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História You're My Number One - Loving is Complicated


Escrita por: AnnaWrou

Notas do Autor


Volteei meu poovo <3

Demorou, mas chegou o momento!
Esse capítulo demorou para ficar pronto, mas dessa vez não foi por nenhum problema. Muitas coisas acontecendo, vários pontos de vista e eu tinha que fazer tudo isso parecer simples para que vocês entendessem toda a bagunça, e principalmente, se divertissem <3 MAS EU AMEI ESCREVÊ-LO NHAAAAAAA
Tentei resumir ao máááximo as cenas, e sei que irão perceber isso em algumas partes, mas mesmo assim ele ficou enorme c.c


Sem mais delongas, aproveitem o capítulo e me perdoem se ficou muito grande x.x


💠💠Título do capítulo: Amar é Complicado. 💠💠

Capítulo 12 - Loving is Complicated


Fanfic / Fanfiction You're My Number One - Loving is Complicated

 

 

 

                                                                   EM 2012

                                                                1 de fevereiro

 

 

     
 

Harry

 

Mais cedo despertei com o toque do celular, mas a ligação ficou muda quando atendi. Não reconheci o número, assim como os 42 números que me ligaram depois. Mas nenhum deles era o meu pai e nem o meu irmãozinho.

Hoje é o meu aniversário. 

Eu não gosto desse dia.

Eu não gosto do meu aniversário porque quando fiz 3 anos, minha mãe não estava mais aqui.

Eu não gosto do meu aniversário porque quando completei 15 anos, tive uma festa maneira, mas o meu pai não apareceu.

Eu não gosto do meu aniversário, talvez por solitude ou rancor. Eu não sei. Mas eu só sinto solidão, desprezo, e o abandono.

Eu gosto de aniversários...

Eu não gosto da consequência que os meus trazem.

Preciso comprar pão, leite e chocolate.

Penso quase entrando naquele estado de semiconsciência que precede o sono. 

Estudar comendo chocolate estimula a inteligência, segundo estudos e pesquisas. Ele melhora a memória e o raciocínio abstrato, pois age em uma série de domínios cognitivos. Eu só estudo comendo algum e o meu acabou nesse momento. 

Eu sei que hoje é sábado, mas eu estudo todos os dias. 

Estou parado num parágrafo sobre anatomia há horas, simplesmente não consigo avançar. 

Abaixo a cabeça e massageio as têmporas. Estou exausto mentalmente.

Inspiro profundamente e olho para o teto: branco. Estéril. Sem personalidade. Sem nenhuma cara de lar.

Fico olhando para ele, parece que o tempo parou, mas na minha cabeça passa um flashback muito rápido de tudo o que eu vivi nesses 18 anos. 

É normal ficarmos tão sensíveis no nosso aniversário…? 

Baixo a cabeça, pensativo e me forço a levantar da cadeira. Eu não gosto de fazer compras, mas pego o meu celular na mesa e parto para o mercado mais próximo.

Depois de sair do elevador, abro o portão que dá para a saída do prédio e me deparo com ela, Cassie, e o seu short quase caindo das nádegas.

Fico alguns segundos olhando a cena, por que ela está abaixada, andando de quatro, no chão? 

Nada poderia ser mais constrangedor.

Giro os olhos para cima e me aproximo a passos lentos. O que essa maluca está fazendo?

Eu imagino que o universo que conspira em sua vida seja um velhinho sarcástico, que ri muito de situações como esta, por isso a vive colocando.

- Reed...? — pergunto quando a vejo perto de um canteiro.

E arregalando os olhos, ela me encara, em silêncio.

- O que está fazendo abaixada aí? 

- A-ah, oi... — diz ela, sem jeito. — Eu só tenho certeza que vi um filhote de cachorrinho correndo por aqui — ela se abaixa ainda mais, até quase colar o rosto no chão. — Ali, ali! — sussurra. — Não posso gritar para não assustá-lo mais...

Eu me abaixo ao lado dela. Olho no meio do arbusto e vejo um filhote, encolhido.

É um Spitz.

- Viu só? — ela me olha. — Coitadinho, é tão pequeno e parece tão assustado…

Algo em seu rosto emoldurado por cabelos soltos me parece repleto de cinismo. 

- Bom, talvez eu possa ajudar.

- É mesmo? — ela arregala os olhos, intensos e cheios de vida. — Você gostou dele??

- É fofo. — dou de ombros, balançando a cabeça ligeiramente. — Mas vamos, antes que ele fuja.

Então, para salvar o dia, faço a coisa mais ridícula que poderia fazer: vou me arrastando sorrateiramente pelo chão, adentrando o arbusto, lentamente. 

Cada movimento devia ser bem pensado, no entanto, antes que eu possa tentar qualquer manobra heroica de resgate, o filhote simplesmente me olha nos olhos e vem em minha direção praticamente escalando as minhas costas. 

Eu o pego sem maiores dificuldades e o levo até Cassie. 

- Não foi um resgate dos mais difíceis — digo, mostrando o minúsculo animal.

- Awwwwn, ele é lindo demais! — observa ela, enquanto o acaricia no pescoço.

Tento entregá-lo para ela, mas ela simplesmente se esquiva. 

- Ele é seu. 

Sinto o meu coração saltar e arregalo os olhos.

- O comprei pra você. — as palavras fogem da minha boca. — E quando estava indo entregá-lo ele pulou dos meus braços e eu quase o perdi

Baixo o olhar para ele, atônito. É meu?

- Eu vendi o relógio que ganhei na competição e comprei essa fofurinha para te fazer companhia… — sinto algo esquentar em meu interior, até aquecer as bochechas. — Feliz aniversário, Hazza! — ela beija subitamente a minha bochecha e o meu coração palpita, mudando a frequência. 

Sinto as bochechas queimando outra vez. 

- Gostou da surpresa...??

É uma pergunta inocente, e tento me estabilizar, mas ainda me sinto perplexo. 

- N-n-não tenho experiência nenhuma com bichos, Reed... — ela gira os olhos nas órbitas enquanto o acaricia nas orelhas.

- Não importa, eu te ajudo, Styles — ela afirma, com um sorriso convencido.

- Qual é a primeira coisa que eu tenho que fazer então? — ela assente.

- Acho que o primeiro passo é batizá-lo — desvio o olhar para ele. — Alguma ideia de nome...?

- Poderia batizá-lo de Darwin — ela torce o nariz e eu quase sorrio. 

- Que maldade com este fofinho… 

Ao ver que fico calado, ela prossegue.

- Certo. Então ele se chamará Darwin. — ela o segura entre as mãos e o posiciona em frente ao rosto. — Você tem mesmo cara de Darwin, sabia, seu pequenino Styles…? — meu coração pulsa na garganta.

Um calafrio percorre minha espinha. Seu sorriso é o mais lindo e sincero que eu já vi. Na verdade, tudo nela é bonito.

Fico um bobo perto dela, droga.

- E-então, agora que Darwin já tem um nome, o que devo fazer? Quais são os próximos passos?

Ela ergue o olhar para mim, confusa.

- Ah… É… Bom, se ele for como o dono, não precisa se preocupar tanto. Não será exigente, viverá quase à míngua — arqueio as sobrancelhas, chocado e ela sorri com o canto dos lábios, divertindo-se. — De início, você deve providenciar potinhos de água e comida e uma caminha para ele — fui enumerando com os dedos. Já haviam 3 gastos extras.

- E depois? — murmuro.

- Dê muito amor. — resmungo sozinho, pois não sou bom em demonstrar sentimentos. 

Ela completa. 

- É o que ele mais precisa.

Suspiro, à beira da desistência. 

Sempre me achei um covarde, pois os covardes são incapazes de demonstrarem amor. Isso é privilégio dos corajosos.

Mas talvez demonstrar amor a um animal não seja tão difícil, pelo menos pra mim. Pois requer mais do que beijos e declarações.

