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História Youth - A balada da Mona Lisa.


Escrita por: kondzilla

Notas do Autor


oi, tudobom? ta grande mas ta valendo a pena, é um dos primeiros capítulos que eu escrevo e realmente gosto do que eu tô postando hehe

(não revisei, perdoem qualquer erro grotesco.)

Capítulo 6 - A balada da Mona Lisa.


Fanfic / Fanfiction Youth - A balada da Mona Lisa.

Leve-me até a lua e deixe-me brincar entre as estrelas Deixe-me ver como é a primavera em Júpiter e Marte. Em outras palavras, segure minha mão, em outras palavras, querida, beije-me...

 

Segundas-feiras de manhã nunca deixariam de ser os piores dias na escola. Além das duas primeiras aulas serem de educação física, os alunos eram obrigados a ficar na escola durante o segundo horário, frequentando seus respectivos clubes.

 

O sinal tocou mais cedo naquele dia, indicando que as aulas começariam antes do horário, deixando os alunos com apenas cinco minutos para conversarem assim que chegassem.

 

Quando entraram em suas salas, o típico burburinho que sempre se faz presente no início de qualquer dia letivo logo apareceu, mas não durou muito, visto que o professor de sociologia logo entrou na sala, deixando todos os alunos em silêncio.

 

— Bom dia a todos, menos ao Chris. — O professor disse assim que arrumou seus materiais em cima da mesa e escorou-se na mesma enquanto ouvia os alunos rirem de sua ''piada''.

 

— Bom dia pra você também professor Heinz, e me desculpe por ter riscado seu carro quando eu estava na oitava série. — Chris disse, assim como dizia já havia três anos.

 

— Certo... bom, soube que no final de semana muitos vocês quase morreram. — O professor falou na maior naturalidade do mundo enquanto alguns olhares eram direcionados para Devon, que estava sentado na última carteira e deu uma risada pelo nariz. — Que alguns estão com muitos, muitos problemas financeiros. — Dessa vez, o próprio professor olhou para Bernard, que fingiu não saber do que ele estava falando. — E muitas outras coisas que não me fazem muita diferença no cotidiano... porém, uma coisa que me apetece é..

 

— Invocar os espíritos das trevas antes de dormir! Acertei? — Chris interrompeu o professor que mordeu sua língua pra não mandar o garoto para um lugar nada agradável.

 

— Como eu ia dizendo antes de ser interrompido por algum inconveniente, eu acho interessante quando vocês realmente produzem algum conteúdo que seja originalmente vindo de suas cabeças, não algo que vocês jogam no Wikipedia e copiam metade do texto. — Heinz sentou-se na mesa de forma que seus pés ficassem suspensos. — Então, o trabalho de encerramento do semestre será mais um desafio a vocês estudantes...

 

O professor mais uma vez não conseguiu encerrar sua fala, e um garoto alto apareceu na porta da sala com um ar desajeitado e uma cara de perdido.

 

— É... Heinz Doofenshmirtz? — Donnie disse enquanto encarava o professor, que torceu seu nariz ao ouvir o garoto falar seu nome de forma errônea.

 

— Sim, sou eu. — Heinz fez sinal para que Donnie entrasse e escolhesse um lugar, todos olhavam para ele, se sentiu extremamente desconfortável, mas foi para o fundo da sala agradecendo mentalmente por não ter sido apresentado a turma então não tardou em ir para o fundo da sala.

 

— Ué, não vai apresentar o aluno novo? —Christopher, que estava na carteira da frente naquele dia resolveu perguntar.

 

— Não. Quem tiver curiosidade que pergunte de onde ele veio.

 

— Ah, ele é da vortex, Donnie, não é? — Bernard disse.

 

— É, isso aí. — Respondeu Donnie enquanto pegava suas coisas de dentro da bolsa.

 

— Hum, tá. Bem vindo, Donnie, perdoa o nosso professor sem educação, mas relaxa, a corotinho é a maior gente boa. — Chris disse recebendo um olhar de reprovação de Heinz.

 

— Ta, cala a boca Christopher, deixa eu dar minha aula. — Heinz, antipático por si só desceu da mesa e escreveu na lousa a pergunta ''O que tem te motivado ultimamente?'' — Esse projeto não é uma ideia minha, antes de mais nada. Pra ser sincero eu achei até um pouco desnecessário trabalhar dessa forma, mas já que foi pautado pela mulher do diretor, quem sou eu para contestar, não é mesmo? — O professor voltou até sua mesa. — O projeto se consiste em nada menos do que você responder essa pergunta em forma de um vídeo. Claro, não é esperado que vocês façam grandes produções,  mas para ajudar nisso, nós teremos a ajuda de um outro aluno transferido, sobrinho do Dr. Wheels. — O professor fez uma pausa e respirou fundo. — Para começarmos esse projeto, a Srta. Kate Wheels nos disponibilizou uma viajem para Marys Peak, longe de toda tecnologia e civilização, com a proposta de ficarmos eu e mais um corpo de professores cuidando dos estudantes enquanto eles fazem a pesquisa de campo para responder a bendita questão: O que tem te movido ultimamente?

 

— A gente não pode simplesmente responder como se fosse uma enquete? Não é tão mais simples e barato? — Artemis se manifestou.

 

— Seria. Mas mamãe disse que adolescentes nos dias de hoje apenas querem saber de se prender a um mundo virtual que lhes é apresentado. — Uma voz juvenil invadiu a sala, respondendo a pergunta de Artemis e assustando a todos. Trajada em mais um de seus inúmeros vestidinhos floridos que iam até a metade do joelho, era Virginia, a filha do diretor que mais uma vez veio dar as caras pelos corredores daquela escola.

 

— Cruzes, alguém tira esse diabrete daqui! — Bernard, que realmente havia se assustado com a presença da menina foi quem teve uma reação imediata, e como resposta, ela apenas lhe lançou um olhar bizarro e voltou-se para o professor.

 

— Professor Doofenshmirtz, não se importaria se um de seus alunos repusesse sua aula depois? Helena está em seu último horário e meu pai gostaria que esse indivíduo fosse ver a orientadora. — Sete anos, sim. Essa menina tinha só sete anos e já tinha um léxico melhor do que todos os estudantes de West High.

 

— E que... que aluno seria, Virginia? — Heinz perguntou, o professor ficou até desconcertado com o quão robotizada era aquela criança.

 

— Devon Heejan Park. — A garota falou, despertando o adolescente ao ouvir que aquela criança esquisita sabia seu nome do meio.

 

— Heejan? De onde saiu essa porra? — Chris perguntou, sendo censurado por Virginia quase que no mesmo instante.

 

— Você deveria se envergonhar das escatologias que saem da sua boca. — Ela disse, olhando com asco para o rapaz de olhos verdes que não fazia a menor ideia do que ela disse.

 

— Certo... Park, acompanhe Virginia. — O professor ordenou, a menina apenas assentiu com a cabeça quando viu o garoto se levantar, assim que os dois saíram da sala, O professor comentou sobre como aquela menina o assustava e como queria passar longe dela, recebendo vários comentários concordando com o que ele disse.

 

Park seguia os passinhos de Virginia pelo  corredor extenso que dava acesso á sala de Helena, a orientadora da escola. Ele queria evitar ao máximo falar com Virginia por que aquela menina era sinistra, mas de nada adiantou, visto que, parece que aquela menina exerce algum tipo de poder sobre a mente das pessoas.

 

— Não fique revoltado por eu saber seu nome do meio, Devon. Heejan é um nome bonito, bem melhor que Park, devo dizer. Ah! Descobri ele enquanto organizava as fichas de papai em ordem alfabética... você faz muitas coisas erradas mesmo, não sente vergonha? — Disse ela em tom completamente natural, Devon confessa ter ficado um pouco chocado em saber que uma criança organizava a sala do diretor.

