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História Young Gods - Kate Marsh - Safe and Sound


Escrita por: BeyondTheSea e SpiderMax

Notas do Autor


desculpa a demora e o quase hiatos, foi tipo um bloqueio criativo misturado com o início das aulas
MAS eu nunca vou desistir dessa fic

Capítulo 7 - Kate Marsh - Safe and Sound


Fanfic / Fanfiction Young Gods - Kate Marsh - Safe and Sound

Ela calçou as sapatilhas envernizadas e prendeu o cabelo em um coque. Levantando-se, abotoou a única camisa de botões preta que tinha no armário, escondendo o tronco esquelético, e logo depois cobrindo a peça de roupa com um blazer. Kate estava pronta. Não quis passar maquiagem alguma que não as naturais e tristes olheiras. Ironicamente, o céu estava azul e a manhã fodidamente quente para sair completamente de preto. Parecia a ressaca após uma noite de tempestade. Ela se olhou no espelho, mas ao invés de conferir o visual, perguntou-se à seu espectro de outra dimensão o que havia sido feito da própria vida desde que ela entrara na adolescência. Nada, propriamente dito. E tudo, também.

Sua irmã do meio apareceu na porta do quarto que ela ocupava na casa de sua tia, suavemente, como se estivesse pisando em porcelana chinesa para chegar onde Kate estava. Ela usava um vestido preto. Kate via à si mesma nos olhos e na tristeza da irmã, e lembrou da caçula. Graças ao bom Deus ela tinha deixado de morar com as duas há quatro anos, ficando assim imune às violências do pai das três. Agora que ele se foi, as irmãs Marsh voltarão a ficarem juntas.

- Katie? — A menor chamou. Havia curiosidade e melancolia em sua voz, mas ela não sabia dizer ao certo se estava triste o suficiente pelo falecimento de seu pai.

Bom, agora elas não tinham mais nenhum de seus pais. Era ensinado na igreja que se deve honrá-los e respeitá-los assim como Jesus fizera com os seus, e Kate se sentia mal porque estranhamente estava um pouco aliviada de não sofrer mais abuso nenhum de seu pai ou surra de sua mãe. A última, por sua vez, havia deixado-a há quatro anos, vítima de câncer. Diziam que ela estava com Deus, mas Kate duvidava.

Ela própria fizera coisas que se arrependia, como beber e experimentar maconha com seus amigos, entretanto não se sentia totalmente errada, uma vez que seus amigos eram a única família que ela conhecia.

- Kate...? — Sua irmã tornou a chamar. Ela desviou os olhos do espelho, afobada, e olhou para a irmã pela segunda vez.

- Sim? Desculpe.

- A tia Anne já está no carro. — Ela entortou os lábios para a direita. — Eu posso descer com você, se quiser.

Não era uma má ideia. A loira assentiu, andando até a irmã, pegando sua mão, e ainda oferecendo-lhe um sorriso casto. Elas desceram as escadas escuras e amplas de mogno. As sapatilhas das duas nos degraus eram o único som que ecoava pela casa. A porta da frente estava aberta, e o cachorro de sua tia brincava com um osso no jardim, alheio ao clima de luto da família.

Sua tia Anne era quase tão idosa quanto sua falecida avó no dia que partira. Ela tinha feições amigáveis e o rosto enrugadinho, e um coração enorme. Kate queria ter sido sua filha. Ela esperava no volante de seu Ford de mil novecentos e sessenta, seu carro de confiança desde jovem e se recusava a trocar por um dos modelos modernos dos anos noventa.

Kate entrou e acenou com a cabeça para a tia e sua prima mais velha, que sentava no banco da frente. Sua irmãzinha caçula também estava no carro, e segurou imediatamente sua mão assim que ela se ajeitou em seu lugar. Segurar as mãos era um jeito das irmãs Marsh dizerem uma para a outra que estavam unidas.

Kate observava os estabelecimentos e paisagens com a cabeça no ombro de sua irmã do meio, mas ainda segurando a mão da caçula, Lynn. Um dia tão bonito para algo tão horrível, que ela tentava não lembrar, ou desabaria.

