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História Zona 13 - Um Pequeno Momento de Paz


Escrita por: MathWhelin

Capítulo 8 - Um Pequeno Momento de Paz


[ Minnie ]

 

O que foi que acabou de acontecer?

Em um minuto eu estava sentada em minha mesa, aproveitando meu café da manhã e perdida em pensamentos, revivendo várias e várias vezes aquele pequeno acidente envolvendo a garota baixa e eu. Eu estava tentando entender a mim mesma sobre o que houve e o que isso mudou dentro de mim, mas eu já deveria saber a resposta para isso, eu apenas estava fingindo não ter entendido.

É fácil querer fugir do assunto, dizer a mim mesma ou a quem quer que quisesse ouvir que aquilo não significou nada, que foi apenas um choque acidental e vida que segue. Está óbvio que isso não aconteceu comigo. Aquele olhar assustado e meigo dela, ao mesmo tempo, me atraíram como um ímã que faz bem o seu trabalho. E eu passei todo o tempo de meu café da manhã me perdendo nesse momento.

Eu precisava tirar isso a limpo de alguma forma. Eu não iria conseguir descansar a noite tranquilamente se continuasse do jeito que estava. E olhando para ela, sentada a algumas mesas de mim, que me encarava e desviava o olhar quando eu reparava nela, informa que não seria a única a enfrentar tal problema.

Eu já estava no meu limite, prestes a me levantar e ir até lá, quando tudo aconteceu. Aquele primeiro disparo que só não atingiu uma das garotas porque a dona do restaurante agiu mais rápido e ajudou elas. Após isso, tudo virou um caos.

Com a ordem da dona, eu, juntamente as duas garotas, seguimos para a cozinha, onde aqueles que trabalhavam ali já indicavam para seguirmos por uma espécie de porta secreta que estava aberta, levando para uma escada em descida. Logo que terminamos esse percurso, nos deparamos com o interior do esgoto da cidade. O cheiro estava insuportável, mas não havia o que reclamar, precisávamos usar essa rota de fuga se quisermos sair vivas daquele ataque.

Ficamos por alguns instantes esperando a dona do restaurante e uma amiga dela aparecer, e logo a seguimos, em um grupo de nove garotas, por cerca de vinte minutos dentro do esgoto, a passos firmes e sem vacilar, até que ela nos guia para uma escada de ferro vertical.

Eu fui uma das últimas a subir, ajudando a garota ferida pelas balas a conseguir ir em frente. Eu estava preocupada, assim com as demais, com ela. À primeira vista parecia ter sido alvejada apenas no braço, mas logo notamos que ela também havia sido atingida no ombro esquerdo, e esse tiro está a deixando muito mal. Ela mal está conseguindo se manter firme, mas estamos todos a ajudando, pois não queremos deixa-la para trás. De maneira alguma.

Ao chegar em terra firme, fora dos esgotos, onde eu já não aguentava aquela podridão lá debaixo, deparo-me com uma rua quase vazia, mesmo que estejamos no meio da manhã. Apesar do mundo ter mudado drasticamente, há poucos lugares que ficam desertos dessa maneira, mesmo dentro das zonas. Isso só pode significar que estamos em um dos bairros mais ao sul da zona 13, onde é conhecido com a área morta da zona. Aqui só moram pessoas que não possuem mais nada e vivem na miséria, ou aqueles que se envolveram com o mundo do crime e da marginalização e precisam de qualquer teto, mesmo o mais podre que conseguir, para ter uma morada.

Gostaria de saber porque fomos trazidas para cá.

O mundo mudou rápido demais, o que mostra o quão preocupante essa infecção é. No começo, parecia que tudo se resolveria com o tempo. Os primeiros infectados eram mortos com facilidade, principalmente depois que descobrimos o fato de, apesar de parecerem zumbis tradicionais daquelas histórias inventadas, sedentos por carne humana e tudo mais, eles não são mortos-vivos. Não morrem para depois voltar a vida, então não tem essa de morrer apenas com tiro na cabeça ou com a coluna destruída. Os infectados continuam vivos e morrem com qualquer coisa que mataria um humano comum, simples.

Então, com essa informação, tudo parecia resolvido.