 

— Você me assusta,  Virginia. Não me leve a mal, mas sinto que a qualquer hora assim que você me olhar meu corpo vai entrar em combustão.

 

— Você é mais esquisito que eu, não pode me julgar quanto a isso. Diga a Helena que eu a desejei boa sorte. — Ela disse, e em seguida deu as costas para Park, que só conseguiu uma expressão abobada quando viu a garotinha sair saltitando em sua frente e a porta da sala da orientadora ser aberta.

 

Devon fora chamado na sala da orientadora pela terceira vez naquela semana, e essa era a primeira que compareceria desde o último mês. A orientadora, Helena, era uma das pessoas mais pacientes do mundo, isso o irritava profundamente. A mulher, com cara de poucos amigos, como sempre, bebericava seu chá extremamente quente que fazia seus olhos lacrimejarem.

O rapaz olhou a sala a sua volta, haviam móveis por montar em um canto e a parede parece ter sido refeita a pouco tempo, pois outrora tinha um buraco enorme no lugar a onde agora era coberto por uma pintura bizarra de Van Gogh.

Uma música que mais parecia aquelas trilhas sonoras de elevador estava tocando na sala dela, a irritação começou a se aflorar nos poros de Devon a partir daí.

 

— Oi, Park. — Sibilou Helena com sua voz nasal.

 

— E aí. — Respondeu ele com um aceno de cabeça e se sentando na cadeira de frente para ela.

 

— Você não tem me visto muito desde a última vez em que esteve aqui, presumo eu que esteja melhor em suas relações sociais, huh?

 

—Eu não viria se a filha bizarra do diretor não fosse de forma completamente assustadora até a minha sala pra me convocar. Inclusive, sabe que eu estou perdendo aulas por sua causa, não sabe, Helena? — Park disse, não fez questão de ser gentil em momento algum, Helena era um saco.  

 

—Vejo que você ainda me enxerga como um inimigo em potencial, começo a duvidar da sua capacidade intelectual as vezes, Devon. Você é brilhante, mas se finge de tolo, por que? — Helena colocou a xícara na mesa, Devon observou por uns segundos antes de respondê-la enquanto a mulher franzia seus olhos.

 

— Temos mesmo que repetir o processo em que você fica gastando seu precioso tempo dizendo que eu preciso expor meus sentimentos? Senhorita Veronez, seja coerente.

 

—Tem certeza que sou eu quem precisa ter alguma coerência em minhas ações, Park? — Ela enfatizou a voz ao referir-se a si mesma e encarou Park com um olhar desafiador.

 

Park bufou e encarou Helena de volta, com seu típico — e forçado —ar debochado, que vinha sido sua pior característica em suas consultas com Helena.

 

— Tem mesmo necessidade de repetir esse processo? — Helena repetiu a frase de Park, referindo-se ao jogo do silêncio que ele fazia em todas as outras vezes que fora

 

— Melhore, Helena, melhore muito. — Park riu.

 

— Park, eu acho que você ainda não entendeu que o meu objetivo aqui não é julgar você.  Meu trabalho é te ajudar!

 

— E você acha que eu estou aqui por medo de ser julgado? — Park deu uma risada sarcástica.— Senhorita Veronez, por acaso você já viu o tipo de pessoa que eu sou em West High?

 

Helena não disse nada. Deixou que Park continuasse a falar, sabia que ela havia pegado ele no ponto certo, ou pelo menos, pensava que havia feito, mas se surpreendeu mais do que gostaria.

 

— Você fica o dia sentada atrás dessa escrivaninha, anotando em seu computador quais os alunos que tem problemas sociais com base nessa sua leitura de personalidade completamente superficial e acha que não sei que estou no topo da lista de sociopatas. — Devon riu de forma derrotada. — Vocês todos se dizem tão competentes mas não sabem um terço do que se passa na cabeça de cada um aqui dentro. Você não sabe nada sobre mim, e nem precisa saber. Eu não tenho nenhum problema na minha cabeça que precisa ser resolvido e agradeceria se você me deixasse em paz e parasse de tentar me ler, porque já está ficando massante ter que ouvir a mesma ladainha de sempre.

 

— Acha que ninguém é capaz de ler você, então deixe-me te dar um gosto. — Ela estalou a língua no céu da boca e fuzilou Devon com seu olhar. — Sei que você pensa em muitas coisas ao mesmo tempo, e em tempo integral, não sabe lidar com isso, acaba se enfiando nas drogas e só saindo delas quando acorda em uma cama de hospital. Sabe, Devon, sei que não é nada fácil perder um ente querido, mas culpar-se pela morte da sua mãe a cada instante que se passa não é o caminho! Você é um garoto inteligente, sabe disso, mas o que não sabe é usar isso ao seu favor.

 

Após acabar de dizer isso a ele, ela esperava uma chuva de protestos e xingamentos, mas sentiu-se estranha após notar que Devon carregava um sorriso em seus lábios, e aí sim, ela entendeu o que ele quis dizer quando disse que não fazia a menor ideia de quem ele era.

 

— Boa tentativa, Helena.  Pegou tudo o que estava escrito na minha ficha escolar e leu pra mim? Caramba! Ah, outra coisa, quando você achar que pode confiar em alguma informação vinda de bocas alheias, eu sugiro que reveja o que está fazendo, você nunca sabe de toda a verdade até que realmente se interesse por ela, então, por favor, pare de usar esse seu pseudo-altruísmo comigo. Eu tenho noção do que estou fazendo e não preciso de você pra me orientar, sugiro que chame alguém que realmente tenha problemas a serem resolvidos.

 

Depois de dizer isso e deixar Helena com uma expressão completamente embasbacada, Devon se levantou como se nada tivesse acontecido e abandonou a sala da orientadora.

 

Ao abrir a porta e caminhar de volta para sua sala, Devon trombou com alguém no mínimo incomum de se ver pelos corredores aquela hora da manhã, ainda mais indo até a sala da Helena.

 

—  Fala Brooke.

 

 — Oi meu chapa. — Ela estendeu a mão para ele e ele deu um toque.

 

— Consulta matinal? — Ele perguntou.

 

— É, a professora gorda de sociologia disse que eu não sei me comportar perto das pessoas, tudo mentira! — Um bico infantil se formou nos lábios de Brooke.

 

— Bom, ela está em um dia ruim, espero que esteja melhor do que ela pra aguentar os discursos. — Devon advertiu e saiu da frente da porta, dando passagem para Brooke, que observou o garoto vestido no moletom preto afastar-se de perto dela.

 

— Até que ele tem uma bundinha bonita. — Falou para si mesma antes de entrar na sala da orientadora e se preparar psicologicamente para ouvir um sermão, pelo menos ela estava matando aula, e isso já era melhor do que nada.

 

[ X ]

 

O intervalo, a pior melhor hora do dia, a onde os adolescentes ajuntavam-se a seus respectivos grupinhos nas mesas do refeitório. Ali, era o lugar a onde você descobria de onde você fazia parte e a onde estaria desde do começo até o fim de seu ano escolar. Tínhamos os jogadores, as cheerlearders, os nerds, valentões e encrenqueiros, e tinham aquelas pessoas que se encaixavam em um pouco de cada um desses quesitos, que se divergiam no meio de todos eles e que geralmente, faziam amizade com todos, ou inimizades aos montes, tudo depende de como você lida com esses.

 

Abel estava sentado na mesa do canto do refeitório agarrado a um livro no qual ele estava extremamente concentrado em terminar para entregar seu relatório completo sobre ele até o fim de semana para o clube de literatura. Apesar de saber que metade dos membros não levavam a apresentação final a sério, ele queria dar um resumo completo de The Outsiders para a professora, e embora toda a sala estivesse lendo esse livro, ele queria ser o melhor.