Ela aproxima o rosto mais uma vez do meu, beijando minha bochecha, causando-me um arrepio na nuca. 

Desvio o olhar para ela e tudo em seu rosto tem um poder singular de atração…

O mundo rodopia, meu coração para...

O olhar profundo que trocamos paralisa meus sentidos e me embriaga...

Permito-me mergulhar nesse transe, lentamente, e, é impressão minha, ou a realidade está mesmo em câmera lenta…?

Meu corpo formiga em uma sensação gostosa, e eu descolo os lábios para agradecê-la pelo presente, mas sinto uma mordiscada de Darwin em meu dedo mindinho, me impedindo. 

- Outch! — Que dentinhos mais afiados! — Não, Darwin! — reclamo e Cassie ri pelo nariz. 

- Olhe só, a primeira bronca do papai, Darwin — ela dispara e é a minha vez de sorrir. — Eu posso ser a mamãe dele…??

Sinto os meus pés saírem do chão, e não consigo evitar um sorriso, e assinto, com o coração disparado e aquecido. 

- Aaaaawwn, obrigada, Hazza! — ela beija novamente a minha bochecha e eu fecho os olhos, dessa vez me controlando.

Me controlando para não beijá-la.

Eu até contei até três, mentalmente.

- Cassie…? Cassie? — ouvimos ao longe, mas logo acima de nossas cabeças. — Ora, aí está você! Já foi ao mercado comprar o que pedi? — é a tia Cheri falando do alto da janela.

- Já vou, mãe… — Cassie resmunga, encolhendo os ombros. 

- Feliz aniversário, meu amor, meu anjinho! — tia Cheri me deseja. — É emocionante vê-lo crescer tão responsável e lindo... Sinto um orgulho como se você fosse meu filho! — derrete-se e eu confirmo, sorrindo. Ela é o exemplo de mãe que tenho. — Mais tarde irei fazer um bolinho, o que acha...?

- Eu agradeço, tia, mas... eu não gosto de comemorações nesse dia — ela assente com melancolia, entendendo-me.

- Okay, meu amor. Cassie!!

- Preciso ir — Cassie afasta-se prontamente.

- Vamos juntos…! — falo para ela, que ergue os olhos para mim, sorrindo. — E-e-eu já estava indo, então… Podemos ir juntos — seu sorriso aumenta junto a um olhar de felicidade extrema.

Meu estômago gira, e coro, constrangido, antes de sair andando com Darwin nos braços, ouvindo-a vir atrás de mim.

- Me espera, Hazza!

Sem dizer mais nada, caminhamos devagar até o mercado. Darwin dormiu ao longo do caminho todo e eu quase não tive paz ao tentar fazer compras. Ele chamou a atenção de todos, que nos paravam para acariciá-lo a cada passo que dávamos. Embora Cassie empurrasse o carrinho de supermercado como se praticasse um esporte olímpico, consegui comprar tudo o que precisava. 

Quando chegamos em casa, ela veio comigo e começamos a guardar as compras.

- Tenho uma surpresa para você... — ela anuncia. — Adivinha o que comprei pra gente?

- Aquela barra gigante de chocolate? — murmuro e ela sorri negando com a cabeça.

- Não, é muito melhor que isso — ela procura algo na última sacola.

- Aquele achocolatado líquido que você quase não acreditou que estava vendo?

- Não, melhor que isso também — ela saltita de uma perna para outra.

- Bom, se não posso beber ou comer, prefiro não saber.

- Sim, você precisa — insiste, animada — você precisa ver! — então ela tira duas t-shirts com a mesma estampa de dentro do saco. — Estavam em liquidaçãão — cantarola, euforicamente. — Não é o máximo?

Olho para elas e coro.

São duas blusas, uma com o Mickey e outra com a Minnie mandando beijos um para o outro. 

- Er… legal. — concordo relutantemente.

Isso faz de nós um casal? 

- Você vai usar…?? — ela me olha com um sorriso esperançoso.

Ela está abusando agora.

Por sorte, antes que eu tenha a chance de responder, o que seria um não, meu celular vibra, aparecendo um aviso na tela de que tenho que estudar.

- Hora de estudar. — ela franze a testa, confusa. — Tchau, Reed. — giro-a pelos ombros na direção da porta. — E obrigado pelo presente de aniversário tão inusitado.

- Mas Hazza

Por fim, acabo vencendo a batalha de colocá-la para fora do apartamento. 

Encosto as costas na porta e solto um leve sorriso. 

Meu coração pula só de pensar no que me propôs a garota que acabara de sair. Tudo bem, não é segredo algum que não sou bom no amor, e que não entendo como as pessoas dizem que amam alguém antes mesmo do primeiro encontro. Não escondo minha opinião de que: o amor romântico não é tão essencial assim na vida de alguém, eu vivo sem namorada e me sinto muito bem. Todo mundo sabe que eu penso assim... Mas o que ninguém sabe é que eu sou quase um hipócrita.

Eu estou... bem, não amando, mas certamente apaixonado por ela. 

Eu nunca quis tanto alguém, como a desejo.

E ela nem imagina.

 

 

 

 

Cassie

 

Mal cheguei ao meu apartamento e já quero voltar para o apartamento do Hazza. 

Bem que eu gostaria de fazer isso, mesmo contra a sua vontade. Será que estou sendo ridícula?

É claro que está!

Minha mente foi enfática. Então só pego a xícara que havia colocado no microondas e vou para a sala, ligando a televisão. 

Harry não curte aniversários, eu sei, mas isso não quer dizer que ele tenha que passar em branco. Eu poderia organizar um cinema em casa mesmo, com todos os seus filmes favoritos. Ou convidá-lo para ver o pôr do sol junto a um piquenique cheio de coisas saborosas. Quem sabe até um jantar à luz de velas. Eu li em algum lugar que embora seja clichê, sempre agrada e surpreende. É uma surpresa inesquecível com certeza.

Mas estamos falando do Styles, né...

Lógico que ele não gostaria nadinha daquilo. Não ficava confortável com surpresas. 

Entretanto, não havia por que me preocupar com isso agora

Eu estou sentada em uma poltrona bem confortável, saboreando um maravilhoso chocolate quente e admirando a bundinha linda de Justin Timberlake em Amizade Colorida. 

Precisava de algo que realmente prendesse minha atenção.

Aqueles dois corpos se juntam…

É instinto...

Um compreende o outro.

Os pés se entrelaçam...

As bocas respiram uma na outra… exalando o que sentem… Sussurrando gemidos…

Transpirando desejos...

Respirando tesão.

Querem um ao outro...

Por algo que vicia...

A mais erótica e intensa sensação.

Isso não pode ser só atuação... penso, enquanto assisto.

É quando ouço o meu pai pigarreando.

Cheio de sacolas nos braços, me observando em silêncio.

Meus olhos se esbugalham e numa reação automática me levanto tão rápido que mal consigo manter o equilíbrio.

- Paai, você chegou! — digo por impulso. Era o melhor que eu podia fazer.

- É, sim, estou de volta... — ele assente, claramente desconcertado. — Assistindo TV…? — começa uma conversa mansa, aparentemente despretensiosa, mas que eu sei que é pura fachada, pois seus olhos estudam a televisão como se ela fosse um rato de laboratório. 

Sinto que fico vermelha e não há jeito de disfarçar isso.

- Aham… — sussurro, evitando encará-lo. Meu estômago se embrulha.

O olho de esguelha e o vejo espiar a TV, como se aquilo não o afetasse, embora o seu desconforto esteja transparente.

- Errr… O senhor quer chocolate quente?? — ofereço-lhe e ele balança a cabeça por um curto período de tempo.

- Não, eu não quero chocolate quente. Rápido, vá fazer sua lição de casa — ele some pelo corredor, me deixando com cara de tacho e o controle na mão. 

Desligo a TV subitamente.