Bem, a princípio. No primeiro mês, tudo de boa. O problema é o que veio depois. Após um mês, em tempo médio, dos infectados, se alimentando constantemente, já foi o suficiente para causar danos irreparáveis. Não esperávamos que quanto mais o vírus se alastra pelo corpo, e quanto mais ele se alimenta, ele consegue se tornar tão forte que o corpo humano entra em fase de mutação, deixando-a mais forte, rápido e ágil. No segundo e terceiro mês após o início da infecção, países pequenos e de economia baixa já haviam sido varridos do mapa de locais onde existiam habitantes. Em apenas seis meses, setenta e cinco por cento da população mundial foi reduzida drasticamente. Éramos em média oito bilhões de pessoas no mundo, e hoje somos um pouco abaixo dos dois bilhões. Quantas pessoas perderam suas vidas em um intervalo de tempo muito curto. O mundo foi mudado em apenas meses.

Isso não dá muita expectativa do que esperar no futuro, sendo sincera.

Deixando esses pensamentos de lado, noto também que um pouco mais ao fundo do local onde estamos, há dois quarteirões, dá para ver um pouco do local que antes era o aeroporto da cidade, hoje, completamente desativado e abandonado, servindo de lar para pessoas sem casa, ou até mesmo para infectados que se abrigam da luz do sol durante o dia. É bom saber que o vírus não gosta muito da radiação emitida pelo sol, então costumam-se esconder durante o dia.

O único aeroporto no território nacional, entre todas as quarenta zonas, que funciona, é o aeroporto da zona 1, onde antes era a capital Seul. As viagens são extremamente restritas, destinadas apenas, obviamente, a voos internacionais, de pessoas importantes do governo ou algo de cunho urgente. Ou seja, aquelas pessoas que pudesse ter o desejo de conhecer o mundo algum dia, não terão mais essa oportunidade.

A dona do restaurante e sua amiga nos leva para o interior de um prédio de dois andares antigo e acabado. Rapidamente nos guia para o último piso e nos leva até o apartamento de número 208. Uma delas puxa uma chave do bolso e abre a porta, indicando para que entrássemos rapidamente, e sem pestanejar, fazemos isso.

Ajudo a garota ferida a dar mais alguns passos, colocando-a em um sofá que logo vimos na sala, e só então pude prestar melhor atenção à minha volta.

Não é um comodo grande, mas posso dizer que é bem conservado. Apenas observando cada cômodo do lugar, as cores mais escuras do ambiente e sem nenhum porta retrato ou algo que fizesse menção de que haveria uma pessoa de fato morando aqui, posso presumir que esse apartamento existe apenas para casos extremos. Como o atual em que estamos.

A garota ferida, ao qual descubro que seu nome é Shuhua, por ouvir a sua companheira chama-la assim, não está na melhor situação. Seus olhos estão vidrados pela dor, enquanto ela tenta ao máximo se manter firme. O ferimento de bala do braço não é a razão, pois o projétil atravessou e com um bom cuidado feito por cima, evitara o sangramento e assim ela pode passar um tempo dessa maneira até encontrar uma ajuda.

A verdadeira ameaça é a bala que acertara o ombro, pois descobrimos que ela ainda está alojada no corpo de Shuhua, e pelo visto está em um local de extremo incomodo, pois está deixando a garota completamente bêbada pela dor. Se continuar por mais tempo, temo pelo que pode acontecer com ela.

Logo que todos nós entramos, a dona do restaurante, que se chama Soojin – assim a sua amiga, Soyeon, chamou ela e vice-versa – trancara tudo, com uma segurança de dar inveja. Tranca, corrente, chave e cadeado, além de ter acionado um sistema de alarme que estava bem ao lado da porta.

Com toda certeza isso prova que esse apartamento foi deixado para casos de fuga e necessidade de se esconder. Agora o motivo para elas terem esse esconderijo já preparado, é algo que desconheço mas que me deixa atiçada para descobrir.

Soyeon, ao notar o estado crítico de Shuhua, olha para Soojin, avaliando o comportamento da amiga. Reparei em como elas conseguiam trocar diálogos silenciosos somente com os olhares, o que me faz entender a forte ligação que essas duas possuem.