Victoria Chase atirou em seu pai. Com uma arma. Fora para protegê-las, claro, mas ela não esperava vê-lo morto. Na verdade, ela não sabia se Victoria estava bem. Sua cabeça havia sangrado muito no dia anterior e Kate sequer sabia se ela estava viva, e aquilo havia tirado seu sono.

O cemitério estava cheio de pessoas. Todas Kate já havia visto em algum momento de sua vida. Às vezes mal se lembrava de alguém, mas sabia que conhecia. Kate não estava tão melancólica quanto deveria estar. As pessoas olhavam para ela ressabiada, sem dirigir uma única palavra. Eles sabiam. Todos sabiam que ele fora morto porque estivera abusando das filhas. Só estavam lá por simples etiqueta. Ninguém gostava do Sr. Marsh.

O caixão era coberto, e o padre já estava no fim da missa quando chegaram. Ele dizia que Jesus perdoava nossos pecados em vida. Sua tia e suas irmãs prestavam bastante atenção. Kate acreditava – muito – em Jesus, mas não entendia como alguém como seu pai poderia fazer tamanha atrocidade e ser perdoado. Ele não estragou apenas sua virgindade, mas também suas emoções, sua vontade de viver e até mesmo de se alimentar. Ela queria ser feia e fazer com que ele não a desejasse mais, mas nada adiantava. Sr. Marsh apenas reclamava de não ter “onde pegar”.

Kate arrepiou-se ao sentir uma mão em seu ombro. Era Max, com um sorriso triste e confortador, que a puxou pela mão para um abraço. Céus, era tudo que Kate precisava. Ela quase entrou na jaqueta larga de Max ao que apertou-se contra seu corpo. Finalmente pôde chorar. Não por seu pai. Que Deus a perdoasse, mas ele não merecia nenhuma de suas lágrimas. Max era uma amiga tão boa... Ela acariciava as costas da loira como uma mãe atenciosa.

- Sinto muito pelo que aconteceu com você. — E nem Max referiu-se a seu pai.

- Eu vou ficar bem. — Se afastou brevemente para limpar algumas lágrimas, e depois voltou a abraçar a garota. — Victoria esteve lá por mim. E eu nem sei se ela vai... S-sobreviver, Max...

Ela soluçou só de pensar no fato de perder Victoria. Seu choro se transformou em pranto. Kate havia evitado tanto pensar nisso, e agora estava em sua cabeça constantemente.

- Ela vai ficar bem. Hey, estamos aqui por você. Warren também veio. — Ela se virou para revelar o garoto atrás de si, com as mãos para trás e o rosto distraído. Kate cumprimentou-o com a cabeça e ele respondeu. Kate adorava Warren. — Kate. — Max chamou. — Huh, o Warren vai nos levar pro hospital logo depois, okay? Vamos ver a Vic.

Kate assentiu. Ela queria muito ver como Victoria estava, nunca ia se perdoar se algo pior do que aquilo acontecesse com ela. Ela deveria ter aceitado o abuso, e não ligado para Victoria. Kate se sentia estúpida.

Comprimiu os lábios, abraçando Max de volta, que soltou um breve “oh” antes de envolvê-la de novo.

______

Victoria estava com uma faixa apertada na testa, com sangue manchando-a em um ponto e sugando água no canudo de um copo que a enfermeira segurava. Mas o mais importante de tudo, ela estava viva. Estava respirando. Ela finalmente fizera algo de prestativo em sua vida, ela salvou alguém. Alguém não, Kate Marsh. Mesmo que isso significasse acabar com a vida de um desgraçado como o pai da garota. Não, ela não se arrependia. Preferia garanti-lo com a morte do que arriscar um tiro nas pernas e arriscar-se tentando mandá-lo para a cadeia. O sistema de polícia de Arcadia Bay era um lixo, e bastaram míseros vinte minutos de interrogatório com o xerife e a irmã do meio de Kate para ele dá-la como inocente. Oras, claro que Victoria era inocente. Ela salvara uma de suas melhores amigas.