- Cheri! — escuto meu pai cochichando.

E espio o corredor, curiosamente.

E sem que eu me desse conta disso, já estava ajoelhada atrás da parede da sala e do corredor, com os ouvidos atentos.

- Você deveria conversar com a sua filha sobre sexo! — meu pai cochicha e o meu estômago se contrai diante do seu tom sisudo e sem desvios. 

- Er... o quê...? — minha mãe pergunta, totalmente confusa.

- Eu acabei de pegá-la assistindo a um desses filmes… um desses filmes… — por algum motivo ele não completou a frase. 

- Um desses filmes, o que? Um pornô?

- Por Deus, Cheri! — ele rosna e eu controlo a risadinha idiota que ameça sair da minha boca. — Um desses filmes tendenciosos e explícitos da modernidade! — ouço a risada distante da minha mãe.

- Você é um bobo, Pete! 

- E você liberal demais! — ele retruca, rebelde. — Se não tivermos cuidado com essa menina, seremos avós aos 40 e poucos!

- Eu confio na nossa filha. —  ela assegura e eu sorrio. — Mas irei falar com ela.

- Amém para isso. 

Tudo isso aconteceu em mais ou menos dois minutos, mas deu a impressão de ter durado 2000 anos.

Ouço passos vindo pelo corredor e corro de volta para a poltrona, escalando coisas e móveis.

- Posso falar com você...? — nesse momento minha mãe aparece na sala, com aquele tom de conversa séria e obrigatória.

- Claro... — finjo que não sei de nada, mas engulo em seco.

Ela me abraça primeiro, mas foi um abraço estranho, desses de quando vão lhe dar uma má notícia. 

O mais engraçado é que esse assunto sequer passou pela minha cabeça antes. Eu não penso em sexo. Minhas bochechas coram só de pensar sobre o assunto, imagina fazê-lo!

- Humm... — ela para para pensar e eu suspiro, voltando a me recostar no sofá. Ela segura meu rosto e diz: — Filha... você acha que... se sente diferente…? — me faço de desentendida. — Tipo… suas vontades… ou os desejos do seu corpo...?

Inevitavelmente engasgo, com o pânico tomando conta de mim.

- De-desejos do corpo…? — Ela assente.

- Na sua idade é normal estar com os hormônios, assim, a todo vapor — a olho, desconcertada. — Não ocorrem mudanças apenas físicas, mas também biológicas e hormonais. É na adolescência que surgem as manifestações de desejo a estímulos sexuais e é também onde começam a surgir as primeiras experiências sexuais ou, pelo menos, a curiosidade pela possibilidade de um encontro íntimo com alguém.

Sacudo a cabeça, discordando, é instantâneo.

- Eu não sinto esses desejos... — ela abre um sorriso maior do que o céu.

- Claro que não — garante. — Mas eu preciso ter essa conversa com você. São o que as mães fazem, sabe? 

Sorrimos uma para a outra e eu assinto com a cabeça. 

- Então, querida... — ela começa, e mordo o meu lábio, receosa com a próxima pergunta. — Está gostando de alguém no momento…? — me afasto dela, bruscamente, quase sem querer.

E tive que engolir em seco, porque JAMAIS poderia dizer que era do Harry. 

- Não! — Balanço a cabeça energicamente.

- Não...? — ela repete com um sorriso, não parece convencida. — Tem certeza, filha...? Porque, olha, você pode se abrir comigo…

Não, mamãe, eu não posso. A senhora me mataria e ainda jogaria o meu corpo aos corvos. 

- Não tem ninguém, mãe…! — choramingo e ela medita, serena. 

- Tudo bem, querida.

Seu semblante sábio me analisa, e devolve o olhar com ainda mais intensidade e eu baixo a cabeça.

- Saiba que estou aqui para qualquer coisa que queira me contar, está bem…?  — sorrio, assentindo. 

Ela passa os dedos pelo meu cabelo em um carinho. 

- Obrigada… eu sei que posso contar com a senhora. — seus olhos até brilham de empolgação. 

- Sempre, querida. — ela sorri com ternura e se levanta do sofá, seguindo pelo caminho até o corredor. 

Nem foi tão ruim como eu pensei que seria. E agora que a conversa terminou, acho que posso tirar um cochilo. 

 

                                                                         ***

 

Já estava quase escuro quando acordei do que achei que ia ser um cochilo. 

Essa é uma das raras noites em que não estamos todos juntos. Meu pai e a minha mãe resolveram ir ao cinema, eu disse que não estava a fim de ir, e naturalmente fiquei sozinha em casa. Estou na sala agora, com os pés apoiados na parede, escrevendo mais um capítulo do meu romance, e é quando ouço alguém tocar a campainha. 

É Harry!

- Oi, Cassie.

Olho de relance para ele, ainda magoada, mas internamente feliz por vê-lo aqui.

Suas narinas tremem e eu sinto vontade de mordê-lo ao ver o seu rosto ficar vermelho igual a um pimentão.

- Quer ir dar um passeio comigo...? — este era o momento pelo qual eu sempre estive esperando. 

Acho que fiquei uns cinco minutos em estado de choque, imóvel em frente a ele. Minhas pernas estão dormentes. Ótimo. Eu não sinto minhas pernas. 

ISSO NÃO PODE SER UM SONHO!!

Eu não sei o que está acontecendo, pois quando eu sonhava com esse momento, eu sempre imaginei que gritaria um claro e longo SIM! Mas agora as palavras me escaparam e também todas as terminações nervosas do meu corpo. Eu não estou sentindo as minhas pernas. Literalmente.

Fecho os olhos com força. Pequenas células receptoras sensoriais. Vamos. Deem o melhor de si.

Ele parece confuso, mas logo sorri.

- Acho que você não quer, né...? 

- É CLARO QUE EU QUEEEERO!

Aí está a resposta, como eu sempre havia sonhado. Longa, clara e ALTA. 

Exatamente no mesmo instante, uma súbita vontade de SOLUÇAR me consome e eu cubro a boca com as mãos.

Pisco algumas vezes e observo um sorriso se formar no canto dos seus lábios.

- Okay. — ele assente e o silêncio paira no ar de uma forma desconfortável. 

Ele nunca fez isso, né?

- Aonde vamos...? — agilizo em dizer algo, para que o silêncio não acabasse por matar-nos.

- Você escolhe. — engulo um soluço.

- Eu até que gostaria de comer uma maçã do amor — ele sorri de volta.

- Eu compro uma pra você — meu coração palpita, assim como a enorme vontade de soluçar. 

- Então precisamos trocar de roupa! — minha voz reverbera por trás do meu desespero. — , ! — o giro pelos ombros e assim que ele sai, vendo-me livre daquela situação torturante que parecia corroer cada pedaço do meu ser, fecho a porta rapidamente, afogando-me em soluços. 

Isso não é justo…

O momento que mais sonhei na vida chega e ela decide me sacanear dando-me soluços incontroláveis. 

Eu só preciso de tempo…

Calma, é só isso.

Sento quase que involuntariamente no chão, de costas para a porta, e escondo o rosto entre os joelhos esperando alguns minutos. 

Existem diversos fatores que podem levar alguém a uma crise nervosa, e os principais, podem apostar que estão ligados a relacionamentos amorosos. 

Precisei de longos minutos para me acalmar, para me recompor, para engolir os soluços, bem como engolir todo aquele cenário ridículo. 

Eu + primeiro encontro (com o garoto que eu gosto) = ataque de soluços nervosos e suor frio.

Eu nem quero pensar em como vai ser se ele quiser me beijar…

Confiro a hora no relógio da sala. Passaram-se exatamente 20 minutos.   

Limpo o suor da testa e me levanto do chão, indo para o meu quarto, pensando no que vestir. 

Olho ao meu redor e praguejo. Agora me fazem falta todas aquelas peças criativas e descoladas que a minha mãe tanto insistiu para que eu renovasse o meu guarda-roupa.