Quando parece ter a resposta que precisava, Soyeon pega seu celular e disca algum número, levando o aparelho imediatamente para os ouvidos. Soojin, por outro lado, se encaminhou para aqueles que fugiram conosco e trabalhavam para ela, tentando acalma-los perante essa situação.

Em um momento, noto a Soyeon me encarar, e eu não tive a intenção de desviar minha atenção. Quero mostrar a ela e a qualquer uma aqui que estou sim, de fato, avaliando cada uma delas. Esse é meu trabalho no tempo comum de qualquer forma, e estou acostumada a trabalhar observando as pessoas. Esse é apenas o meu habitat natural.

Soyeon desvia sua atenção de mim quando a pessoa do outro lado da linha atende, e ela se foca na chamada:

— Ei Miyeon! — Podemos ouvi-la dizer, pois não está se incomodando nenhum um pouco de tornar seja lá qual  for o assunto dessa conversa em algo particular. — Como você está? — Após alguns segundos ouvindo a resposta da tal Miyeon, Soyeon volta a falar. — Ah, isso é bom. Então, preciso de um favor seu. — Mas um momento em silêncio. — Estou no ponto de encontro B com uma pessoa ferida e precisando de ajuda imediata. Tem como você vir ajuda-la? — Mais uma vez em silêncio, dessa vez olhando para o estado de Shuhua. — Tenho certeza que não dá para esperar por tanto tempo, a coisa parece grave. — Mais uma vez ouvindo a outra garota falar. — Muito obrigada Mi, de verdade! Eu farei o que você quiser depois, eu prometo, estarei te devendo essa. Bom, até mais.

Soyeon desliga o celular com um sorriso contente nos lábios. Soojin, que também prestara atenção nela, se aproxima da amiga.

— E aí, o que ela disse? — Pergunta curiosa.

— Ela não tem nada de importante a fazer no momento e vai deixar seus afazeres comuns de lado para vir nos ajudar. — Soyeon responde alegre, arrancando um suspiro de alívio de Soojin.

Ela, por sua vez, nota que o restante de nós encara elas sem entender muito bem o que aquilo foi, então ela sorri, se aproximando do sofá e se ajoelhando na frente de Shuhua, que apesar de mal estar se aguentando com a dor, continua acordada e observa aquela garota atentamente.

— Aguente só mais um pouco, uma amiga nossa, que é uma excelente médica por sinal, virá para te ajudar. — Soojin diz, reconfortando Shuhua. — Ela é especialista em diversas áreas dentro da medicina, é conhecida como a mais nova e talentosa médica dessa país, pode ter certeza que ela saberá cuidar de você muito bem.

— Espera, está me dizendo que a Cho Miyeon é amiga de vocês e está vindo para cuidar de minha irmã? — Yuqi questiona alarmada.

— Sim, exatamente. — Soojin responde convicta.

— Nós não vamos ter dinheiro para pagar um tratamento da Miyeon! — Yuqi exclama completamente preocupada e isso acaba arrancando uma risada de todas nós, o que descontrai o ambiente. — Ei, o que foi? Por que estão rindo de mim?

— Ela não vai cobrar nada de vocês. — Soyeon diz, se aproximando de Yuqi e chamando sua atenção. — Pode ficar tranquila quanto a isso.

— Se não vai cobrar nada de nós, vai ser de vocês? Aí também não é certo, não quero dar um prejuízo grande para vocês e...

— Ninguém vai ficar devendo nada, se acalme. — Soyeon pede, e Yuqi acaba balançando a cabeça afirmativamente. — Todas nós estamos na mesma situação, acredito eu, e conhecendo o bom coração da Miyeon, apesar de fazer escolhas bem sinistras às vezes, ela recusaria qualquer grana ou favor que vocês quisessem oferecer a ela.

— O que você quer dizer com “estamos na mesma situação? — Acabo por perguntar, fazendo minha presença ter algum sentido nessa sala pela primeira vez. — Pelo modo que você falou, não parece estar se referindo apenas a essa fuga que fizemos, logo após sermos atacadas por algum grupo onde suas intenções são desconhecidas ainda. Há algo a mais aí, não é mesmo?

