XXII


 

 

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Capítulo XXII

Problemas de Família

ϾϿ

"Oh garota, nós somos iguais. Nós somos jovens e perdidos e tão assustados...

Não há cura para a dor. Não há abrigo para a chuva.

Todas as nossas preces parecem falhar[...]"

———— In Joy And Sorrow, HIM

. . .

 

Sengoku Jidai

1467 ———— 1573

.

Sentiu-se uma completa tola, outra vez.

Sabia que estava perdida como quem sabe que um mais um é igual a dois. Mas uma parte sua, a mais orgulhosa, lhe dizia que bastava seguir em frente e tudo ficaria bem.

Bem uma ova.

Já andava em frente há horas. Miroku dissera que ela devia manter o sol à sua esquerda, até chegar ao vilarejo. O problema foi que em algum momento se distraiu com as árvores e com o som da floresta, que esquecera esse pequeno detalhe, dando-se por si apenas quando o sol estava à suas costas. Tentara fazer o que o houshi a dissera, mas andava naquele jeito desde então.

Estava perdida. Indubitavelmente perdida.

E agora sentia que ia começar a anoitecer, e seu senso de direção seria nulo. Já era parco com a luz do sol, imagina sem ela.

Empurrou algumas moitas de perto, e seguiu adiante. Sentiu quando o galho feriu sua coxa, resmungando baixo e tropeçando para fora do amontoado de folhas.

———— Está perdida? ———— Sustou seus passos e o xingamento entalou na garganta, para olhar em volta.

Agradecia que os amontoados de arbustos tenha acabado, dando lugar à árvores altas e uma visão ampla do chão coberto de folhas secas e já amareladas. Mesmo assim, não vira quem lhe dirigira a palavra, franzindo o cenho ao pensar que estava imaginando coisas.

Suspirou, dando alguns passos adiante.

———— Costuma ignorar os outros assim?

Quando um corpo pousou à sua frente, o grito fora estrangulado na garganta pela surpresa da aparição. Recuou, com a mão sobre o peito e a boca escancarada.

———— Mas o- de onde você veio?

O homem endireitou-se, mostrando os trinta centímetros de diferença entre eles. Olhos heterocromáticos a fitaram com indiferença. Um tom amarelado e verde ao mesmo tempo. As pupilas afiladas a lembravam um réptil de arrepiar.

Respirou fundo, lembrando-se de piscar.

Eram olhos incríveis. Confessava.

Quando ele apontou para cima, seus olhos seguiram a direção, vendo que um galho de árvore estava logo sobre sua cabeça. O que explicaria por que ela não o vira.

“Idiota... Olhar para cima também é bom!”

Assentiu, voltando-se para ele.

Cabelos longos e azulados brilhavam mesmo com a parca luz que entrava pelas frestas das árvores. Um rosto fino e de traços marcantes, mas delicados demais para um homem. Um corpo sem muitos músculos e esbelto, trajando uma simples yukata florida em tom claro realçava a beleza daquele homem.

Ou seria youkai?

Ele poderia ser um modelo em sua época, e seria extremamente popular.

———— Então, está perdida?

———— S-Sim... ———— Sorriu, sem jeito. ———— Sou péssima me orientando na floresta.

———— Para onde vai? ———— A voz era calma e rouca, um barítono deveras sedutor.

———— Uma vila... Ahm... Mais para o sul, acredito. Sou péssima nisso também.

———— Você parece ser péssima em muitas coisas. ———— E como se constatar aquilo fosse absurdamente normal, seguiu andando em frente, enquanto Kagome o olhava de forma confusa.

———— Ei! Quem é você para dizer isso de mim?

Ele parou, olhando-a sobre o ombro.

———— Sou Sakurai Ryuuji! ———— Ela fez careta. ———— Vou tirar você daqui, vamos!

E voltou a andar.

Kagome ainda permaneceu na inércia, sem saber se confiava em um youkai qualquer que aparecia à sua frente, ou se arriscava ficar a noite inteira ali, com grandes probabilidades de ser devorada por um youkai pior do que aquele.

Em pior dos casos, seguiu-o, correndo.

———— O que fazia aqui, Sakurai-san?

———— Ryuuji está bom.

———— Ryuuji-san! ———— Ele pareceu suspirar, cruzando os braços.

———— Estava descansando... Fugindo... Procurando... Não necessariamente nessa ordem.

 ———— Você fazia muitas coisas apenas deitado em um galho de árvore. ———— O youkai a olhou de forma irritadiça, deixando o brilho em seus olhos ainda mais bonito.

Kagome não sentiu medo algum. Ou fosse idiota, ou ele era fascinante demais.

———— Eu estava fugindo primeiro, depois resolvi procurar por alguém, e como não o achei, pensei em descansar. Feliz?

Ela riu, concordando.

———— Procurava por quem?

Ele ergueu o queixo, parecendo pensar em algo sério.

———— Você não deve conhecê-lo, sendo humana. ———— Olhou-a, de repente, parecendo escrutinador. Ela se encolheu, corando. ———— Mesmo que você carregue um cheiro parecido com o dele.

———— Eh?

Virou a face outra vez, em silêncio.

———— Me diz o nome dele. Não pode deduzir que eu não conheça alguém sem me falar o no-

———— Sesshoumaru! ———— Ela congelou, arregalando os olhos.

Quando Ryuuji notou sua reação, imitou-a, olhando para a garota perdida com sobrancelhas arqueadas.

———— Você o conhe-

———— Você também? ———— Exaltou-se, rindo. ———— Devo estar com o cheiro parecido com o dele, pois ando com o otouto dele... InuYasha.

———— Hum... E de onde você o conhece?

Kagome estranhou aquele tom. Parecia urgente, como se a intimasse a responder.

———— Ele tentou me matar...

Ryuuji riu, uma gargalhada tão infantil e doce, que Kagome corou outra vez, sorrindo sem perceber.

———— Acho que é normal encontra-lo assim, então. ———— Voltou a andar, parecendo mais leve. ———— É mais fácil encontrar pessoas que o conheçam, do que encontrar o dito cujo.

———— E porque estaria procurando por Sesshoumaru? ———— Seguiu-o de novo, mais interessada naquele ser que surgira à sua frente cheio de segredos e mistérios. ———— Não acho que seja difícil encontrá-lo, você apenas não sabe onde procurar.

———— Eu quero viver com ele... ———— Kagome franziu o cenho, olhando-o mais atentamente. ———— Ele me salvou há algumas décadas... Mesmo que eu saiba que foi por simplesmente ter me encontrado naquela situação por acaso, e não por pura bondade de seu coração. ———— Deu de ombros ———— Eu estava em seu caminho, e ele o queria livre para passar.

A miko não soube como interpretar aquilo.

———— O que quer dizer? Você quer... Servir ao Sesshoumaru?

———— Hum. ———— Concordou, calmamente. ———— Com aquela expressão taciturna... Aqueles olhos de ouro derretido, me fulminando como se eu fosse um verme até mesmo indigno de receber a sola de seus sapatos...

Ela fez careta, rindo nervosamente diante os olhos brilhantes e o sorriso leso dele.

———— Quanta idolatria.

———— Não é idolatria. ———— Virou-se para ela. Seus olhos brilhavam em duas chamas voluptuosas. ———— Eu o amo!

Kagome precisou de alguns segundos para processar o que estava ouvindo, antes de cobrir a boca com a mão, para não rir.

———— Eu falo sério!

———— Eu não duvido!

————Tsk... Nunca viu dois homens se amarem como um homem e uma mulher? Por acaso desaprecia a id-

———— Espera! ———— Ela agarrou seu braço, olhando-o com íris azuis chocadas. ———— Você ama... Ama o Sesshoumaru?