Eu não tenho nada realmente feminino. Eu só tenho calças, poucos shorts, e muitos moletons. Blusas apenas básicas, e t-shirts, apenas com estampas de personagens da Disney. 

Pela primeira vez na vida o meu estilo sem graça não fez sentido nenhum e incomodou-me profundamente. Eu sou uma bagunça ambulante, realmente.

Corro até o banheiro para um banho apressado e invisto no perfume quando saio. Eu sei que isso conta pontos, estar bem perfumada. 

Visto minha lingerie e pego uma calça skinny preta e minha blusa de lã, cinza, de um ombro caído preferida. Meu pai sempre diz que ela combina com a cor dos meus olhos. Visto-me rápido, calçando botas de canos curtos.

Deixo o cabelo solto, como Harry gosta, e a maquiagem é simples. Um gloss rosado e algumas camadas de rímel, apenas. 

Borrifo mais um pouco de perfume e saio do quarto com celular e gloss na mão.

Apresso-me até a sala e quando abro a porta, dou de cara com Harry, encostado na parede do corredor. 

Ele me olha de cima para baixo e sorri como os garotos fazem nos filmes de romance.

Sinto o sangue subir para o meu rosto, nossos olhares ficam duelando e, pela primeira vez, noto um brilho diferente em seus olhos verdes.

- Vamos...? — diz ele, ainda me olhando com olhos cintilantes.

Meu coração bate com tanta força que eu conseguia ouvi-lo dentro dos meus ouvidos. 

Depois de vê-lo olhando para mim daquele jeito, eu sinto que preciso de um segundo para respirar.

Dou um passo para trás, pois ele me impacta com sua figura bonita e descolada. Veste seu jeans preto e justo, uma camisa do Ramones e All Stars brancos.

Cada vez que o admiro, ele parece mais fascinante. É tão inexplicavelmente bonito, que rouba minhas palavras e meu raciocínio.  

Assinto com a cabeça e o sigo. 

Aquele sorriso... Aquele sorriso me envolveu... o sorriso dele está diferente!

Ele me olhou como se eu fosse uma menina de verdade... não apenas sua-quase-irmãzinha-caçula-e-sem-graça!

Andando ao meu lado, ele coça a ponta do nariz e se afasta um pouco, espirrando com força. 

- Desculpe — ele pede, voltando a espirrar mais três vezes.

- Sem problemas... — minha voz sai macia, num tom preocupado. 

Ele torce o nariz com cansaço e suspira. 

Perdi a conta de quantos espirros ele deu durante o caminho até o parque da cidade. Passou de 30. Será que ele está realmente bem como me disse? 

Ele parecia nervoso também, o que me deixou menos nervosa.

Chegando ao parque de diversões, enquanto caminhávamos, deixei minha mão disponível, só por via das dúvidas. Mas ele não a pegou.

Ele comprou a minha maçã do amor primeiro, e comprou uma água para ele, mas só isso. 

Soprava uma brisa fresca, é uma daquelas noites perfeitas de verão, do tipo em que a brisa é suave e não cai um pingo de chuva.

Eu disse:

- Vamos nos sentar para eu poder comer minha maçã? — e então nos sentamos em um banco em frente à praia.

Mordi a maçã com todo o cuidado, pois estava com medo de ficar com caramelo grudado nos dentes, e aí, como ele iria me beijar?

Como sempre, ele não falava nada, estava mudo, então concentrei-me em aproveitar a minha maçã caramelada e a permanecer calma para não explodir em soluços a qualquer momento. 

Ele espirrou novamente e depois consultou seu relógio de pulso:

- Quando terminar de comer a maçã, vamos à barraca das argolas.

Ele queria me dar um bichinho de pelúcia! 

Eu até já sabia qual ia ser, o urso polar de óculos e gravata. Passei várias vezes na frente da barraca de olho nele.

Já podia me imaginar exibindo-o a Ellie. Ah, isso? Foi o Harry que me deu.

Devorei o resto da maçã, praticamente em duas mordidas.

- Pronto — disse, limpando a boca com as costas da mão. — Vamos.

Ele assentiu e fomos direto até a barraca do jogo de argolas.

Não demorou nada e Harry acabou ganhando o urso polar de óculos e gravata, e me deu. 

Ele está vermelho, trêmulo e mudo. Mas agradeço mesmo assim e dou um beijo em sua bochecha, bem próximo de seus lábios. Ele ficou mais vermelho ainda e deu mais três espirros.

-  O nome dele será Hazza Jr... — anuncio e ele olha para mim, soltando um risinho baixo. 

- O que faremos agora? — ele pergunta e eu ergo as sobrancelhas. 

- Pista de patinação! 

Encaramos uma fila quilométrica para alugar os patins, mas posso dizer que tivemos sorte por ainda haver dois pares disponíveis.

Ah não, meu Deus, POR QUE…? 

Por que mencionei ‘’sorte’’ tão cedo?!

Eu não sabia como a minha vida poderia estar acabada, não até agora, não até o meu corpo congelar completamente quando avistei Nancy.

É isso aí: Nancy Campbell Solir, apareceu belíssima no rinque de patinação no gelo.

O último lugar onde eu esperava vê-la era aqui, hoje, no dia do aniversário de Harry, no meu primeiro encontro com ele!

Eu cutuco Harry na cabeça — ele estava amarrando os meus patins, gentilmente — e disse nessa voz que espero não ter mostrado o que eu estava sentindo por dentro: “Olha quem está aqui também. A Nancy.”

Ele olhou para o lado, viu Nancy e respondeu:

- E daí? — ele nem ficou surpreso ou satisfeito em vê-la.

- Nada não — tento parecer casual.

Então ele se vira para mim com um meio sorriso nos lábios.

- Por que tem ciúmes dela?

Meus olhos se esbugalham e minha expressão se torna horrorizada.

- Ci-ciúmes? — indago, tomada pela vergonha.

- É o que sempre parece — forço um sorriso, pois estou apreensiva. 

- Não gosto dela. — ele meneia a cabeça, em silêncio. 

- Vamos. 

A forma como ele me ajuda a ficar de pé chama a atenção de Nancy, percebo que ela nos fuzila com os olhos. 

- Já fez isso antes? — sua voz me recupera das sombras. 

- Eu adoro patinar no gelo! Embora não seja muito boa nisso...

E não sou mesmo. Sou uma patinadora tão ruim que tenho de segurar as duas mãos dele só para evitar de cair de cara no chão.

Ele me puxa pelas mãos e me leva até a pista. Não sei o que me espantou mais: que ele consiga patinar tão bem, ou que ele não pareça se importar por ter que me rebocar por todo o ringue.

Não trocamos qualquer palavra durante o percurso, e tudo o que escapa dos nossos lábios são sorrisos e suspiros — e dele alguns espirros. 

A pele de suas mãos é tão macia...

O olhar que trocamos é intenso e sua atenção hesita entre minha boca e os meus olhos...

Há um brilho diferente no seu rosto, uma alegria quase inocente que me faz derreter e tremer por dentro.

Repito internamente que não posso soluçar e tento me acalmar…

O nosso primeiro beijo pode acontecer em instantes.

O problema é que eu não sou muito boa em equilíbrio. Eu sou desastrada, ainda mais quando tenho que ficar deslizando em uma pista de gelo.

Harry é gentilmente cuidadoso e eu estou tentando ficar equilibrada e evitar uma queda.

E é exatamente o que acontece. 

Me desequilibro indo ao chão e o meu queixo bate no joelho dele, me fazendo morder a língua e minha boca se enche de sangue — que eu não quis engolir — então cuspo.

Só que infelizmente isso tudo caiu em cima do jeans dele e também no gelo, o que claramente impressionou todos os turistas que estavam parados em torno das grades da pista — e todos eles se viraram e começaram a tirar fotos da garota cuspindo sangue no gelo.

