1. Spirit Fanfics >
  2. Youth Generation >
  3. Classroom Eight: being bad feels pretty good

História Youth Generation - Classroom Eight: being bad feels pretty good


Escrita por: wonkicore

Notas do Autor


NÃO ISSO NÃO É UMA MIRAGEM NÃO É UMA ALUCINAÇÃO ESTÁ REALMENTE ACONTECENDO.

Capítulo 8 - Classroom Eight: being bad feels pretty good


A história de Heeseung com brigas começou no final de sua infância. Antes dos seus dez anos, o máximo de violência que Heeseung consumia era resumida a animes que ele assistia e alguns videogames que seu pai comprava, particularmente gostava de The King of Fighters, era seu jogo favorito. No entanto, ele sabia desde de cedo que não poderia, nunca, usar da violência com ninguém, principalmente as garotas. Era errado bater nas pessoas e usar da violência para outras coisas além de esportes saudáveis, segundo sua mãe e, com dez anos tudo o que sua mãe falava era lei. Ela não estava errada, de toda forma. Sua mãe se esforçava para criar um garoto educado e justo, ela não gostava de lutas nem de seus videogames, mas gostava de ver seu único filho feliz. Hyojin preservava uma infância amável e boa para Heeseung, no intuito de fazê-lo crescer em um lar saudável.

Ela conseguiu, por bons dez anos Lee Hyojin conseguiu fazer Heeseung crescer em um lar saudável, escondendo por baixo dos panos todos os conflitos que existiam entre ela e seu marido alcoólatra para preservar uma boa infância para seu filho. Não se importava com os hematomas ou muitas vezes precisar se trancar no quarto de Heeseung no meio da madrugada para assegurar de que ele estava bem e se proteger. Tudo era por ele e apenas por ele.

Até a quinta-feira à noite em que ele chegou bêbado em casa e destruiu tudo o que Hyojin lutou para preservar.  Heeseung não havia notado o comportamento estranho do pai e no modo como ele esbarrava nas coisas e não conseguia andar em linha reta ou se manter de pé sem seu corpo se balançar para frente e para trás, a criança estava muito concentrada no filme que, teoricamente, ele e sua mãe assistiam na sala.

Dizem que quando se tem um filho, seu sexto sentido se aflora de maneira quase sobrenatural e Hyojin confiava mais em seu sexto sentido de mãe do que no próprio Deus; outra coisa que também era interessante era a conexão de mãe e filho que os dois tinham entre si, não precisava de palavras para saberem que algo de estranho estava acontecendo. Então quando sua mãe lhe mandou ir para seu quarto, dizendo que já estava na hora de dormir e que iria ajudar seu pai, Heeseung sabia que tinha alguma coisa errada.

Ele não era uma criança desobediente, no entanto, naquele dia não obedeceu a ordem dita pela mãe e se escondeu atrás de uma das paredes da cozinha; os minutos seguintes pareceram existir em câmera lenta, seus olhos infantis estavam arregalados e assustados com o que via. Seu pai era muito maior que sua mãe e consequentemente mais forte, então não entendia o porquê de estar segurando-a com força pelos braços e sacudindo seu corpo violentamente. Não pensou duas vezes antes de correr na direção dos dois para se enfiar no meio deles e empurrar, com toda sua força de criança, seu pai para longe de sua mãe. 

Não adiantou de muita coisa, como se fosse um inseto seu pai lhe empurrou com força para longe; sua cabeça bateu no chão e ficou zonzo por alguns segundos. Mesmo com uma dor de cabeça que logo iria ser incômoda, Heeseung se levantou novamente e começou a puxar a camisa de seu pai em uma tentativa de tirá-lo de perto de sua mãe, o que, dessa vez, pareceu funcionar porque a atenção dele agora era toda sua.

Nunca olhou por muito tempo nos olhos de seu pai como estava fazendo agora. Estava com medo, claro que estava, e por mais que quisesse dar alguns passos para trás, não o faria. Ficaria ali e protegeria sua mãe como a boa pessoa que Hyojin estava o criando para ser. O homem começou a andar em direção a criança que ainda mantinha o olhar firme, o cheiro forte de bebida alcóolica que quase nunca sentia era quase insuportável vindo de seu pai e tinha algumas dúvidas se era apenas o álcool que circulava no sangue dele. Seu braço foi agarrado com força por uma das mãos de seu pai e a outra ficou suspensa no ar, um pouco mais atrás de seu corpo para claramente ter uma força maior quando fosse atingir o rosto da criança.

Dessa vez, Heeseung fechou os olhos e esperou pelo impacto em seu rosto. O que nunca veio, mas o som de um tapa ecoou por toda a cozinha. Quando abriu os olhos, o corpo de sua mãe estava a frente do seu lhe protegendo de ser agredido pelo pai, em contrapartida ela havia sido atingida pelo tapa; puxou o ar com força para dentro de seus pulmões ao ver a cena. Com certeza seria algo que ficaria tatuado em sua mente contra a sua vontade.

— Se você ousar bater nele, eu juro por Deus que mato você, está me ouvindo seu idiota?

Era parecido em muitos aspectos com sua mãe, os cabelos escuros, o nariz afiado e os olhos; certamente seus olhos eram quase idênticos, no entanto, não sabia se algum dia teria o mesmo olhar ameaçador que sua mãe que sua mãe tinha naquele momento. Mesmo com uma grande mancha vermelha de cinco dedos se formando em sua bochecha, Hyojin não baixou a cabeça em momento algum para aquele homem que um dia Heeseung chamou de pai.

Seu pesadelo começou quando tinha dez anos e lembrar dele lhe fez socar com mais força o saco de areia pendurado no canto do galpão. Era por ele que gostava de lutar, dar um novo significado a algo que sempre lhe trouxe medo. No começo foi apenas para defender sua mãe e se defender dos ataques daquele homem, mas com o passar do tempo, algo mudou em si. Seu pai gostava de bater em sua mãe quando era mais novo e depois que conheceu Jay e consequentemente as lutas clandestinas, aprendendo a se defender e defender os outros, Heeseung gostava de bater nele. Encontrou outro significado para lutas que não fosse um histórico traumático de violência familiar, ele a usava para se defender e proteger quem amava e pensar nisso lhe fez voltar há dois dias.

Porque não protegeu Riki como Jake havia feito. Era justamente para isso que lutava, para proteger os outros e deixou com que dois de seus amigos se machucassem, assistindo tudo sem fazer nada para ajudar. Talvez fosse o choque de presenciar, depois de um ano, pessoas que gostavam serem agredidas; Heeseung simplesmente travou, não sabia mais como agir porque não se imaginava vendo uma cena como aquela depois que seu pai foi preso, ela reviveu memórias das quais não queria se lembrar. No entanto, sua hesitação causou muitos machucados em Jake e Riki completamente assustado com tudo.

O que antes era um combinado silencioso virou uma rotina. Não deixavam Riki sozinho em nenhum momento, ele estava muito assustado com o que havia acontecido, ninguém podia se aproximar dele sem o garoto sentir seu coração bater com força e as mãos tremerem. Um claro trauma. Claro que, depois de verem do que Jake era capaz para proteger os seus, nenhuma pessoa ousava sequer olhar torto para ele, com medo de ser o próximo com olho roxo e lábios cortados.

E Heeseung se sentia ainda mais culpado toda vez que se lembrava como Riki contou a ele e aos outros que estava sendo vítima de bullying na sua turma. Foi no mesmo dia da briga e ele chorava tanto que quase não conseguia falar, um misto de preocupação por Jake e medo de se abrir. Ele, Sunghoon e Sunoo mataram o resto das aulas apenas para fazer companhia a Riki e não lhe deixarem só. Nos dias seguintes, o garoto esperava ansiosamente por Jake. O dia todo. Mas ele nunca chegava. Fazia dois dias desde que Jake lhe agarrou pela camisa no meio da sala e disse coisas que Heeseung já sabiam serem verdadeiras, mas ter outra pessoa jogando-as em sua cara era diferente.