E agora, Kate estava parada na porta do seu quarto da unidade hospitalar de Arcadia Bay. Escorada no batente como se fosse cair, sorrindo sem conter as lágrimas. Max e Warren estavam logo atrás, sorrindo minimamente. Eles sabiam que aquilo era importante para Kate. Sem esperar mais, correu para abraçar Victoria, que a abrigou em seus braços como Max fizera. Engraçado era como em um dia que era para ser um dos piores de sua vida, Kate se sentira extremamente feliz. Se sentia amada. Mesmo Warren, que não sabia muito bem como se comportar diante de uma situação tão delicada fazia Kate se sentir acolhida.

- Eu tô tão... tão... tão feliz por você estar bem. — Murmurava, com o rosto pressionado no ombro de Victoria.

- O importante é você. — Victoria piscou, cutucando, brincalhona, o rosto de Kate. — Onde estão Rachel e Chloe?

- Huh... — Warren se aproximou, hesitante. — Chloe chega daqui a pouco, ela tá na oficina ainda. A Rachel tá a caminho. Eu não sei como isso vai funcionar... — Warren coçou a nuca, embaraçado.

Victoria riu da situação. Rachel e Chloe teriam que se aguentar alguns minutos, porque ela faria questão das duas. Talvez também fosse hora para Victoria conversar com Chloe e ajudá-la a entender Rachel. Talvez assim elas reatassem, e mesmo que não, Victoria não queria uma rixa entre o grupo. Nunca foi para ser assim.

- Olá, punks. — Chloe abriu a porta, como se soubesse que haviam acabado de falar dela. Victoria virou a cabeça para encontrar Chloe entrando como se estivesse invadindo uma balada hardcore. Kate se virou para ela e acenou. Max sempre tinha reações atrasadas quando se tratava de Chloe, mas era compreensível. Afinal, era Chloe Price. Sua camisa xadrez estava rasgada nas beiradas, mas ela parecia saber disso.

- E aí. — O ato de sorrir fez sua cabeça doer um pouco, mas ela não se importava.

Quase como se tivessem chegado juntas, Rachel abriu a porta teatralmente. Ignorando o grupo à sua volta, correu até Victoria e juntou os lábios de ambas. A reação alheia foi um pouco desconfortável pelo fato de Chloe estar presente. Warren levantou uma sobrancelha, Max mordeu o lábio e Kate era quase um ponto de exclamação personificado. Agora Chloe parecia furiosa.

- Você tá fodendo a Victoria e o Trevor? — Exclamou. Victoria abriu a boca, mas acabou soltando um risinho ao invés de palavras confortantes.

Rachel trouxe o corpo para fora da inclinação sob a cama e virou-se para ela, como se não estivesse acreditando no que a garota estava prestes a começar.

 - Chloe, estamos na droga de um hospital! — Disse, mas sem elevar o tom.

- E também estávamos na droga de um namoro até você começar a transar com tipo... todos os meus amigos? — Aproximou-se.

O clima estava tenso demais para alguém se atrever a falar algo. Até meio a rainha da inconveniência, Victoria, se manteve calada. Quando o silêncio começou a incomodar, finalmente algo foi dito.

- Chloe, olha, há gente só tá tendo... huh... isso há duas semanas. Eu não faria isso com você. — A voz fraca de Victoria ressoou, e todos os olhos presente passaram a encará-la.

Até Warren – que depois da fuga de Nathan parecia mais deslocado que o normal – se pronunciou.

- Chloe, olha, vamos deixar isso para trás, ok? A gente tá aqui pela Vic.. toria. — Max sorriu com as palavras do amigo.

Chloe olhou para os lados, inspirou e exalou uma vez. Meteu as mãos nos bolsos e olhou a hora na parede. Por fim, se aproximou de Victoria e fez o típico bro fist.

- Beleza. — Sussurrou.

- Ótimo. — Disse Rachel, mas instantaneamente se arrependeu quando sentiu o olhar de Chloe cair sobre ela.

Kate, que parecia estar em uma toca, quase escondida totalmente atrás de Max, teve a coragem de dizer algo.