———— Que tipo de amor achou que eu estava falando?

Kagome cambaleou para trás. Sua face assumiu uma inexpressividade comovente.

“Ai meu deus!”

———— Ele me salvou... E eu devo minha vida a ele. Tenho de acha-lo e dizê-lo isso!

“Ai... MEU DEUS!! Esse cara vai ser assassinado pelo Sesshoumaru!”

E voltou a andar, deixando a miko em estado catatônico para trás.

———— Vamos mulher, não temos o dia todo! Essa floresta é perigosa... E o único motivo de estar ajudando-a, é por que sei que você vai me levar até ele.

———— Espera, Ryuuji-san! Não acho que isso seja uma boa ideia!

Ele a olhou sobre o ombro, com asco.

———— Não preciso da sua opinião. Apenas preciso das informações que tem para me oferecer.

———— Ei! Não me use dessa forma! ———— Correu para perto dele outra vez, nervosa. ———— O que pretende fazer depois de contar isso a ele?

Ryuuji riu, parecendo tão sombrio e malicioso que Kagome teve medo da resposta, por alguns segundos.

———— Deixá-lo me foder, claro!

Ela se engasgou com o ar, em uma crise de tosse preocupante. O youkai não pareceu afetado, olhando-a com tédio.

———— Mi-Minha nossa... Eu não sei se estou ouvindo direito ou estou alucinando... Talvez eu tenha trombado com alguns cogumelos venenosos...

Espalmou a mão no rosto, tentando acompanhar a situação.

———— Continue andando. Vou contar-lhe a minha história!

———— Eu não quero saber!

———— Eu não perguntei se você quer saber! Vamos... Mulher lerda!

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Tóquio

07:12

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Sentia-se como presa em uma daquelas máquinas de carne colocadas em frente de churrascarias e afins, que ficam girando e exibindo pedaços suculentos de peito de galinha, para quem passasse na rua, e principalmente para cães sem dono famintos.

Era vergonhoso, humilhante, e o pior de tudo, irritante. Queria que seu punho alcançasse o rosto daquele homem e o deixasse com um nariz quebrado.

Ele dera três voltas ao redor de si, parando à sua frente com uma mão abaixo do queixo e olhando-a de cima a baixo. Aquele sorriso malicioso pouco ajudando para que ela mantivesse a calma.

———— Já terminou a avaliação? ———— Indagou com asco, vendo-o soltar o ar pelo nariz. Os cabelos presos em um rabo de cavalo com a franja caída em frente ao rosto o deixando com um ar mais despojado e leve.

Tinha que admitir, para a idade, ele era bem bonito.

———— Já!

Ela suspirou, estreitando a vista.

———— E então?

———— Você precisa emagrecer!

———— O quê? ———— Surtou, e ele deu um passo atrás, sem parecer acuado, apenas cauteloso. Sorriu ladeiro, parecendo tão sem vergonha nenhuma, que era inegável os laços sanguíneos com Miroku.

———— Não disse que está gorda, mas você precisa perder um pouco de carne. ———— Apontou para suas pernas. ———— Você tem coxas grossas, um quadril largo, e seios fartos!

———— Ah? ———— Cobriu-se, corando dos pés à cabeça. ———— E-E qual o problema, seu per-pervertido?

Rokujou riu, inclinando a cabeça.

———— Isso pode dificultar na hora de se mover com agilidade. Quanto menos tiver no caminho, melhor. Talvez uns três ou quatro quilos seja o suficiente para você. ———— Crispou os lábios, parecendo consternado agora. ———— Acredite, ‘pra mim você está perfeita desse jeito, mas como o garoto está me pagando para treiná-la, preciso de você capaz o suficiente. Você compreende o que digo certo?

———— Não! Nem quero! ———— Virou o rosto, grunhindo. Olhou as próprias pernas. ———— Qual o problema com as minhas coxas, afinal?

———— Elas são grossas demais. ———— Olhou-o de forma ameaçadora. ———— São fortes, e boas para dar chutes provavelmente, mas não vai ter um jogo de pés rápidos por causa disso. E para alguém baixa como você, a velocidade é sua melhor arma.

“Oh... Consigo entender melhor quando ele fala desse jeito, e não como um pervertido.”

———— Certo... ———— Descobriu-se. ———— Não tenho tempo para fazer academia.

———— Sem problema. Diminua a quantidade de comida que ingere durante as refeições, e faça intervalos maiores entre uma e outra. Evite coisas gordurosas e bebidas alcoólicas. Principalmente doces e bebidas gaseificadas. Tome mais suplementos e coma mais frutas... Não esqueça do álcool!

———— Acha que eu bebo com frequência? Só por que eu moro aqui não quer dizer que sou influenciada por esses alcoólicos. ———— Ele riu, assentindo.

———— Tudo bem, criança, entendi. ———— Ergueu as mãos em frente ao corpo. ———— Agora me responda... O que você sabe sobre defesa pessoal?

Kagome se calou, arqueando as duas sobrancelhas e parecendo uma criança inocente. Rokujou suspirou, alisando o rosto de cima a baixo.

Ela virou o rosto inconformada com a reação dele — aparentemente ele achava que todos devessem nascer sabendo lutar —, não vendo quando ele deu um passo à frente.

———— Vamos começar com seu controle da energia espiritual, então. Me dê sua mão! ———— Kagome estendeu a palma, vendo-a ser envolvida pelas duas mãos dele. ———— Agora, libere um pouco de sua energia.

Ela assentiu, concentrando-se e sentindo um leve espasmo na mão. Rokujou franziu o cenho, olhando-a.

———— Eu disse pouco.

———— Desculpa! ———— Riu amarelo, fechando os olhos e focando-se melhor. O espasmo foi maior dessa vez, e ela ouviu um estalo dos lábios de Rokujou.

———— Menos!

———— Ahn, certo! ———— Prendeu a respiração, sentindo sua testa doer de tanto que a franzia, e logo o espasmo fez sua mão tremer. O Okumura praticamente lançou sua mão, resmungando alguma coisa consigo mesmo.

———— Esqueça. Seu controle espiritual é uma bosta! Sorte que eu não sou afetado por isso, ou teria virado cinzas. ———— Kagome riu, mesmo que a expressão dele tenha se tornado carrancuda.

Podia ver que a personalidade dele mudava conforme a aula ia se aprofundando.

Com Rokujou apenas, podia deduzir coisas sobre ele mais facilmente do que quando toda a mansão estava em volta. Ele era simpático e pervertido, um pouco atrevido e sem filtro entre o cérebro e a boca, como uma criança malcriada que não sabe que está sendo malcriada. Mas como professor, ele era rigoroso, frio e cruel. Podia entender por que alguns gostavam dele e outros não. Dependia de qual lado dele você tinha dado as caras.

———— O que é estranho, uma vez que a Shikon no Tama deveria estar drenando sua energia... ———— Kagome ergueu os olhos, mirando o homem à sua frente com desconfiança.

———— Como sabe disso?

Ele a olhou. Os azuis brilharam de forma divertida, enquanto ele estocava as mãos nos bolsos da calça preta.

———— O garoto me contou. ———— Deu de ombros, despreocupado. Quando então algo pareceu transpassar seus olhos, e um sorriso sinistro lhe repuxou os lábios carnudos. Kagome sentiu-se ameaçada e desafiada ao mesmo tempo, estreitando a vista. ———— Será que não confia em mim? É daquela parte da mansão que não gosta de mim graças ao idiota que chamo de filho?

Kagome crispou os lábios, erguendo o queixo.

———— Não sou de nenhum lado. Mas se fosse para escolher você, ou Misao, sem saber da história... É óbvio que eu fico com Misao. ———— Rokujou riu, assentindo.