Acertou com mais força o saco de areia pendurado no canto do galpão, estava frustrado e levemente preocupado. Ninguém tinha notícias de Jake desde o dia da briga e o modo como ele saiu da sala não foi o mais calmo; esperava tudo de Jake Sim e isso era o que mais lhe preocupava. Não sabia explicar o porquê, mas sentia que precisava conversar com ele, pedir desculpas — não só por ter travado naquele dia e sim por tudo o que vinha fazendo desde que Jake lhe vira lutar. Ele não estava todo errado quando disse que seu poder de intimidação só era bom quando era com ele, era divertido ver o intocável e destemido Jake Sim encurralado com o rabinho entre as pernas por alguém cujo sempre gostou de provocar.

Dizem que a vingança era um alívio para a alma, mas não para Heeseung. Ele nunca não gostou de Jake de verdade e muitas vezes sim, se irritava com as provocações infantis do outro, mas nunca foi algo não saudável ou preocupante. Jake não era o monstro que todos cochichavam pelos corredores. Adolescentes eram chatos e egoístas, a fofoca rapidamente se espalhou por todas as turmas, cada uma contada com algo totalmente diferente da verdade, mas todos com uma única coisa em comum: Jake era mal. Depois da briga, seu nome era constantemente associado ao violento e descontrolado, dando popularidade aos verdadeiros culpados, agradecendo-os por finalmente dar uma lição nele.

A visão de Riki choroso e Jake sendo o verdadeiro herói da situação voltou a passar em sua mente em loop e Heeseung acertou com tanta força o saco de areia pendurado que doeu os nós de seus dedos mesmo protegidos pela faixa que usava. Jake estava sendo crucificado por algo que não havia feito, de todos os envolvidos, ele era o salvador. No entanto, os lobos viviam em pele de cordeiros pelos corredores da Nunchi e os quais sempre seriam vangloriados.

— Faz dois dias que você está quase rasgando esse saco de areia com socos. — A voz de Jay ecoou pelo galpão. Heeseung olhou por cima do ombro apenas para vê-lo ligar as luzes do outro lado do galpão. — Espero que você não esteja imaginando o rosto de alguém aí.

Heeseung riu e negou com a cabeça, voltando sua atenção para o saco de areia, acertando-os com socos moderados agora.

— E se estiver, que não seja o meu.

Os golpes pararam por longos segundos, Heeseung manteve seus olhos fixos no saco de areia antes de se virar totalmente para ter certeza de que não estava sofrendo de uma abstinência de Jake Sim e começando a alucinar. Ele estava lá,  usando uma jaqueta preta que Heeseung se lembrava de já ter visto Jay usar, seu rosto ainda tinha hematomas e seus lábios estavam mais volumosos que o normal, ainda inchados dos socos que levou ali. Mesmo que, fisicamente, fosse como se ambos não tivessem passado dois dias sem se verem, Heeseung conseguia notar que algo em Jake estava diferente. Ele parecia cansado, exausto para falar a verdade; seus ombros estavam caídos e sua costumeira expressão sacana estava desleixada como se ele não se importasse mais. Talvez tudo o que aconteceu com Riki tenha sido demais para ele.

Outra coisa que notou no seu pequeno monólogo mental foram algumas pequenas manchas arroxeadas salpicadas por seu pescoço e que provavelmente desciam por todo o seu torso e costas. Conhecia muito bem elas, já deixou parecidas em muitas pessoas, incluindo Chaeyoung e Jay. Bom, aparentemente, Heeseung era o único sofrendo durante aqueles três dias. Jake Sim era um idiota.

Não respondeu, estava surpreso demais em vê-lo ali para conseguir formular algo e Jake também não se estendeu muito na conversa, seguindo Jay para seja lá onde ele foi; não sabia que os dois eram tão próximos ao ponto de ficarem sozinhos sem a presença de Chaeyoung, ele mesmo não era assim com a garota e não esperava que Jake fosse próximo de Jay. Rapidamente foi até o armário onde guardava suas coisas e procurou por seu maço de cigarro. A terceira cartela da semana. 

Achava que a presença de Jake em sua vida era a responsável por seu vício, mas acabou descobrindo que a falta dele podia ser bem pior para ele. Não entendia e nem queria entender, mas não ver Jake por três dias depois do que aconteceu, não ajudou em nada seu lado fumante; Heeseung se pegou fugindo entre as aulas para fumar com mais frequência do que quando Jake estava lá, e não era só um cigarro. Eram dois, três, quase chegando ao quarto mas se forçava a parar antes de acendê-lo. Ver Jake ali, depois de três dias se perguntando o que havia acontecido com ele, lhe deixou nervoso. Precisava descontar em alguma coisa.

Se encostou em uma das paredes do galpão e deixou com que a nicotina tomasse conta de seus sentidos e a fumaça, do lugar. Sempre fumava lá, não era o primeiro nem o único. Nunca pensou que ver Jake Sim em carne e osso fosse tirar um peso de seu peito, com a ajuda do cigarro, claro. Às vezes a fumaça ardia seus olhos como também ardia seu nariz quando a soltava por ele. Mas ele não ligava, para falar a verdade, essa era a última coisa para a qual Heeseung se importava enquanto fumava.

Parecendo se esquecer que o motivo pelo qual ele fumava — e que não sabia disso, vale ressaltar — estava ali, o Lee continuou a puxar mais nicotina para dentro do seu corpo, não dando ouvidos aos passos leves que ouvia. Sua mente estava processando tantas coisas ao mesmo tempo que sequer percebeu quando tudo ao seu redor começou a ficar agitado demais, só se dando conta do que acontecia no momento em que Jay deu um tapa no cigarro em sua mão com força, derrubando-o no chão.

— Que merda, Jay…? — Reclamou, aquele desgraçado sabia como uma carteira de cigarros era cara e que as suas mal estavam durando uma semana, ainda assim, ele estava jogando um no chão. — O que você pensa que está fazendo, caralho.

Ele não respondeu, apenas pisou com força na bituca e voltou seu olhar para o rosto do melhor amigo. Tudo parecia muito devagar na percepção de Heeseung, mas todos os atos estavam sendo tão corridos que parecia até que Jay estava preocupado com alguém.

— Para de fumar essa merda e vai ficar com o Jake! — Ordenou, o tom de voz tão firme que parecia quando Heeseung estava as vésperas de uma luta importante. — Eu preciso achar a bombinha de asma dele.

As informações estavam sendo jogadas tão rápidas para o Lee que ele mal conseguia processar tudo com clareza, pegando apenas algumas palavras soltas torcendo para que elas tivessem algum sentido juntas. E quando se deu conta de que, Jake provavelmente estava tendo uma crise asmática desencadeado por sua culpa, rapidamente se pôs a procurar o outro para não deixá-lo sozinho enquanto Jay buscava pelo remédio.

O encontrou deitado no velho sofá do galpão, seu peito subia e descia de forma rápida e sua respiração estava curta. Suas mãos segurando o centro de sua camisa com força e as vezes esfregando o peito com o pedido de que aquilo lhe ajudasse a respirar melhor. Quando os olhos de Jake se focaram na figura de Heeseung de pé ao seu lado, ele rapidamente tentou se sentar para sair de perto dele e se esconder até que sua crise de asma se acalmasse. Ou ele morresse. Naquele momento Jake não saberia dizer o que queria mais e ficar vulnerável na frente de Lee Heeseung com certeza não era uma opção. Mas, aparentemente, ele precisava se conformar com o fato de que, desde o momento em que Heeseung se sentou com ele e Sunoo na hora do almoço, estavam ligados até o dia de suas mortes, provavelmente.

Heeseung foi rápido em impedir que Jake se levantasse do sofá, colocando-o sentado mais uma vez no estofado e sentando ao seu lado para prevenir uma nova fuga. Ele estava molenga, seu corpo não tinha muita força para ficar sentados só e, talvez fosse a situação em um todo; os três dias sem notícias dele, todos os sentimentos voltando de uma vez e passando por cima de si como um trator e a vontade de se redimir por tudo que já fizera com ele, mas Heeseung o segurou contra seu corpo, deixando com que Jake soltasse todo seu peso sobre o braço do Lee que lhe segurava de forma confortável.

— Por favor, não morra nos meus braços. — Heeseung murmurou em tom de piada. — Caso contrário Sunoo vai me matar.

