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História Your Soul is Mine - Ambientação


Escrita por: _arikt_

Notas do Autor


EAE? Aqui mais um capítulo para vocês, revisado e liiindo! Espero que gostem, Good Read! \o

Capítulo 3 - Ambientação


Passara-se dois dias desde a nossa chegada a Tóquio. A manhã estava clara e fresca, nem muito calor nem muito frio. Eu, como de costume a essa hora do dia, encontrava-me na cozinha, preparando o café da manhã. Torradas frescas, mel e iogurte desnatado. Soltei um suspiro e mexi em meus cabelos um pouco compridos para meu gosto, observando por um instante um passarinho pousar na árvore em frente à janela. Não me demorei muito em apreciá-lo, voltei logo ao meu trabalho. Arrumei tudo em uma bandeja e prontamente subi para o quarto principal.

Quando cheguei, bati suavemente na porta, escutando um entre baixo. Abri-a e parei por um momento. O cheiro inebriante, irresistível, totalmente reconhecível em qualquer lugar do mundo encheu minhas narinas, dando-me água na boca. Mordi os lábios de modo imperceptível, tentando manter a compostura. Ela, a dona do cheiro, estava ali, bem na minha frente, sentada majestosamente na cadeira em frente da penteadeira. Nana Izumi.

A humana extremamente apetitosa fitou-me através do espelho, os olhos azuis frios perscrutando-me intensamente. Sustentei o olhar por alguns segundos, admirando suas orbes límpidas, deixando sem querer transparecer meu desejo por ela. Era impossível esconder. Aquela alma me deixava doente de fome, como se fosse uma dor física. Eu necessitava dela.

- Não fique aí parado, Sebastian. – Sua voz suave e fria reverberou pelo aposento, acordando-me de meus pensamentos. – Traga aqui meu café.

- Hoje eu preparei algo leve, ojou-sama. – Comentei, enquanto deixava a bandeja à sua frente. – Não achei certo você comer algo a mais que isso, já que ontem passou mal depois do jantar.

- Sim, sim, ainda bem que pensou nisso. – Concordou ela pensativamente, pegando uma torrada. – Eu realmente não estou com muita fome. Escove meus cabelos, estou com preguiça de fazer isso eu mesma.

- Como quiser.

Acatei sua ordem prontamente, como tinha que ser. Peguei a escova em minhas mãos, logo depois deslizando-a pelos fios macios e negros. A bela cabeleira, quando agitada, fazia-me sentir ainda mais daquele perfume delicioso, sendo quase impossível não quebrar o contrato e devorar aquela alma naquele exato momento. Mas eu sustive minha insanidade demoníaca, continuando a realizar a tarefa com calma e precisão.

- Hoje vai ser seu primeiro dia na delegacia. – Começou ela a dizer enquanto comia. – Cuidado para não fazer nada demasiado extraordinário. As pessoas naquele lugar são muito desconfiadas, não quero ninguém perguntando nada que não deve.

Dei um sorriso torto, terminando finalmente de penteá-la. Como esperado, as madeixas de ébano estavam ainda mais brilhantes do que antes. Fui até o armário, onde as roupas já estavam todas arrumadas, e escolhi uma para que ela vestisse. Nana terminou logo de tomar seu café e começou a despir o robe e a camisola. Seu corpo assumiu uma postura rígida nesse momento. Eu sabia que ela se sentia desconfortável perto de mim, quando eu a tocava... Não a culpava. Ela realmente deveria se sentir uma presa se entregando de mão beijada ao caçador.

Limitei-me a olhar seu corpo desnudo, apreciando novamente sua fragilidade. Parecia-se mais com uma boneca de porcelana do que com uma mulher na casa dos trinta. A pele de alabastro parecia irradiar luz e sua silhueta pequena deslocava-se graciosamente, os seios médios e rijos acompanhando seus movimentos. A pureza exalava de seus poros, atacando-me com violência. Quase me arrependia de deseja-la tanto. A luz e a escuridão convivendo em um só corpo.

- Pode fechar o zíper para mim? – Nana virou de costas, colocando os cabelos para frente para deixar à mostra o vestido aberto.