- Cassie!

Harry me levanta, e examina a minha língua, tira o que parece ser um lenço do seu bolso e me diz para manter pressão no machucado.

- Chega de patinação por hoje. Vamos para o hospital.  

E basicamente meu sábado foi isso. Agora eu estou com esse buraco sangrento na ponta da minha língua, e dói falar, isso sem falar que se Harry pretendia me beijar depois dessa noite, não podemos, até cicatrizar.

A médica disse que era provável eu precisar de pontos, mas no fim não precisei, e que eu tive sorte porque não arranquei a ponta.

Uma coisa boa sobre o desastre com a língua, entretanto: foi ver Harry todo preocupado comigo, cuidando de mim a noite toda.

 

 

 

                                                               Segunda-feira

 

 

 

Eu bem que tentei passar o domingo com Darwin e o Styles, mas Harry fugiu de mim como o diabo foge da cruz.

Não entendo como ele consegue ser tão bipolar. Em um minuto pode ir da doçura à frieza extrema. De gostar e não gostar da mesma coisa. Querer e não querer a mesma coisa. Uma hora é certeza e na outra é mistério. Feliz de quem aprende a se equilibrar nessa gangorra.

Como eu fui idiota! Como eu sou idiota, de pensar que as coisas seriam diferentes depois do nosso — desastroso — ‘‘encontro’’. Para falar a verdade, eu já nem sei se para ele era realmente um encontro. Quem sabe ele só estivesse entediado no seu próprio aniversário e resolveu me chamar para dar um rolê, e fim, sem mais expectativas. 

Penso em falar com ele, mas, se falasse, o que iria dizer? 

Na certa acabaria nervosa, fazendo alguma pressão ou cobrança, e estragaria tudo. Não, na verdade não, Reed. Pois não há o que se possa estragar mais.

- Por que não veio com o Styles hoje? — Ellie me dá uma cotovelada de leve, despencando na cadeira do meu lado.

Eu estava com medo dessa pergunta, porque no fundo eu sabia a resposta.

- Eu também gostaria de saber… — murmuro, em uma careta, realmente sofrendo com a língua rasgada.

- Já pensou em simplesmente perguntar para ele?

Nego calmamente com a cabeça, ainda de olho nele, sentado no seu lugar de sempre.

- Você parece tão triste, Síssi… 

- Estou bem — minto e ela estreita os olhos na minha direção.

- Tem certeza? — pergunta.

- Claro que sim — forço um sorriso.

Ela franze a testa, mas depois dá de ombros e me puxa pela mão até a cadeira dele.

- Ellie! — reclamo, mais alto do que pretendia, tentando soltar-me a tempo. 

Mas não consigo, os olhos do Styles me notam sem piscar.

- Pronto. Agora conversem os dois. — diz Ellie, como se fosse uma mediadora.

Harry desvia o olhar para ela por um instante, antes de me encarar mais uma vez.

- Então...? — ele pergunta e meu estômago se embrulha. — O que quer? 

Não respondo, nem pergunto, apenas dou um suspiro.

- Ela quer saber por que não a esperou para virem juntos para a escola. — Ellie se adianta e eu só tenho vontade de esganá-la. 

Mantendo o ar sério, e com o olhar estranhamente distante, Harry baixa o queixo de leve.

- Acordei muito cedo. — diz ele, impassível, e, por um instante, não tenho certeza se ele está sendo sincero. A ideia de que ele pudesse se importar com o meu sono, de me incomodar tão cedo, me parece demais para ele.

Ellie vira a cabeça de relance para mim e entrelaça seu braço no meu, puxando-me novamente, dessa vez para a minha cadeira.

- Acreditou nisso...? — ela quis saber, especulando.

- Nem um pouco, e você? 

- Também não. — suspiro profundamente. 

Pelo jeito, não foi só eu que havia notado a mentira.

- Bom dia, alunos. — a diretora entra na sala de aula e todos os olhares se concentram nela.

A professora de história está atrasada. Com certeza há uma explicação perfeitamente aceitável. Talvez um pneu furado. Um tanque de gasolina vazio. Qualquer coisa. Ela é bem pontual. 

- Tenho dois comunicados importantes a fazer, turma. O primeiro é que a professora Castillo teve um problema pessoal e não virá hoje. — poucos lamentam, infelizmente. — E o segundo comunicado é que esta semana a nossa escola realizará uma competição de teatro — anuncia, sorridente, provocando o início de um burburinho. — No entanto, haverá uma eleição interna primeiro, devido a grande quantidade de alunos. Aproveitem esse tempo livre da manhã para formarem grupos para as apresentações. O tema será livre, mas se houverem grupos com os mesmos clássicos, então serão sorteados os temas entre vocês, no final do que seria a aula de história. O grupo que se sair melhor e for o vencedor, irá representar a nossa escola na competição. 

Assim que a diretora deixou a sala, eu me virei para Ellie para formarmos o grupo. 

É claro que seríamos eu, ela, Leif, Harry e Dylan.

- Não acha o máximo Harry e eu sermos um par romântico...?? — ela suspira.

- Depende. Como estão indo as coisas com ele...? — me lembra e eu solto um muxoxo.

- Como sempre, né? Como água batendo em pedra… — encolho os ombros.

- E antes que você possa furá-la, a pedra já terá sido levada por outra pessoa… — tremo no mesmo segundo.

- Quem? Quem se atreveria a pegar a minha pedra??

Observo sua expressão se tornar carregada, quase como se ela estivesse se remoendo com algo.

- Eu vi que a Nancy quer o Styles no seu grupo. Você não viu ela indo na cadeira dele quando a diretora saiu? — Não, eu não tinha visto!

- É claro que ele não irá. — afirmo com uma falsa certeza.

- Não duvide do potencial dela. — ela pontua, soando intuitiva, e isso me preocupa.

- Então o que devo fazer...??

- Você também pode chamá-lo pro nosso grupo.

- Ele nunca aceitaria. — rebato de boca cheia. 

- Peça ajuda ao Leif. Eles são amigos.

Assinto para ela e me viro na cadeira, na direção do meu melhor amigo.

Ele está lendo alguma coisa — certamente que algum hentai — e vejo que Dylan não está sentado do seu lado, atrás de mim. Deve estar no seu treino de natação.  

Leif nota minha presença, e olha para mim com olhos confusos, aguardando meu próximo passo. 

- Leleif, preciso da sua ajuda. — ele tomba a cabeça ligeiramente para trás.

- O que ganharei com isso?

- Um papel como par romântico da Ellie. — ele ergue o queixo, sorrindo.

- O que preciso fazer?

- Com que Harry aceite entrar no nosso grupo e assim seja o meu par romântico. — cochicho e mais um sorriso da parte dele.

- Vai ser moleza. 

Ele se ergue, dando um giro, e caminha em direção à cadeira do Harry. Vou atrás de mansinho.

- Styles… Styles… Styles… meu grande amigo, Styles... tenho um grande negócio para você. — Leif anuncia e Harry cessa sua leitura, ao revirar os olhos.

- Eu não faço grandes negócios. — ele fecha o livro.

- Você pode me ajudar apenas...? — Leif soa melodramático.

- Se você tem algo para dizer, diga. 

- Queremos você no nosso grupo. — e a resposta de Leif consegue impactar Harry, que calmamente se vira para ele. 

- Você? — ele aponta para Leif, que assente animadamente de volta. — e você...? — ele aponta para mim na sequência. Há uma pausa em seu discurso. — Não. 

- Não negue tão rápido, Styles! — Leif insiste com mais força.

- A nossa peça será sobre Romeu e Julieta, Hazza. 

Leif me olha e faz uma careta confusa:

- Mas só há um casal nessa história — pigarreio, me fazendo de desentendida.

- Gostei da escolha. — Harry aprova e Leif faz um bico.