Jake riu, fraco e com dificuldade, talvez ele nem devesse ter gastado o pouco de oxigênio que conseguia chegar ao seus pulmões com uma risada, mas ele não conseguiu evitar. Estava com saudades de ouvir o nome de Sunoo; estava com saudades de Riki e Sunghoon também. Sentia falta deles, dos cinco.

— Não se preocupe… — Forçou uma fala. — Você não vai se livrar de mim tão facilmente, Hee.

Não souberam dizer quanto tempo ficaram daquele modo, no entanto, quando Jay finalmente voltou com uma bombinha de asma vermelha em mãos, Jake a agarrou como se sua vida dependesse daquele remédio — realmente dependia, em alguns momentos — mas suas mãos estavam trêmulas demais para conseguir segurar com firmeza a bombinha e foi notando isso que Heeseung cobriu as mãos de Jake com as suas próprias e o ajudou a mante-las firmes para que conseguisse ingerir o remédio.

Longos minutos se passaram até que Jake conseguisse, finalmente, controlar minimamente sua respiração sob os olhares preocupados de Jay e Heeseung. Sabia que Heeseung tinha muitas perguntas para fazer, as quais não iria responder caso fossem feitas, por enquanto ele só queria se acalmar e descansar um pouco. Qualquer mínima coisa parecia que lhe deixava exausto.

— Você está bem? — Jay perguntou.

Ele queria se aproximar, se ajoelhar na frente de Jake e tocar em seu joelho com toda a preocupação que tinha por ele. A relação deles era muito mais do que um encontro casual que acabava com os dois na cama. E Jake sabia disso tanto quanto Jay sabia que o outro nunca se permitiria ser cuidado por alguém porque, para ele, ser cuidado significava estar vulnerável e Jake Sim preferia a morte do que se despir por completo de sua máscara e deixar ser visto como quem realmente era.

— Estou bem, Jay eu só… — Puxou um pouco mais de ar para seus pulmões antes de continuar. — Só preciso descansar um pouco.

Jogando um dos braços sobre os olhos, Jake deixou seu corpo relaxar sobre o velho sofá de couro do galpão. Ele ficava um pouco mais afastado de onde aconteciam as lutas e treinos e era feito justamente para as pessoas descansarem, mesmo que, no momento, ele não queria pensar quantos fluídos corporais já foram derramado sobre o couro, ele fosse usado mais para isso do que para um descanso — ele não podia reclamar muito, uma vez que fora ele quem manchou o couro e depois fez questão de limpar, no entanto.

Ouviu alguém respirar fundo seguidos de passos e logo depois ouviu alguém próximo se sentar no chão do lado do sofá em um barulho abafado. Ainda assim não abriu os olhos.

— Você nunca me disse que tinha asma. — Heeseung disse, o tom de voz baixo não escondia toda a preocupação que estava sentindo. — Eu quase matei você.

Demorou um pouco para Jake reagir, e quando o fez foi apenas para tirar o braço de seus olhos e virar a cabeça para conseguir enxergar o garoto sentado no chão ao seu lado, sentindo todo o peso e sentimentos nas palavras de Heeseung. Pela primeira vez sentindo-o verdadeiramente além de discussões e mordidas. Ainda com sua bombinha entre as mãos trêmulas e a respiração irregular que se acalmava aos poucos, Jake observou toda a situação; não se lembrava da última fez que havia tido, de fato, uma crise de asma, sempre às evitando ao máximo. No entanto, ser visto de forma vulnerável na frente de Heeseung estava sendo um passatempo bem corriqueiro em sua vida e estava começando a não odiar isso.

— Você não "quase me matou", para de ser dramático. — Retrucou com a voz igualmente baixa. — Eu não preciso andar com um "Cuidado! Asmático." escrito na minha testa, as pessoas não precisam saber a não ser que seja extremamente necessário.

Heeseung não respondeu, Jake estava certo — de uma forma bem errada, mas certo. Ele não precisava falar para ninguém que era asmático a não ser para algo relevante, algo que custasse sua vida. Ele, por outro lado, era quem precisava parar de fumar.

— Não tem graça ficar sem brigar com você.

Foram três dias. Setenta e duas horas desde que Jake sumiu sem dar explicações deixando seus amigos — e ele mesmo, por mais que odiasse admitir — preocupados e a primeira coisa que ele lhe falou era isso. Sorriu. Pequeno mas sorriu, esse era o modo de Jake dizer que tinha sentido sua falta.

— Pois saiba que meus dias foram uma paz sem você. — Retrucou sério. Jake levantou os olhos em uma tentativa de observá-lo por completo, um pouco surpreso com a resposta que obteve. Heeseung quase quis rir. — E eu não gostei.

Heeseung também tinha sentido sua falta. 


 

Saber que Jake estava bem havia, estranhamente, acalmado a agitação em Heeseung que ele jurou ser nervosismo para uma luta importante que teria dentro de duas semanas. Claro que, isso era 70% de seus pensamentos, entretanto, ver Jake aliviou um pouco de sua ansiedade; não saberia dizer se foi a situação dele que presenciou ou porque agora ele pensava em milhares de explicações para seu sumiço. Mas de uma coisa tinha certeza, ele não passou esses três dias sozinho e suspeitava que Jay foi sua companhia durante o tempo.

Ele não era burro, era amigo de Jongseong a mais tempo do que conseguia lembrar e já dormiu com ele também, então sabia seu modo de jogar e, pelo modo como Jake apareceu hoje, não era algo recente, eles faziam aquilo com frequência e só de pensar nisso seu corpo estremeceu quando projetou uma imagem não solicitada dele e Jake juntos.

No entanto, a imagem de Jake feita por sua mente em meio a lençóis bagunçados, cabelos desgrenhados e, quem sabe, bochechas avermelhadas demorou muito mais para sumir de sua cabeça do que a de Jay, alguém que ele sabia exatamente como ficava após seus encontros. Mas Jake, Jake era uma incógnita que Heeseung nunca tinha experimentado e por mais que odiasse admitir — a contragosto aceitava, mas admitir para si mesmo, isso não —, achava Jake Sim atraente, qualquer pessoa com olhos conseguiria achar o mesmo. Então não podia deixar de ficar curioso como seria a expressão de êxtase em seu rosto depois de finalmente ter chegado lá, o corpo mole e um sorriso relaxado em seus lábios…

Ao notar para onde sua imaginação estava o levando, rapidamente balançou a cabeça e se concentrou em abrir a porta do apartamento onde morava. Heeseung precisava urgentemente sair e se distrair com alguém, caso contrário iria enlouquecer e achava que estava mais próximo do que pensava porque, caralho, era sobre Jake que estava pensando daquela forma — e, merda, não era uma imagem feia.

Rapidamente sua mente saiu de seu loop Jake-induzido quando finalmente abriu a porta e entrou, dando de cara com sua mãe assistindo alguma coisa na tv. Era tão incomum vê-la em casa durante a noite que às vezes achava que morava sozinho. Eram apenas eles dentro daquele pequeno apartamento desde o ano anterior quando seu pai foi preso e, claro que, precisou chegar a um estado crítico para que algo fosse feito. Agora ele tinha uma medida protetiva contra seu pai e uma grande cicatriz em seu tórax como memória.

— Achei que tinha se esquecido de que tem casa. — Sua mãe murmurou.

Heeseung tinha dezenove anos, uma moto e uma carteira de motorista, lutava e ganhava dinheiro de forma ilegal e mesmo assim Hyojin ainda se comportava como se ele tivesse dezesseis. Não que ele estivesse reclamando, sua mãe nunca passava do limite aceitável e silenciosamente concordado por eles, era apenas a típica preocupação de mãe.

— Digo o mesmo sobre você. Quase quarenta e oito horas sem colocar os pés dentro de casa. — Heeseung retrucou. — Jay quis treinar até mais tarde hoje, a luta está chegando então preciso treinar o máximo que eu puder. Qual é sua desculpa?

Não escondia de sua mãe o que fazia, não havia segredos entre eles. Os dois se desgastaram o suficiente com seu pai para aprenderem que precisavam confiar um no outro e eles tinham uma relação boa o suficiente para que não fosse uma confiança forçada. Claro que, eles não precisavam saber de tudo o que acontecia na vida um do outro, apenas o necessário para manterem uma boa relação. Hyojin não sabia sobre as carteiras de cigarro em sua mochila e Heeseung fingia não saber que toda noite sua mãe gostava de acabar com garrafas de vinho barato na cozinha.