 

Os momentos de paz após o sinal ter tocado foram quase nulos, visto que ele só conseguiu ler um capítulo todo antes de gritinhos invadirem sua mesa junto a presenças completamente espalhafatosas junto a um cheiro de merenda escolar.

 

— Falem mais baixo, estou tentando terminar um livro aqui! — Ele ergueu seu livro para Nara e Naomi, que haviam acabado de se sentar na mesa junto a Abel.

 

— Para de ler esse livro velho e vamos conversar sobre nossa ida para Marys Peak. Vai ser legal! — Nara disse animada.

 

— O que tem de legal em ficar três dias no meio do mato sem fazer nada, Nara? — Naomi respondeu.

 

— A gente vai acampar, eu nunca acampei antes, sempre me imagino em um filme americano com marshmallow em volta da fogueira, vai ser demais!

 

— Dormir no chão duro, com mosquitos e corujas a noite inteira perturbando a paz? Acho que não. — Abel comentou desgostoso da situação.

 

— Vocês são muito pessimistas, credo. — Nara disse.

 

— Sei lá, essa mulher do diretor é louca, soube que ela pinta os cabelos de azul nos finais de semana e depois volta a deixá-los loiros. — Naomi disse.

 

— A onde você anda ouvindo essas coisas?

 

— Ué, não sei como você não ouviu, Abel! — Defendeu-se Naomi. — Todo mundo sabe que a Kate é a mais pirada que você respeita.

 

— Bom, se eu tivesse o dinheiro que ela tem eu transformaria meu cabelo em um arco-íris e o deixaria loiro de novo quantas vezes ele aguentasse. — Nara respondeu enquanto cortava a carne de sua bandeja.

 

— Nara, você vai mesmo comer isso? Quer dizer, a Olga é a nova cozinheira, e aparentemente ela odeia a todos, não me surpreenderia se tivesse chumbinho nessa carne. — Abel falou, Naomi riu e concordou enquanto olhava para sua própria comida com uma cara de nojo.

 

— Você vai pro acampamento, Abel? — Nara perguntou. — Naomi eu já obriguei a ir, torne isso tudo mais fácil pra nós três!

 

— Eu tenho outra escolha? — Abel tombou a cabeça para o lado em uma expressão derrotada.

 

— Não. Que bom que concordou! — Nara disse e finalmente conseguiu cortar a carne e levou um pedaço até a boca, cuspindo tudo em sua bandeja logo depois.

 

— Falei pra não comer isso. — Abel riu acompanhado por Naomi, que chamava muita atenção quando ria alto demais.

 

Os três amigos continuaram a conversar e a criar planos para o acampamento, enquanto algumas mesas para o lado a situação era completamente outra.

 

— Você vai ir sim, porra! Ta me zoando? Eu não vou ficar lá sozinho coçando a porra do saco não, se eu ficar sozinho eu vou virar um piromaníaco! — Drake batia as mãos na mesa e protestava a decisão do amigo que parecia inteiramente nem aí para as palavras de Drake.

 

— Então nós vamos ter que lidar com esse fato, não é mesmo? Por que eu não vou ir pra essa merda, nem vem, Drake! Guarda suas chantagens emocionais pra você — Mercury protestou. — Eu não vou ficar no meio do mato só por que você quer.

 

— Você é um bosta mesmo, em?! Você está fodido até o pescoço em toda as matérias quase e não vai ir nessa porcaria? Mercury, você é burro?

 

— Prefiro reprovar de ano do que ter que lidar com essa droga. Não sei por que perde tempo tentando me convencer.

 

— Seu antisocial do caralho, vou te contar, hein? Só serve pra encher a cara mesmo. — Drake pegou um salgadinho do pacote que estava em cima da mesa e comeu, é, tinha gosto de plástico, mas já era melhor do que nada.

 

— Porra, meu irmão, você é chato pra caralho! — Mercury tomou os salgadinhos da mão de Drake e levou um até a própria boca.

 

—  Você que é chato, o que te custa ir lá mano? Não consegue fingir que é sociável?

 

— Eu sou sociável!

 

— Ah ta bom, eu duvido que você consiga fazer amizade com duas pessoas no mesmo dia.

 

— Você ta querendo apostar comigo, Drake? Sabe que isso não é uma boa ideia.

 

— Eu não tava não mais já que você falou... eu aposto que você não consegue ir nesse acampamento e fazer três amigos nessa droga! — Drake usou seu tom mais desafiador, Mercury riu.

 

— Se eu ganhar, quero sua camiseta do Arctic Monkeys.

 

— O que? Nem fodendo! É a minha favorita, você pode escolher outra, menos aquela!

 

— Então, nada feito. — Mercury cruzou os braços e encarou o amigo que revirou os olhos, cansando daquela porra toda.

 

— Ta bom, mas se eu ganhar, eu fico com a sua jaqueta do Lakers autografada pelo Jordan Clarkson. 

 

— Você vai perder, de qualquer maneira. Espero que sua camiseta esteja limpa! — Mercury estendeu a mão e Drake a apertou no instante seguinte, bem quando Monroe e Cleopatra sentavam-se na mesa.

 

— Por favor, digam-me que isso não é o que parece. — Cleopatra disse e torceu o nariz.

 

— Acabamos de fechar uma aposta. — Mercury disse sem cerimônia.

 

— De novo? Vocês sabem que nas apostas de vocês sempre sai alguma merda e que depois que vocês fazem a primeira sempre sai mais desse buraco, parece até epidemia. — Monroe disse enquanto concentrava-se em comer a gororoba em seu prato.

 

— Dessa vez eu vou ganhar, tenho certeza. — Drake disse.

 

— Qual é a aposta? — Cleopatra  perguntou e se debruçou na mesa.

 

— O Mercury tem que fazer  pelo menos três amigos quando estivermos no acampamento, ou eu ganho a jaqueta autografada dele.

 

— Uhh... tocou na ferida dele, Drake. Fazer amigos é o pesadelo do Sr. sincero aí. Na quarta série, ele falou que meu cabelo tinha cor de lixo quando eu pintava ele de cinza no nosso primeiro dia como amigos. — Monroe disse e Mercury deu risada.

 

— É porque tinha mesmo, ué. — Disse Mercury de forma simplista, os demais riram.

 

— Eu quero só ir pra esse acampamento pra botar o terror. — Disse Cleopatra.

 

— Nossa, que menina perigosa. — Monroe disse.

 

— Que botar terror o que, ela vai só pra atormentar o primo dela por que essa é a missão da vida dela nessa terra. — Mercury disse, os garotos murmuraram um ''verdade'' em resposta.

 

— Que mentira! Claro que não! O August nem se ofende mais com nada que eu digo, só fica falando de Park o tempo todo. — Cleopatra reparou que havia falado demais quando os garotos pararam de conversar a partir da sua última frase.

 

— Como assim, Park? O Devon? Seu primo ele tem alguma coisa? Por que você não me contou, sua piranha deserdada! — Monroe empurrou Cleopatra que mostrou seu dedo do meio pra ele.

 

— Se eles tem ou não, não sei. Sei só que o August me xinga e fica reclamando sobre como o Devon é um filho da puta.

 

— Que fita... não sabia que o Park era viad.... gay. Que ele era gay. — Mercury disse percebendo os olhares pesarem em cima de si.

 

— Eu sempre soube. — Monroe disse. — Mas achava que ele ia atrás de alguém mais inofensivo, sabe? Não que seu primo seja um dissimulado, ele é uma graça, mas sei lá, parece que ele é mais louco que o próprio Devon.