- Sério, Hazza?? — sorrio esperançosa. — Você quer se juntar a nós agora?? — ele nem se mexe e eu continuo: — É claro que você seria o Romeu e eu a Julieta. 

Ele inspira o ar com calma. 

- Não vou fazer isso.

Desconcerto-me com o que ele fala.

- Por que não, irmão?

- Eu não sei atuar, cara, e nem gosto. — estreito o olhar, pronta para alfinetá-lo.

- É claro que você diria não pra nós. Com tantas propostas tentadoras aparecendo, não é mesmo, Styles! — retruco enciumada, com o objetivo de arrancar-lhe uma confissão que envolvesse o convite de Nancy.

Mas sua resposta é um longo e doloroso silêncio. 

Eu devia ignorá-lo também — pelo resto da minha vida. Seria a reação mais plausível. Entretanto, o fato é que o amor é em si uma loucura. 

Por outro lado, palavras lançadas ao vento não valem de nada. Pode até ser uma pretensão minha, mas nossa troca de olhares diz muito mais do que suas atitudes negativas. E isso me atrai mais ainda.

- Então, galera, o que eu perdi? — Dylan chega perguntando, e sorri simpático para mim, que retribuo, distraída por seu cabelo bagunçado e molhado.

Sempre o achei bonitinho, mas nunca tinha realmente reparado em como ele fica bonito sorrindo. Não pensem que… porque não. Eu apenas AMO sorrisos.

- Nossa escola irá participar de uma competição de teatro. — Leif o informa e ele aprova, assentindo.

- Legal. E aí?

- E aí que estamos aqui tentando convencer o Styles a entrar no nosso grupo, que a propósito, você foi colocado também — Leif diz e ele sorri agradecido.

- Oh, valeu aí. Qual é o drama então? — Harry permanece em silêncio.

- Ele não quer ser o Romeu. E a Cassie vai ser a Julieta.

- Eu faço isso. — olhamos fixamente para Dylan, principalmente Harry. — Eu sou o Romeu pra você. — sinto minhas bochechas esquentarem. Deu uma vergonha…

Nesse momento Harry esboça um amargo sorriso.

- Talvez Matt Murdock, o Demolidor, seja o mais adequado para você, Reed. — ele vira-se para mim, mal-humorado. — você é cega de qualquer jeito. — ele encara Dylan ao dizer e os dois ficam encarando um ao outro. 

Por falta de palavras, dou-lhe um sorrisinho irônico. É óbvio que eu não entendi nada, nem a nítida carranca que o Styles ficou depois.  

 - Então, alunos, conseguiram se organizar direitinho…?  — a diretora chega, quase que como uma salvadora de momentos desconfortáveis. 

O diretor De Niro também está aqui e é exatamente por isso que toda a turma fica parada e atenta.

- OKAY, ALUNOS. VAMOS LÁ — assusto-me, como sempre. É impossível se acostumar. — A DIRETORA E EU ESTIVEMOS PENSANDO, E, ACHAMOS MELHOR DEFINIR UM GRUPO EM POTENCIAL PARA NOS REPRESENTAREM NA COMPETIÇÃO. ISTO É, UM GRUPO FORMADO PELOS MELHORES. — olho para Ellie, em desespero, concluindo o óbvio. — PORTANTO, HARRY STYLES, NANCY CAMPBELL, ELLEN JOHNSON, ANTONY JONES, CALVIN WHITE, E ELLIE ADAMS — arregalo os olhos, sobressaltada. — VOCÊS SÃO O GRUPO EM POTENCIAL. VOCÊS TÊM UMA BOA APARÊNCIA E SÃO BRILHANTES ACADEMICAMENTE. SE PREPAREM BEM. OS OUTROS ALUNOS, FAÇAM GRUPOS À VONTADE. 

Neste momento o sinal para o intervalo toca. 

Ellie deixa o corpo cair para trás na cadeira, gemendo de raiva.

- Argh! Não acredito que vou ter que estar no mesmo grupo que aquela garota! 

Me exaspero com uma careta.

- Me ajude a vigiar os dois...! — cobro com irritação e ela confirma com a cabeça. 

E no refeitório, as coisas ficaram um tanto estranhas. Cada um em seu mundinho, quieto, eu não sei eles, mas eu sofria calada por coisas que eu nem sei se um dia irão acontecer. Como Harry e Nancy juntos.  

Embora toda a bagagem de piadas, e brincadeiras de Leif, nada conseguiu cortar a energia pesada que estava pairando no ar. Mas não há nada mais tranquilizador do que um bom mousse de chocolate, como esse que estou comendo agora.

- Harry…? — fomos surpreendidos por Nancy, que apareceu de repente na mesa.

Armo uma carranca para a intrusa inoportuna.

Sinceramente, a ideia de perder a audição não me incomoda muito. Se isso significasse que nunca mais ouviria a voz dessa garota, tudo bem por mim.

Harry a olha em silêncio.

- Daqui a pouco iremos conversar sobre a divisão dos papéis... okay...?

Ele não diz nada, apenas assente com a cabeça.

Ela o entrega uma folha assim como para Ellie, que revira os olhos com descaso, ao receber.

- Irei em um instante. — Harry a diz e meus olhos se reviram.

Ela sorri vitoriosa para mim e a raiva faz meu rosto ficar vermelho. 

Harry ergue levemente o rosto, olhando para mim e seu semblante se torna duro ao olhar de volta para Nancy.

- Se me der licença, Campbell, eu gostaria de terminar meu almoço sozinho. — ele entoa aspereza e eu o encaro boquiaberta. Ellie balança a cabeça, se segurando para não rir.

Surpresa, Nancy coça a nuca, sem graça, e sai de fininho.

Sorrio para Harry, que sorri apenas com os olhos e depois volta o olhar para seu prato, comendo em silêncio.

Sorrio com uma alegria que me preenche, por ele ter me defendido. Uma paz interior me invade, deixando meu coração leve como uma pena, livre de angústias, da raiva, e de tudo que deprimia e deixava o meu peito apertado e triste.

Mas ele perde dois batimentos, quando Harry e Ellie se levantam indo para a reunião do grupo deles.

Eles não parecem muito felizes.

- Minha doce Sunshine… — Leif choraminga ao vê-la indo. 

Bafejo ruidosamente, deitando a cabeça na mesa e Dylan me olha com um olhar sereno.

- Chefe. Você ainda me tem, não tem…? — sorrio metade constrangida. — Você deveria me considerar para o papel de Romeu. 

- Acho melhor trocarmos de tema… — murmurejo, desistindo da ideia. 

- Eu também acho. — concorda Leif, ainda de olho em Ellie, sentada do outro lado do refeitório.

Dylan solta um suspiro tristonho.

- Então qual seria...? — ele pergunta e eu só dou de ombros, esmorecida. 

Não é o tipo de assunto que me interessa agora, eu estou bem mais interessada em Harry, que está dando toda a sua atenção a Nancy. Não o culparia se ele caísse em suas garras atrevidas, ela é realmente muito sexy e bonita. 

- Então o que acham de A Megera Domada...? — Dylan sugere e eu suspiro, ainda esmorecida, mas assinto com a cabeça.

- Legal — murmuro, cabisbaixa.

- Um ótimo romance e comédia, gostei também. Mas quem será quem? — Leif mostra-se interessado. 

- A chefe será a Catarina, eu o Petruchio e você o pai dela. 

- Por que eu sou o pai dela? — Leif resmunga. — É você que parece o mais velho aqui. — reclama, arrancando risinhos de Dylan. 

- Chefe e eu ficamos mais bonitos juntos. — dou meu sorriso mais genuíno, embora esteja desconcertada.

- Tanto faz. — Leif dá de ombros, com os braços cruzados. — Eu não terei minha Sunshine mesmo. — dramatiza. — Sunshine… Sunshine, Sunshine, minha Sunshiiine…! — choraminga ininterruptamente, arrancando risinhos meus e de Dylan. 