Algumas coisas eles não precisavam contar

— Eu… — Hyojin começou a falar. — Eu não quero que você participe dessa luta.

Heeseung se manteve imóvel por alguns segundos, a mente estagnada enquanto absorvia as palavras de sua mãe. Hyojin nunca escondeu o seu desconforto com a profissão — se é que aquilo podia ser chamado de profissão —, como também nunca mostrou seu apoio; ela era indiferente, mas sempre sorria quando Heeseung voltava para casa com um sorriso no rosto e mais uma vitória. Não era pelo dinheiro que ele ganhava com as apostas nele e sempre pela promessa de que ele estava bem. Heeseung já tinha idade o suficiente para saber o que queria fazer da vida e se lutar de forma clandestina era o que ele queria, não seria ela quem o privaria disso.

Caso fosse questionada, ela não saberia responder o porquê de, pela primeira vez, estar interferindo nas decisões do filho. Poderia colocar a desculpa na preocupação de mãe, o que não seria de toda mentira, ela estava realmente preocupada. Era a primeira vez que Heeseung participaria de uma luta que de fato ele ganharia algo a mais além de dinheiro, se impressionasse bastante o olheiro estaria presente e saísse vitorioso da luta, Heeseung teria a chance de treinar em uma academia de boxe profissional. Todos estavam de olho naquela oportunidade e como ainda não era uma luta legal, não existiam regras e era isso que estava a assustando. Naquele ringue, valia de tudo e isso incluía trapaças. E Hyojin não estava preparada para a possibilidade de perder seu filho, ele foi a única coisa que lhe restou.

— Você sabe que essa luta é importante para mim, não sabe? — Sua voz soou rígida, assim como todo o seu corpo. Vendo os olhos de sua mãe pela primeira vez na noite, assistiu a ela assentir. Ela sabia o que estava em jogo e mesmo assim não voltaria atrás em sua fala. — Se é assim que a senhora quer.

Não teve remorso em virar as costas para sua mãe e andar até seu quarto. Eles nunca tinham uma briga verdadeiramente dita, sempre eram pequenas desavenças bem passiva-agressivas como esta. Heeseung sempre foi um bom filho, suas notas eram boas, seu registro escolar não tinha uma única advertência — tirando a detenção que Jake lhe causou, mas ela lhe trouxe algumas coisas boas então fingia que ela não existia. 

Heeseung era um bom filho, no entanto, ele iria contra a decisão de sua mãe daquela vez. Ele sabia o que era melhor para si e aquela luta era a porta para uma carreira de sucesso, ele não iria deixar escapar.

 

 

Fazia pouco mais de uma semana que a primavera havia começado de fato e apesar do clima fresco o suficiente para que eles não precisassem usar três casacos para poderem se sentar do lado de fora no refeitório, o dia-a-dia na escola sem o Jake era como se uma nuvem cinzenta estivesse sobre os quatro. Os cochichos pelos corredores manchando ainda mais o nome de Jake não sumiram depois da briga, pelo contrário, pareceram piorar e os verdadeiros culpados se vangloriavam cada vez mais. A Nunchi estava dividida em duas partes, a que queria apagar a existência de Jake dos corredores e os que queriam ser o novo Jake e estranhamente tudo parecia estar em uma harmonia quase robótica.

Menos para eles. Enquanto todos comemoravam o sumiço de Jake, Sunoo, Riki e Sunghoon se preocupavam com ele; três dias sem notícias dele, três dias em que a mesa estava no mais completo silêncio na hora do almoço. Três dias em que eles sentiam algo faltando, sendo Riki e Sunoo os que mais estavam sentindo, principalmente Riki. Ele andava cabisbaixo, calado e com medo; seu lábio inferior ainda estava inchado e dolorido, e a desconfiança fazia parte de seus dias, mesmo sabendo que ninguém teria coragem de encostar em um fio de cabelo seu, apesar de enfraquecido, o nome de Jake ainda tinha algum peso, logo seus amigos estavam fora de cogitação.

Como se uma nuvem pesada parasse sobre o refeitório, estragando todo o clima bom de dentro dele, todo o burburinho do horário de almoço parou repentinamente e, pouco a pouco os olhares se voltavam para a entrada do refeitório por onde Jake passava com seu uniforme aberto, mostrando uma camiseta preta por dentro, sua jaqueta jeans preta e seu costumeiro sorriso ladino. E todos aqueles que durante os três dias de sua ausência juraram nunca mais se deixar intimidar por ele, baixava o olhar conforme ele passava. Jake Sim era Jake Sim e não existiriam substitutos, nunca. Ninguém carregaria com tanto orgulho uma reputação manchada como ele.

Até mesmo os alunos que estavam fora do refeitório se esforçavam para vê-lo e não foi diferente com Sunoo, que apertou os olhos para conseguir enxergar que estava acontecendo e quando sua visão levemente embaçada se fixaram em uma pessoa com os cabelos tingidos de loiro, ele precisou revirar sua mochila atrás de seus óculos para enxergar com clareza Jake na escola depois de três dias desaparecido e ter certeza de que não estava delirando.

— Aquele é o… — Sunoo não conseguiu concluir sua fala pois a voz de Riki se sobrepôs a sua, soando alto demais até para um ambiente aberto.

— Jake!

Riki foi o primeiro a reagir. Não se importava se era a hora do almoço e toda a escola estava lhe olhando, ele realmente não se importava quando se levantou e quase pulou sobre as mesas, esbarrando em alguns alunos no meio do caminho, sua mente era apenas Jake. Essa era a primeira vez que o via depois que Heeseung o tirou do corredor no dia da briga, o corte em seu lábio ainda doía deixando fixado em sua memória o que aconteceu e o que Jake fez por ele. Para lhe defender e  nunca conseguiu agradecê-lo. Até agora.

Apesar de mais novo, Riki eram bons centímetros mais alto que eles, e bem maior que Jake, no entanto, se jogou nos braços do outro como se fosse muito menor. Jake deu alguns passos para trás com o impacto, visivelmente surpreso; Riki era a primeira pessoa que abrava Jake com tanta intensidade — depois de Chaeyoung, Jay e… Sunghoon. Então ele não estava acostumado com outras pessoas fora de sua bolha fazendo contato físico, demorou boas semanas para se acostumar com a lembrança de Sunghoon envolvendo seus braços ao redor de seu corpo e por isso relutou um pouco para retribuir o afeto, mas sabia que estava enganando a si mesmo quando pensava que eles não faziam parte de sua vida. Por deus ele sentiu falta de todos durante aqueles três dias e sabia que eles também haviam sentido sua falta, a forma que Sunoo também se juntou ao abraço alguns segundos depois era confirmação o suficiente.

Envolveu, da forma que pôde, seus braços ao redor do corpo dos dois garotos, se permitindo relaxar e aproveitar o conforto que era aquele abraço. Olhou ao redor e observou uma última vez o refeitório antes de fechar os olhos, haviam todos os tipos de olhares focados neles agora; os de desgosto com a sua volta se misturava com os de incredulidade ao ver Riki e Sunoo demonstrando carinho a ele e, entre todos estes, Jake preferiu se prender aos de Sunghoon e Heeseung que olhavam para os três com felicidade e afeto.

Sorriu para os dois, talvez o primeiro sorriso que dera para eles e o mais sincero que já deu dentro daquela escola. Jake não era acostumado com pessoas gostando dele de verdade e tinha medo de se apegar demais àquele novo sentimento. No entanto, era bom se sentir amado e precisava aproveitar o máximo que podia antes de ver sua felicidade escorrer entre seus dedos não importando o quão forte ele se agarrava a ela. Foi assim com Jaehyuk e esperava que a história não se repetisse.

 

— Vejo que vocês foram rápidos em me substituir — Jake disse, se inclinando sobre a mesa e encarando os dois. — Você deve ser Jang Wonyoung, estou certo? — Perguntou de forma retórica e logo voltou seu olhar para o garoto ao lado dela, deixando um sorriso ladino voltar a aparecer em seus lábios. — E você é o famoso Jungwon, certo?