Adiantei-me e comecei a fechá-lo, meus dedos tocando sem querer no veludo que era aquela pele, fazendo-me mais uma vez morder os lábios, e ela se encolher instintivamente. Eu me comparava a um lobo faminto à espreita de um cordeiro. Só um humano um dia me fez me sentir assim. O humano que hoje é um dos meus, o que insiste em segurar a coleira em volta de meu pescoço.

Ela devolveu o cabelo às costas, ocultando a marca do contrato em sua nuca.

- Agora pode ir se trocar, partiremos quando estiver pronto. – Disse de modo seco, rumando até a pasta que estava em cima da cama com as coisas que ela precisava.

Fiz uma pequena vênia e saí do aposento, rumando para o meu próprio quarto.

Ao contrário de séculos atrás, eu não residia mais em um quarto de empregado. A humana cedeu-me um grande e arejado, com as janelas a mostrar os jardins verdes lá fora. A cama era espaçosa e macia, e mesmo que eu não precisasse dormir gostava de me recostar nela para descansar. Tirei minhas roupas simples e coloquei um terno preto de corte elegante. Olhei-me atentamente no espelho e franzi o cenho. Realmente precisava cortar meus cabelos. Sinceramente, ser humano não é lá grandes coisas, principalmente quando se começa a crescer pelos demais em volta do corpo. Mas mesmo com esse pequeno transtorno, geralmente eu ficava satisfeito com minha aparência terrena.

Deixando tudo arrumado, desci para a sala, vendo que ela já me esperava. Estava sentada ao sofá, checando alguma coisa em seu tablet. Sem chamar a atenção passei para a cozinha, fazendo uma cara surpresa quando olhei para a pia. A bandeja com os copos estavam lavados e secando no escorredor. Sem querer esbocei um sorriso, balançando negativamente a cabeça e escorando no batente da porta. Eu já havia falado que eu poderia fazer os serviços domésticos, mas pelo jeito de nada adiantara. Nana era realmente imprevisível, indomável. Aquele gesto marcava ao mesmo tempo uma das semelhanças e diferenças entre ela e o outro. Ciel Phantonhive nunca encostaria em uma louça para lavá-la, mas poderia muito bem tê-lo feito se assim desejasse.

- Por acaso está limpando a parede com o ombro?

Seus passos ressoaram muito antes de sua voz em meus tímpanos. Soltei uma risada baixa e me virei.

- Não precisava ter feito isso. Sabe que estou aqui para servi-la.

A humana bufou, o belo rosto tomando uma expressão desagradável.

- Eu fiz porque me deu vontade! Agora pare de dizer besteiras e vamos logo!

Ri mais uma vez, acompanhando-a para fora da casa.

O trânsito de Tóquio era bem mais movimentado do que o da Escócia e isso dificultava um pouco nossa locomoção, mas estávamos em nosso horário.

Enquanto dirigia, prestava atenção em minha mestra. Não podia estar mais linda do que naquela manhã. Mesmo com a expressão altiva não deixava de ser encantadora. Sempre quando a olhava me assustava com a semelhança de sua aparência com a dele. A mesma tez de madrepérola, os mesmos cabelos lisos e negros, o mesmo corpo pequeno e frágil, os mesmos olhos de lápis-lazúli. Os dois extremamente desejáveis, obstinados, arrogantes e egoístas. Ao mesmo tempo em que a queria, eu a odiava. Odiava-a por lembrar o que me esperava quando eu voltasse, a eternidade de servidão a que fui condenado. Fui obrigado a usar o nome que me foi dado por aquele fedelho no contrato (eu perdi minha própria identidade). É claro que ela poderia ter me dado outro se quisesse, mas parece que aquele maldito nome nunca mais me deixaria. Ela disse que gostou dele. Agora não sei se ela o usou por realmente gostar ou por ter percebido que não me agradava. Mas pouco importava no momento. Mesmo tendo coisas que me aborreciam completamente, eu gostava de estar no mundo humano de novo.

Depois de vinte minutos de completo silêncio, chegamos ao destino. Parei o carro no estacionamento da delegacia, saindo e indo abrir a porta para Nana. Esta olhou-me de modo audaz e também saiu, empinando o nariz. Sorrindo torto, peguei a pasta de suas mãos e assim começamos a andar.