 

 

Ellie

 

Assim que a reunião do grupo acabou, puxo Harry pela camisa, rebocando-o de volta à mesa onde Cassie estava. Eu disse que iria vigiar aqueles dois e isso inclui não deixá-los sozinhos. 

O clima na mesa parece de velório, e dou um gole na minha Coca-Cola, de olho no relógio pendurado na parede do refeitório. Já é quase o fim do intervalo. 

- Sunshine — sinto um arrepio na espinha. Maldito apelido. — Sabia que a nossa peça será sobre A Megera Domada...? 

- Ah é? — respondo, impassível.

- É! E você poderia me ajudar a treinar as minhas falas? Minha Sunshine... — finalmente o miro.

- Não! — dou um peteleco em sua nuca. — Não sou sua Sunshine e eu não terei tempo. Tenho minhas próprias cenas para treinar!

- Tá bem — ele massageia a própria nuca, resmungando sozinho. 

Quase sorrio. Há algo doce no seu jeito esquisito.

- Vou pra sala, gente — Cassie murmura, e eu assinto silenciosa. Harry a segue em silêncio.

- Vou indo também — Dylan se levanta rapidamente, e só ficamos eu e o esquisito.

- Você vai agora, Sunshine...? — reviro os olhos longamente. — Tudo bem. Te espero na sala então — ele diz se afastando. 

Sinto minhas sobrancelhas se juntarem enquanto o olho ir embora. 

Por que ele me esperaria...? O que ele acha que nós somos?

Que babaca.

Não que eu odeie o garoto, tendo em vista que não consigo odiá-lo mesmo que tentasse. Mas ele me irrita na mesma proporção que me envolve.

Saio do refeitório com a lata em minha mão e com um movimento desengonçado, acabo derrubando o que restava do meu refrigerante em cima de mim. O jato de Coca me atinge, manchando minha t-shirt branca, deixando-a transparente. Mas que droga!

O deliciousWill faz uma parada no corredor a minha frente, desviando o olhar para a minha blusa rapidamente, antes de me encarar mais uma vez. 

Ele faz um sinal para que eu o siga e nós viramos o corredor, descendo seis degraus da escada lateral. 

- Pegue isso — ele me estende o seu casaco e eu coro, sentindo-me estranhamente remexida por dentro. — sua blusa está transparente. Vista — recebo da mão dele a peça, com os meus batimentos cardíacos se agitando.   

- O-obrigada. — ele assente, saindo. 

Esfrego as palmas das mãos no rosto, desordenada, e com uma agitação cada vez maior no peito.

Por que ele é sempre tão fofo comigo… e tão gentil...?

Um turbilhão de sensações me azucrina, preciso me acalmar. Então decido ir até o pátio central dar uma caminhada, esfriar a cabeça um pouco e restabelecer a razão.

O sinal para o fim do intervalo toca, mas eu não penso em voltar para a sala agora. Ainda não normalizei as coisas.

É quando vejo um senhor suplicar ajuda ao porteiro da escola. 

- Senhor, por favor, entenda, eu não posso permitir a entrada de ninguém na escola depois que os portões se fecham. São medidas de segurança da escola. São ordens dos meus superiores.

- O meu filho esqueceu seu remédio no meu carro. Estou apenas trazendo para ele. A doença dele não pode ser ignorada. Ele precisa tomar esse medicamento! Viole as regras apenas uma vez! 

- Eu preciso verificar com os meus superiores a identificação do aluno e dos seus responsáveis. Fora que eu não posso sair do meu posto, se eu sair, ninguém ficará no portão, entenda

- Eu fico. — digo abruptamente, já com dó daquele senhor. 

Ele se apruma, com os olhos vorazes. 

- Hey, mocinha! Você! Venha aqui, por favor! — ele me chama e eu me aproximo do portão. — Você conhece o Leif Attwood, do 2° ano? — meu coração quase para.

- Sim, ele é da minha sala! — solto o ar que havia inconscientemente prendido.

- Eu sou o pai dele. — dou-lhe um sorrisinho cordial. — Ele esqueceu o remédio no meu carro, eu estou tentando entregar, mas esse senhor não vai permitir. Você pode me ajudar e levar isso até ele? — assinto com veemência e pego o saco de sua mão, quase esmagando-o entre os dedos.

- Claro que entrego pra ele... — sussurro mais para mim mesma e sua expressão se torna aliviada, mas a minha garganta ainda arde de tão angustiada.

- Deus te abençoe, mocinha. Muito, muito obrigado! — assinto para ele, me despedindo. 

Espio o que há dentro do saco enquanto caminho e o meu corpo começa a formigar…

 

 

 

                                                  Este é um medicamento de alto risco.

                                              Para tratamentos de insuficiência cardíaca. 




 

Meu Deus...

A sensação de tristeza bate contra meu peito e aperta o meu interior.

E para ser honesta, eu não sei porque fiquei tão inquieta, mas de algum modo parece compreensível eu estar assim. 

Eu nunca acreditei quando ele dizia ter uma doença cardíaca. Mas eu sinto que também é por algo a mais que isso...

O que é essa sensação afinal…? 

E não demora muito para que eu estivesse na sala, cruzando a porta até ele.

- Hey, Attwood — paro na frente dele, erguendo o punho, estendendo-lhe o saco. — Encontrei seu pai no portão e ele me disse para lhe dar isso — explico calmamente, baixando o olhar. 

- Ah sim, obrigado. — ele sorri agradecendo, e eu o encaro, tão completamente tranquilo e calmo com a situação. 

Ele me olha de volta e faz uma careta confusa.

- Por que está me olhando com essa cara de compaixão...? 

Engulo rapidamente em seco e agarro sua orelha esquerda, erguendo o nariz.

- É claro que não estou! — bato em sua testa e ele resmunga. — Mas, escuta — evito encará-lo nos olhos. — Se ainda quiser que eu treine com você suas falas… — digo, tendo cuidado com as palavras, e não sabendo exatamente o porquê da cautela. Mas na realidade, eu imagino porque. Culpa. — Eu te ajudo. — dou de ombros, tentando camuflar o quão mexida fiquei por saber que a sua doença é real e séria. 

- Sério, Sunshine…? — ele se anima e eu assinto, fingindo desinteresse. — É claro que eu quero! — sorrio suave.

Foi a primeira vez que eu quis fazer algo por ele. 

Ficamos nos encarando por um tempo, e eu beijo a sua bochecha antes de sair rapidamente.

Ele se vira lentamente para mim com um sorriso bobo nos lábios, sinto o meu coração pular.

Então seu cenho se franze com Dylan chamando sua atenção e, virando-se para mim, Cassie diz:

- Ainda não me disse como foi a reunião…!

- Um saco. — murmuro e ela sorri plenamente feliz. 

- E o meu coração sofrendo… — ela responde e então aviso.

- Mas eles são um par romântico. 

Ela resmunga, impaciente.

- O que iremos fazer...?? 

- Apenas confie em mim. Eu sou a mãe dele na peça e um casamento arranjado é organizado pelos pais. — ela sorri sagazmente.

- Quem disse que os casamentos arranjados são ruins…? — ela cochicha com um sorriso ainda maior e nós duas rimos, porém algo me bloqueia por dentro. 

Olho morosamente para Leif, e o examino melancolicamente, o meu medo é discreto, escondido, mas ele está aqui e eu o sinto. 

 


 

                                                                 Dias depois


 



 

Cassie

 

Devo registrar que a carranca de Harry não tem fim. Mesmo depois de dias emburrado, ele continua carrancudo para o meu lado. Não conversamos mais desde então, nem temos vindo à escola juntos, e por mais que eu me esforce para manter a raiva, o amor que sinto por ele me distrai de qualquer sentimento ruim que possa vir.