Os cinco estavam sentados na mesa, como se nunca tivessem se separado e Jake mantinha seus olhos fixos nas duas figuras novas sentadas à mesa. Wonyoung e Jungwon só faltavam tremer sob o olhar do loiro, que quase achava bonitinho a forma como os dois pareciam pequenos entre eles. Não os conheciam bem, para falar a verdade mal sabia dizer como tinha conhecimento sobre o nome dos dois, mas os associou aos nomes que Riki mais falava durante o dia, principalmente o do garoto de olhos felinos que mal conseguia levantar os olhos para encará-lo; Riki estava sentado ao seu lado, com o corpo todo virado em sua direção e os olhos escuros. Se aquele realmente fosse o Jungwon que Riki tanto falava, começaria a ter suspeitas sobre os dois.

— Como você sabe? — Jungwon indagou.

— Riki fala muito sobre vocês. — Explicou. — Principalmente sobre você, então foi fácil saber quem você é, Jungwon-ssi.

Automaticamente os olhos pequenos de Jungwon foram em direção aos de Riki e todos na mesa conseguiram notar uma pequena faísca invisível passando pelos dois no momento em que seus olhos se encontraram. Jake sorriu satisfeito quando viu as bochechas dos dois começarem a adquirir um tom avermelhado, era para ser apenas uma brincadeirinha de amigos, ele nem sabia ao certo se tinha mirado no alvo correto — Jungwon invés de Wonyoung — mas ao ver a reação e linguagem corporal dos dois ao desviarem o olhar para qualquer outro lugar menos eles, sabia que tinha sido um touchdown espetacular.

— Porque você tem que agir assim sempre que alguém novo vem aqui? — Riki murmurou, os olhos encarando a madeira da mesa para disfarçar suas bochechas avermelhadas. — Não liguem para ele, Jake precisa assustar crianças para se sentir bem.

A risada de Jungwon se misturou com a dos outros e Wonyoung baixou a cabeça para esconder o sorriso como se realmente estivessem com medo de Jake para rir dele em sua frente, mesmo com o próprio Jake rindo. Era bom estar de volta, Jake pensava, ver todos bem sem um clima tão pesado como era antes, mesmo de forma errada, talvez eles realmente precisassem desse tempo separados.

— É bom saber que você continua o mesmo ser amável, Jake — Sunghoon disse. — Por onde você esteve?

Ao ouvir a pergunta feita por Sunghoon, Jake e Heeseung se entreolharam pela primeira vez desde a sua volta para a escola. Sim eles eram amigos, os cinco estavam mais ligados do que nunca, mas segredos ainda eram segredos e eles eram coisas que nem Jake e tampouco Heeseung estavam prontos para deixarem vir a tona, envolviam outras pessoas além dos dois e eles firmaram um acordo mútuo e silencioso no dia em que Jake chegou muito perto de socar o rosto de Heeseung — ele merecia, os dois. Ter seu segredo exposto e o soco de Jake, mas nada aconteceu e Heeseung percebeu uma das várias camadas que era tê-lo em sua vida. Ele nunca iria fazer algo contra sua vontade, por mais babaca que chegasse a ser, Jake não falaria nada sobre o que sabia.

— É melhor você não saber… — Deu de ombros. — Tudo bem, além de adotarmos outras duas crianças além de Riki, o que mais eu perdi enquanto estive fora?

Não houve uma resposta de imediato, pela primeira vez a mesa ficou no mais completo silêncio, nenhum deles se atreveu a abrir a boca para falar algo. Talvez se outra pessoa além de Riki fosse alguém observador poderia notar o modo como os olhares de Sunoo e de Sunghoon se encontraram após a pergunta feita por Jake, mas ninguém além dele era e ele estava muito ocupado dentro de sua própria bolha com Jungwon. Sunoo não sabia dizer se a voz de Heeseung respondendo a pergunta realmente aconteceu ou se era sua mente pregando mais uma peça enquanto ele voltava ao sentimento que foi ter às mãos de Sunghoon em sua cintura e seus lábios se moldando um ao outro. Jurou a si mesmo nunca mais voltar às memórias daquele dia porque elas lhe causavam um misto de sentimentos. Mas também não podia mentir para si mesmo e dizer que não havia gostado porque, inferno, Kim Sunoo tinha gostado muito de beijar Sunghoon. 

Não havia sido seu primeiro beijo com um garoto, porque se lembrava perfeitamente da curiosidade que tomou conta de seu corpo quando seu melhor amigo lhe confidenciou que gostava de um garoto. E se lembrava muito bem também de sentir os lábios desse mesmo melhor amigo lhe beijando quando perguntou “como você descobriu que gostava de garotos?”, a resposta para si mesmo havia sido bem clara e aos quatorze anos gostou de como foi segurado e deitado no sofá, ter um garoto sobre si, lhe beijando e tocando de uma maneira que as garotas não faziam foi como se uma porta se abrisse em sua cabeça. Porta essa que permaneceria fechada para sempre enquanto morasse com sua família.

Mas agora o problema era que, não morava mais com seus pais e a lembrança de beijar Park Sunghoon não saía de sua cabeça — sendo sincero, ele também não queria esquecer, porém morreria negando para si mesmo — e Sunoo simplesmente não sabia como lidar com isso porque, ao mesmo tempo que queria estar com sua boca grudada a de Sunghoon nesse exato momento, tinha medo de como os outros iriam reagir. Sua vida toda sempre girou em torno de manter uma boa aparência para não estragar a reputação da família Kim e agora que não tinha quase nenhum vínculo com eles, não sabia como dar voz a seus sentimentos.

— O que você acha, Sun?

A voz de Heeseung junto de um leve tapa no meio de sua testa vindo de Jake foram o suficiente para lhe fazer voltar a órbita. Não sabia a quanto tempo passou perdido em seus pensamentos, mas quando voltou sua atenção para ao seu redor notou que Wonyoung e Jungwon já não estavam mais a mesa, quase não haviam mais alunos dentro ou fora do refeitório em uma clara indicação de que o horário do almoço havia terminado e os quatro lhe encaravam esperando algum tipo de resposta.

— Desculpe, eu estava… distraído. — Murmurou. — Sobre o que vocês estavam falando? Aliás, porque não estamos indo para a sala nesse momento, o horário de almoço já terminou.

— Porque o senhor ‘não consigo passar um dia sem matar aulas’ decidiu que seria uma boa matar essa aula para comemorar que ele está de volta. — Heeseung resmungou e Jake lhe deu um pequeno empurrão com os ombros.

Realmente, nada havia mudado entre eles. Ou quase nenhum deles, já que Sunoo estava evitando fazer um contato visual com Sunghoon por mais de cinco segundos sem que os pensamentos intrusivos que o mandavam agarrá-lo darem o ar da graça. Mas isso não o impedia de o observar de soslaio e fazer anotações mentais sobre seu cabelo escuro que era macio ao toque, ou as pintinhas em seu nariz e bochecha, ou os lábios que guardavam seus caninos grandinhos como se fosse um felino. Tudo bem, para alguém que agora passava a maior parte do tempo tentando não se lembrar de tudo o que aconteceu, Sunoo pensava demais em Sunghoon.

— Se fomos matar aula, acho melhor irmos para o telhado. — Sunghoon sugeriu. — Estamos muito expostos aqui, se algum inspetor passar e nos ver aqui, vai ser mais uma detenção para nós.

Apenas a menção dos cinco juntos na detenção mais uma vez fez com que um sorriso surgisse em seus lábios. Não foi o acontecimento mais correto em suas vidas, mas não significava que não trouxera algo de bom. Os cinco ali, juntos, sendo somente Jake, Heeseung, Sunoo, Sunghoon e Riki, sem nenhum outro rótulo e com uma ligação maior do que chegaram a pensar era o suficiente para saber que aquele ano havia valido a pena. Mesmo o meio do ano sendo ainda em alguns meses. E como se estivessem realmente refazendo a saída escondida da sala da detenção no dia em que se conheceram, eles andaram em passos leves e silenciosos para não serem notados e tomando cuidado para que ninguém fosse deixado para trás.