———— Entendo... É compreensível, claro! Mas vejamos se vai continuar a pensar assim quando souber a verdade. ———— Ela estreitou os olhos, não gostando do rumo daquilo. ———— Eu poderia simplesmente lhe contar aqui, e todas as suas dúvidas sobre aquele moleque se dissolveriam. Não seria mais simples? ———— Rokujou era como uma cobra traiçoeira que troca de pele a bel prazer.

Ela não gostava daquela parte duas caras dele.

———— Não quero saber! ———— Cobriu os ouvidos com as mãos.

Quando sentiu uma extrema dor em seu estômago, e algo subir por sua garganta, ela notou que havia levado um soco. Curvou-se sobre o corpo, cuspindo saliva e caindo de joelhos, com falta de ar.

———— Nunca baixe a guarda diante o inimigo. ———— Ela resmungou alguma coisa, tocando o chão com a testa. ———— Ainda estamos em treinamento, certo?

Respirou fundo, tentando se pôr de pé com as pernas bambas. Limpou o queixo, olhando o homem parado à sua frente com asco. Não deixaria seu orgulho de lado para reclamar feito criança.

Era uma lição, afinal de contas.

———— Certo... ———— Se colocou em posição de luta, erguendo um braço e pondo uma perna em frente à outra. Rokujou analisou seus movimentos com perspicácia, assentindo quando ela terminou.

———— Você tem uma boa posição. Com quem aprendeu?

———— Um amigo da faculdade. ———— Miguel e Ian gostavam de ensinar a ela e Megan o que aprendiam nas aulas de qual que seja o tipo de luta que faziam. Megan tinha pouca paciência, por isso logo acabava brava, cansada ou no chão, mas Kagome sempre se divertira e tinha bons olhos para imitar as posições.

Não que fosse boa no resto também. Apenas durava poucos segundos a mais que Megan.

———— Vamos ver o que mais ele a ensinou? ———— Kagome abriu a boca para dizer que não havia necessidade, quando o punho do homem estava diante de seus olhos. Arregalou a vista, dando um passo atrás por puro reflexo, e cambaleando. Caiu sentada em um estrondo alto, quicando de mal jeito.

Rokujou riu, olhando-a de cima.

———— Pelo visto não foi muito, certo? ———— Kagome trincou o maxilar, olhando-o lentamente.

———— É claro que não!

———— Ei! ———— Um grito repentino assustou a morena, fazendo-a erguer a vista para as arquibancadas que rodeavam o ginásio onde estavam. Misao desceu as escadas com pressa, aproximando-se deles com uma aura nem um pouco amigável. Kagome postou-se de pé, sabendo o que viria a seguir. ———— Como ousa encostar nela dessa forma?

Rapidamente a miko ficou entre um e outro, erguendo os braços em frente ao corpo e impedindo Misao de se aproximar demais do pai. Rokujou fungou ironicamente, encarando o filho com desafio, mesmo por cima da garota.

———— Ele mal encostou em mim, Misao. Eu caí sozinha!

———— Ouça a garota, menino! ———— O outro deu um passo à frente, e Kagome teve de tocá-lo para impedi-lo de continuar.

———— Ela é uma garota! Você deveria ensiná-la a se defender antes de querer sair no soco com ela.

———— Esse não é meu trabalho; é o do vira-lata! Estou aqui para trabalhar com o poder espiritual dela.

———— Então. Faça. Isso! ———— Rokujou riu outra vez, girando nos calcanhares e pegando seu blazer que havia deixado em algum lugar no chão.

———— Por que está tão irritado? Estava apenas testando-a. ———— Virou-se, olhando tanto para o monge quanto para a miko. Um sorriso rasgando seu rosto e abrindo os braços. ———— Só queria ver se ela valia a pena, ou se seria apenas perda de tempo do Chibitarou(26) e minha. Se ela não consegue nem mesmo desviar de um soco sem cair, talvez ela não tenha nascido para ser uma guerreira.

Kagome baixou os olhos, sentindo-se de repente pior do que merda. Ouviu Misao ainda gritar com o homem enquanto ele saía do lugar, fechando a porta em um estrondo que ecoou por todo o ginásio.

Quando o silêncio caiu, Kagome suspirou, sentando-se em forma de lótus e massageando as têmporas.

———— Não se preocupe, Hime-san, com um pouco de treino com o Sui você logo vai chutar a bunda daquele velho metido. ———— Misao tentou confortá-la, olhando-a com um sorriso.

———— Não estou preocupada comigo. ———— Ergueu os olhos, apoiando um cotovelo na perna e o rosto no punho. ———— Eu sei que você também pode derrotá-lo. Apenas não teve a motivação certa.

Ele franziu o cenho.

———— Como assim? ———— Kagome sorriu, fazendo sinal para ele se sentar à sua frente. Quando o homem o fez, ela pegou suas mãos.

———— Ele é seu pai acima de tudo, e o instinto natural dos filhos, é proteger aqueles que lhe geraram. Por mais cruel que eles tenham sido, um filho de verdade nunca consegue erguer a mão para eles sem se arrepender depois. ———— Misao pareceu consternado, desviando os olhos. ———— O dia que Rokujou lhe der o motivo certo para lutar, ele não vai ser páreo para você. ———— Riu, bagunçando os cabelos dele e o ouvindo ralhar consigo. ———— Você parece uma criança com esse beiço! Me lembra o Miroku-sama!

O moreno arregalou os olhos, olhando para a miko com uma calma e um carinho enormes. Sorriu com ela, assentindo.

———— Acho que isso é bom.

———— Isso é ótimo! Fazia tempo que não me sentia assim... É como estar com todos outra vez. ———— Deu de ombros, segurando-se para não deixar lágrimas aparecerem.

———— Você sente muita a falta deles? ———— Concordou, juntando as mãos em frente ao corpo.

———— Acho que se eu tivesse tido a oportunidade de me despedir, não seria assim tão doloroso.

Misao viu como um brilho melancólico tomou conta dela, e ele logo suspirou. Não sabia se ficava feliz por ela ter se sentido daquela forma depois de tantos anos, ou triste por tê-la feito se lembrar de coisas dolorosas.

———— Gostaria que fôssemos próximos o bastante para contarmos nossos segredos um para o outro. ———— Misao estranhou a fala dela, olhando-a com o cenho franzido. ———— Gostaria de poder te ajudar, seja qual for seu problema.

———— Eu-

A porta fora aberta outra vez em um estrondo, assustando os dois. Ambos giraram o rosto para a entrada, vendo Usui passar por ela com uma aura carregada logo atrás de si. A miko sentiu um arrepio, enquanto Misao se colocava de pé em um salto.

———— O que foi, Usui? ———— O moreno caminhava até eles a passos pesados e rápidos, atenuando a impressão de que alguém roubou seu doce.

———— Vim treinar com você, claro! O que mais estaria fazendo aqui?

Ela tombou a cabeça, se pondo de pé.

———— Como sabia que era o que eu queria? Já estava indo te chamar.

Ele bufou, cruzando os braços sobre o peito.

———— Aquele maldito Rokujou me falou... Aquele filho da mãe... Quem ele pensa que é ‘pra falar comigo daquele jeito? Da próxima vez vou arrancar as vísceras dele com os dentes.

Kagome suspirou, trocando um breve olhar com Misao.

Era certo... Usui com aquele temperamento ia acabar a matando sem querer.

 

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11:25

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Desligou o chuveiro, puxando a toalha sobre o box e enrolou-a no corpo.