Era um prédio grande e moderno. Fora reconstruído há pouco tempo atrás, então suas estruturas estavam bem sólidas. Todos que passavam por nós tinham uma expressão de espanto no rosto. Era óbvio o porquê. A Mulher de Ferro estava de volta, e provavelmente ainda mais orgulhosa do que era. Ela realmente impunha respeito, mesmo sendo tão pequena. Quando adentramos a delegacia, uma secretária veio em nossa direção. Estava decididamente afobada e em seus olhos havia um misto de admiração e assombro. Suspirei, contrariado. Seres humanos tinham essa mania ridícula de se rebaixar por outros. Desprezava almas medíocres assim.

- Bom dia, Izumi-san! – Exclamou ela com voz humilde e servil. – N-não a esperava tão cedo aqui!

- Bom dia. – Respondeu Nana sem nem ao menos lançar um olhar à moça, continuando a andar. – Esse comigo é meu novo assistente, Sebastian Michaelis. Sebastian, essa é a secretária principal, Enma Haruka.

- Prazer! – Dirigi-me a ela, dando um sorriso aparentemente feliz.

A denominada Haruka corou até as orelhas quando olhou para mim, apertando as pastas que levava nas mãos compulsivamente.

- B-bom D-dia! – Gaguejou, respirando descompassadamente.

Tive vontade de rir. Humanos eram tão fáceis de se enganar com uma boa aparência! A única que não parecia dar a mínima para isso era Nana. E esse era um dos motivos para ela parecer tão deliciosa. Nunca fora tocada por ninguém.

Viramos mais alguns corredores com Haruka em nosso encalço. Cada homem e mulher por quem passávamos cumprimentava de modo solene minha humana, que respondia friamente, apenas por obrigação. Finalmente a secretária abriu uma porta ao final de um corredor e entramos. Não me surpreendi quando o vi o que me esperava dentro daquele aposento, embora fosse um pouco moderno demais para o gosto normal de Nana. Em frente à janela, havia uma escrivaninha de vidro em formato de “L”, amparando um computador branco, um microscópio, pequenos frascos para amostras (por hora vazios), entre outros tipos de instrumentos que ela geralmente precisava usar para investigação. Do outro lado da sala ficava uma estante em estilo contemporâneo que ia até o teto, contendo livros dos mais diversos tipos e fichários abarrotados de folhas. O pouco de decoração que tinha resumia-se em um sofá de couro preto ao lado da porta, juntamente com uma luminária comprida de alumínio, que combinava com o chão e as paredes de cimento queimado.

Nana sentou-se na poltrona macia atrás do computador, apoiando o rosto no punho fechado. Sorriu friamente para a outra moça.

- E então, o que você tem para mim Enma-san? – Perguntou com voz falsamente amigável.

- B-bem... – Ela colocou uma pasta em frente à mulher cautelosamente. – Essa contém algumas cartas que chegaram ontem e hoje para você, de alguns de seus parceiros. Já essa aqui – Ela entregou a segunda pasta. – o Meritíssimo Yamazaki que mandou. Estava vindo para sua sala coloca-las aqui, quando recebi a notícia de sua chegada.

- Hmm... – Nana examinava as cartas com o sobrolho franzido. – Pode ir, Enma. Se eu precisar de você, Sebastian a chamará.

- C-com licença!

Ela fez uma vênia desajeitada, e com um último olhar para mim saiu da sala. Aproximei-me da escrivaninha, sentando em uma das cadeiras em sua frente. A humana havia aberto uma carta, e começava a lê-la. Quando terminou, revirou os olhos e jogou todas na lata de lixo ao seu lado.

- Não estou interessada nas besteiras que esses puxa-sacos têm a dizer. – Resmungou, começando a abrir a outra pasta. – Me dando boas-vindas... Como se eu não soubesse que eles estavam bem satisfeitos por eu estar longe... Ah! Mal chego e Yamazaki já está me mandando trabalho!

Em suas mãos finas havia uma grande quantidade de papéis. Provavelmente ela iria levar um bom tempo para ler tudo aquilo. Ajustei-me mais confortavelmente na cadeira, observando-a. Sentada daquele modo ela se parecia ainda mais com meu outro mestre. A expressão enfadonha, o rosto apoiado na mão, na outra segurando os papéis. Sem querer soltei uma risada. Ela olhou-me aborrecida.