Inconscientemente, Sunoo deixou com que sua mão se entrelaçasse com a de Sunghoon a sua frente, o que causou uma parada repentina no maior. Os dois pararam no meio do caminho encarando as mãos juntas, sendo o primeiro contato físico entre eles desde o beijo; Sunoo continuava se enganando, pensando que foi apenas um contato inocente, e que não acabaria em nada demais, mas ele sabia exatamente o que estava fazendo quando segurou na mão de Sunghoon. E, aparentemente, ele pensava o mesmo.

—  Sun… — Sua voz saiu baixa e em tom de alerta.

— Por favor, me beije de novo.

Não foi preciso um segundo pedido, foi apenas questão de segundos para que Sunghoon estivesse colocando o rosto do Kim entre suas mãos, segurando como se fosse a jóia mais delicada que já tocara e juntando os lábios uma segunda vez. Não foi nada além de um encostar de lábios, não recebeu outras coordenadas o suficiente para fazer algo além disso e Sunoo agradeceu mentalmente quando Sunghoon não tentou mais do que aquilo. Não precisava de um beijo profundo agora, Sunoo só queria ter Sunghoon ao seu alcance mais uma vez, para lhe lembrar de como era bom se esquecer de tudo e fazer o que queria.

Fora Sunghoon quem separou o contato, deixando as testas coladas e os narizes se esfregando com um leve sorriso nos lábios dos dois. Não ousaram abrir os olhos com medo de perder aquele momento em que estavam e sem conseguir se segurar, Sunoo deixou um último selar sobre os lábios do maior, fazendo-o sorrir ainda mais.

— Acho melhor irmos. — Murmurou. — Eles podem voltar para nos procurar.

Sunghoon assentiu, ainda meio embasbacado com a situação, voltando a fazer o caminho que faziam e ainda com as mãos entrelaçadas. Só as soltaram quando chegaram à porta que dava ao telhado, tentando não parecerem muito óbvios antes de encontrarem os amigos.

Não havia muitas falas entre eles, ainda tinham essa conexão de ficarem no mesmo lugar sem precisar falar algo para não ficar desconfortável. Riki e Sunoo jogavam alguma coisa no celular enquanto Sunghoon os observava por cima do ombro do japonês; Heeseung estava um pouco mais afastado, com os dedos coçando para pegar a familiar carteira de cigarros em seu bolso e acender um. Jake e Sunghoon já sabiam sobre seu vício, então porquê escondê-lo de Riki e Sunoo? e realmente estava cogitando acender um cigarro ali, até o momento em que seus olhos pousaram em Jake sentado contra a parede do parapeito do telhado, a cabeça jogada para trás com o vento frio bagunçando seus cabelos — Heeseung pode jurar ter visto algo salpicado em tons de vermelho atrás de sua orelha, mas estava longe o suficiente para não dar certeza se era realmente algo — e o sol amarelado dando um tom ainda mais dourado a sua pele. Se lembrou de como ele ficou no dia anterior e como fingiu que sua crise de asma não foi causada pela nicotina do cigarro que Heeseung acendeu no galpão.

Não sabia dizer quando começou a se importar de verdade com o bem estar de Jake, se fosse a três semanas atrás, mesmo já estando no mesmo ciclo de amigos, Heeseung provavelmente estaria soltando toda a fumaça do cigarro diretamente no seu rosto nesse exato momento. Mas algo havia mudado desde o incidente com Riki e toda sua percepção de Jake agora era outra.

— Eu acho que deveríamos sair. 

Jake disse, interrompendo o silêncio em que estavam. Rapidamente ele tinha quatro pares de olhos sobre si, esperando silenciosamente que ele continuasse a falar sobre sua ideia dos cinco saírem juntos.

— Digo, sair de verdade, sem médicos ou algo do tipo. — Explicou. — Essa noite meu amigo vai dar uma festa em um lugar um pouco afastado e acho que seria legal nós irmos. — Disse. — Sabe, sem pessoas conhecidas ou adultos para nos observar, somente nós.

Não era uma simples festa sobre a qual Jake estava falando e o amigo a quem ele se referia era Jay, Heeseung sabia disso porque ele mesmo iria competir naquele Racha para qual Jake estava convidando-os. Sabia que ele não estava fazendo de propósito para expô-lo, ele realmente não sabia sobre isso e, bem, não poderia negar o convite então faria o máximo para atrasá-los. A ideia dos cinco em um lugar livre de adultos ou uma saída séria como foi da última vez era muito boa para ser descartada.

Apenas eles sendo o que eles eram, adolescentes.

— Você só está se esquecendo de um detalhe, Jake. — Riki falou. — Eu sou menor de idade e tenho um irmão mais velho.

— Diga que vai fazer algum trabalho na casa de um amigo e vai precisar dormir lá, eu não me importo. — Jake deu de ombro. — Onze e meia da noite eu passo para pegar vocês no carro do meu amigo, eu não quero desculpas!

Eles não tinham muito o que fazer além de concordar, Jake não deu outras opções de respostas além de um sim. Heeseung revirou os olhos, Jake era extremamente teimoso e não aceitaria suas desculpas, então tateou os bolsos atrás de seu celular e procurou em sua lista de contatos o número que jurou nunca precisar usar.

 

ei
sou eu
heeseung

 

Jake juntou as sobrancelhas ao ler a mensagem e levantou o olhar para encarar o Lee a poucos metros de distância.

 

????
você está literalmente do meu lado
porque está mandando mensagens?
e como conseguiu meu número?


isso não vem ao caso agora
mas EU também vou competir nesta corrida
e agradeceria muito se meu segredo continuasse
sendo um segredo sabe

 

Queria questionar o porquê dele não ter dito nada antes, mas não podia exigir isso quando eles mal se suportavam, logo Heeseung estava certo. Olhou para ele mais uma vez e revirou os olhos voltando a digitar.

tudo bem
eu atraso ou sumo com eles
na hora que você for correr
só me avisa antes, tá?

Levantou seu olhar mais uma vez para encará-lo, vendo Heeseung guardar o celular e sussurrar um ‘obrigado’ em sua direção. Amigos protegem amigos, mesmo que alguns deles não mereçam e Jake era fiel a todos os seus amigos.

 

 

Fiel a sua palavra, Jake buscou todos os três pouco depois das onze e meia, descobrindo que Riki ficaria na casa de Sunghoon e Heeseung iria sozinho até a estrada perto do galpão. Jay não fez perguntas e não foi tão difícil convencê-lo a buscar os amigos de Jake com ele — uma mão amiga rápida contra a parede de um beco qualquer fez muito bem o serviço de persuasão. Jake sabia usar seus talentos a seu favor e o usava com quem fosse necessário.

Depois da primeira mensagem, Heeseung e ele combinaram de atrasar a chegada deles em meia hora para que o Lee pudesse competir sem correr o risco de ser exposto. Jake era um bom mentiroso e Jay fez bem sua parte em rodar mais do que o necessário com os quatro dentro do carro, fazendo-os chegar a meia-noite; Jay não estava nenhum pouco feliz com o atraso, teria pouco tempo para trabalhar em sua moto e ele não assistiu a Heeseung correr, ele era seu aluno, precisava saber sobre seu desempenho.

Notando a carranca no rosto do outro, Jake se inclinou sobre o banco do motorista e deixou um beijo molhado em seu maxilar marcado, observando bem como toda a derme ali se arrepiou; Jay era atraente todos os dias, mas algo nele com a expressão fechada, os lábios comprimidos e o maxilar travado em claro desprazer fazia com que Jake se esquecesse que seus encontros eram exclusivos para momentos em que ele queria se esquecer de tudo. Não em momentos como aquele.

— Não fique assim. — Murmurou. — Eu prometo fazer o que você quiser, já que não vou ver você vencer.

Suspirando, Jay se deixou relaxar um pouco sob o toque dele fazendo Jake sorrir. Não iria ficar para vê-lo correr porque tinha muitos segredos em risco — Chaeyoung estava lá e Heeseung também e mesmo que ele não merecesse, Jake protegeria o que sabia sobre ele até o Lee se sentir confortável para contar aos outros. Os dois sabiam bem que os outros três garotos no banco de trás os observavam com grandes feições confusas em seus rostos e não seria Jake a explicar o que acontecia e tampouco Jay, que nem os conhecia. Apenas os ignoraram antes do loiro abrir a porta da caminhonete e descer, sendo acompanhado pelos outros três.