- Chefe! — ouço a voz de Dylan soar às minhas costas e eu me viro, sorrindo para ele.

Ele corre, se aproximando de mim, com um saco balançando loucamente em uma das mãos.

Remexendo na sacola, ele tira uma blusa, igualzinha aquela que comprei para mim e para o Harry noutro dia. Mesma estampa, mesma cor, e até a sacola é do mesmo lugar.

- Pra você. — meu olhar oscila entre ele e a sacola. 

- Obrigada... — recebo-a, surpresa.  

- Foi um achado — ele fala, sorrindo para ela orgulhoso. — Estava na promoção.

Eu sei bem.

- Por que isso...? — questiono e ele solta uma risadinha.

- E-e-eu… — ele arfa tão nervoso, que sua voz demora a sair. — E-eu só quis agradar minha chefe — dá qualquer resposta, mas confio.

- Ah sim. — meneio a cabeça e sua sobrancelha arqueia de forma marota.

- Qual é? Não vai vestir? — Minha resposta é um risinho. 

E quando respondo que sim, vejo os olhos dele brilharem. 

- Te vejo depois então. — ele se despede, sorrindo.

Meu próximo passo agora é ir até o banheiro feminino, e visto a camisa que fica muito maior que eu, mas dou de ombros. O que vale é a intenção, sendo ela boa ou má e a dele foi de me agradar.

Saio andando pelos corredores, há muito trabalho me esperando. Eu fiquei de ajudar a montar parte do cenário para as apresentações, todos estão contando comigo.

Mavis cruza comigo no corredor e me olha com a antipatia de sempre.

- Esquisitona. — murmura ao passar por mim.

Fala sério, ela não tem espelho em casa? 

Desço a rampa que dá para o auditório e ao passar pela porta de entrada, tão enorme e pesada, me assusto com tantas pessoas juntas. Já está LOTADO.

O teatro da escola é enorme, cheio de poltronas e corredores e, eu saio às cegas pelos bastidores, abrindo portas que levavam a cômodos estranhos, sem esbarrar em nada do cenário quase pronto. 

O grupo do Styles ganhou de todas as apresentações das salas e foi o escolhido para representar a nossa escola na competição. 

Eu fiquei tão feliz por ele e por minha melhor amiga, realmente eles se apresentaram muito bem — principalmente porque ele não se casa com a personagem da Nancy, por descobrirem que eram irmãos de sangue. Ha, ha, ha, ha, ha!

Como é escuro atrás das cortinas, quase não se enxerga nada.

Vou caminhando por aquele interior mágico, aconchegante, pisando sobre um tapete não muito felpudo, mas fofo, como se estivesse nas nuvens. 

O que falta fazer por aqui…?

Ouço o grupo de Harry ensaiando nos bastidores e sua expressão está vazia, mas ele troca olhares comigo ao notar minha presença no lugar.

Eu nem sei explicar como ele está lindo…

De terno, gravata e sapatos sociais, ele está pura elegância e charme.

Contemplo-o em silêncio por alguns minutos, e ele nota, com um sorriso desconcertado.

Solto um suspiro apaixonado e dou uma olhada no auditório, por trás da cortina, mas acidentalmente o meu pé enrola na mesma, abrindo-a abruptamente, fazendo-me chocar com parte da estrutura do cenário, destruindo-o.

Há risos por todos os lados quando veem eu caindo no chão.  

Lágrimas se formam nos meus olhos com o vexame, e o doutor Will se levanta da platéia e corre até mim, tirando o seu jaleco, me cobrindo de toda aquela maldade. 

Zombar de alguém faz de você uma pessoa mal-educada e insegura. 

Quando você machuca alguém, e faz sem querer, tipo pisar num pé, isso não faz de você má pessoa. Mas quando você fere alguém intencionalmente, fere uma alma e às vezes até quebra um coração, isso faz de você alguém cruel.

Lá embaixo, meus amigos se esguelham para me ver, preocupados comigo. Eu nem tive coragem de olhar para Harry, não aguentaria a dor se ele também estivesse rindo de mim.

Lembro-me do que minha mãe disse uma vez, depois que eu acordei de um pesadelo terrível. ‘‘Se tentar se mexer e não conseguir, é apenas um sonho. Acorde e tudo estará bem’’. É um sonho! Tento me forçar a acordar, sem sucesso, mas sinto mãos firmes apertarem meus ombros, me levantando. 

- Está tudo bem... eu vou te tirar daqui. — Will me guia para longe.

Os risos ainda ecoam pelo auditório, a peça é outra, e com outros personagens, mas o verdadeiro espetáculo acontece por causa de mim. 


 

  
 

 

Harry

 

Eu não consegui ficar no teatro.

Não digo isso porque o cenário foi destruído, ou porque os diretores suspenderam todas as apresentações de hoje, não, não foi por isso.

Eu não consegui porque não consegui parar de pensar na Cassie, nem de procurá-la por cada lugar e espaço dessa escola depois do que aconteceu.  

Perguntei ao doutor Will aonde ele havia levado-a, mas ele só disse que a levou até a enfermaria para que ela bebesse uma água e conversasse um pouco com ele. 

O estranho é que eu passei pela enfermaria e ela estava trancada.

Eu procurei-a por todos os lugares, tanto que ainda estou ofegante e atordoado. 

Só há um lugar que eu ainda não fui, embora não acredite que ela tenha voltado.

Corro até o auditório a sua procura e vislumbro uma sombra, no canto esquerdo do palco, que é quando o meu mundo para.

É Cassie, sentada e encolhida no chão, chorando. 

Dói vê-la sofrer, acaba comigo, me desmonta por inteiro.

Corro até ela, que me olha surpresa e fungando, limpando algumas lágrimas do rosto.

- Hazza… — choraminga, com o rosto contorcido em angústia. 

Tento dizer alguma coisa reconfortante, que acidentes acontecem e não há nada de ridículo no que houve, mas minha boca é subitamente amordaçada com a cena que se sucede.

Dylan também chega correndo e meu cenho se franze ao vê-lo usando a mesma t-shirt que ela está, aquela que ela disse que comprou para nós dois! 

Como ela pôde dar pra ELE…? 

Como ela pode estar usando como se os dois fossem um casal, aliás, será que não são?!

Minha próxima ação é uma consequência. Meu fôlego embarga na garganta e fixo o olhar no rosto familiar à minha frente, e sem raciocinar direito, decido machucá-la, para que isso igualasse a dor que agora está esmagando o meu coração, o meu peito!

- Não tem ideia do quanto você foi decepcionante hoje, Reed. 

Rosno ao dizer-lhe e a palavra ‘‘decepcionante’’ sai especialmente dura.

Mais lágrimas transbordam dos seus olhos e afasto-me dos dois, sem olhar para trás.

Eu sei, eu sei, eu sou um idiota. 

Mas eu só queria puni-la.

Na maior parte das vezes, machucar quem nos machuca é uma saída, de extravasar emoções negativas, mesmo que isso também nos destrua internamente.

 


Notas Finais


ME BATAM, ME CHUTEM, MAS FOI NECESSÁRIO!!

Me contem o que acharam
Se ficou cansativo e muito obrigada a todos vocês que ainda continuam acompanhando a fic, viu! <3

→ Os pais da Cassie: https://www.flickr.com/photos/134807720@N05/51084626506/in/dateposted-public/

Meu instagram: @wrou_anna

→ ❤️❤️❤️ Música tema de Cassie e Harry: https://www.youtube.com/watch?v=XmMiANOTSZM ❤️❤️❤️
TRADUÇÃO: https://www.letras.mus.br/hayden/950433/traducao.html

→ ❤️❤️❤️ Música tema de Ellie e Leif: https://www.youtube.com/watch?v=gH0BQqHjgzE
TRADUÇÃO: https://www.vagalume.com.br/lmnt/open-your-eyes-to-lovetraducao.html


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