Sentia todos seus ossos rangerem e estalarem conforme andava. Suas coxas estavam roxas de tantos chutes que recebera, seus braços doloridos por ter defendido tantos socos que vinham de todos os lados, e nem mencionaria sua bunda e costas. Caíra tantas vezes que perdera a conta depois da 33ª vez. Sabia agora que treinar com Usui de mau humor, era a mesma coisa que pedir para ser trucidada sem piedade.

Aquele kitsune era o próprio diabo, só podia.

———— Logo no meu dia de folga... ———— Resmungou baixo, secando-se e logo enrolando a toalha nos cabelos. Colocou o vestido floral e de ombros caídos, secando os fios negros em seguida com o secador, cansada demais para deixá-lo molhado.

Pendurou a toalha de novo, e deixou o banheiro, assustando-se quando viu alguém sentado na sua cama, lendo um dos livros que deixava na cabeceira. Quando Shippou ergueu o rosto para ela, viu-o sorrir carinhosamente, fechando o livro e largando-o onde pegou, para em seguida bater no colchão ao seu lado.

Kagome suspirou, sentindo-se tão cansada que nem pensou duas vezes ao se jogar na cama e abraçar a barriga do kitsune, fechando os olhos.

———— Shippou-chan! ———— Choramingou, tendo sua cabeça alisada.

———— Usui pegou pesado, né? ———— Ela concordou, quase chorando. Ouviu-o rir. ———— Sinto muito, mas Usui é o único que me pareceu capaz de treiná-la adequadamente. Isao não levaria a sério, Hiroshi muito menos.

———— Por que não um humano? ———— Olhou-o, confusa.

O ruivo suspirou, apoiando-se melhor na cabeceira antes de afrouxar a gravata azul.

———— Bem... Você deveria se acostumar a lutar com youkais. Assim, se você enfrentar um humano, não será tão difícil, certo? ———— Riu, olhando-a. Fazia sentido. ———— E sua ameaça no momento é sobrenatural.

Ela entendeu, afundando a cabeça na almofada ao lado. Shippou tirou o blazer, em seguida a gravata e desabotoou o início da camisa, deitando-se também ao lado dela. Kagome riu, aproximando-se dele e usando seu braço como apoio.

———— Você não tem trabalho para fazer?

———— Deixei com Kaoru e Akane.

———— Seu preguiçoso! ———— Cutucou-lhe a costela, ouvindo-o rir.

———— Eu fiz isso ‘pra ficar com você e é assim que me agradece? ———— Ele a cutucou também, e ela riu, protegendo-se.

———— Hehehe... Ne, ne... Me lembrei de uma coisa, mais cedo! ———— Shippou a olhou, ainda sorrindo.

———— O que foi?

———— Você encontrou algo de útil nas coisas do Sesshoumaru? ———— O ruivo se calou, parecendo pensar o que responder. Ela lhe cutucou. ———— Não ouse mentir ‘pra mim! Nem esconder coisas!

O Senhor do Sul riu, alisando a parte dolorida.

———— Não encontrei nada de útil. Sesshoumaru apenas comprou algumas armas dele, e depois as revendeu para outro líder de Clãs.

Kagome se ergueu, apoiando-se em um dos cotovelos.

———— E isso... É correto?

———— Sim, desde que o vendedor saiba disso. Sesshoumaru não é do tipo que compra de alguém e vende para o inimigo dele. ———— Riu, olhando o teto. ———— Ele joga limpo, e sempre vence... E é por isso que eu odeio ele.

Kagome riu, logo franzindo o cenho.

———— É um pouco estranho ver você defendendo o Sesshoumaru assim e depois dizendo que o odeia. ———— Shippou congelou, arqueando as sobrancelhas e a virando o rosto. ———— Aconteceu alguma coisa?

Shippou riu em seguida, apoiando a cabeça sobre os dois braços cruzados, olhando-a com aquele rosto de raposa travessa. Estreitou os olhos.

———— Nada com que você precise se preocupar agora! ———— Retirou uma das mãos debaixo da cabeça e puxou-a para seu peito. ———— Agora vamos dormir um pouco.

———— São onze horas, Shippou!

———— Quem liga? Se você não pudesse dormir a essa hora estaria reclamando. ———— Ela concordou, ajeitando-se melhor.

———— Me convenceu! ———— Ele riu, abraçando-a em seguida. ———— Não me importo que você tenha segredos, Shippou-chan! ———— Ela disse de repente, fazendo-o congelar no lugar. A miko não se moveu, sorrindo de olhos fechados, ela permitiu que ele absorvesse a informação antes de continuar. ———— Eu confio em você, e sempre vou confiar. Por mais suspeitas que suas atitudes sejam. Então não precisa se preocupar... Eu não vou exigir que você me conte tudo.

Ele sorriu, beijando o topo da cabeça dela e enfiando o nariz nos cabelos negros. Kagome riu, sentindo cócegas.

———— Obrigado... Eu prometo que na hora certa você vai saber de tudo.

 

. . .

 

17:46

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Ela remexeu-se na cama de forma desconfortável.

Sentindo falta do calor ao redor dos braços de Shippou, virou-se para onde sabia que ele estaria, abraçando-o no processo. Enfiou o nariz entre a cama e o Kitsune, estranhando quando sentira um cheiro diferente do perfume adocicado do Senhor do Sul.

Era muito mais discreto do que ela se lembrava.

Franziu o cenho, abrindo os olhos e se deparando com Isao.

Afastou-se um pouco, vendo-o mexer no próprio celular, provavelmente jogando em algum dos aplicativos. Olhou em volta, esfregando os olhos.

———— Achei que tivesse deitado com outro Kitsune. Mas vocês são todos parecidos. ———— Brincou, séria.

———— Senhor S teve que sair para uma reunião de emergência. Ele disse que sua mãe ligou e pediu que você vá visitá-la.

Ela fez careta, sentando-se.

———— Aposto que foi Leah quem disse. ———— Bufou, bocejando em seguida, olhando para o ruivo. ———— O que faz aqui?

———— Eu vim dormir com você, qual o problema? ———— Ele a encarou, arqueando as sobrancelhas. Kagome sentiu-se intimidada, como se devesse obrigatoriamente dar a resposta certa.

Sorriu, alisando o braço dele.

———— Okey, dokey! ———— Ele riu, balançando a cabeça e voltando-se para o jogo. ———— Está entediado?

———— Por que está perguntando?

———— Você costuma infernizar os outros quando está entediado! ———— Isao ergueu os olhos, olhando-a de rabo-de-olho. Ela riu, batendo em seu ombro e quase o fazendo derrubar o celular. ———— Não me olha assim, não estou reclamando.

———— Talvez eu esteja. ———— Admitiu, escurecendo a tela do celular e jogando-o na cama, vendo-o quicar até parar perto dos pés dela. Recostou-se mais na cama, deitando. ———— Se estivesse em alguns séculos atrás, eu teria algo para fazer.

Ela curvou-se sobre ele, começando a alisar as madeixas ruivas e macias. Revoltou-se internamente pelo cabelo dele ser mais macio que o seu.

———— Ah é? Na época que você estava com os Nogitsunes? ———— Ele concordou, fechando os olhos e apreciando o cafuné. ———— Quer falar sobre isso?

———— Você quer ouvir?

———— Eu perguntei primeiro. ———— Ela riu, vendo-o se virar e abraçar suas coxas, ainda de olhos fechados.

———— Hum... Vamos ver... A primeira coisa que eu me lembro daquela época, de quando eu era criança, foi de acordar em uma casa velha, no meio de uma floresta. Eu devia ter dois ou três anos quando fui encontrando por Ōmori Hidetaka. ———— Ele suspirou, parecendo recordar-se de algo. ———— Sujeito irritante que fazia jus ao significado do nome.

Kagome sorriu.