As duas garotas se encaram e pude notar que sim, há algo a mais sem elas precisarem dizer algo. Mas como Yuqi parece confusa com isso, espero que elas tenham a bondade de externar o verdadeiro motivo para terem nos conectado em algo maior.

— Ok, acho que deveríamos ter essa conversa de qualquer maneira. — Soojin diz, caminhando até uma poltrona e se sentando, enquanto Soyeon fica ao seu lado, no apoio de braço. — A Soyeon e eu suspeitamos disso quando vimos vocês, e gostaríamos de tirar a prova. Mas antes, permita-nos fazer uma pergunta importante: vocês são consideradas boas em algo?

A pergunta, a princípio, me pegou completamente despreparada, fazendo-me arquear as sobrancelhas, mas logo consigo entender o que ela queria dizer. E Yuqi também havia entendido, pois vira em minha direção e podia ver uma suspeita sendo confirmada em seus olhos brilhantes.

— Sim, apesar de não ser reconhecida, por desejo próprio. — Acabo dizendo a verdade. —Possuo a maior nota em avaliações na área de psicologia do país nos últimos cinquenta anos.

Vejo elas se surpreenderem com minha resposta, mas apenas mantenho-me neutra. Não é como se fosse algo que eu gostaria de saber me deliciando para todo mundo. Se fosse assim, eu não teria mantido escondido até então, não é mesmo?

— Sou hacker. — Yuqi diz, atraindo nossas atenções. — Ou melhor, sou uma cracker, mas essa definição é desconhecida pela maioria, então acabam me chamando de hacker apenas. E a quesito de curiosidade, não teve nenhum sistema de segurança criado até hoje que eu não pude invadir.

Soyeon assobia, como se tivesse se divertindo com a situação.

— Ah, desculpa meninas. — Ela ergue as mãos, mas ainda assim levando tudo na brincadeira. — Vocês já devem saber quem sou, estava sempre em banners e coisa do tipo, então acredito que haja necessidade de ficar repetindo isso.

É, difícil não conhecer a musicista mais talentosa que esse país orgulhava-se em ter nos últimos anos. Tenho certeza que seu rosto será reconhecido por muito tempo, por qualquer pessoa que que vague por esse território.

— Cozinheira, a melhor do país, mas acho que vocês já deviam saber disso também. — Soojin fala, sem querer se estender mais sobre esse assunto.

E elas não me enganam. Notei que ambas estão algo ainda de nós, mas fingem que não. Podem tentar enganar qualquer pessoa, meninas, mas a mim, vocês não vão conseguir. Só que, por enquanto, é melhor deixar o fluxo seguir. Puxar algom conflito na situação em que nos encontramos não é a melhor opção.

— Ok, vocês não estão dizendo o que penso que estão dizendo, não é? — Yuqi pergunta e eu sorrio ap perceber que ela também chegou à mesma conclusão.

— Sim, a Soyeon e eu somos uma das treze participantes colocadas no tal jogo mortal. — Soojin fala, virando-se para mostrar uma marca na sua nuca, onde provavelmente inseriram o dispositivo explosivo em nós. E como não havia realmente motivo para esconder, eu revelei fazer parte também, e Yuqi confirmou que ela e sua irmã também estão nessa.

Antes mesmo que nós pudéssemos continuar esse assunto, ouvimos batidas na porta. Todas nós entramos em alerta imediatamente. Soyeon foi quem se levantou às pressas, se aproximando da porta com cautela.

— Podem abrir a porta meninas, sou eu, Miyeon. — Ouvimos uma voz feminina do outro lado e percebo que Soyeon e Soojin respiram aliviadas.

Parece ser a médica mesmo, e assim como elas disseram, ela chegara bem rápido.

Soyeon leva um certo tempo para destravar a porta, mas logo que a abre, recebe um abraço acalentado de Miyeon, que simplesmente a ergue do solo contente, beijando-lhe pelo rosto e deixando uma baixinha completamente envergonhada com todo aquele mimo.

— Por favor Miyeon, não faz isso na frente de outras pessoas, já disse que fico envergonhada. — Soyeon pede, quando a médica a coloca de volta no chão.