- O que é tão engraçado para estar rindo? – Perguntou de modo rude.

- Nada. É só que você parece uma criança sentada nessa poltrona tão grande. – Comentei, escondendo a boca com a mão para ocultar um sorriso presunçoso.

Nana pegou as cartas que havia jogado no lixo e as tacou em minha cara, lançando-me um olhar fulminante. Eu adorava ver o ódio queimando naquele belo azul que eram seus olhos.

- Eu não estou precisando de suas opiniões nem de sua presença. Vá arranjar algo para fazer e deixe-me ler isto aqui em paz! – Sua voz era gélida.

Catei as cartas do chão e me levantei, fazendo uma leve mesura já com o rosto sério.

- Com licença então.

Saí da sala, começando a caminhar. Aquele momento livre me era oportuno. Assim poderia conhecer mais o lugar. Ainda era novo no ramo da justiça. Em tantos séculos de vida, eu nunca servi alguém que tivesse esse tipo de ofício, o que tornava tudo ainda mais interessante. Joguei as cartas no primeiro lixo pelo qual passei, colocando as mãos nos bolsos da calça depois. Cumprimentava animadamente a todos que via, seria bom manter uma aparência aprazível.

Passei pela sala dos policiais, dos investigadores e dos civis que exerciam outras funções. Vi que havia poucas mulheres nessas profissões. A maioria ali eram secretárias particulares, estagiárias ou assistentes. Agora fazia todo o sentido Nana ser tão conhecida como era. Peritas como ela eram extremamente raras. Mais uma vez a fome por sua alma me atacou, mas forcei-a a se esconder. Tinha que agir o mais naturalmente possível.

De repente duas vozes femininas invadiram meus ouvidos, fazendo-me parar. As vozes vinham de dentro de uma sala a minha direita. Encostei-me na parede, tentando distinguir o que diziam.

- ... Todos ficaram surpresos quando a viram. Kouta disse que quase nem conseguiu dar bom dia a ela. – Comentava a voz mais áspera. – É claro que os jornais já haviam falado sobre sua volta, mas ninguém esperava vê-la por esses dias, ainda mais acompanhada daquele cara bonitão. Afinal, quem é ele?

- Estão falando que é um estudante que ela trouxe da Escócia como seu assistente. Parece que ele está morando na casa dela. Não sei como ele aguenta, ela deve estar mais insuportável que antes. – Respondeu a voz mais fina. – Quando ela descobriu o assassinato da irmã viu o jeito como ficou? Sinceramente, aquilo me deu medo.

- Ela decididamente não aprende. – A voz mais áspera parecia irritada. – Por pior que eu possa parecer dizendo isso, achei muito bem feito, para ela parar de se achar. Lembra quando aquele advogado estrangeiro se declarou para ela? Ela o rejeitou na frente de todo mundo, e ainda o olhou com cara de nojo, como se fosse proibido tocá-la.

- É, eu me lembro disso. Coitado do Sam, a gente costumava conversar bastante. Mas ele voltou para os Estados Unidos. – A voz fina continha pesar. – Mas voltando ao assistente... Você acha que eles têm alguma coisa? Ele parecia bem contente ao carregar a pasta para ela quando chegaram...

Já estava na hora de cortar o assunto. Era óbvio que falavam de Nana. Pelo que eu podia ver minha mestra, além de despertar o desejo nos homens, incitava também a inveja nas mulheres. Como quem não havia ouvido nada, entrei no aposento, vendo que era o lugar de descanso. Quando vi as mulheres, fingi uma expressão de surpresa.

- Oh, desculpem-me! Não sabia que havia gente aqui, só estava tentando conhecer o lugar. – Depois sorri abertamente. – Bom dia!

Elas estavam estupefatas, mas logo voltaram a si.

- Bom dia! – Foi a de voz áspera quem me cumprimentou. Ela tinha o cabelo curto, deixando aparecer a nuca. – Você é o novo assistente da Perita Izumi, não é? Sou do departamento de Infiltrados, Nanase Kumi.

- Prazer, Nanase-san! – Cumprimentei, apertando sua mão. – Sou Sebastian Michaelis.

- E eu sou... Matsushita Koda. – Falou a outra de cabelos ondulados, um pouco insegura. – Por que você usa luvas?