Hidetaka significava “próspero”, “responsável” ou “excelente”. Não entendeu porque alguém assim seria considerado irritante.

———— Por mais que eu me recusasse a ir com ele, aquele cara não largou do meu pé. ———— Isao abriu os olhos, mirando a parede. ———— Eu não confiava em ninguém naquela altura. Acordei sozinho, sem me recordar do que tinha acontecido com meus pais, e comigo... Eu nem mesmo sabia meu próprio nome... ———— Bufou, parecendo irritado. ———— E aquele esquisito aparece querendo me levar para o Clã dele. Nem da mesma espécie de kitsunes éramos, mas para ele não fazia diferença.

———— Espera... Isao não é seu nome, então?

O ruivo ficou em silêncio, quando olhou-a de canto. Riu.

———— Por que a surpresa?

———— Bem... Se descobríssemos qual era seu nome, seria difícil nos acostumar.

———— Eu estou satisfeito com Isao.

———— O que significa? Foi Hidetaka-san que escolheu? ———— O homem confirmou.

———— Significa “corajoso”, “homem de méritos”. ———— Ela riu.

———— Esse cara devia ser bom interpretando os outros. Se bem que você é mais “atrevido” do que “corajoso”. Devia se chamar Namaikina-kun! ———— Gargalhou em seguida, enquanto Isao a olhava com enfezo. ———— Ou então Zūzūshī! Não, não! Errei! Esse não combina... Está mais pra nome de cachorros!

———— Você está testando minha paciência? ———— A miko abanou a mão em frente do corpo, segurando o riso e as lágrimas.

———— Desculpa, desculpa... Pode continuar.

Ele se sentou, puxando seu celular.

———— Perdi a vontade! ———— Pôs-se de pé num salto. Kagome arregalou os olhos, agarrando-o antes que ele se afastasse demais da cama.

———— Nãããão!! Eu quero saber mais sobre você! ———— Olhou-o sobre o ombro, vendo o ruivo mirá-la com irritação. ———— Já que começou, você tem que terminar! Eu vou levar a sério!

———— Não é uma história interessante, Kagome. ———— Ela soltou-o, vendo o kitsune se voltar para si. ———— É só sobre minha época de violência e matança. Não tem nada ‘pra saber.

———— Eu quero ouvir... Sinto que não conheço ninguém dessa mansão além do Shippou. Todos guardam segredos, e mesmo que eu não me importe, eu gostaria de saber sobre seus passados. ———— Cruzou os braços, de beiço. ———— É tão injusto vocês saberem o meu!

Isao rolou os aquamarine, empurrando a testa dela e a vendo cair sentada no colchão.

Ele subiu outra vez, vendo-a rir e se deitar ao lado dele, abraçando-o e o usando como travesseiro.

———— Continua! Como você acabou cedendo ao Hidetaka-san?

Isao suspirou, apoiando a cabeça em cima do braço direito, enquanto o esquerdo era usado como brinquedo pela miko.

———— Eu era arisco, mas ainda era uma criança! ———— Deu de ombros. ———— Depois de alguns meses da persistência dele, acabei me comovendo e aceitei a proposta. Estava sozinho, e parte minha tinha medo do meu passado. De alguma forma, Hidetaka sempre me deixou confortável.

———— E você se habituou ao Clã?

Ele riu.

———— Claro que não. As outras crianças eram bem cruéis. Faziam jus à fama de Kitsunes más que os Nogitsune carregam! Levei anos até me acostumar e começar a retribuir na mesma moeda. ———— Fez silêncio, lembrando-se de alguns momentos e apuros que passara por conta daquilo. ———— Foi na mesma época que eu conheci Bunko e os gêmeos Cho e Chun! ———— Rolou os olhos. ———— Eu realmente não sei qual dos três era mais infantil... Não, espera... Sem dúvida era o Bunko!

———— Eles tinham a mesma idade que você?

———— Hum... Um pouco mais velhos! Foram eles que me ensinaram a lutar e me defender. Depois comecei a me meter em todos os tipos de confusão pela vila, e logo ganhei fama, e os garotos pararam de mexer comigo. ———— Ela riu, concordando. ———— Foi na minha... Adolescência que eu conheci o filho do Senhor do Leste. Kane!

Ela o olhou, séria agora. O semblante na face de Isao era assustador.

———— O que ele fez?

———— Ele desafiou Bunko para uma luta, dizendo que aquele que perdesse, podia fazer o que quisesse com o outro. ———— Suspirou. ———— Nos encontramos por acaso na floresta, entre os limites do nosso território e o deles. Mas aquele filho da mãe insistia em dizer que invadimos o território dos Ookamis sem permissão, e por isso, deveríamos aceitar as consequências. Como Bunko era o mais velho e mais forte, fora o escolhido.

Kagome girou na cama, virando-se para ele e começando a brincar com a pulseira escura que ele tinha no pulso, sem tirar os olhos de seu rosto.

———— Infelizmente Kane era mais velho do que todos lá, mais forte e mais experiente. Estávamos cercados por nove Ookamis, com exceção dele. Por mais que quiséssemos fazer alguma coisa, não poderíamos. Então apenas ficamos lá assistindo enquanto ele trucidava nosso irmão.

Ela arregalou os olhos, congelando no lugar. Sua garganta secou, e seu corpo tremeu ao notar como a voz dele endureceu.

———— Ele ainda... ———— Riu, como se não acreditasse no que diria. ———— Ele ainda ostentou por meses a cabeça de Bunko nos limites de ambos os territórios, como um aviso ‘pra nós e para qualquer outro kitsune de que Ookamis são melhores e superiores!

———— Isao... ———— Ergueu-se, tendo a atenção dele brevemente.

Kagome alisou seu rosto, vendo os aquamarine amenizarem a ira quando ela beijou sua testa.

———— Desculpa te fazer falar disso!

———— Tudo bem. ———— Ele puxou-a pela cintura, obrigando a miko a deitar sobre seu peito. ———— Isso não é uma ferida aberta... Mas meu ódio por aquele Ookami nunca vai sumir. Não ligo se o pai dele é seu amigo e do Senhor S... Se eu tiver a oportunidade, eu vou arrancar a cabeça dele com os dentes. ———— Sorriu, alisando o rosto da miko como se dissesse-a a coisa mais romântica do mundo. ———— E eu sou paciente!

Kagome não soube se sorria ou falava para ele se conter. Sabia que aquele tipo de coisa marcaria qualquer um. Um tipo de morte assim, um tipo de ferida assim, você carregava para a vida inteira. Não adiantaria tentar colocar juízo na cabeça do kitsune, ele seguiria em frente com ainda mais determinação.

Por isso apenas suspirou, tombando a cabeça sobre o peito dele.

———— Espero não estar aqui para ver isso!

Ele riu, alisando a cabeça dela.

———— Você não precisa escolher um lado! Eu entendo. ———— Ela o encarou, os azuis brilhando. ———— Você só tem que ficar fora disso. ———— Sorriu.

———— Tch! ———— Ergueu-se, furiosa. ———— Não fala comigo assim, maldito!

Isao riu, sentando-se e de repente empurrando os ombros dela contra o colchão, ficando sobre o corpo da mulher. Ele aproximou-se o bastante para que as pontas dos narizes quase se tocassem, sem tirar os olhos dos dela.

———— Agora que abri meu coração ‘pra você, mereço uma recompensa, certo?

———— De onde tirou isso? ———— Ela riu, sentindo-o prender seus pulsos e manter seus braços ao longo do corpo.

Maldição!

———— É a lei da troca equivalente! O que vai me oferecer agora?

———— Você realmente foi corrompido em algum momento da sua vida, homem!

 

. . .

 

19:03

.