— Eu também já disse que não precisa se preocupar com isso, é apenas uma demonstração de afeto e carinho. — Miyeon fala, dando a atenção para o restante de nós.

Imediatamente o seu semblante contente se desfaz ao olhar na direção de Shuhua, que sentada no sofá, parecendo prestes a desmaiar, encara esperançosa para Miyeon.

— Podemos conversar e trocar afetos depois, agora permitam-me fazer o meu trabalho. — Miyeon diz, adentrando de vez o apartamento.

Enquanto Soyeon voltava a trancar a porta, com todos os mecanismos que ela possui, Miyeon, com sua maleta enorme e bem preparada, se aproxima de Shuhua, sorrindo amigavelmente para ela.

— Oi, eu me chamo Miyeon, sou médica, será que você me permite dar uma olhadinha em você? — Ela pede carinhosa, demonstrando um apreço e paixão por ser trabalho que transborda livremente pelo seu olhar e modo de agir.

E só com isso eu já sinto que posso me dar muito bem com ela. É o tipo de pessoa que eu não teria dificuldades em criar laços.

Shuhua tentara dizer algo, mas estava tão sem forças que o máximo que ela conseguiu foi abrir a boca, mas sua voz não saiu. Ela até pareceu entrar em pânico com isso, mas a médico logo tocou gentilmente sua coxa direita, passando-lhe conforto.

— Está tudo bem, não precisa se forçar a dizer algo, eu já entendo que não consegue, mas isso é devido a seu estado por suportar tanta dor, não há com o que se alarmar, está bem?

Shuhua balança a cabeça concordando, começando a sentir confiança com MIyeon, relaxando perante àquela garota.

— Ela foi atingida por tiros em dois locais diferentes. — Yuqi decide dizer, para ajudar no tratamento. — Consegui estancar o sangramento de ambos. O do braço parece não estar afetando ela tanto assim, talvez porque a bala tenha atravessado. Só que o ombro é o problema. Nosso melhor palpite é que o projétil esteja em uma região delicada para a Shuhua.

— Obrigada pelas indicações. — Miyeon agradece, sorrindo para Yuqi, enquanto se levanta e segue em direção à cozinha. — Soyeon, por favor, me ajude com algumas coisas?

— Ah, claro que sim. — Soyeon responde, seguindo a médica.

Não muito tempo depois, elas retornam, com a Miyeon, de mãos bem lavadas, colocando suas luvas e entregando seus objetos de trabalho da bolsa, pedindo para que Soyeon esterilizasse tudo que ela fosse precisar. Enquanto isso ela conversava com Shuhua, nada demais, apenas lhe contando coisas engraçadas de sua vida, deixando a garota ainda mais confortável com sua presença. Ela também colocava Yuqi na conversa, perguntando seu nome, o que ela era de Shuhua, como era a relação das duas, o que gostava de fazer, e coisas do tipo. Miyeon continuava mantendo o clima bom, apesar da situação. Ela está tentando mostrar que, mesmo perante a problemas sérios, você pode encontrar uma maneira de ficar bem com tudo.

Tenho de dizer que a presença de Miyeon foi o bem super necessário para todas nós.

E foi nesse clima que Miyeon tratou de Shuhua, completamente com sucesso e sem tempo para medo ou preocupação. Fez os curativos corretos nos ferimentos de Shuhua, arrancou a bala do ombro dela sem dificuldades e ainda lhe deu alguns comprimidos para suprimir a dor e faze-la relaxar. A garota ficara tão grata pela ajuda de Miyeon que esteve olhando para o tempo inteiro maravilhada e lhe agradeceu com o próprio olhar, já que ainda estava sem forças. Ela finalmente só adormeceu quando a própria Miyeon pedira para ela descansar após tomar os remédios, pois seria o melhor para ela.

Soojin acaba levando Shuhua para um dos quartos do apartamento, para dormir mais confortável. Soyeon havia dito que precisava sair para buscar suprimentos, como comida, bebidas e acessórios que serão necessários para nós, pois o melhor no momento seríamos passar um tempo por aqui, planejar o que precisamos fazer no futuro, principalmente relacionado a esse jogo maluco em que fomos enfiadas. Eu até cheguei a dar a ideia de Miyeon retirar os dispositivos de nós, já que ela é médica e pode fazer isso com menos risco de algo acontecer, mas era óbvio que os realizadores desse evento não iriam deixar algo tão simples assim acontecer. Miyeon relatara que foi deixado explícito para ela que qualquer tentativa que fizesse para tirar o seu próprio dispositivo ou de outra pessoa, ela teria sua cabeça explodida.