 

— Vamos parar de falar da vida dos outros, eu to afim de beber kisuco. — Drake disse e se levantou da mesa, puxando Mercury que estava ao seu lado.

 

Os outros dois apenas se olharam e seguiram os dois garotos, provavelmente o Drake iria tirar o kisuco de algum lugar, nem que ele tivesse que fazê-lo, ele teria. O garoto sempre tinha um jeitinho pra que as coisas saíssem como ele queria, e isso irritava muita gente, as vezes, até seus próprios amigos.

 

Enquanto uns ambicionavam por uma bebida em específico, outros apenas desejavam voltar cinco minutos atrás, quando sua camiseta do Mestre Yoda ainda era branca e não cheirava a coca-cola.

 

— Desgraça, nossa senhora viu! — Donnie praguejava enquanto passava pedaços de papel  na esperança de tirar a mancha colossal feita por um refrigerante que ele abriu e infelizmente aquela merda espirrou toda pela sua roupa.

 

Um garoto entrou no banheiro e foi lavar suas mãos, e pareceu se sensibilizar com a situação de Donnie, que tinha a frustração estampada em seu rosto de maneira nítida.

 

— Sinto muito pela camiseta, comprar coisas nessas máquinas nunca é uma boa ideia. — O rapaz foi simpático, Donnie não sabia por que, parecia que só na França as pessoas tinham a mania de serem antipáticas e odiosas.

 

— Vou lembrar disso na próxima vez. — Donnie disse sem encarar o rapaz.

 

— Você não é daqui né? Desculpa a pergunta inusitada, mas seu inglês é meio estranho. — O garoto riu, Donnie sorriu para ele de volta.

 

— Está tão na cara assim?

 

— É, você é mais bonito do que os garotos que eu geralmente vejo por aqui. — Sorriu, Donnie apenas riu fraco sem saber o que responder.

 

— Sou Donnie, Donnie Darko. — Estendeu a mão para o garoto.

 

— Pierre Gauthier. — Disse o outro.

 

— Gauthier... vous êtes Français? — Donnie perguntou a Pierre se ele era Francês, pois achou muito familiar o jeito com que ele pronunciou o próprio sobrenome.

 

Oui!  — Pierre sorriu. — Mas já faz muito tempo que não falo em Francês, então de lá eu só carrego a nacionalidade mesmo.

 

— Oh... entendo, faz quanto tempo que está aqui? — Donnie perguntou, se esquecendo de sua camiseta manchada e voltando sua atenção toda para o garoto.

 

— Esse ano, completo sete anos vivendo aqui. — Contou Pierre. — Ei, você quer sentar na mesa comigo e com meus colegas hoje? Eles são gente boa, e acho que você também é, vai ser legal!

 

Donnie parou pra pensar um pouco, ele conheceu o garoto não havia nem cinco minutos e ele já havia o elogiado e chamado para sentar em sua mesa... a America é cheia de pessoas estranhas. Mas, porém, contudo, todavia, decidiu por dar um voto de confiança a Pierre e aceitou o convite. Na mesa, Ele sentou-se com dois garotos, um que se chamava Jesus e usava uns óculos fundo de garrafa adoráveis, outro que se chamava Harley e tinha um cabelo muito incrível  e também usava umas roupas estilosas, Christopher, um cara engraçado que aparentemente fumava muita maconha, Devon, que assim como Chris, além de ser da mesma república que a sua era um cara muito estranho... e emo ,e Bernard, que dispensa apresentações.

 

Donnie não se lembra da última vez em que riu tanto com pessoas que ele acabou de conhecer, os garotos não paravam de falar um minuto sequer e sempre tinham alguma piadinha infame para fazer sobre algum deles.

 

— Meu Deus cara, tua risada é muito engraçada! — Bernard disse.

 

— Parece um porco morrendo engasgado com a maçã da ceia de natal. — Chris disse, Donnie se surpreendeu com o jeito despreocupado que ele falava com o garoto que acabou de conhecer.

 

— Para de falar assim com ele, ele vai ficar assustado. — Jesus, ou Jay, como ele disse que gosta de ser chamado, foi quem disse.

 

— Não, não, minha risada é uma bosta mesmo. — Donnie disse e fungou um pouco depois de rir tanto.

 

— Ensina a gente a xingar em Francês? O Pierre é burro só sabe falar sim não e bom dia! — Bernard disse.

 

— Como é que fala vai tomar no cu? — Harley perguntou.

 

Va te faire foutre! — Disse Donnie, os garotos tentaram repetir, mas era pior do que ele falando em inglês.

 

— Tô chocado, que sofisticação! Até parece que eu tô falando que alguém é bonito, olha, Park, vai te frei frut. — Christopher repetiu, errando todas as palavras e fazendo os garotos rirem.

 

— E como que manda alguém se foder? — Devon perguntou.

 

Aller si baise. — Donnie respondeu.

 

— Eu já sabia de tudo isso mesmo. — Pierre fingiu estar invejado.

 

— Olha só galera, todo mundo vai si baise. — Disse Harley.

 

— Que bilíngue. — Devon disse enquanto terminava de comer seu hambúrguer e deixava o papel em cima da mesa.

 

— Ta galera, mas chega aí, fala pro pai, vocês vão pro acampamento, não vão? — Chris perguntou.

 

— Ah cara, sinceramente? Não queria ir não. Eu tô cansado e aquela louca da Kate só inventa moda. — Disse Bernard. — Mas aí complica né, por que eu preciso de nota... e minha dupla é aquele louco do Suga.

 

— Ele não é louco. — Devon disse do nada, pegando completamente o assunto no ar.

 

— Pois não? Não entendi um pouco direito. — Bernard aproximou seu ouvido de Devon.

 

— Louco sou eu, o August não. — Foi breve, os meninos apenas fizeram um ''iiiiiiih'' em resposta, só para implicar com Devon, que não deu a mínima.

 

— Aí, Devon, xonou cabou. — Pierre compartilhou de seus sábios conhecimentos.

 

— A gente não tava falando do acampamento? Ah então, to fodido porque minha dupla é o Christopher.

 

— Se fodeu por que? Eu sou o garoto mais inteligente dessa escola meu filho! — Chris defendeu-se.

 

— Tá, você conseguiu ir com zero em artes por que seu único trabalho do ano foi desenhar a folha da maconha de abertura do caderno. — Park disse, os outros riram.

 

— Eu sou um artista não-compreendido, você acha que o El Greco nunca tirou um zero em artes na vida?

 

El Greco morreu em 1614, acho que ele nem teve tempo de ter uma aula de artes. — Park disse.

 

— Quem é esse cara aí galera? — Bernard se intrometeu.

 

— Puta que pariu. — Chris e Devon disseram juntos.

 

— A aula da semana passada foi inteira sobre o cara, tio! — Pierre deu um tapinha na cabeça de Bernard.

 

— Ah... foi mal, tava doidão. — Respondeu ele e os garotos riram pela enésima vez.

 

O intervalo se passou assim, com todos comentando sobre o tal acampamento e sobre sua insatisfação com suas duplas, e nada poderiam fazer a respeito disso, pois foram todos escolhidos a base de um sorteio, isso traria problemas para uns e outros, isso era fato. Dormir na mesma barraca que uma outra pessoa não seria lá uma tarefa muito fácil se você não tivesse um relacionamento maleável com ela.

 

Nenhum aluno de North West High podería imaginar as proporções que seu pequeno passeio pra uma viagem de campo tomaria.

 

[ . . . ]

 

Tempo se foi, tempo veio e uma semana se passou até que voltamos para a segunda-feira. Eram exatas 5:52 da manhã e os estudantes estavam semelhantes a zumbis enquanto entravam em três ônibus diferentes que os guiariam para o mesmo destino: Marys Peak.