Adentrou a casa, tirando as botas na entrada e logo seguindo adiante quando ouviu vozes exaltadas na sala.

Ao passar pelo portal, deparou-se com Souta e Yoon Ji Hoo sentados no sofá jogando Mortal Kombat em uma animação comovente. Riu, parando mais próxima deles.

———— SOUTA!

———— NÃO FUI EU! ———— O garoto pulou no lugar, encolhendo-se para o lado do amigo e derrubando o controle. Ji Hoo gargalhou alto, pausando o jogo antes que desse algum problema.

Kagome riu junto, vendo o menor se endireitar e olhar para ela com olhos assustados, em seguida, furiosos.

———— Nee-chan! ———— Agarrou uma almofada, jogando nela e a vendo defender com o braço.

———— Oi, querido! Sentiu minha falta? ———— Ele mostrou o dedo para ela, fazendo Kagome achar que o irmão era rebelde demais para um nipônico. Deu de ombros, olhando para o falso grisalho ao lado. ———— É bom te ver de novo, Ji Hoo!

———— É bom te ver de novo também, Kagome-san! ———— Ele fez uma breve mesura, antes que Souta o empurrasse para que continuasse jogando. Ela rolou os azuis pela falta de educação do caçula.

———— Kagome? ———— Ergueu o rosto, vendo a mãe passar pelo portal da cozinha e sorrir para ela. Caminhou até a matriarca, a abraçando. ———— Que bom te ver, filha!

———— Aonde foi a mendiga? ———— Kara riu, afastando-se da primogênita e lhe dispensando um tapa leve no ombro.

———— Não fale assim da Leah-chan!

———— Leah-chan? Ela não é mais criança, mama!

———— Ela sempre será uma criança para mim, assim como você e o Souta! ———— Kagome riu.

———— Souta É uma criança, mãe! ———— O garoto girou o rosto para as duas, furioso ao ver a irmã lhe dignar o olhar e ainda mostrar a língua infantilmente.

———— Quem é a criança aqui? ———— Ele arremessou outra almofada, errando já que a mãe puxou a mais velha em direção da cozinha.

———— Então, por que me ligou? ———— Perguntou ao adentrar o cômodo, sentindo o cheiro de carne entrar em suas narinas e fazer sua barriga roncar. A presença de Ana, sentada à mesa a ler algo no celular, fora completamente ignorada.

———— Eu não liguei, querida! ———— A miko ergueu os olhos, mirando a mãe com escrutínio. Kara não pareceu incomodada, voltando a cuidar das panelas.

———— Eu liguei! ———— Ana dissera, chamando a atenção da sobrinha. Olhou para a mais nova com raiva, apontando para seu peito. ———— Você devia visitar sua mãe mais frequentemente.

———— Ãnh?

———— “Ãnh” nada, sua idiota! ———— Lhe deu um tapa na cabeça, ouvindo Kagome rosnar, irritada. ———— Depois ela morre e você vai ficar se remoendo aí em culpa.

———— Que papo ruim é esse? ———— Olhou para a mãe, que as ignorava também, e depois voltou-se para a loira. ———— Voltou a beber?

———— Não.

———— Está cheirando cocaína de novo?

———— Não.

———— Crack?

———— Já disse que não! ———— Tentou lhe dar um tapa, mas Kagome desviou, rindo em seguida.

———— Enfim, Kagome? ———— A miko girou o rosto para a mãe, arqueando as sobrancelhas. A mulher não a olhava entretanto. ———— Quem era aquele rapaz ruivo com você no enterro do seu avô?

Kagome congelou como se tivesse sido atingida por algo. Ana ao seu lado a olhou de cenho franzido, logo em seguida erguendo o celular em frente ao rosto e rindo diante a reação da menor. “Tão inocente!”

———— Ahn... Shippou?

———— Eu sei o nome desse seu amigo, Kagome. ———— Ela virou-se, rindo, e Kagome corou, desviando os olhos. ———— Estou falando do mais alto e bonitão. ———— Piscou um olho, apenas para ter o prazer de ver a menor envergonhada. ———— Ele é seu namorado?

———— NÃO! ———— As duas mulheres estranharam a explosão, logo se entreolhando e rindo. ———— É sério! ———— Bateu no braço da tia, ouvindo-a resmungar em meio aos risos. ———— Ele é só... Um amigo.

———— Um amigo não te abraçaria daquela forma. ———— Ana alfinetou. ———— Sem mencionar que nenhuma mulher em plena flor da idade conseguiria ser amiga de um Deus Grego como aquele lindinho. Não vou nem falar daquele albino gostoso que apareceu depois... Aliás, como você conhece tantos gatos lindos, Kagome? ‘Tá fazendo macumba, é? É algum culto religioso que esses jovens inventam hoje em dia?

Olhou para ela com irritação.

———— Nem todas as garotas do mundo são ninfomaníacas como você, sua maluca! ———— A loira deu de ombros. ———— E eu não sou satanista!

———— Pode dizer ‘pra nós, Kagome. Sua mãe não se importa.

———— Tch!

———— Traga-o aqui um dia desses, filha. ———— Kagome se voltou para a mãe rapidamente e alarmada. As bochechas esquentando de novo ao ver aquele sorriso no rosto da matriarca. ———— Eu adoraria conversar apropriadamente com meu genro.

———— ELE NÃO É MEU NAMORADO!

As duas riram alto, quando a voz de Souta reverberou pelo cômodo:

———— COMO SE ALGUÉM FOSSE LOUCO DE NAMORAR A NEE-CHAN!

Kagome estreitou a vista, se erguendo da cadeira sem pensar duas vezes e caminhando até o irmão. Quando Souta ouviu seus passos, olhou para trás e saltou do sofá ao notar a aura maquiavélica que sobrevoava a mais velha. Gargalhou, aprontando-se para correr quando de repente a morena saltava o sofá e pulava nele, ambos caindo no chão abaixo de risadas de Ji Hoo.

———— Seu pivete mal educado! ———— Sentou-se sobre ele, segurando seus braços com as pernas e distribuindo tapas leves em seu rosto. ———— Repita o que disse se tiver coragem, miserável! Vou te ensinar a ter consideração pelos mais velhos!

Quando a porta se abriu outra vez, as atenções de Kagome se desfizeram do menor para o visitante. Piscou quando viu Leah passar pelo portal, carregando sacolas de compras com nomes de lojas famosas. Principalmente pelos preços absurdos de suas roupas.

Parecia radiante demais para alguém que deveria estar tentando cortar os pulsos no banheiro.

———— Onee-sama!! ———— Kagome se assustou ao ouvir o irmão chamar a outra com tamanha animação que seria comovente, se não trágico. Não havia gostado nada daquilo.

———— "Onee-sama" minha bunda! É parasita-san, se quiser! ———— Apontou para Leah, afastando-se do menor.

Souta a olhou com o cenho franzido, logo endireitando-se também.

———— Você é tão agourenta, nee-chan!

A morena abriu a boca, ultrajada e com as mãos em garras estava pronta para estrangular o menor quando de repente braços estavam em volta de seus ombros. Olhou rapidamente para o responsável, achando que fosse Leah tentando uma aproximação forçada, como seria esperado dela, mas surpreendeu-se ao ver Ji Hoo ao invés. Ele sorriu, oferecendo-lhe o joystick.

———— Joga comigo, Kagome-san?

A morena arqueou as sobrancelhas, olhando para Souta e vendo-o quase bufar ao se erguer e correr até o lado de Leah, agarrando-a.

———— A onee-sama vai jogar comigo.

———— Com você? Mas eu nem sei o que vamos jogar. ———— Kagome sentiu-se desafiada, enlaçando a cintura de Ji Hoo e sorrindo para ele.