- Hm... Um hábito antigo. – Dei um meio sorriso, fitando minha mão. – Mas então... do que falavam? Pareciam que estavam comentando sobre alguém que tem um caso... Poderiam me contar sobre isso também?

Lancei a elas um olhar frio, penetrante. Poderia não ser da minha conta, aliás, eu nem ligava. Mas pelo meu contrato, prometi proteger minha humana de qualquer coisa, até mesmo de cobras como aquelas. As duas pareceram estremecer, e suas expressões tornaram-se arredias. Provavelmente perceberam que eu não estava sendo amigável.

- N-não era nada demais... – Esquivou-se Koda, passando a mão nos cabelos. – B-bem... Desculpe-nos Michaelis-san, temos que voltar. Até outra vez.

Ela saiu apressadamente, com a outra em seu encalço. Soltei um sibilo de irritação. Humanas tolas. A inveja era um sentimento cultivado pelo ser humano proveniente da frustração por não conseguir ser a pessoa que admirava em seu íntimo. Em minha opinião, um sentimento patético. Depois de uns cinco minutos parado no mesmo lugar, decidi voltar para o gabinete de Nana. Dessa vez iria me abster dos comentários ferinos, já que andar por aquele prédio me aborrecera.

Andava tão perdido em pensamentos que não vi que Haruka vinha correndo em minha direção, sem me ver também. Ela trombou com força contra mim, os papéis que levava voando de suas mãos e seu corpo caindo para trás. Antes que ela pudesse completar a queda, peguei-a nos braços, amparando-a confortavelmente contra meu tronco. Minha mão esquerda pegou os papéis que voavam ao redor, sem deixar cair um ao chão. Ela corou que nem uma pimenta, escapando de meu abraço com a respiração ofegante. Entreguei os papéis e ela os pegou, tomando o cuidado para não tocar minha mão.

- O-obrigada! – Agradeceu desconcertada.

Suspirei e abanei a cabeça minimamente. Mais uma empregada desastrada na minha vida.

- Devia ter mais cuidado ao andar por aí. Ia ser um tombo feio.

- D-desculpe, mas eu estava com pressa e...

- Esses papéis são para Izumi-sama? – Interrompi, pouco interessado no por que de ela estar correndo. – Se for, deixe que eu mesmo os entrego, estou indo para lá.

- N-não, esses não são para ela. – Haruka negou em voz baixa. Parecia intimidada com a minha presença. – Esses são para... outra pessoa.

Franzi o cenho, intrigado. Ela estava escondendo algo ou era impressão minha? Bem, tanto fazia de qualquer forma. Não era da minha conta.

- Hmm... ok. Mas não fique correndo por aí, pode se machucar. – Recomendei.

- S-Sim! Obrigada!

E ela saiu correndo novamente. Suspirei mais uma vez. Como sempre, de nada adiantava avisar. Ainda não conseguia entender como havia gente que falava que empregadas desastradas eram atraentes, e realmente gostaria de continuar sem entender.

Enquanto andava, observava as pessoas subirem e descerem escadas, andarem com pilhas de documentos nos braços e falarem umas com as outras sobre assassinatos e outros assuntos do dia-a-dia. Aqui era realmente meu lugar, o antro da decadência humana.

Bati suavemente na porta e entrei sem esperar resposta, vendo que Nana continuava absorta nos mesmos papéis. Mal havíamos chegado e a sala já estava impregnada com seu perfume. Ela levantou os olhos brevemente em minha direção, logo voltando à leitura.

- Não demorou nem uma hora fora. – Comentou casualmente. – O que aconteceu?

- Nada demais. – Respondi com um sorriso. – Só...

Fui interrompido quando a porta foi aberta bruscamente, e um homem loiro com um terno cinza entrou de supetão no gabinete. Ele tinha a expressão zangada, seus olhos cinza estreitados.

- Nana-chan! Por que não me avisou que estava aqui?! – Reclamou em voz alta, curvando-se sobre a escrivaninha com as duas mãos espalmadas em seu tampo. – Isso é falta de consideração comigo, sabia?

Não consegui esconder minha surpresa. Era a primeira vez que via alguém tratar Nana pelo primeiro nome, ainda mais um homem. Ela levantou as orbes novamente, a expressão amofinada.