Alguns, chegavam no ônibus e iam direto para o fundo, esperando ter seu momento de paz para falar merda ou quem sabe ''puxar um ronco.''

 

Como uma típica viajem escolar, os alunos não paravam de falar um minuto, sempre aborrecendo aquele colega mais sonolento, desenhando coisas em seus rostos, quando não, gritando para que o ônibus saísse logo, alguns estavam realmente animados, por outro lado, outros agiam feito Gabrielle, que estava em um banco sozinha até o momento, com sua cabeça recostada na janela e com uma vontade de socar a cara do primeiro que a irritasse naquele ninho de animais.

 

— Posso me sentar aqui? — Uma voz feminina pediu, Gabrielle já se preparava para responder que não, pois o lugar estava ocupado pelo seu amigo-imaginário, Jorge. Mas assim que viu de quem se tratava, deixou sua impulsividade de lado no mesmo instante.

 

— Oi, Aly... pode sim. — Disse com um meio sorriso.

 

Alyona era uma das garotas mais fofas com quem Gabrielle lembra-se de ter conversado, era extremamente simpática, não merecia ser vítima de seu mal-humor matinal.

 

— Então.. como está? — Aly arriscou-se a perguntar.

 

— Fora a vontade de morrer as cinco da manhã, estou bem, e você?

 

— Ansiosa, nunca acampei antes! — Aly disse empolgada.

 

— Cuidado pra nenhum urso entrar na sua barraca de madrugada.

 

— O que?! — Alyona se assustou, arregalando seus olhos e fazendo Gabrielle soltar uma risada.

                                                                                                                      

— Estou brincando, não deve haver nada demais por ali, só mato e mais mato.

 

— Bom... já é um começo, não acha?

 

— Não sei não, prefiro o conforto da minha cama quentinha e dos meus cobertores que cheiram a incenso.

 

— Ah, Gabbie, você é tão... monótona! Se anime!

 

— São cinco da manhã, Aly... me dê um desconto, vamos! — Gabrielle disse enquanto fazia uma careta.

 

— Então durma, acordo você quando chegarmos lá, aí você vai fazer uma trilha comigo!

 

— Mas eu não gosto de trilhas... — Gabrielle disse de forma manhosa.

 

— Mas eu gosto! Então durma, por que vamos andar bastante. — Disse Alyona enquanto virava a cabeça de Gabrielle de volta para a janela.

Gabrielle preferiu não discutir, e em poucos minutos, ela cedia ao sono.

 

Não muito distante do banco delas, Bernard estava em um banco isolado de qualquer um que fosse seu amigo, até agora, os garotos pareciam entretidos com alguma coisa que ele provavelmente só ficaria sabendo mais tarde, já que agora ele só precisava de um momento sozinho, mas essa sua distância já começava a incomodar.

 

— O Bernard, caralho! — Pierre chamou e se sentou ao banco vago do lado do amigo.

 

— Fala, cara de rato. — Bernard olhou para ele com sua típica cara de sono.

 

— Ah cala a boca aí Ronaldinho Gaúcho. — Pierre respondeu, empurrando o ombro do amigo, que riu da piadinha infame contra sua pessoa.

 

— O que quer? — Bernard perguntou.

 

— Por que você ta tão distante do seu bonde? Acha que eu sou otário?

 

— Acho.

 

— Hahaha, muito engraçado. — Pierre mostrou o dedo do meio. — É sério, o que aconteceu?

 

— Aconteceu que eu preciso de mais de dois mil dólares até o fim da semana que vem ou eu e todos os membros da Vortex vamos pra rua. — Respondeu, falando rápido demais pra diminuir sua vergonha em tocar no assunto. — Já chegou ao conhecimento do Wheels, que vira e mexe está mandando um cara lá pra  me cobrar, diz que tenho que pagar a imobiliária logo ou vamos perder o QG. Alguma sugestão pra me ajudar?

 

— Puts, cara... sei lá, monta uma banda. — Deu dois tapinhas nas costas de Bernard, que murmurou um ''vai se foder'' para o amigo.

 

— Ah Pierre, é sério mano, só se eu virar traficante... espera aí...

 

— Nem pensa nisso, você não consegue vender nem caixas de biscoitos, quem dirá drogas. — Pierre disse.

 

— Então o que eu vou fazer, porra? — Bernard disse, escondendo o rosto entre as mãos.

 

— Relaxa, vou te ajudar a pensar em algo. Os caras já sabem?

 

— NÃO! — Gritou atraindo alguns olhares, mas logo depois voltou a falar baixo. — Não... eles não podem saber ainda, principalmente o Devon. Christopher me contou que perdeu o dinheiro que ganharam com a venda de drogas no Rust. Se o Park ficar sabendo ele vai ter um ataque e vai quebrar o que a gente já não tem.

 

— Soube que já saíram dois garotos da Vortex, vão abrir uma república nova, isso é verdade?

 

— Matthew e Mark, sim. Já está preescrito, Wolfgang já é até reconhecida como uma república. Eu vou me matar.

 

— Bernard, cara, relaxa. — Pierre se manteve neutro, como sempre, com seu tom terno e nunca se alterando por mais séria que a situação fosse. — Você vai dar um jeito, você sempre da um jeito.

 

— Não sei se eu consigo dar um jeito dessa vez, Pierre. — Confessou de modo frustrado.

 

— A gente pode tentar pensar em uma solução. Eu posso ver alguns empréstimos e, não sei cara, a gente da um jeito!

 

— Obrigado, cara... você sabe que a Vortex significa muito pra mim.

 

— Pra eles também. — Pierre apontou para os amigos que riam de algo que Donnie dissera.

 

— É... acho que é mesmo. — Após chegar a essa conclusão, Bernard abandonou sua carranca solitária e foi até onde estavam seus amigos junto com Pierre, não demorou nem dez minutos para que ele começasse a rir junto daqueles que ele chamava de ''clã.''

 

— Bernard, toca alguma coisa aí! — Pediu Daniel, que embora não fosse da Vortex, passava mais tempo com aqueles garotos do que qualquer outra coisa na vida, e pretendia, quem sabe uma outra hora, ser um membro daquela república tão conhecida e amada por uns enquanto outros diziam ser o inferno na terra.

 

— Dentro do ônibus, ta maluco? — Bernard disse enquanto tentava guardar seu violão no maleiro do ônibus.

 

— O que é que tem? Olha pra isso, parece que só a gente ta vivo aqui. — Daniel disse enquanto se sentava de forma largada no banco em que estava minutos atrás.

 

— Ah, ta bom então vai, mas tocar o que?

 

The Balad of Mona Lisa! — Devon, que até o momento estivera semi-morto em seu banco foi quem sugeriu.

 

— Você só conhece música de emo, Park? — Jay perguntou.

 

— Só, não gostou me manda vírus. — Park respondeu se endireitando e se sentando em cima de seus joelhos para conseguir ver melhor enquanto Bernard se ajeitava todo torto pra começar a tocar.

 

Não demorou para que o garoto passasse a dedilhar seu instrumento, e enquanto outras pessoas iam despertando com o barulho, Park foi quem começou a cantar a música mais icônica performada por Brendon Urie em sua visão.

She paints her fingers with a close precision
(Ela pinta seus dedos com muita precisão)

He starts to notice empty bottles of gin
( Ele começa a notar garrafas vazias de gim.)

And takes a moment to assess the sins she's paid for...
(E toma um momento para avaliar os pecados que ela tem pagado.)

Os demais não demoraram a começar a acompanhar Devon em seu canto, visto que todos ali conheciam aquela música, não foi um problema muito grande para que gostassem do som produzido pelas vozes em coro.