———— Vamos jogar Mortal Kombat e vamos estraçalhar eles, Ji Hoo!

———— Sim, senhora!

O grisalho sentiu-se contagiado, rindo voltou a se sentar no sofá, ao lado de Kagome. Souta empurrou Leah e ficou entre a irmã e a loira, sabendo que as duas não se davam bem e querendo evitar mais brigas do que ele presumia que já fossem ocorrer.

A primeira dupla fora Ji Hoo contra Souta, e fora vergonhoso como o castanho perdera as duas partidas. Queria fazer uma melhor que três para ver se tinha chance, mas mesmo assim perdeu cinco vezes. Quando Kagome fora contra Leah, os uivos de Souta sobre ser “injusto” eram bem altos. Claro que a irmã respondeu dizendo que os perdedores não tinham opção de opinar e que deviam ir para o fundo da sala, deixando os experientes na frente.

Óbvio que a futura briga idiota que rolaria ali em questão de segundos fora barrada quando Kara passou pelo portal da cozinha, chamando as “crianças” para comerem. Kagome não estava com fome realmente, mas sabia que sua mãe odiava uma desfeita, ainda mais quando se tratava da comida que ela cozinhava. Era como dizer para um padre que ele não precisava rezar em voz alta e esperar os outros o imitarem, pois todos já sabiam fazê-lo sozinhos.

Como de praxe, Ana tomou a outra ponta da mesa que um dia fora ocupada por seu avô. Claro que a miko não gostou da ousadia, mas vendo que sua mãe e seu irmão já pareciam indiferentes a isso, sentou-se ao lado de Souta e de frente para Leah e Ji Hoo. O grisalho que parecia, devo ressaltar, um peixe fora d’água em Marte.

Kagome apiedou-se dele rindo de leve.

———— Itadakimasu! ———— A voz exaltada sobressaltou a miko logo de início, vendo Ana, Leah e Souta atacarem a comida de sua mãe como se nunca tivessem visto nada parecido antes. Deixou-os servirem, olhando para o amigo de seu irmão.

———— Isso é maravilhoso! ———— Ele disse, erguendo os olhos para Kagome como se já tivesse notado-a o olhando. Coisa que não seria difícil de perceber, claro. Seu sorriso alastrou-se, e a miko sentiu como era ser tragada para uma sensação de leveza e gratificação inconscientes.

———— O que?

Ele riu.

———— É como estar em família outra vez. ———— Quando o silêncio reinou, todas as atenções eram daquele garoto à mesa. Kagome arregalou os olhos, surpresa pela sinceridade e tristeza que sentia em sua voz e via em seu sorriso. Seu coração se tornou pequeno ao imaginar-se na mesma situação que ele, e logo tornou a afastar o pensamento depressivo.

Não tinha por que pensar naquilo quando sua família estava ali, ao seu lado.

Uma fungada alta a fez girar o rosto para a mãe, vendo-a cobrir os lábios com a mão em um choro que mostrava logo tornar-se compulsivo. Sobressaltou-se, estranhando a atitude.

———— Mama?

———— Isso foi tão lindo! ———— Ela praticamente se debruçou sobre a mesa para pegar nas mãos do adolescente, vendo-o parecer confuso em aceitar o toque. ———— Você pode se sentir em casa aqui, Ji Hoo-san!! Você vai ser bem acolhido e muito amado, viu?

Kagome fez careta, ouvindo a tia rir e Leah secar lágrimas nos cantos dos olhos. Suspirou.

———— O que é isso, kaa-san? ———— Souta indagou calmamente, levando um pouco de comida aos lábios.

———— Estou ovulando, ok? ———— Olhou de forma irritada para o menor, assustando a todos e fazendo-o derrubar a comida.

———— Você já não deveria estar na menopausa?

———— Souta! ———— Kagome o cutucou, olhando-o. ———— Quem está na menopausa é a tia! ———— Apontou com a cabeça discretamente, como se ela não a tivesse ouvido do começo, e como se falasse um segredo.

———— Ela não deveria estar na menopausa a uns... Sei lá, vinte anos?

Kagome gargalhou alto, abraçando o irmão e gritando um “esse é meu garoto!” enquanto bagunçava seus cabelos.

———— Ei pirralho, o que quer dizer com isso? Eihn?

 

. . .

 

22:14

.

Kagome suspirou, vendo como Leah e Souta estavam em uma animação conjunta ao ver aquele filme, que a deixava desconfortável. Não queria aquela garota se aproximando de seu irmão. Era irritante.

Estava obviamente com ciúmes, mas quem não ficaria? Fazia anos que ela não tinha aquela mesma camaradagem com o menor e então Leah simplesmente chega e vai roubando seu lugar? Até mesmo seu quarto? Não podia acreditar ainda que a mãe dera seu quarto para ela, alegando que como Kagome não morava mais ali, ele estava sobrando.

Não é como se ela fosse viver para sempre com Shippou, era apenas algo temporário até tudo se resolver de vez, e ela poder retornar para o conforto de sua casa. Só queria ter a certeza de não estar colocando a família em perigo, não é como se tivesse ido embora.

Mas sua mãe colocara de um jeito que até a deixou cabisbaixa.

Chegou a um nível de irritação que cogitou preferir a tia em seu quarto, do que Leah.

Checou a hora no celular outra vez, vendo que já passava das dez e constatando que deveria voltar. Olhou de novo para a tia roncando no sofá, e depois para Yoon Ji Hoo sentado no chão com algumas almofadas, e sorriu para ele quando o garoto a mirou, curioso. Pôs-se de pé em seguida, indo em direção das escadas para procurar pela mãe. Sabia que ela se retirava para o quarto logo cedo depois jantavam, mas não dormia logo. Bateu na porta e como esperado teve passe para entrar.

Assim que abriu a porta, viu a mãe sentada na cama, já de pijamas e coberta até a cintura a ler um livro calmamente. Ela ergueu os olhos por trás do óculos, e sorriu para a filha, fechando o livro e largando-o sobre o criado mudo. Bateu a mão ao seu lado vazio, e logo a filha se jogava na cama, rindo quando a mão alisou sua cabeça como se fosse criança.

———— Eu já estou indo, vim me despedir! ———— Kara sorriu, assentindo.

———— Não se esqueça de vir mais vezes.

———— Não ‘tá deixando aquela velha te encher a cabeça com coisas estranhas, está? ———— Apoiou-se nos cotovelos, olhando a mãe com desconfiança. A matriarca abanou a mão em frente do corpo, rindo.

———— Claro que não. Mas é a obrigação dos filhos procurarem os pais, certo? ———— Kagome fez bico, concordando.

———— Desculpe ter sumido... Eu só... Não quero envolvê-la nisso tudo. Ainda mais com a tia por aqui. E agora Leah também. ———— Desviou os olhos. ———— Antes na Era feudal era mais fácil, pois eu sabia que vocês estavam seguros bem longe de mim e de confusão... Mesmo quando eu vinha ‘pra casa, tinha medo de atrair um youkai dessa época graças aos fragmentos da jóia...

———— Está tudo bem querida! ———— A mãe a abraçou, e Kagome sentiu-se quente e acolhida como nunca antes. Sorriu. ———— Eu entendo seus motivos, mas não quero que se preocupe com nada além de você!

———— Fácil falar. Não é como se eu fosse mesmo fazer isso, mama! ———— Kara gargalhou, alisando a cabeça da menor e se afastando.

De repente a expressão dela se tornou taciturna, e um suspiro escapou de seus lábios. Kagome a olhou com o cenho franzido, vendo a mãe alisar a testa e fechar os olhos como se cansada demais para qualquer outra coisa. Sentou-se, olhando para ela agora com preocupação.

———— Algum problema, mama? Dor de cabeça?