- É muito importante vocês estarem aqui comigo. — Os sorrisos gerais foram difíceis de serem evitados. Kate era aquele tipo de pessoa que se estivesse presente, acalmaria todos os corações rebeldes e irritadiços com sua presença quase sagrada.

Chloe sorriu e se aproximou da menor do grupo, bagunçando seus cabelos. Aquele era seu jeito bizarro de dizer que apreciava o que ela tinha dito e que se importava também. Havia chegado um ponto que Chloe não sabia direito como sentir, ou como demonstrar tais sentimentos como amizade ou companheirismo. Eles estavam lá, ela só não sabia o que fazer com eles.

No fim, não importava muito, todos lá se amavam de um jeito ou de outro. Estava suficientemente bom para eles, e principalmente para Kate, a menos propícia a se juntar ao grupo mais insubordinado e comentado da baía, que encontrou conforto na bagunça e amizade no lugar mais inusitado de todos: Arcadia Bay, a cidade da pesca e dos caminhoneiros, um lugar esquecido talvez até por Deus.

______

- Padre... me diz uma coisa. — Ela estava relutante, seus Keds faziam círculos na madeira escura da capela. — Eu sou uma pessoa ruim?

O jovem homem estava sentado em um dos bancos descontraidamente, pareceria um bad boy relaxando depois de um passeio de skate, exceto pelo fato da roupa de sacerdote sagrado. Kate achava o Padre Booth bem divertido. Ele era um de seus melhores amigos fora de Blackwell. Ele se curvou sobre os joelhos e apoiou o queixo na mão, pensativo.

- Não mesmo Kate, eu só... Não entendi o porquê da pergunta. — Ele encarou fundo nos olhos oliva da fiel amiga. — Quer dizer, eu entendo você se culpar bastante pela morte do seu pai, mas entenda, aquele homem não possuía Deus no coração. Sua fé se perdeu e ele foi corrompido. Sua amiga não será julgada, ela-

- Não! Não é isso! — Ela garantiu. — Quer dizer... — Ponderou. — É só parte do problema...

- Eu sou todo ouvidos. — Ele sorriu para ela. O Padre Booth sempre trazia a confiança que Kate sentia ao orar e achar que ninguém a ouviria.

- Eu não tenho sido muito... Cristã. No último ano eu fumei e bebi. E-eu também fiquei com algumas pessoas... — Ela estava insegura, mas ao mesmo tempo não contaria nada disso pra nenhuma outra pessoa.

- Bom... Ficou no sentido de...?

- Beijar! Apenas beijar. Eu s-sou virgem, Padre. —Assegura.

Ele pareceu olhar para cima e procurar nos olhos de todos os santos de cerâmica uma resposta plausível para a garota. Ele sempre fora mente aberta, e acreditava que Deus também era. Todos deveriam ser.

- Você não ofendeu à Jesus. Kate, você é adolescente, não se cobre tanto. Eu só peço para tentar parar com isso, porque autodestruição sim magoa ao Pai. Era isso?

- Era.

Kate sorriu. Ela não entendia porque esperava um sermão mesmo sabendo como Booth era gentil com ela. Mais gentil que sua própria família, algumas vezes. Seu sorriso se alargou ao que ela abraçou-o. Nuca fora boa com palavras. Amarrando os patins de volta aos pés e descendo a pequena rampa da capela, Kate saiu. Padre Booth sabia que tinha ajudado-a. Ele ainda sussurrou "amém" em algum momento entre a garota dando impulso com o corpo e saindo em alta velocidade dali.

Ela não precisava muito de religião e fé depois que começou o terceiro ano em Blackwell. Agora ela tinha os melhores amigos, que sozinhos eram seus próprios anjos, e juntos, sua religião. Parece um pouco exagerado, mas para uma garota que passou toda a vida abandonada e se destruindo com transtornos alimentares e abuso familiar, ter pessoas que levariam uma pancada na cabeça por ela era quase como um sinal divino que sua vida melhoraria.

E ela estava vivendo essa mudança.


Notas Finais


eu ainda não decidi sobre o próximo POV, entao meio que to aberta a sugestões?


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