 

Woah, Mona Lisa

You're guaranteed to run this town
(Você está garantida para controlar essa cidade.)

Woah, Mona Lisa

I'd pay to see you frown
(Eu pagaria para ver sua queda.)

 

Os estudantes começaram a bater palmas que se juntaram ao som do violão que Bernard tocava enquanto cantava junto com seus amigos, e em exatos cinco minutos o ônibus havia virado uma espécie de carro de som com vozes naturais saindo de dentro dele com toda a animação que era possível conter em um ser humano.

 

A música durou até o fim, foi bem quando o motorista do ônibus deu a partida e foi pedido para que mais uma música fosse tocada e os outros dois ônibus atrás deles começassem a dar partida também para chegarem o mais cedo possível a Marys Peak.

 

Os três ônibus só chegaram ao seu destino as onze da manhã, realmente não era exagero dizer que eles estavam no fim do mundo. Os alunos estavam afoitos para descer do ônibus e começarem a montar suas respectivas barracas, até se lembrarem que tem suas próprias duplas para lidar.

 

— Vince, você vai montar a barraca sim! — Mark discutia com sua dupla enquanto descia do ônibus, na esperança de tentar convencer o garoto de que não era assim tão difícil montar uma barraca.

 

— Porque eu tenho que montar a barraca? Se não é difícil, faça você! Eu nunca fiz isso na minha vida!

 

— Ah! Ta bom, que chato! Você vai ter que me ajudar.

 

— Não era fácil e dava pra fazer sozinho? — Vince perguntou com uma das sobrancelhas arqueadas e Mark deu um peteleco em sua orelha.

 

— Para de falar, nanico! Eu preciso fazer isso rápido ou eu vou ter um problema bem grande.

 

— Que problema? — Disse Vince, bem na hora em que Mark estacou e começou a puxar o garoto para o lado oposto ao que estavam indo.

 

— Vortex é meu problema. — Disse quando se viu longe de Christopher e Bernard, que não haviam notado sua presença no local até então.

 

— Mas hein? Você não é de lá?

 

— Ah, não, eu sou presidente da minha própria república junto com o Matthew.. já temos onze membros.

 

— Você tem uma república? Que? Meu Deus do céu quando isso aconteceu eu não sei nem em que dia a gente está, e eu sou da Vortex!

 

— Foi depois do dia em que eu e Bernard brigamos no Rust-Eze, contei pro Matthew e nós fomos atrás das coisas o quanto antes, e como ele me garantiu que conseguiria membros, decidi já abrir a república como oficial de uma vez por todas.

 

— Você e Bernard brigaram?! Mark, você não era o santo da baladinha? — Vince, mais perdido que cego em tiroteio perguntava estarrecido sobre aquilo que Mark estava lhe contando.

 

— Vince, me ajuda com a barraca, o resto eu te conto depois. — Disse enquanto colocava suas coisas no chão.

 

— Eu não to acreditando que você fez essas coisas, cara, você parece ser tão santo.

 

— É, eu também pensava isso de mim mesmo e olha a onde eu tô agora, pois é, to fodido, mas o que vale é a coragem, né?

 

— Eu acho que o que vale é o amor a vida, mas cada um com as suas prioridades, né? — Vince disse enquanto tirava os aparatos de montar a barraca de dentro da bolsa.

 

— Você acha que ele vai me matar? — Mark riu, mas riu de nervoso.

 

— Nah, mas com certeza ele vai te ver como inimigo em potencial.

 

— Bom, ele já sabe sobre a Wolfgang, não sei quem disse pra ele sobre, mas ele sabe.

 

— Wolfgang? Esse é o nome da sua república? Nossa, que sugestivo, Mark.

 

— Cala a boca vai, Vince, você já falou demais. — Disse Mark enquanto ajudava o garoto a pregar os arames que cercariam a barraca.

 

— Não tá mais aqui quem falou... — Vince levantou as mãos em rendimento.

 

Mark não respondeu, só revirou seus olhos e só o silêncio predominou até que os rapazes terminassem de montar a barraca.

 

Sea, um pouco afastado deles dois, lutava contra a bombinha que iria encher seu colchão de ar, pois não conseguia abrir o saquinho que a embalava e como o gênio que é, esqueceu de trazer uma tesoura.

 

— Ai desisto, vai se foder, porra, vou dormir no chão duro. — Jogou o objeto para longe, o mesmo acertou a bunda de Matilda, que estava montando a barraca, pois Sea não tinha a menor ideia de por onde começar.

 

— Ai! — Ela exclamou e se virou para trás.

 

— Me desculpa! — Ele se levantou e foi até ela. — Te machuquei?

 

— Não machucou... por que está tão frustrado? — Ela disse enquanto encarava o rapaz.

 

— Eu não consigo nem encher a droga do colchão de ar, eu deveria me....

 

— Fica quieto. Você estava tentando abrir o plástico do lado errado. Tenta de novo! — Ela estendeu o objeto a ele, Sea torceu o nariz e puxou o plástico que revolvia a bombinha de ar, que saiu sem nenhuma dificuldade.

 

— Você é um gênio, Matilda! — Ele comentou e voltou-se para o colchão de ar, mas não antes de reparar que um carro preto parou em uma área próxima as barracas, e dele desceram quatro pessoas no mínimo inusitadas para Sea.

 

Diretor Harrison Wheels, sua esposa, Kate Wheels, o demônio em formação, digo, sua filha Virginia e um garoto desconhecido, que Sea nunca tinha visto antes, mas vestia uma camiseta da época em que a Vortex era administrada pela escola.

 

— Tilda... quem é aquele moleque lá com a câmera pendurada no pescoço? — Sea apontou para ele, nem se importando se ele o notaria ou não.

 

— Não sei não, Sea, por que? — Ela perguntou, sem se concentrar muito no rosto do rapaz,  havia se confundido com algumas coisas na barraca.

 

— Por nada não. — Sea olhou desconfiado para o rapaz, Harrison parecia explicar coisas sobre o ambiente pra ele, como se ele fosse uma espécie de Designer de interiores enquanto esse olhava para o cenário a sua volta, até que reparou que estava sendo descaradamente encarado por Sea, que quando percebeu o olhar sobre o seu simplesmente pulou pra perto de uma moita como se estivesse se escondendo de um fantasma, Matilda até se assustou pela atitude repentina do amigo.

 

— Tá tudo bem aí, irmão? — Abandonou a barraca e foi até ele.

 

— Não, não vem aqui não, Tilda! Ele vai reparar que eu tava olhando pra ele e que me escondi!— Matilda olhou para o garoto, que parecia rir quando notou que Matilda conversava com Sea, que estava abaixado atrás de uma moita curta demais, era possível ver suas costas.

 

— Uau, que gatinho! Acho que é o sobrinho do Wheels, o frâncesinho, como é mesmo o nome dele? Venice!

 

— Venice? Você o conhece? Traidora! Ah, que nome estranho! — Sea pensou alto, tudo de uma vez, Matilda não conteve o riso e puxou o amigo pra cima.

 

— Ah claro, falou o Sea. — Deu ênfase no nome do garoto.

 

— Meu nome é lindo, cala a boca.

 

— Beleza, lindo, me ajuda a montar a barraca por que eu não consigo fazer isso sozinha!

 

— Mas eu não sei fazer isso... — Falou manhoso.

 

— Você aprende! — Puxou o garoto de trás da moita.

 

O rapaz com a câmera agora abraçava Harrison e pegava na mão de Virginia, e a guiava para algum lugar, mostrando para ela algumas coisas aleatórias pelo cenário e ela parecia rir e explicar pra ele algo que era impossível de se entender. Não só Sea, assim como Matilda ficaram chocados, qualquer um que visse a cena diria que o garoto é surtado por chegar perto da menina a ponto de pegá-la no colo!