Por ser um lugar a céu aberto — uma estrada de terra afastada da cidade, que ficava próximo a um galpão aparentemente abandonado para os outros, o lugar não parecia que ficaria cheio, mas tinha pessoas o suficiente para parecer uma multidão. Era claro que, seja lá o que fosse acontecer ali, era ilegal; o que não surpreendia Sunghoon, vindo de Jake ele realmente esperava tudo. No entanto, Sunoo e Riki não pensavam da mesma forma, os dois estavam quase escondidos atrás do corpo largo do Park enquanto Jake guiava o caminho.

— Não fiquem longe de mim. — Ele falava, instruindo os garotos a como se comportarem, o que não ajudava em nada o estado de desconfiança dos outros dois. — Não encarem muito e cuidado com quem forem beijar e se envolver essa noite.

— As garotas, na maioria das vezes, são comprometidas com namorados três vezes maior que você. — A voz de Heeseung se fez presente, complementando o que Jake dizia. — E os garotos, eles não sabem aceitar um não.

Jake se virou para vê-lo vestido em uma camiseta branca com uma jaqueta e calças pretas, os cabelos escuros ainda estavam bagunçados por terem ficado presos embaixo de um capacete de moto por muitos minutos. Era estranho ver Heeseung sem seu tediante uniforme escolar porque a mente de Jake não parava de dizer como ele estava bonito daquela forma e percebeu ter passado tempo demais encarando-o quando ele arqueou uma sobrancelha em sua direção.

— Acho melhor entrarmos antes que fique muito cheio lá dentro, não? — Riki pigarreou, cortando a tensão entre eles.

Concordando, ainda um pouco atordoado com os pensamentos em sua cabeça, Jake os guiou para a entrada do galpão onde tinha uma fila para conseguirem entrar. Passando na frente de todos e trazendo os outros quatro consigo, o loiro foi direto até o homem que parecia fazer o controle da entrada, que ao vê-lo, negou levemente com a cabeça antes de liberar sua passagem.

— Ele fica. — Disse, apontando para Riki. — Você sabe das regras Jake, sem menores de dezesseis aqui.

 — Ah, qual é Heechan, você não pode deixar essa passar, por favorzinho? — Jake choramingou no ombro do homem, inclinando seu corpo completamente na direção dele. — Eu também já tive dezesseis anos e isso não te impediu de me…

— Tudo bem, tudo bem! — Heechan o cortou, se dando por vencido e liberando a entrada de Riki. — Mas ele vai ser sua responsabilidade, está ouvindo? Eu não quero um menor de idade bêbado nas minhas costas.

Jake sorriu, assentindo várias vezes com a cabeça, colocando seus amigos para dentro do galpão e seguindo atrás deles, mas não sem antes se inclinar sobre o corpo do homem para deixar um beijo em sua bochecha, pegando-o de surpresa.

— Sim, papai.

O tom de voz provocativo não passou despercebido pelos garotos, que assistiam o desenrolar da cena à sua frente. Jake realmente sabia o que usar e como se usar para conseguir o que queria, não tinha vergonha de se vender de uma forma nada saudável para ter o que precisava e Heeseung estava tão certo sobre seus jogos de sedução como Jake estava em cogitar que ele estava funcionando com o Lee.

Para Riki e Sunoo, passar pelas cortinas feitas de papel laminado foi como entrar em outro mundo. Seus olhos não conseguiam parar em um lugar só, tinham pessoas dançando em um lado, outras bebendo, algumas se beijando contra as paredes e outras ao redor de uma mesa com fileiras de pó branco que os dois fingiam não saberem o que era. Esse era um mundo que os dois só viam em filmes, o mundo onde Jake vivia.

— Todos na escola cochicham nos corredores sobre como eu sou um mau garoto. — Jake jogou os braços sobre os ombros deles, em uma tentativa de os aproximarem mais de si. — E hoje eu vou mostrar a vocês como ser mau faz você se sentir bem.

Minutos depois, descobriram que ele realmente não estava mentindo. Sunoo segurava o copo de alguma bebida que Heeseung havia pego para ele no bar enquanto dançava contra o corpo grande de Sunghoon atrás, sentia as mãos grandes dele lhe segurando pela cintura, mantendo-o próximo ao seu corpo. Teoricamente, não era para ninguém saber sobre eles, mas Sunoo não queria pensar nisso agora, não quando sua cabeça e corpo estavam leve para deixá-lo ser quem ele era e fazer o que queria e no momento, tudo o que ele queria era continuar dançando com Sunghoon, como se eles fossem um casal de verdade.

Os dois também deveriam estar de olho em Riki, mas estavam dentro de sua zona particular que não perceberam quando ele saiu de perto deles e começou a andar pelo lugar, que agora parecia três vezes mais cheio do que quando chegaram. Ele perambulava pelo galpão com seu copo de energético porque foi a única coisa sem álcool que Jake conseguiu encontrar no bar. Não sabia o que procurava ou se realmente procurava algo, mas seus olhos se fixaram em uma garota de cabelo colorido em tons de azul e roxo que parecia dançar sozinha. Lembrava das regras ditas por Jake e Heeseung, no entanto a encarava esperando sentir algo. 

Ela era bonita, usava um vestido rosa que parecia ter glitter pelo modo como brilhava cada vez que as luzes coloridas refletiam sobre ele. Ela não notou seu olhar sobre ela e Riki nem sabia o porquê de encará-la tão fixamente, não tinha interesse em chegar perto dela para conversar, muito menos para fazer algo além disso, tudo em que pensava era na presença de Jungwon ali consigo, seu melhor amigo merecia estar com ele em um momento como aquele. Movendo o corpo lentamente apenas para não ser empurrado com os outros, pode ver com clareza quando uma outra garota se aproximou dela, sussurrando algo em seu ouvido para em seguida beijá-la. Era tão fácil assim? Era simplesmente chegar e… beijar? Não se imaginava fazendo isso com nenhuma garota por ser tímido demais, nem mesmo com Wonyoung que era sua amiga, isso era cruzar uma linha que ele não queria, nem sentia vontade de fazer.

Talvez fosse o jogo de luzes, ou a música alta, ou até mesmo o energético começando a fazer efeito em seu sistema nervoso, mas começou a pensar em como seria fazer aquilo com Jungwon, eram amigos afinal de contas e seria apenas um experimento. Nunca tinha beijado uma pessoa em todo os seus dezesseis anos de vida e confiava em Jungwon o suficiente para saber que ele nunca o julgaria por tal ato.

Agora, mais do que nunca, queria seu melhor amigo ao seu lado naquele momento.

 

Poucas coisas passavam na cabeça de Heeseung naquele momento, ele estava encostado no balcão do bar, um copo na mão na esquerda que ele não bebia e os olhos fixos em Jake, um pouco mais distante, conversando com um homem que ele não conhecia. Ler linguagem corporal não era o seu forte, mas o modo como o loiro tentava ao máximo abrir uma distância entre eles ou tirava sua mão sempre que o outro tentava tocá-la não era um bom sinal. Já havia visto Jake usar de sua beleza e sedução para conseguir o que queria, só hoje mais vezes do que conseguia contar, logo, não era do seu feitio agir daquela forma caso realmente quisesse algo com aquele homem.

Se lhe fosse perguntado, não saberia responder o porquê de seus olhos estarem lhe levando tantas vezes para a figura de cabelos loiros, estatura baixa e de piercing na língua. Muita coisa em sua cabeça parecia não ter uma explicação plausível para sua atual relação com o Sim, era para ele estar querendo brigar com ele, se vingar de todo o comportamento petulante e soberbo que ele teve antes de desaparecer por três dias completos, no entanto, tudo o que Heeseung fez foi deixar o copo quase intacto sobre o balcão quando viu o homem agarrar o rosto de Jake com força quando ele o impediu de colocar uma mecha de seu cabelo atrás da orelha.

— Jake! — O chamou, como se não tivesse o observando segundos atrás. — Eu não sabia que você viria hoje e… estou atrapalhando alguma coisa?