———— Sim... Não, bem... Eu tenho algo para lhe contar, mas não sei por onde começar. ———— Kagome se arrepiou, vendo a mãe tirar o óculos e mirá-la com seriedade. As íris negras brilhando em hesitação, como se pedisse algo à menor que a miko sabia não poder dar em troca.

———— Você pode dizer o que quiser, mama! Eu estou aqui. ———— Pegou as mãos dela, vendo-as tremerem, sentindo-as frias, mesmo que um pouco suadas. Engoliu em seco.

———— Você se lembra do seu pai?

A morena piscou três vezes, inclinando a cabeça.

———— Hum... Aim. Levemente, na verdade. Me lembro de ele brincar comigo, e ser muito gentil com a senhora... Me lembro de ele ler histórias ‘pra mim, e ás vezes me carregar nos ombros. De me dar doces escondido de você... Ou como fazia tudo que eu pedia. ———— Kara sorriu. ———— Me lembro de como você ficou sem chão quando ele simplesmente pegou suas coisas e foi embora. ———— E seu sorriso morreu. ———— De como chorei por dias pedindo que ele voltasse, e o vovô brigando comigo para deixar aquele homem em paz e agradecer que ele tinha ido embora... Eu nunca entendi por que ele foi, até hoje... Quando paro ‘pra pensar. ———— Olhou para a mãe com confusão. ———— Éramos felizes, não? Ou eu estava apenas sendo ignorante como uma criança?

———— Filha... ———— Kara alisou seu rosto outra vez, em busca das palavras certas. ———— Bem... Na verdade... Nós decidimos nos separar.

———— Quer dizer que ele não nos abandonou? ———— Kara negou.

———— Ele nos abandonou, pois dissera que se nos separássemos, ele nunca mais nos veria novamente. ———— Kagome suspirou, olhando as mãos dadas com as da mãe.

———— O que tem? ———— Ergueu os azuis. ———— O que tem o pai?

———— É... Bem... ———— Respirou fundo, pensando em algo brevemente antes de continuar. ———— Ele não é seu pai de verdade, Kagome!

Os olhos dela foram se arregalando lentamente conforme ia processando a informação. Sua respiração trancou involuntariamente, e sua boca se abriu sem produzir um único som. As mãos escaparam, caindo sobre o cobertor.

———— C-Como? Qu... Quem é meu pai... Então?

Kara riu sem jeito, desviando os olhos.

———— Ele foi alguém que encontrei na minha adolescência... O meu primeiro amor de verdade. ———— Kagome sentiu seus ombros caírem, enquanto se arriava no lugar.

———— O que aconteceu com ele? Como o pa-papai entra nessa história?

Kara suspirou outra vez, olhando a filha com condescendência.

———— Kagome, conheci seu pai verdadeiro quando tinha quinze anos. Nós ficamos juntos por poucos meses... Mas ele me contou que não poderia ficar para sempre. Não tínhamos um futuro juntos. Eu sempre soube disso. Mas quando ele partiu, e eu descobri que estava grávida... Foi como ficar suspensa sobre uma corda bamba a mil pés de altura. Seu pai, Keishin, foi meu amigo de infância e sempre fora apaixonado por mim. Quando ele soube que eu estava grávida, e que o pai da criança não ficaria comigo, ele pediu para tomar seu lugar. Eu estava tão assustada e destroçada, que eu aceitei. ———— Kagome engoliu em seco, respirando finalmente. ———— Contamos a meu pai que estávamos namorando escondido, e que eu havia engravidado por descuido. Keishin queria minha mão em casamento e poder assumir a criança. Claro que papai não gostou, éramos jovens e isso significava abdicar do meu futuro por uma criança, mas ele sabia que eu não abandonaria aquele bebê. Por isso permitiu...

———— Papai... Me criou mesmo sabendo que eu não era dele? ———— Kara assentiu, sorrindo ao ver os olhos da filha se avermelharem. ———— Eu sempre tive uma ideia tão ruim dele depois que ele partiu, mama...

———— Ele nos deu motivos, querida! ———— Alisou suas madeixas de forma reconfortante, abraçando-a. ———— Mas quero que saiba que seu pai biológico não sabia que eu estava grávida quando partiu. Eu sei que não, pois se ele soubesse, ele não teria ido embora. Ele realmente me amava.

———— Pai Keishin também te amava e foi embora! ———— Afastaram-se, mágoa nos olhos de Kagome.

———— Ele estava magoado, Kagome! Eu fiquei com ele na esperança de conseguir amá-lo como homem. Tive um filho com ele e uma linda família com vocês três... Mas eu não pude jamais, esquecer seu pai. E isso o magoou e feriu além do irreparável.

———— Qual era o nome do meu pai?

Kara suspirou.

———— Yuuma Yukio...

———— Parece nome de mulher, mama! ———— Foi sincera, recebendo um tapa estalado no braço.

———— Kagome!

———— Mas parece! ———— Ambas ficaram se olhando, quando caíram na risada. ———— Por que não me contou isso antes, mama?

———— Bem... Primeiro de tudo, tinha medo que fosse me odiar. Segundo, tinha medo que fosse odiar um de seus pais... Ou os dois. E terceiro... Não achei que fosse o momento certo. Quando estava cogitando a ideia, seus amigos youkais voltaram a aparecer e você ficou ocupada demais, e eu não queria lhe dar mais dor de cabeça... Mas agora vi que você merecia saber.

Ela concordou calmamente.

———— Ele realmente foi embora sem saber que você estava grávida?

Kagome pensava que podia lidar com um abandono, mas não dois. Seria cruel e desumano.

Se perguntava como sua mãe conseguia.

———— Sim... ———— Sorriu, quando de repente olhou para baixo, parecendo em dúvida.

———— O quê?

Kara a olhou, depois abanou a mão em frente ao corpo.

———— Nada não, só... Só um sonho estranho que tive no dia que você nasceu.

———— Sonho estranho?

Concordou.

———— Achei ter visto seu pai no nosso quarto... Na beira do seu berço. ———— Kagome arregalou os olhos, ouvindo a mãe rir. ———— Mas é claro que não era possível que ele estivesse lá!

Concordou, suspirando outra vez.

———— Obrigada por ser sincera comigo, mama! ———— Voltou a abraçá-la, ouvindo a mãe sorrir.

———— É direito seu saber disso, Kagome. Eu errei em demorar tanto para te contar.

———— Está tudo bem, sério! ———— Afastou-se, mantendo as mãos sobre seus ombros. ———— Você teve seus motivos... Eu só fico pensando no que você passou sozinha. No medo que sentiu...

———— Filha! ———— Alisou seu rosto, ignorando as lágrimas dela que se acumulavam nos olhos, para que não chorasse também. ———— Você foi o maior presente que eu poderia ter ganhado! ———— Kagome riu, fechando os olhos e finalmente derramando as lágrimas grossas. Kara a abraçou, chorando também. ———— Eu não me arrependo um segundo de ter engravidado... E mesmo que fosse deixada sozinha, eu a teria, eu a criaria... Quando segurei você pela primeira vez, foi como... Foi como finalmente poder voar, querida. Eu me sentia tão feliz, tão recompensada ao ver seus olhinhos azuis brilhando e ter você segurando meu dedo com tanta força... ———— Kagome fungou forte, sem conseguir conter o choro. ———— Você é meu maior presente... Eu amo você, querida!

E Kagome sentiu como era ter a força de cem homens.

———— Amo você... E obrigada. Por não ter desistido de mim.

 


Notas Finais


http://lesslya.deviantart.com/art/Fire-in-our-eyes-and-ice-106687590 - olhos Ryuuji <3

(26) Chibitarou significa fracote.


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