 

— Certo... ele com certeza é parente do Wheels, ninguém toca naquela menina por um cagaço de pegar um demônio no corpo. — Sea disse.

 

— Vamos deixar isso pra lá, depois até descolo ele pra você dar uns beijinhos, mas me ajuda com a barraca, só isso! — Matilda disse, e por fim, Sea deu-se por vencido.

 

 

Devon já estava desistindo de ajudar Chris, que sempre que movia uma estaca certa, eram duas erradas.

 

— Chris, não tem nada de absurdo em colocar a bosta no lugar certo. — Tomou a estaca da mão de Chris e colocou-a da forma correta no chão.

 

— Faz você sozinho então! — Chris disse, mas sem ser rude.

 

— Já terminei, só falta por a lona, isso você consegue me ajudar. — Park recolheu uma espécie de tecido amarelo do chão e deu duas pontas para Chris, os garotos levantaram o pano e colocaram por cima das estacas, depois disso, veio a lona, que foi colocada no mesmo esquema e.. voilá! A barraca estava pronta.

 

— Beleza, agora se me dá licença eu vou precisar dar uma mijada. — Chris disse saindo da vista de Devon e indo para o meio do renque, a onde possivelmente mais pessoas estariam colocando suas barracas.

 

Park Jogou as coisas dentro de sua barraca de qualquer modo e pegou apenas uma toalha. Antes de fazer qualquer coisa ele queria se refrescar, nem que fosse com água de poço, ele queria.

 

 

Com sua barraca já pronta, August e Bernard estavam sentados em frente a sua ''obra prima'' enquanto Bernard pegava suas coisas pronto para ir até o riacho.

 

— Você não vai vir mesmo, Suga? — Perguntou o mais velho.

 

— Ah, não sei, tenho que ver, é muito longe pro meu gosto.

 

— Você vai tostar se ficar aqui, só é frio de noite... e eu quero ter uns minutos pra enfiar o pé na jaca antes de me lembrar que eu vou dormir abraçadinho com você.

 

— Quem falou em dormir abraçadinho? Tá me estranhando? Eu prefiro dormir em cima de uma árvore na neve do que dormir abraçadinho com você!

 

— Que cruel, só por que eu não sou o Park, é? — Bernard tirou sua camiseta e começou a passar protetor solar nos braços.

 

— O-o que você quer dizer com isso?

 

— Tá tudo bem, ele também gosta de você, suspeito que muito, se quer saber.

 

— Ah é?

 

— Se for o caso e você tiver interesse, eu posso adicionar cupido ao meu currículo, dois pulos e vocês dois tão juntos!

 

— Cala a boca, não fala besteira, ele é hétero e e-eu não tenho interesse nele.

 

— O Devon e hétero e eu não sinto tesão na Robin. — Bernard disse ao reparar que a garota montava sua barraca há apenas alguns metros de distância da barraca deles e também se preparava pra ir até o lago.

 

Vai acampar, Bernard? — August reparou que Bernard parecia estar se animando demais com a imagem de Robin passando protetor solar pelos ombros.

 

— Que? Ah, merda! — Bernard percebeu do que Suga estava falando e tapou o meio das pernas com as mãos. — Espera, por que você tava olhando pra... por que você... por que tava olhando meu pau, hein?

 

August riu de forma que chamou a atenção de algumas pessoas ao seu redor, inclusive de Robin, que acenou para Bernard, mas ele respondeu apenas com um leve aceno de cabeça a ela, sem tirar as mãos do meio das pernas

 

— Seu bosta, eu aqui querendo te ajudar e você me fazendo passar por uma vergonha dessas.— Ele deu um chute na perna de August, que apenas a recolheu, tentando parar de rir para não chamar mais atenção.

 

— Quando eu precisar da sua ajuda, saberei que estou oficialmente perdido. — August disse e limpou a garganta, recebendo o dedo do meio de Bernard em resposta.

 

Bernard pegou uma toalha dentro de sua bolsa e a jogou dentro da barraca de volta enquanto era seguido pelo olhar de August.

 

— Tô falando sério, vou ir atrás do rio, o Devon vai estar lá, eu de você apareceria, sabe como é, né? Os dois sem camiseta... a parte de baixo sai fácil fácil dentro d'água ninguém vai nem notar.

 

— Bernard, cala a boca, irmão. Some daqui antes que eu vá lá conversar com a Robin.

 

— Não sabe brincar não agita então!

Bernard respondeu, logo em seguida deixando August para trás, que começava a ter uma noção do calor a sua volta, que não era pouco.

 

Aparentemente, todos os estudantes tiveram essa mesma noção, porque assim que montaram suas barracas foram todos para o mesmo destino: o rio, com exceção de alguns, todos estavam desesperados pra se refrescar.

 

Não demorou até que eles encontrassem o rio, e demorou menos ainda pra que estivessem dentro dele, não tinham sequer ideia se poderiam ou não nadar naquela água, mas pouco se importaram com isso naquela hora.

 

Os adolescentes só baixaram seu tom de voz, quando notaram que uma certa família os observava enquanto um garoto tirava fotos com uma câmera, alguns até cutucaram outros falando para que olhassem para a câmera.

 

— Bom ver que já começaram a viajem se divertindo. — Kate disse, alcançando a mão de seu marido.

 

— Bom, eu não quero alugá-los por muito tempo, então, eu vou apenas dizer o que viemos fazer aqui. — Wheels começou a dizer, enquanto aos poucos os estudantes iam baixando o tom de voz na medida que percebiam sua presença.

 

— Esse aqui é Venice, meu sobrinho. — Harrison colocou a mão no ombro o garoto que deu um sorriso e acenou para os demais. — Ele será aquele que nos ajudará com todos os projetos de filmagem e irá elaborar seus vídeos separadamente, conforme vocês forem se decidindo sobre o que querem fazer, podem procurá-lo a qualquer hora e ele irá registrar sua resposta para a pergunta que sedia o trabalho... que é? — Perguntou com a intenção de que os adolescentes o respondessem.

 

O que tem te movido ultimamente?  — Alguns responderam juntos.

 

— Ótimo, estou indo embora de volta para a cidade, lembrem-se de que o intuito dessa viajem é que vocês consigam mais contato com coisas das quais são quase impossíveis de serem vistas na cidade, e não a baderna. Vejo vocês novamente em três dias. Os professores que ficarão com vocês estarão chegando somente a uma da tarde, então tratem de estarem perto de suas barracas quando eles chegarem para que a chamada seja feita.

 

Harrison pegou Kate pela mão e disse algo para Venice, que era vigiado por alguns olhos curiosos que nada diziam, apesar de terem muito para falar quando esses viram o rapaz se abaixar e começar a conversar com Virginia de forma tão fraternal que chegava a ser assustadora.

 

— Você vai mesmo me trazer uma câmera, não vai, Venice? — A garotinha olhou para ele com os olhos enormes.

 

— Vou, prometo que ela vai ser melhor do que a minha, você ainda vai tirar fotos melhores do que essas aqui. — Ele levantou a câmera em seu pescoço.

 

—Não seja bobo, eu tenho só sete anos.

 

— Você sabe que é um gênio, *fleuron, não fique se fazendo. — Ele tocou o nariz da garotinha e ela riu.

 

— Tome cuidado, essas pessoas são estranhas. — Ela disse virando seu olhar para os garotos e garotas no lago. — Não fique muito perto delas, eu não acho você um completo babaca.

 

— Seu pedido é uma ordem. — Venice fez uma continência e recebeu um abraço de Virginia em resposta.