- Bater na porta não vai te matar, sabia? – Resmungou, girando a poltrona para a janela, dando-lhe as costas. – Não te chamei porque não queria te ver. Vá embora.

- Aaah, você é tão cruel... – Ele fez cara de choro. Foi até a poltrona e virou-a para frente de novo, curvando-se sobre Nana, ficando bem perto de seu rosto. – Não faça isso comigo! Sei que está feliz por me ver! Vamos, sorria!

Pegou nas bochechas magras e as apertou. A mulher se debateu, dando um tapa no rosto do homem.

- Solte-me! – Vociferou levantando-se, tacando os papéis na escrivaninha e ficando a uma boa distância dele. – Deus, você realmente continua tão insuportável quanto era! – Suspirou, escondendo o rosto na mão. – Não tem jeito de fazer você ir embora, não é?

Confesso que fiquei irritado com a cena. Achava que ele estava indo longe demais. Mesmo assim continuei calado, apenas observando.

- Não, eu vou ficar aqui. – O homem sorriu animadamente. De repente olhou para mim, parecendo impressionado. – E quem é ele?

- É meu novo assistente, Sebastian Michaelis. – Respondeu minha humana secamente, sentando-se no sofá.

- Ah, então você é o Romeu de quem todas as mulheres estão falando! – Ele passou o braço pelos meus ombros, dando risada. – Eu me chamo Kagome Kyosuke.

- Prazer. – Respondi simplesmente, com a expressão vazia.

- Kyosuke é um informante meu da máfia e chefe do departamento de Investigação. Está comigo desde que comecei minha carreira. Ele me mantém atualizada sobre o que os chefões estão tramando, e me ajuda a resolver alguns crimes. Resumindo, eu tenho que aturá-lo para conseguir manter meu título. Diga logo o que quer aqui Kyosuke, e pare de gastar meu tempo! – Nana estava realmente brava.

- Hmm, parece que Yamazaki já andou pedindo uns favores para você... – Kagome foi até a escrivaninha e pegou os papéis, folheando-os. – Esses assassinatos não são da especialidade dele? Que eu saiba o perito em sangue aqui é ele.

- Não é da sua conta.

Ele suspirou.

- Você é durona mesmo! Tudo bem então, vou falar o que quero. Foi muito oportuno você ter voltado hoje, tenho um caso saído do forno agorinha mesmo! E acho que esse só você pode resolver, embora não se tenha cadáveres.

Ela olhou-o com as sobrancelhas erguidas, em uma fria surpresa.

- E o que seria esse caso?

- De cinco meses para cá, várias famílias de classe baixa vieram se queixar do desaparecimento de meninos e meninas na idade de até quinze anos. Meu departamento realizou um inquérito para tentar descobrir o paradeiro dessas crianças, mas foi em vão. Quando fomos procurar as famílias novamente para tentar pegar mais informações, não as achamos mais. Não achamos uma pista de quem possa ter feito isso, não deixaram nenhum indício para trás.

Tirou de dentro do bolso do paletó uma pasta enrolada, e a deu para Nana, que prontamente a abriu. Cheguei mais perto para ver o que continha. A primeira folha mostrava a foto de uma menina sorridente, acompanhada de algumas informações sobre a mesma. Olhei para minha mestra, e dei um meio sorriso. Conseguia ver um fogo determinado crescer nos olhos dela. A diversão estava começando finalmente.

- Estas são as fichas das crianças desaparecidas. – Comentou Kyosuke, que também observava Nana. – É claro que eu declarei que isto é tráfico humano – a coisa mais óbvia do mundo, mas vai ser impossível descobrir quem é o culpado.

- Quer dizer que ele é da Yakuza? – Ela fitou-o com ar sério.                   

- Sim, e alguém bem conhecido.

- Quem?

- Albert Stanford.

A humana levantou-se, indo até a janela, a mão no queixo em gesto pensativo. Quase conseguia ver as engrenagens de seu cérebro funcionando. Seu cheiro ficava ainda mais forte nesses momentos.

- Vá até minha casa hoje à noite. – Falou em voz baixa. – Por mais que eu deteste dizer isso, vou precisar de você.

Até eu sabia que isso ia ser bem mais interessante do que os papéis que ela estava lendo antes.

 



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