É, não vai ser tão fácil assim, mas era de se esperar.

Fiquei na janela por um tempo, observando o lado externo, reparando na saída e no retorno de Soyeon, com várias bolsas. Ela nos trouxe comida, suprimentos e acessórios como roupas, coisas para banho, almofadas e cobertores, dentre outras.

Durante a refeição, eu fiquei de olho na garota chamada Yuqi, pois eu reparei que ela estava me encarando e desviada o olhar quando focava nela. Tenho de admitir que isso me fez sorrir. Não posso negar, ela realmente está chamando bastante a minha atenção.

Infelizmente, eu tive problemas para adormecer em seguida. Todas as demais apagaram em algum canto do apartamento, e eu, depois de horas deitada no sofá tentando dormir, sem sucesso, desisti e me levantei, postando-se em uma poltrona próxima à janela. Eu realmente não sei quanto tempo fiquei assim, mas eu fui notado que a luminosidade do dia estava se desfazendo.

A noite estava chegando, ou seja, conseguimos passar o tempo durante a luz do dia escondidas, sem sermos descobertas por aquele grupo que nos atacou. Isso já era um bom sinal.

Eu estava me espreguiçando, pensando em levantar e ver se as meninas ainda estavam bem, pois todas continuavam dormindo, quando reparei que um som estranho começava a aumentar de tamanho. Eu parei para prestar melhor atenção, e isso me parecia ser algum som de motor.

Mas, a essa hora? As pessoas deveriam saber que fazer barulho ao entardecer, próximo da noite, é um perigo mortal. Estão querendo atrair a atenção dos infectados?

Me postei na janela e fiquei procurando pelos lados da rua em frente a esse prédio tentando enxergar o veículo, mas não conseguia ver. Na verdade, várias pessoas em outras janelas também procuravam pela fonte do barulho, até que vi uma mulher, na janela do prédio em frente aonde estamos, apontar para cima horrorizada.

É então que o barulho fica ensurdecedor, enquanto as demais meninas se aproximavam de mim alarmadas com esse barulho bem alto. Todas nós observamos, assustadas, quando um avião, bem baixo, passou por cima de nós, chocando-se violentamente com alguns prédios não muito distante de onde estamos, explodindo no instante do impacto.

De maneira alguma eu iria esperar que um avião de grande porte tivesse em queda livre e fosse cair exatamente... praticamente do nosso lado. Eu fiquei paralisada, olhando para as chamas consumindo mais adiante, ouvindo gritos de dor e desespero, pensando nas diversas vidas que se perderam com esse acidente, tanto daqueles que estavam no avião, quanto daqueles que moravam nos prédios atingidos.

Por pouco não fomos nós.

— Isso não é nada bom. — Soojin comenta, fazendo-nos prestar atenção nela.

— Nós sabemos. — Eu digo. — Quantas vidas foram perdidas.

— Não estava me referindo a isso. — Soojin fala e reparo em seu tom desesperado. — Esse barulho todo, próximo ao anoitecer. Com toda certeza atraíra os infectados, ou seja, esse lugar deixará de ser seguro.

— Na verdade, já é mais seguro. — Yuqi é quem diz, apontando na direção do avião em chamas.

Nós notamos, pasmas, que diversas figuras em chamas deixavam o meio do fogo, caminhando como se nada tivesse acontecido, olhando em volta sedentos por próximas vítimas.

Eram infectados, que possivelmente estavam no avião e obviamente provocavam sua queda. Na verdade, como eles não parecem ser afetados pelo fogo, presumo dizer que eles são os “hunters”, os infectados de longa data que sofreram mutações, tornando-se mais fortes e ferozes.

E eu pude notar que um deles olhou diretamente em nossa direção.

A nossa paz chegou ao fim, e agora precisaremos sair daqui ou seremos devoradas vidas.



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