 

— Até mais, Venice, tente não enlouquecer ou se apegar a eles, são loucos, todos! — Ela disse ao pé do ouvido do primo enquanto o abraçava.

 

— Até mais, fleuron. Vou sentir sua falta. — Ele respondeu, deixando que ela se livrasse de seus braços e corresse para alcançar seu pai, que tinha parado para esperá-la a alguns metros a frente e acenou para Venice, que assim que se viu sozinho na frente daquele monte de pessoas, quis enfiar sua cabeça em um buraco na terra, mas manteve-se firme.

 

— Não acredito que o abraço da Virginia não queima. — Um garoto usando um short verde foi quem se dirigiu a Venice.

 

— Eu também não acreditava, até que ela começasse a gostar de mim. — Respondeu bem humorado.

 

— Ei... sua camiseta... caralho! Como você conseguiu uma camiseta tão antiga da Vortex? — Ele perguntou.

 

— Ah, o Wheels quem me deu.. ele tem uma porrada dessas, posso conseguir uma pra você, se quiser.

 

— Harrison!? Cusão, disse que não tinha mais dessas quando eu virei representante! — Bernard indignou-se.

 

— Oh, então você que é o Bernard?

 

— Depende, o que você ouviu sobre mim?

 

— Ah, coisas... — Venice disse apontando para sua camiseta, merda, mais um que ia ter que morrer.

 

— Então eu não sou o Bernard, meu nome é Ronaldo. — Ele disse.

 

— Relaxa cara, não é como se eu tivesse algum interesse em contar as coisas pra alguém, meu trabalho é apenas tirar fotos. — Venice levantou a câmera na altura dos seus olhos e tirou uma foto de Bernard, completamente distraído, em seguida foi olhá-la, ele saiu com os olhos fechados.

 

— Ah não, apaga isso, credo! — Pediu Bernard, Venice apenas fez que não com a cabeça.

 

— Não, não... fui orientado a registrar tudo o que me parecer coerente, só tô fazendo meu trabalho.

 

— Ah então tá bom, você vai vir com a gente pra ficar aqui?

 

— Talvez depois eu venha, preciso arrumar minhas coisas agora, foi bom falar com você. — Venice finalizou a conversa e deu as costas para Bernard, que apenas deu ombros e seguiu de volta para o rio, pulando no lugar perto de seus amigos, que como de praxe, riam de forma escandalosa e jogavam piadas infames para todos os lados.

 

Venice ia em direção ao acampamento, precisava procurar por Floyd, disseram que ele dividiria a barraca com esse garoto, certo, ele nem o conhecia, mas aparentemente, Harry gostava dele, e isso era novidade para Venice,  que seguia seu caminho enquanto passava o rolo de sua câmera e percebia que só naquela ocasião já havia tirado mais de quarenta fotos, maldita mania de achar que tudo nesse mundo merece ser registrado.

 

Tudo correria bem, não fosse o fato de que ele ouviu alguém tossindo próximo as barracas do arvoredo. Venice procurou de onde viria aquele som e conseguiu ver uma pessoa debruçada sobre os próprios joelhos.

 

De início ele não conseguiu ver quem era, mas viu que se tratava de um garoto esguio, que pelo que Venice pode perceber, colocava o próprio dedo na garganta para conseguir vomitar, mas só resultava em uma tosse seca e olhos lacrimejando.

 

O fotógrafo não soube como abordar o garoto, mas não precisou se aproximar muito, pois esse percebeu sua presença assim que endireitou o corpo para ir embora, aparentemente muito frustrado.

 

— V-você está bem? — Perguntou ao garoto, que pareceu empalidecer ainda mais em sua presença e engoliu em seco, não respondendo sequer com um aceno de cabeça.

 

— Olha.. eu posso ajudar você, se quiser... — Disse Venice dando um passo a frente e vendo o garoto se retrair.

 

— Por favor... só... vai embora. — Disse o garoto depois de um tempo.

 

— Eu não posso ir, deixe-me te ajudar!

 

— Eu sou minha própria ajuda, obrigado. — Engoliu em seco mais uma vez e limpou sua boca, saindo da vista de Venice com uma certa pressa.

 

Venice abriu sua boca uma, duas, três vezes, na esperança de dizer alguma coisa para que o garoto voltasse, mas não disse nada, apenas viu as costas magras caminhando para um rumo que ele não sabia muito bem a onde iria dar e desaparecer bem na sua frente, sem ter coragem de mover um músculo para ir atrás dele.

 

O rapaz ficou alguns minutos parado, processando o que tinha acabado de ver para, só então, voltar a andar com seus pensamentos em um rumo completamente distorcido, até que seus olhos viram novamente algo que ele supostamente não deveria, mas dessa vez, ele decidiu que não seria tão explícito, e ficou mais afastado para acompanhar a discussão que tinha início ali.

 

— Então é  simples assim? Você diz que vai pular fora da Vortex quando sabe que todo mundo contava com você antes mesmo dessa porra começar,  Vince?

 

— Cai na real, Hiro. Acha que eu vou trabalhar por mais quanto tempo pra dar meu salário na Vortex? Acabou. Não vou mais ficar indo atrás de Bernard pra me Justificar, pra ele pouco importa quem entra ou quem sai.

 

— Eu não acredito que você vai dar os canos assim na gente, Vince, sinceramente, não acredito. Já perdemos muita gente, se ficarem saindo, pra onde gente como eu vou? Não podemos perder mais ninguém, Vince.

 

— Não quero estar na Vortex pro resto dos meus dias. Não por causa de você nem por causa dos caras, eu sempre gostei de todos lá, mas acontece que o jogo tá' mudando, Hiro, e eu não quero ficar pra trás pra sempre.

 

— E você pretende ir pra onde?

 

— Isso eu não posso dizer ainda, mas eu estou falando pra você porque acho que é o único cara que eu ainda posso ter uma conversa sensata dentro daquele lugar. Então, é isso, eu tô saindo.

 

— Adiantaria algo se eu te pedisse pra ficar?

 

— Não, Hiro, não dessa vez. — Vince baixou o olhar. — Sinto muito.

 

— Tudo bem, falo com o Bernard depois, boa sorte em... seja lá o que estiver pensando em fazer.

 

— Valeu, cara, ainda amigos? — Vince encolheu-se em seus ombros.

 

— Claro, ainda amigos. — Hiro sorriu e deu um tapinha nas costas de Vince, mas era possível sentir a amargura em sua voz.

 

Vince se afastou de Hiro, que agora tinha um rosto sem expressão enquanto encarava o nada, isso até Venice aparecer, cinco minutos depois de sua suposta briga com Vince.

 

— Oi, menino! — Venice disse, Hiro riu da forma como ele o chamou.

 

— Oi, precisa de ajuda? — Ele perguntou um pouco triste.

 

— Eu quero saber como que eu faço pra entrar pra.... Vortex! Pode me ajudar?

 

Hiro virou a cabeça de forma tão brusca que sentiu seu pescoço estralar. Abriu um sorriso que não cabia em si e respondeu um ''sim'' tão extenso que fez até com que Venice se sentisse melhor.

 

Coisas boas eram um evento raro, ainda mais na situação atual em que todos se encontravam, então, embora certas atitudes pareçam ser feitas de bom grado e com boas intenções, sempre desconfie. As boas intenções tem sido a ruína do mundo. As únicas pessoas que realizaram alguma coisa foram as que não tiveram intenção alguma.

 

 


Notas Finais


The Balad of Mona Lisa: https://www.youtube.com/watch?v=Sqwjgf1P0oU

*Fleuron: Florzinha em francês (Venice é francês.)

Próximos dois capítulos se passarão no acampamento.
A quem me pergunta: Todos os personagens de Youth estão aceitos, por isso talvez demore a aparecer todos.

byebye:)


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