Assim como Jake, Heeseung também era um bom mentiroso, então estava fazendo bem sua atuação de “amigos que não se viam há muito tempo”. Quando Jake tentou se levantar para ir até ele, teve o seu braço puxado de volta pelo homem e o olhar de desespero e medo com que Jake lhe encarou, foi algo que nunca esperou vindo dele.

— Você pode falar com seu amigo depois, não é, amor? — O desconhecido sussurrou em seu ouvido, Jake estremeceu, procurando mais uma vez por Heeseung. — Nós estávamos indo para outro lugar.

Ao tentar levar o loiro consigo, Heeseung se pôs à frente dos dois, segurando o braço livre de Jake e o puxando para si, tendo sucesso em trazê-lo para o seu lado. Jake rapidamente deu alguns passos para trás, não queria demonstrar medo, mas estava confiando sua segurança a Heeseung, ainda estava machucado para se meter em outra briga. Eles não deveriam levar em conta as ações de um bêbado, principalmente quando os dois estavam sóbrios, mas quando o homem se irritou e sem motivo algum desferiu um soco contra a bochecha do Lee, ele não conseguiu se segurar para não revidar. 

Tudo ao redor deles pareceu começar a girar em câmera lenta, as exclamações de surpresa, as pessoas se aproximando para separar uma possível briga e, claro, Jay se metendo no meio dos dois, empurrando um para cada lado. Ter nascido e criado próximo a violência e trabalhar diretamente com isso fez com que Heeseung desenvolvesse um temperamento curto para qualquer coisa que pudesse desencadear o seu lado agressivo. Ele não era tão diferente do seu pai como jurava ser e também não era o filho perfeito que Hyojin lutou para proteger.

— Que merda, Heeseung! — Jake exclamou, vendo o sangue começar a escorrer dos lábios do outro. — Você enlouqueceu?

— Jake, tire ele daqui, agora! — Jay ordenou. — Eu levo seus amigos para casa, mas tire Heeseung daqui!

Por mais que fosse ele quem devesse levar Heeseung para longe da confusão, foi o Lee quem agarrou a mão de Jake e o puxou para fora do galpão pelos fundos. Sua mente trabalhava de forma rápida para levá-los para longe dali com rapidez, por isso empurrou o capacete reserva de sua moto em direção ao loiro, que não contestou, apenas encarou o objeto e em seguida olhando para o rosto ferido do Lee. Não era assim que ele queria que a noite acabasse, algo dentro de si se apertou ao ver o filete de sangue que começava a escorrer do corte na bochecha do maior. Se perguntou se foi assim que Heeseung se sentiu quando viu seu rosto machucado na sala.

Apertou suas mãos sobre os ombros largos de Heeseung quando ele deu a partida e acelerou a moto noite adentro. Nunca tinha andado de moto em sua vida e estava acostumado com o motor barulhento da picape de Jay e Chaeyoung mas o Lee não se importava em andar devagar, só tinha os dois nas ruas e Jake sentiu como se algo dentro dele estivesse finalmente livre. O vento batendo em seu corpo com força, as luzes da cidade passando como estrelas cadentes por sua visão e o motorista não ligando para os sinais vermelhos era libertador. Mesmo assustado, soltou suas mãos dos ombros de Heeseung e esticou os braços, jogando a cabeça para trás e sentindo o vento bater ainda mais forte.

Não notou que era observado pelo retrovisor, mas Heeseung estava sorrindo com a vista que tinha. Eram apenas eles dois que não podiam voltar para casa por suas mentiras da noite, mas ainda assim eram apenas Heeseung e Jake, e mais ninguém para atrapalhar ou lhe lembrarem de suas vidas duplas.

O Lee estacionou em um lugar que tinha um letreiro em neon escrito “pousada”. Não fez perguntas, apenas devolveu o capacete a ele e o acompanhou para dentro do estabelecimento. Não houve muitas palavras entre eles durante todo o processo de Heeseung pedir um quarto para os dois e não deixaram de notar o olhar de desprezo da recepcionista ao entregar a chave do quarto na mão do maior. Ela provavelmente imaginava que os dois fossem um casal e a ideia de irritá-la ainda mais segurando a mão de Heeseung realmente passou pela cabeça de Jake, mas tinha presenciado a poucos minutos um lado de Heeseung que só vira sobre um ringue de luta, então não sabia se ele estava disposto a uma pequena brincadeira.

Seguiram em silêncio até o quarto e não se surpreenderam quando abriram a porta e viram apenas uma grande cama de casal no meio dele, apenas suspiraram.

— Ela acha que nós somos um casal. — Heeseung disse em um tom de descontração, fazendo Jake soltar um leve riso.

Os dois ficaram em silêncio pelos próximos minutos, um silêncio diferente de quando estavam os cinco juntos. Um pouco desconfortável, Jake saiu do cômodo em que estava e foi para a porta que Heeseung presumiu ser o banheiro, cansado, deixou com que seu corpo se sentasse sobre o colchão barato daquele lugar, sua cabeça estava uma bagunça e tinha, pelo menos, três vozes falando ao mesmo tempo dentro dela e todas queriam saber a mesma coisa: porque havia defendido Jake daquela maneira.

Sentiu o colchão ao seu lado pesar e soube que o loiro estava de volta ao seu lado, trazendo consigo algumas folhas de papel higiênico úmidas. Ele segurou com delicadeza o rosto do Lee e o virou de modo que conseguisse ver o corte feito pelo soco do homem. Não era nada muito feio, mas tinha sangue seco por toda sua bochecha; não era ouvido nada no quarto além do som de suas respirações e os barulhos da noite, Jake estava com os olhos fixos em sua tarefa e Heeseung tinha os olhos fixos nele.

— Porque fez isso? 

Jake falou tão baixo que se não fosse pela proximidade deles, Heeseung não teria ouvido. Nada veio depois disso, ele sequer lhe olhou nos olhos para perguntar, como se estivesse com vergonha e medo de estourar a bolha de calmaria em que os dois estavam pela primeira vez desde que se conheceram

— Alguém uma vez me disse que amigos cuidam de amigos. — Respondeu e, dessa vez, teve os olhos de Jake finalmente nos seus.

A imensidão castanha pareciam verdadeiramente surpresas ao ouvirem o que disse, a mão do Sim lentamente foi caindo até estar disposta sobre seu joelho e, de frente um para o outro, Heeseung não conseguiu conter a vontade de colocar os fios loiros de Jake atrás de sua orelha como ele mesmo sempre fazia quando estava concentrado. Queria mentir para si mesmo e dizer que o sumiço e a volta de Jake não lhe afetara, mas afetou. Algo havia mudado, Heeseung o via de uma forma diferente agora, algo que nem ele mesmo conseguia explicar e que lhe fazia agir de modo que priorizava apenas Jake. Seus olhos não viam mais o Jake Sim que todos na Nunchi faziam questão de condenar, seus olhos agora viam uma parte do verdadeiro Jake, o que cuidava dos amigos, o que tinha suas vulnerabilidades — e que não lhe fazem ser alguém fraco —, o que precisava de carinho mas não sabia como pedir.

— Jake… — Sussurrou, sua mão ainda se mantinha imóvel em seu maxilar, onde a extensão de cabelos tingidos de loiro acabavam. Diferente do homem no bar, Jake havia lhe permitido colocar tirar os fios loiros de seu rosto para vê-lo por completo. — Eu quero muito te beijar agora.


Notas Finais


Gente eu juro que estou chorando de soluçar porque eu não acredito que finalmente consegui terminar esse capítulo mesmo morrendo de dor. Juro que eu não sumi porque eu quis, aconteceram tantas coisas comigo, coisas bem ruins mesmo que eu realmente não quero lembrar e não teve um momento que eu não deixei de pensar em vocês, com medo de voltar assim do nada, foram dois meses de puro pesadelo na minha vida e que eu levei um tempo para me recuperar pelo menos 50%, eu prometo que isso não vai acontecer de novo. Muito obrigada por quem me esperou, quem ainda está por aqui e sejam bem-vindos os novos, eu juro que não sou tão descontrolada como aparento ser eu amo muito muito muito vocês


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...